Por Maurício Montagnero
Ver-se-á
neste artigo as heresias que surgiram no inicio da era da Igreja, acerca da
cristologia. As heresias serão analisadas em três partes, acompanhando
parcialmente o que foi realizado por Alan Myatt e Franklin Ferreira[1] (mas com
outra nomenclatura). Sendo expostas as heresias da primeira parte, será
realizada uma refutação apologética contra essas usando como fundamento a
exegese do texto do Evangelho de João 1.1 – 3 e 14, e se necessário partirá
para outros textos bíblicos,[2] e assim sucessivamente.
Heresias acerca da baixa cristologia
As
heresias acerca da baixa cristologia se referem às doutrinas equivocadas que
foram elaboradas em relação à humanidade de Jesus. Essas heresias podem ser
delineadas da seguinte forma: (1) Docetismo, (2) Apolinarianismo e (3)
Eutiquianismo.
O
docetismo
é um nome derivado do verbo grego “dokew/dokeo” que
significa “parecer ou aparentar”. Esse movimento, o qual surgiu no final do
século I, apregoava que Jesus era totalmente divino e que não se encarnou,
logo, sua humanidade simplesmente aparentava ser, mas não era, ou seja, o seu
espírito que estava ali. Sendo assim o sofrimento de Cristo na cruz foi apenas
aparente, mas não real.[3] Diante disso entrou em dúvida o sacrifício vicário
de Jesus como sua ressurreição. Essa doutrina foi construída, pois os docetas
eram atraídos pelos escritos do gnosticismo que se tornou um movimento propriamente
dito no século II. Os gnósticos ensinavam que o mundo material era o resultado
da vitória do mal sobre o bem, isto é, o mundo do mal estava relacionado com o
material, portanto a matéria não era boa, mas, sim, má. Sendo assim o
Sagrado/Deus não se relacionava com a matéria, mas só com o espiritual. Diante
dessa premissa os docetas acreditavam que o divino Jesus não poderia se
misturar com a matéria.
O
apolinarianismo
tem esse nome, pois é derivado do homem que elaborou tal heresia, conhecido
como Apolinário. Este era bispo de Laodicéia e ensinava que o Logos, isto é, a
alma divina de Cristo tomou o lugar do espírito humano de Cristo. Ele
acreditava na tricotomia, isto é, na doutrina que ensina que o homem é composto
de três partes que são alma, corpo e espírito. Para ele Jesus possuía a alma
humana como o corpo humano, mas o espírito humano foi substituído pelo Logos divino, e
esse tomou conta de todo o ser de Jesus. Por quê? Porque se assim não fosse, o Logos, ou a alma
divina teria sido contaminado pelos pecados e pelas fraquezas humanas, e a
impecabilidade de Jesus seria comprometida. Para que a natureza humana possa
ser divina ela deve se unir totalmente com a natureza divina, tornando-se assim
uma só natureza a pessoa de Jesus. Essa heresia junto com a próxima que será
vista foi propagada na escola de Alexandria, sendo assim também conhecida como
a cristologia Alexandrina.
O
eutiquianismo
era conhecido também por monofisismo.
O primeiro nome é derivado do seu precursor Êutiques, que era monge de
Constantinopla e bispo em Alexandria. O segundo nome é derivado da sua crença
em apenas uma natureza na pessoa de Cristo (do grego: monoj/monos “apenas
uma”; fujij/physis “natureza”).[4]
Essa heresia ensina praticamente a mesma coisa que o apolinarianismo, isto é,
que a natureza divina absorveu a natureza humana de Cristo. Sendo que Cristo só
tinha uma natureza, e essa era uma terceira natureza, que fora revestida da
carne humana. Esse é o ponto diferencial do apolinarianismo, o ensinamento de
que a natureza divina de Jesus não era totalmente divina, e nem a natureza
humana era totalmente humana. Sendo assim se juntaram-se as duas naturezas e
resultou em uma natureza única e mestiça.[5]
Refutação apologética:
Os
escritos do apóstolo João poderiam ter como propósito refutar a heresia docetista.
Quando João relata no versículo 14 do 1° capítulo do seu evangelho que o Logos, isto é, o
ser divino se tornou carne “sa,rx/sarx”, tem a
conotação de um corpo físico inteiro e que tem ossos e sangue.[6] Diante disso
ele estaria refutando a ideia de que Jesus não era um ser de carne e material.
Chega-se ao cume desse ensinamento em 1 Jo 4.2 e 3:
“Nisto conhecereis o Espírito de Deus:
Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o
espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas
este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que
já está no mundo.”
Existem
outros motivos para acreditar na sua existência carnal como o cumprimento da
profecia (Is 7.14; 9.6), seu nascimento de mulher (Gl 4.4), sua genealogia (Mt
1.1 – 17; Lc 3.23 – 38), seu corpo que se desenvolveu (Lc 2.52), declarou-se
como homem (Jo 8.40), sentiu fome (Mt 4.2), sentiu sede (Jo 19.28), cansou-se
(Jo 4.6), teve sentimentos como amor e compaixão (Mt 9.36), chorou (Jo 11.35) e
foi tentado (Mt 4.1 – 11; Hb 4.15). A própria declaração de Paulo mostra que
Ele nasceu segundo a carne pela descendência de Davi (Rm 1.3).
Ainda
contra a conotação gnóstica, elabora-se a seguinte pergunta retórica: Como a
matéria é má se a mesma recebeu um ser divino e puro? A matéria não é uma
consequência do mal, mas, sim, uma criação do próprio Deus (Gn 1), tendo seu
Filho como agente dessa criação ((Jo 1.3; Cl 1.16 e 17; Hb 1. 2; Ap 21.6) e a
mesma declara a glória de Deus (Sl 19.1; Rm 1.20). Como pode ser mal algo
criado por Deus e que declara sua glória e seu conhecimento?
Refutando
neste momento o apolinarianismo
deve-se recorrer mais uma vez a Jo 1.14. Outra conotação de carne que é
existente no grego “sa,rx/sarx”, não é só o
físico, mas, também, o modo geral de empregar aquilo que é humano.[7] Ou seja,
quando é declarado nesse versículo que Jesus se tornou carne, refere tanto ao
corpo físico como também a uma natureza humana, sendo assim ele também tinha
dentro dele a possibilidade do pecado, mas, no entanto, não pecou. Ele se
tornou humano para conhecer as fraquezas do homem e se compadecer dele (Hb 2.14
– 16; 5.7; 4.14 – 16), sabendo que em Hebreus a carne referente a Cristo é sua
natureza humana completa.[8]
Refutando
por último o eutiquianismo/monofisismo se
vê que no prólogo de João, especialmente os versículos 1 e 14, que Cristo era
um ser deificado, ou seja, Ele era Deus. Esse Cristo se tornou carne, ou seja,
humano; e o texto não ensina que Ele se tornou menos Deus ao se tornar humano,
como também não ensina que Ele foi menos humano por ser Deus, mas, sim, que uma
natureza divina, isto é, o Logos
encontrou outra natureza, que era humana, e ambas as naturezas fizeram parte de
uma pessoa, que foi Jesus de Nazaré. Ele durante sua passagem pela terra se
mostrou divino perdoando pecados (Mc 2.1 – 12), concedendo vida espiritual (Jo
5.21), ressuscitando mortos (Jo 11.43), mostrando sua onisciência (Mt 16.21; Lc
6.8; 11.17; Jo 4.29) e onipotência (Mc 5.11 – 15; Jo 11.38 – 44); e também se
mostrou humano como já foi visto nos textos que combatem o docetismo e o
apolinarianismo. Portanto, Jesus era Divino, mas, também, teve sua natureza
humana. Só que, no entanto, pelas diferenças substanciais da natureza Divina e
humana, elas não puderam se tornar uma só natureza, mas, sim, participar de um
só corpo. Para melhor entendimento segue-se uma ilustração: Quando se mistura
um copo de água (uma substância), com açúcar (outra substância), com uma
laranja exprimida (outra substância), surge algo novo, que seria um suco de
laranja. Isso ocorre, pois estas três substâncias diferentes podem se envolver
entre elas. Porém, se pegar um copo, e colocar nele água (uma substância) e óleo
(outra substância), eles não vão se tornar algo novo, pois não vão se misturar
e uma ficará por cima, e outra embaixo, pois suas substâncias não se misturam
pela diferença de suas “naturezas”. Assim foi a realidade cristológica, não
teve como produzir uma natureza nova, única e mestiça (como o suco de laranja),
pois as diferenças substanciais das duas naturezas não permitiam que isso
ocorresse (como a água e o óleo). Sendo assim, as duas naturezas tiveram que
ficar juntas sem se comporem em algo novo, e isso em um só corpo, como a água e
o óleo ficam em um só copo. Encerrando essa parte segue uma lógica: (Premissa
A) Jesus teve duas naturezas que não têm como se compor em uma. (Premissa B)
Jesus teve um corpo e foi uma pessoa. (Conclusão) Por conseguinte, Jesus teve
duas naturezas em um só corpo, sendo uma só pessoa.
Heresias acerca da alta cristologia
As
heresias acerca da alta cristologia se referem às doutrinas equivocadas que
foram elaboradas em relação à divindade de Jesus. Essas heresias podem ser delineadas
da seguinte forma: (1) Ebionismo, (2) Monarquianismo e (3) Arianismo.
O
ebionismo
era uma seita judaico-cristã que seguia a lei de Moisés e acreditavam em Jesus
como Messias.[9] Começou no 1° século da era cristã e o seu nome vêm do
hebraico “$wOybIa,/ebyôn”,[10]que
significa “pobre”, “carente”, “necessitado” e “oprimido”. Como fora visto, eles
apregoavam Jesus como o Messias, mas apenas como um profeta anunciado no Antigo
Testamento que se identificava com os pobres, porém não era divino, mas um simples
homem comum filho de José e Maria. Em seu batismo Jesus foi unido com o Cristo
eterno, pois fora eleito para ser filho de Deus.[11]
O
monarquianismo
é divido em duas partes: (1) Monarquianismo
Dinâmico (adocianismo)
e (2) Monarquianismo
Modalista (sabelianismo).[12]
A palavra se deriva de “monarchia”
que significa “governo de um só”,[13] que tem como doutrina a crença na
existência de um só Deus e uma só pessoa, e não três pessoas, como ensinava a
doutrina da trindade. O primeiro tipo de monarquianismo (dinâmico) começou com
Teodoro de Bizâncio o qual ensinava que Jesus era um simples homem, mas recebeu
poderes de sua vocação messiânica no batismo, quando o Espírito Santo desceu
sobre Ele, e assim se tornou um Cristo e Salvador por adoção (por isso o nome “adocianismo”). O
segundo tipo de monarquianismo (modalista) teve como principal representante e
líder Sabélio (apesar de ter surgido com Paulo de Samosata)[14], ensinava que
não existem três pessoas e um Deus; mas que simplesmente existe um Deus em uma
pessoa que aparece de diversas maneira, com três manifestações e três modos
(por isso o nome modalista) diferentes. A pessoa de Jesus só foi um modo de
Deus se manifestar, sendo assim o próprio Deus Pai se encarnou e sofreu na
crucificação (por essa última conotação essa heresia também é conhecida no
ocidente como “patripassionismo”,
e no oriente ficou conhecido com o nome do seu precurssor “sabelianismo”).
O
arianismo
é a heresia cristológica que mais repercutiu de todas essas, até nos dias
atuais. O nome se deriva do seu sistematizador Ário (250 – 336), que era
presbítero de Alexandria. Ário ensinava que só Deus Pai é eterno e Cristo era
um ser pré-existente, porém finito, pois em algum tempo da eternidade Ele foi
criado e não gerado pelo Pai. A frase-chave dessa doutrina é: houve um tempo quando Cristo
não era.[15] Porém, Cristo não é como qualquer criatura, Ele é uma
criatura perfeita e elevada acima das outras, pois possui a deidade
parcialmente em si. Ele é um semideus, está entre Deus e os homens. A natureza
de Cristo era parecida com a de Deus (omoiousios)
e não igual (homoousios).[16]
Essa ideologia acompanhava os antigos heróis:
“Esta foi a solução dada por Ário. Estava na mesma
linha do culto aos heróis do mundo antigo. Esse mundo era povoado por meio-deuses,
derivados do único Deus e incapazes de plenitude divina, mesmo quando no
Olimpo. Jesus teria sido um desses deuses, quase Deus, mas não o próprio Deus”.[17]
Diante
disso, Ário considerava Cristo inferior a Deus Pai e usava os textos de Mt 28.18;
Mc 13.32; 1 Co 15.28 para apoiar sua ideia. Informava que os textos do quarto
Evangelho que falavam sobre a filiação (Jo 3.35; 10.30; 12.27; 14.10; 17.11)
trataram de uma linguagem metafórica.
Refutação apologética:
O
ebionismo e o monarquianismo dinâmico (adocionismo) não entenderam o versículo
1 do 1° capítulo de João. O texto é bem claro em dizer que o Logos já era
existente, ou seja, Cristo já existia. Até aqui pode-se andar junto com eles,
no entanto, torna-se problemático dizer que Cristo só se uniu a Jesus em seu
batismo, pois o próprio versículo citado mostra que o Logos que é
identificado como o Cristo eterno, tornou-se carne, isto é, não veio possuir
uma carne já existente, porém se tornou e veio a ser em uma carne que ainda não
existia. Pelo decorrer das Escrituras pode-se ver que o Cristo eterno já era
existente na pessoa de Jesus antes do seu batismo: (1) Ele foi procurado para
ser adorado pelos magos de Belém, e quando o acharam, foi realmente adorado (Mt
2.2 e 11a). Como os magos adorariam simplesmente a pessoa de Jesus se o Cristo
eterno não estivesse nele? (2) Os príncipes dos sacerdotes e os escribas
perguntavam onde iria nascer o CRISTO (Mt 2.4); (3) O anjo do Senhor revelou
para José que estava em Maria já era gerado do Espírito Santo (Mt 1.20), e não
que viria a ser; (4) Jesus era para ser chamado de Emanuel, isto é, Deus
conosco (Mt 1.23), e não Deus que viria a ser conosco; (5) O anjo revelou para
Maria que Jesus já seria gerado pelo Espírito Santo em seu ventre, chamado o
filho do Altíssimo e a virtude do mesmo iria a cobrir, e que o Santo que iria
de nascer, já seria reconhecido como Filho de Deus (Lc 1.26 – 35), e não que
iria só ser chamado um tempo depois; (6) Isabel já declarou que Jesus era bendito
no ventre de sua mãe, sendo também já reconhecido como Senhor (Lc 1.42 – 43);
(7) O anjo, ao revelar aos pastores de Belém sobre o nascimento de Jesus, já
declarou que Ele era Salvador, o Cristo e o Senhor (Lc 2.10 e 11); (8) Simeão
recebeu uma revelação do Espírito Santo que veria o Cristo, o Senhor antes de
morrer (Lc 2.26), e ele o viu ainda quando era bebê (Lc 2.27 – 32); e (9) O
próprio Jesus enquanto menino já se declarou como Filho de Deus (Lc 2.49).
Diante
disso, pode-se afirmar que como os ebionitas e os o monarquianistas dinâmicos
(adocionistas) entendiam realmente que Cristo era eterno e o Messias se cumpriu
na pessoa de Jesus, todavia, esse Cristo eterno não veio por ocasião de seu
batismo o tornando gerado pelo Espírito Santo e Filho de Deus, mas já veio
junto com a pessoa de Jesus antes. Como já dito e será repetido nesse momento,
Jesus não foi apenas um profeta como pensavam os ebionitas, mas, sim, um ser
divino que fez morada, pois Ele era Deus (Jo 1.1) e realizou obras que só Deus
pode realizar: perdoando pecados (Mc 2.1 – 12), concedendo vida espiritual (Jo
5.21), ressuscitando mortos (Jo 11.43), mostrando sua onisciência (Mt 16.21; Lc
6.8; 11.17; Jo 4.29) e onipotência (Mc 5.11 – 15; Jo 11.38 – 44).
Refutando
o monarquianismo modalista (sabelianismo) deve-se declarar que realmente
existem três pessoas diferentes em uma mesma deidade. O prólogo do Evangelho de
João mostra que o Logos
estava com Deus. Ora se ele estava com Deus, oferece a ideia em que
algum momento Ele não está mais com Deus. Mas como Ele não pode estar mais com
Deus se Ele é uma pessoa com Deus? Não tem como responder, a não ser se
reconhecer que o Logos
era uma pessoa distinta de Deus. O versículo 14 ensina que esse Logos revelou a
glória do Pai. Como pode alguém revelar a glória de outro, se esse é a mesma
pessoa? Então o texto deveria ensinar que Ele revelou sua glória e não a glória
de outra pessoa. O versículo 18 culmina a ideia de que o Logos era outra
pessoa distinta, pois o próprio Deus Pai nunca foi visto por ninguém, porém o
Deus Filho (como é escrito no original) revelou a outra pessoa, que é o Deus
Pai. Porém, se essa doutrina for “correta” terá algumas perguntas a serem
respondidas: (1) Quem é o Pai que faz as coisas pelo Filho? Quem é o Filho que
o Pai faz as coisas por Ele? (Jo 5.19 e 20); (2) Quem foi que enviou Jesus? (Jo
7.29; 17.25); (3) Quem é esse Pai o qual o Filho fala que o ensinou? (Jo 8.58);
(4) Quem é o Deus de quem o Filho veio e vai? (Jo 13.3); (5) Quem é esse Pai
que o Filho tinha a glória junto antes da fundação do mundo? (Jo 17.5) e (6)
Por último uma pergunta fora do Evangelho de João, se Deus fosse uma só pessoa
como explicar a existência de três pessoas no batismo de Jesus (Mt 3.13 – 17;
Lc 3.21 – 22)?
Continuando
a refutar o monarquianismo, mas o modalista (sabelianismo) e, também o
arianismo, deve-se declarar que a doutrina da trindade é bíblica e
fundamentada. Quando é declarado que Deus é o único Senhor (Dt 6.4), é
interessante notar que esse “único” é um termo hebraico “dx'(a,/ehad”, que tem a
conotação de uma unidade composta, ou seja, Deus é o único Senhor em ser, porém
tem mais composição de pessoas. Essas pessoas são o Pai, o Filho e o Espírito
Santo (Mt 28.19). E ambos mostram de várias formas sua deidade. Deus Pai é Deus
já reconhecido como tal desde o Antigo Testamento e por todas as classes de
doutrinas surgidas, não há dificuldade em relação a sua deidade. Deus Filho,
isto é, Jesus é Deus e já foi mostrado várias vezes ao longo deste estudo, como
também já foi mostrado que Ele é uma pessoa.
Então,
basta mostrar neste instante que o Espírito Santo é Deus e um ser pessoal. Para
ver sua deidade pode ir para tais pontos: (1) Seu nome de “Espirito do Senhor”
(1 Co 6.11) e “Espírito de Jesus” (1 Co 6.11); (2) Tem atributos divinos como onisciência
(Is 40.13), onipresença (Sl 139.7), onipotência (Jó 33.4; Sl 104.30) e
realização de milagres (At 8.39); (3) Realiza obras de Deus como o nascimento
virginal de Jesus (Lc 1.35), inspiração das Escrituras (2 Pe 1.21), esteve
envolvido na criação do mundo (Gn 1.2); (4) Mantém relação com as outras
pessoas da trindade. Os textos do Antigo Testamento que aparecem Deus falando,
são colocados no Novo Testamento sendo atribuídos ao Espírito Santo (At 28.25 –
27/Is 6.8 – 10; Hb 10.15 – 17/Jr 31.31 – 34), mentir para o Espírito Santo é
mentir para Deus (At 5.3 e 4) e o Espírito Santo tem igualdade com o Pai e com
o Filho (Mt 28.19; 2 Co 13.14) e (5) Quando Jesus fala que iria enviar outro
consolador (Jo 14.16), o termo “outro” se refere a outro da mesma espécie, e se
Jesus era Deus, logo, o Espírito Santo é Deus.[18]
Para
vê-lo como um ser pessoal pode ir para tais pontos: (1) Tem atributos pessoais
como a inteligência (1 Co 2.10, 11 e 13; Rm 8.27), emoções (Ef 4.30), vontade
própria (1 Co 12.11); (2) Tem atitudes pessoais como ouvir, falar e anunciar
(Jo 16.13), convencer do pecado (Jo 16.8), interceder (Rm 8.26); (3)
Atribuições pessoais como ser obedecido (At 10.19 – 21), ser resistido (At
7.51), ser entristecido (Ef 4.30) e ultrajado (Hb 10.29).[19] Sendo assim Ele
não é uma força ativa proposta pelo arianismo.
Encerrando
esta parte, é preciso terminar de refutar o arianismo que diz que o Logos é um ser
criado e não gerado. O Logos
tem uma ligação com a Sabedoria do Antigo Testamento. No Antigo
Testamento, a descrição da Sabedoria se encontra especialmente em Pv 8 e 9, mas
especificamente no capítulo 8.22 – 31. Nesse texto em particular se veem duas
características que são iguais entre a Sabedoria e o Logos: 1) Ambos os
textos mostram a pré-existência de ambos com Deus; e (2) Continuando o
versículo 3 vê-se que Cristo foi o meio pelo qual tudo foi criado, e no
versículo 30 de provérbios 8 tem-se que a sabedoria era arquiteto. Outra
questão interessante a ser notada é que a Sabedoria é a mesma coisa que a
razão, uma das conotações do Logos,
sendo assim o Logos
de João 1 e a Sabedoria de Pv 8 e 9 se referem a mesma coisa, a saber, a Cristo
(doutrina ensinada já por Tertuliano e Justino Mártir). Não se pode fugir da
ligação que a sabedoria de Provérbios tem com o apócrifo de Sabedoria de
Salomão que é a conotação de um ser divino que emana de Deus. O conceito é que
Cristo estava dentro de Deus e em algum tempo da eternidade foi gerado/emanado
por Deus (isso não pode se confundir com o ter sido criado por Deus). Os textos
de Sabedoria de Salomão que dão essa ideia são 7.22 e 18.15, se aproximando-se
de Hb 1.3. Porém, além de Hebreus há outros textos bíblicos que fortificam a
consideração da geração do Filho (Cristo) do Pai (Deus), que são (Sl 2.7; Jo
1.18; Jo 5.26; Hb 1.5; 5.5). Além disso, a ideia de Filho unigênito (único
gerado) ajuda para este argumento.
Nestorianismo
Essa
heresia será analisada a parte, pois a mesma fala sobre as duas partes da
Cristologia, tanto a divina como a humana. Essa heresia tem por nome
Nestorianismo, pois foi baseada nos ensinos de Nestório que foi bispo de
Constantinopla e um pregador famoso em Antioquia. Ele ensinava que Maria não
era “Mãe de Deus” (theotokos),
mas somente mãe do Jesus humano, sendo “portadora de Cristo” (christotokos) ou
“portadora da humanidade” (anthropotokos)
de Jesus. Esse Jesus humano foi unido ao Logos
divino, sendo assim Ele tinha dentro do seu corpo pessoas distintas, uma humana
e outra divina. A escola de Antioquia seguiu parcialmente a mentalidade de
Nestório, porém seguia mais a mentalidade de Teodoro de Mopsuestia. Esse último
para confrontar o apolinarianismo e o eutiquanismo, argumentou que a natureza
humana de Cristo foi unida com a natureza Divina, e vice – versa. As duas
naturezas eram pessoais, porém elas foram unidas no ventre de Maria. Sendo
assim, ele não dava margem para duas pessoas ou dois filhos, e acreditava que
Maria era “Mãe de Deus” (theotokos).
Sobre
essa última teoria, nasce à doutrina do diofisismo (Jesus tinha duas natureza
em si) e da União Hipostática (as duas naturezas unidas pela vontade Deus
formando uma pessoa). Essas doutrinas são aceitas pelas igrejas que se mantêm
na ortodoxia Cristã e pelo presente estudo. Pois como já fora visto por várias
vezes nesse estudo, Jesus era Divino como também era humano. O prólogo do
Evangelho declara sua divindade (Jo 1.1) como sua forma humana aqui na Terra
(Jo 1.14), e mostra que apesar dessas duas naturezas Ele foi somente uma pessoa
como mostra o pronome possessivo no singular “vimos a sua glória” (Jo
1.14) como todas as outras singularidades que aparecem com o Logos no texto.
Sendo assim Ele não foi duas pessoas como afirmou o nestorianismo.
Diante
disso, outra heresia é refutada que é o monotelismo. Essa ensina que em Cristo
só existia uma vontade. Essa vontade é única pela perfeita harmonia que houve
entre a natureza divina e a natureza humana. Há daqueles que acreditam que era
a vontade divina, e há daqueles que acreditam que era a vontade humana. Porém,
a doutrina ortodoxa se mantém na doutrina do duotelismo, que ensina que Cristo
tinha as duas vontades naturais, a divina e a humana, porém a humana era
submissa à divina.
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NOTAS
[1] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia
Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto
atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 487 – 488.
[2] Não é a proposta do presente estudo mostrar
as defesas contra essas heresias que foram feitas durante a época em que elas
nasceram.
[3] MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática,
histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã. São
Paulo: Vida Nova, 2005, p. 412.
[4] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia
Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto
atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 487.
[5] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao
alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 289.
[6] COLIN, Brow; LOTHAR, Coenen. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000,
p. 274.
[7] COLIN, Brow; LOTHAR, Coenen. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000,
p. 277.
[8] COLIN, Brow; LOTHAR, Coenen. Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000,
p. 280.
[9] BRITO, Antônio Roberto. Heresias
Primitivas. Disponivel em: http://www.cacp.org.br/seitasdiversas/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=420&menu=8&submenu=1
[10] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan.
Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 487.
[11] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao
alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 288.
[12] [12] RYRIE, Charles C. Teologia Básica
ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 64 – 65.
[13] TILLICH, Paul. História do Pensamento
Cristão. Editora: ASTE, 2007, p. 81.
[14] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan.
Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 488.
[15] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan.
Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 488.
[16] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao
alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 288.
[17] TILLICH, Paul. História do Pensamento
Cristão. Editora: ASTE, 2007, p. 87.
[18] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao
alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 399 – 400.
[19] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao
alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 397 –
398.
Fonte: www.napec.org
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