Rejeitamos a tradição católica romana primeiramente devido ao fato de que "tradições" [sob a definição católica romana, aquilo que se refere a seu aporte particular] em sentido de estabelecimento de doutrinas, não significam nada. E em segundo lugar, rejeitamos não só a tradição católica romana que se supõe ser apostólica, mas, toda e qualquer tradição que entre em conflito aberto com a Sagrada Escritura.
De acordo com os católicos, as suas tradições particulares surgiram de alguma
forma entre Cristo e/ou os apóstolos, daí, doutrinas ou verdades teriam sido
ditas ou vividas por eles porém não foram colocadas na Bíblia. O primeiro
grande erro é justamente esse. Se essas doutrinas fossem tão importantes,
provavelmente não ficariam meramente na tradição, no boca-a-boca, mas sim
transcritas e oficializadas.
Além disso, não é possível rastrear de fato as origens das tradições. Não dá
pra saber se tal tradição veio dos apóstolos ou não. É por isso que nós
rejeitamos todo e qualquer tipo de tradição em forma de doutrina ou verdade,
pois pode muito bem ter sido usada pelo diabo para enganar os fiéis. É por isso
que Lucas escreveu seu evangelho:
"Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos
fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o
princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim,
depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó
excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças
plenamente a verdade das coisas em que foste instruído."
Lucas 1:1-4
Isso mostra que as narrativas escritas eram consideradas superiores às
orais, em todos os aspectos ainda que os católicos indaguem: "Mas, toda a
palavra de Deus está na Bíblia?". Ora, toda a palavra necessária aos
cristãos está. Pois foi dito: "Tudo quanto, outrora, foi escrito para o
nosso ensino foi escrito" Rm 15:4. E daí os católicos ainda apelando a
tradição poderiam indagar: "E João 21:25?".
O fato é que João não diz que Jesus ensinou novas doutrinas ou verdades, mas
diz que Ele fez muitos feitos maravilhosos. Ora, o próprio Cristo disse que nós
faríamos coisas maiores que ele. Sendo assim, relacionar o versículo de João
com as tradições me parece muito conveniente aos católicos, e nada mais que
isso. Contudo os católicos ao verem seus apelos a tradição ruirem, podem então
ojetivar que, segundo eles, desde a Reforma Protestante do séc. XVI, os
protestantes seguem uma doutrina que o cristianismo jamais aceitou em seu meio:
a "Sola Scriptura". E quanto a isto respondemos que nos primeiros
séculos de cristianismo o Sola Scriptura era não apenas aceito, mas estava
implicitamente dogmatizado como norma. Cirilo de Jerusalém talvez é um belo
exemplo de defesa da Sola Scriptura:
"Porque concernente aos divinos e sagrados mistérios da fé, é
nosso dever não fazer nenhuma insignificante observação sem submetê-la às
Sagradas Escrituras, nem sermos desviados por meras probabilidades e artificios
de argumentos."
Do Inglês: A Library of the Fathers of the Holy Catholic Church (Oxford:
Parker, 1845), "The Catechetical Lectures of S. Cyril" Lecture 4.17.
Portanto, toda observação, por menor que seja, deve ser submetida às Sagradas
Escrituras, e nunca às tradições ou à aprovação de quaisquer Sé Apostólica
(sim, pois na época, Roma não tinha supremacia absoluta como hoje).
Todavia, os católicos ainda argumentam que apesar de defendermos o Sola
Scriptura e rejeitarmos a tradição, hoje, existem mais de 20 mil denominações
evangélicas, cada qual pregando sua "verdade particular", como se
esta não foi Única. E sobre isto respondemos que o grande problema tanto
católico quanto evangélico/protestante é que uns acreditam que (figuradamente)
Jesus rejeitava todo tipo de carne, outros que Jesus rejeitava alguns tipos,
outros não, e alguns outros dizem que Jesus comia de tudo. E fazem disso doutrina,
quando o próprio Paulo nos alerta para que respeitemos as opiniões diversas
quando estas se tratam de temas não relevantes ou fundamentais para a igreja.
"Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come
não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque
Deus o acolheu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor
está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.
Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um
tenha opinião bem definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia
para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e
quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós
vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor
vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos,
somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu:
para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Tu, porém, por que julgas teu
irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o
tribunal de Deus."
Epístola de Paulo aos Romanos 14:2-10
Admitindo que Paulo estava inspirado, vê-se que a salvação não será dada a um
seleto grupo, cujas opiniões são idênticas e únicas, mas sim que para pessoas
de todas as opiniões, de todos os ministérios, conquanto que não se desviem do
fundamental, que é Cristo Jesus e sua ressurreição.
Fonte: https://www.resistenciaapologetica.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário