Erros
e contradições na teologia unicista
No final do segundo século, a heresia conhecida como Monarquianismo se opôs ferozmente contra a
teologia trinitariana. Eles se dividiam em dois grupos: a) Monarquianismo
Dinâmico: defendia que Cristo era apenas um homem, adotado por Deus por ocasião
de seu batismo; b) Monarquianismo Modalista: sustentava que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo seriam três “modos” sucessivos segundo os quais Deus se
“manifestava” e trazia salvação aos homens. Alguns dos mais proeminentes
defensores do Modalismo nessa época foram Noetos, Praxeas, Calixto e Sabélio.
Do outro lado, Tertuliano, Hipólito e Orígenes formaram uma frente única contra
o unicismo.
Em virtude dos intensos debates travados no segundo século e durante os séculos seguintes, o
unicismo desapareceu da História, vindo a se recuperar muito tempo depois.
Hoje, mais de cem anos depois dos primeiros “avivamentos” que varreram os
Estados Unidos, o unicismo encontra-se em todo o mundo, tendo diversas
ramificações em nosso país.
Origem e história
A origem do unicismo se prende aos primeiros séculos da Era Cristã. Os mais antigos
relatos que se têm noticia é de Praxeas ensinando na Ásia Menor, enquanto
Noetos aparece pregando em Roma. Noetos foi quem primeiro formulou uma teologia
essencialmente unicista. Ele foi bispo de Esmirna, quando por volta de 180 d. C
começou a ensinar o que mais tarde seria conhecido como Monarquianismo. Expulso
da Igreja de Esmirna por causa de sua insubmissão ao ministério, Noetos se
refugiou em Roma, onde mais tarde conheceria Epigonus, primeiro discípulo e
propagador de sua ideias.
Outro destacado líder do unicismo por essa época foi Praxeas. Oriundo da Ásia Menor,
Praxeas era conhecido por seu gênero inquieto, arrogante e perspicaz. Ele
chegou a Roma de maneira sutil, passando despercebido até mesmo pelo experiente
Hipólito. Formado aos pés de Noetos, Praxeas desenvolveu boa parte de seu
ministério em Cartago, onde encontrou forte oposição por parte de Tertuliano.
Praxeas negava a preexistência do Filho, usando o termo Filho aplicado apenas à
encarnação. Segundo este bispo, o Filho seria carne; o Pai Espírito (Deus). Era
assim que Praxeas entendia as duas naturezas do Filho, sendo hoje um dos
principais artifícios do unicismo. Essa doutrina foi combatida por Tertuliano
em Contra Praxeas, quando pela primeira vez o apologista Tertuliano usa o termo
trinitas (“trindade”) para a divindade. [1]
O unicismo, enquanto
tentativa de explicar a natureza de Deus, ganhou corpo a partir do terceiro
século. Movido pelo racha do Monarquianismo em Dinâmico e Modalista, ainda no
fim do segundo século, Sabélio – um bispo de uma igreja cristã do norte da
África -, saiu em defesa do Modalismo. Sabélio estabeleceu novas diretrizes ao
unicismo, do que lhe valeu o título de “maior defensor do Modalismo (unicismo)
da História”. Muitas das definições que conhecemos hoje, como “modos do Pai”,
“modos do Filho” e “modos do Espírito Santo”, tiveram origem em Sabélio. Apesar
da forte oposição encontrada por parte de alguns lideres da igreja na época,
entre eles Tertuliano e Orígenes, Sabélio “progrediu”, encontrando na massa dos
fiéis seus principais seguidores. Sabélio foi excomungado em 220 d.C. pelo Papa
Calixto, que muitos em sua época diziam ter aderido ao unicismo. A doutrina
unicista foi condenada de maneira definitiva pelo Papa Dionísio de Alexandria,
quando em 263 d.C derrotou o sabelianismo.
O pentecostalismo unicista no vigésimo século
Embora não exista consenso
quanto a data exata do reaparecimento do unicismo no vigésimo século, alguns
autores têm proposto o ano de 1913 como o marco de sua restauração. Foi durante
um acampamento em Los Angeles, em 15 de abril, que um pregador canadense o Rev.
R. E. Masclester passou a ensinar que o “verdadeiro” batismo é em nome de
Jesus. Sua mensagem foi recebida por uns e rejeitada por outros. Entre eles estava
John S. Sheppe, fundador de um movimento conhecido como “Só Jesus”, e o
evangelista Frank Ewart, outro expoente do movimento. Homens como Glen A. Cook,
G. T. Hoywood, E. N.
Em 1916, por ocasião
da Convenção Geral das Assembleias de Deus, a doutrina bíblica da Trindade foi
reafirmada, resultando na exclusão de 156 pastores e suas respectivas igrejas.
Surgia a Assembleia Geral das Assembleias Apostólicas (AGAA), que se uniu, em
1918, a um outro grupo conhecido como Assembleias Pentecostais do Mundo (APM). Dessa
junção surgiriam duas outras organizações: as Assembleias Pentecostais de Jesus
Cristo, liderada por W.T. Witherpson e a Igreja Incorporada, liderada por
Hoywoord A. Gss. Essas se uniram para fundar, em 1945, a Igreja Pentecostal
Unida Internacional (IPUI). Eles adotaram a seguinte doutrina fundamental.
“A doutrina básica fundamental desta organização
será o padrão bíblico de salvação completa, o que significa o arrependimento, o
batismo por imersão em águas em nome do Senhor Jesus Cristo e o batismo com o
Espírito Santo com o sinal inicial de falar em outras línguas de acordo com a
direção do Espírito. Procuremos manter a unidade do Espírito até que cheguemos
à unidade da fé, ao mesmo tempo advertindo a todos os irmãos que não provoquem
polêmica pelos seus pontos de vista diferentes para a desunião do corpo”. [2]
Principais ramificações no Brasil
Hoje existem várias ramificações do unicismo no mundo. No Brasil, quatro principais grupos
se destacam, a saber a Igreja de Deus no Brasil, a Igreja Local de Witnees Lee,
o Ministério A Voz da Verdade e os Adeptos do Nome Yehoshua e suas Variantes.
Vejamos cada um desses grupos distintamente.
A Igreja de Deus no Brasil
A presença do unicismo em nosso país esta primeiramente ligada ao ministério do chileno
Juan Bautista Álviar. Vamos conhecer um pouco de sua vida e o que levou ao
unicismo. O testemunho a seguir foi publicado no jornal Voz Apostólica, Edição
V – ano II – 2004, pág. 11.
Era 11 de outubro de 1933. Em Santiago do Chile, entre as 19 e 20 horas, estava em andamento um
culto ao ar livre, comum naqueles dias de “avivamento”. Naquele mesmo lugar,
uma jovem senhorita, Maria Susana Álviar, entrava em trabalho de parto. Seu
marido, Luiz Antonio Álviar, de igual modo se encontrava em um outro bairro num
culto semelhante, alheio da chegada de seu primogênito. Ao regressar para casa
encontrou um bilhete comunicando que sua esposa estava na maternidade; sabendo
que não poderia vê-la de imediato, pois já era tarde da noite, orou ao Senhor e
perguntou a Deus qual era o sexo da criança e qual nome deveria lhe dar. Ao
abrir a Bíblia, seus olhos se detiveram na passagem de Lucas 1.63 “João – Juan
em espanhol – será seu nome”. Na maternidade do Salvador, Susana, com seus
olhos fitos em seu filho, orava a Deus e pedia um nome para aquele bebê e,
naquele mesmo instante, Deus lhe disse em alto e bom som: “seu nome será Juan
Bautista”.
Por várias vezes em sua
infância foi “visitado” por anjos de Deus em sua humilde casa. Na noite em que
seus pais saiam para pregar, como filho mais velho, cuidava de seus irmãos. Seu
“amor” pela obra de Cristo vinha do grande testemunho de seus pais, como também
das experiências vividas por ele. Assim, ainda jovem, menino até, já anunciava
Jesus. Em 15 de julho de 1954 casou-se com Doroty Jean, filha de missionários
americanos e tiveram seis filhos.
Juan e sua esposa são enviados ao Brasil
Em 17 de março de 1958, já missionário, Juan e sua esposa, após “ouvirem” a voz do Senhor por
várias vezes os “enviando” ao Brasil, voavam de Deatle para Nova Yorque, de lá
para Caracas, na Venezuela, chegando ao Brasil em 19 de março. Sua vinda ao
Brasil coincidiu com os primeiros anos da Igreja Brasil para Cristo.
Inicialmente radicado a essa igreja, Álviar permaneceu por muitos anos alheio
as suas crenças. Foi somente no começo da década de 60 que decidiu romper com
seu silêncio, dando inicio a uma “revolução” que o levaria a fundar um
movimento que ficou conhecido como “Marcha para Jesus”. Atualmente esse
movimento é conhecido como “A Igreja de Deus no Brasil”, que é unicista e
batiza apenas em nome de Jesus.
Em 1994 foi convidado para pastorear uma igreja nos Estados Unidos, a Apostolic Tabernacle
Churche. Atendendo o “chamado” divino, Juan e sua família mudam-se para
Berkerfild, Califórnia, onde passaria os últimos dias de sua vida. No começo de
2003, mesmo sob severas recomendações de seus médicos e amigos de ministério,
Aliviar decide empreender sua última viagem ao Brasil, quando participaria da
Convenção Geral da A Igreja de Deus no Brasil. Já de volta aos Estados Unidos,
em 10 de dezembro de 2003, Juan Bautista Álviar vem a falecer. Com a
presidência da igreja ficaria seu irmão, o Rev. Adan Álviar, que teria pela
frente uma dura tarefa – decidir o que fazer com os que se opunham a “grande
revelação da unicidade”. Como nada mais poderia ser feito, foi decidido,
unâmimente, que os tais deveriam se afastar da igreja. Desorientados, fundaram
um movimento conhecido como “Igreja de Deus no Brasil” (sem a vogal “A” antes
de “Igreja de Deus no Brasil”), os quais passaram a fazer franca oposição ao
unicismo.
A Igreja Local
Mantenedora do jornal Árvore da Vida, a Igreja Local não se explica por si mesma. Na verdade, não existe
um termo próprio para essa organização. Eles são conhecidos como a “Igreja de
São Paulo”, a “Igreja de Los Angeles”, a “Igreja de Taiwan” etc. Essa definição
teve origem a partir dos ensinos de Watchman Nee.
“Este termo, a base da igreja, foi usado pela
primeira vez pelo irmão Watchman Nee em 1937. Antes de 1937, jamais havíamos
ouvido ou visto este termo, e a questão da base da igreja, tanto quanto fomos
capazes de determinar, não era conhecida (…) A base é o terreno sobre o qual é
colocado o fundamento. Há muitas assim chamadas igrejas em São Paulo. Uma, a
Igreja Católica Romana, proclama estar edificada em Cristo como o seu
fundamento. Outra, a Igreja Presbiteriana, também proclama que seu fundamento
não é outro senão Cristo. Os batistas, os quakers, os metodistas, os
episcopais, os luteranos, os nazarenos e muitos outros proclamam a mesma coisa.
Na verdade, não há uma assim chamada Igreja cristã que não faça isto. Todas
proclamam que Cristo é o fundamento delas, mas têm negligenciado totalmente a
questão da base (…)
As Escrituras mostram claramente que em cada
localidade a expressão do corpo de Cristo, isto é, a Igreja Local, deve ser
uma. Não há lugar nas Escrituras que se registre mais de uma Igreja Local numa
determinada cidade. Se você esta vivendo em São Paulo, deve ser edificado
juntamente com os irmãos de São Paulo, como a igreja naquela localidade. Se
você esta em Tóquio, devera ser edificado com aqueles que são salvos em Tóquio,
como a igreja naquela localidade. Como cristão vivendo numa localidade, você
deve ser edificado com os outros cristãos naquela localidade, como a única
igreja ali, a qual deveria ser chamada a Igreja Naquele Lugar”. [3]
O que cremos
O jornal Árvore da Vida, ano 13, número 128, página
6, traz assim o seu artigo de fé:
1) A Bíblia Sagrada é a revelação divina,
verbalmente inspirada pelo Espírito Santo;
2) Deus é único e triúno – o Pai, o Filho e o
Espírito Santo – coexistindo em igualdade de eternidade a eternidade;
3) O Filho de Deus, sendo o próprio Deus,
encarnou-se para ser um homem, de nome Jesus, nascido da virgem Maria, para ser
nosso Redentor e Salvador;
4) Jesus, um homem genuíno, viveu trinta e três
anos e meio para tornar Deus Pai conhecido dos homens;
5) Jesus, o Cristo ungido por Deus com seu Espírito
Santo, morreu na cruz por nossos pecados e derramou seu sangue para o
cumprimento de nossa redenção;
6) Jesus Cristo, depois de sepultado por três dias,
ressuscitou dos mortos, e que, em ressurreição, tornou-se o Espírito que dá
vida para transmitir a si mesmo para dentro de nós como nossa vida e tudo para
nós;
7) Após sua ressurreição, Cristo ascendeu aos céus
e Deus o fez Senhor de todas as coisas;
8) Após sua ascensão, Cristo derramou o Espírito de
Deus para batizar seus membros escolhidos para dentro do único corpo e que o
Espírito de Cristo esta se movendo na terra para convencer os pecadores,
regenerar o povo escolhido de Deus, habitar nos membros de Cristo para seu
crescimento em vida e para edificar o corpo de Cristo com vistas a sua plena
salvação;
9) No fim da presente era, Cristo voltará para
arrebatar os cristãos vencedores, julgar o mundo, tomar a posse da terra e
estabelecer seu reino eterno;
10) Os cristãos vencedores reinarão com Cristo no milênio
e que todos os cristãos participarão das bênçãos divinas na Nova Jerusalém, no
novo céu e na nova terra, pela eternidade.
Para um espectador comum, essa parece ser uma “verdadeira” declaração de fé evangélica.
Entretanto, quando examinamos suas crenças, descobrimos uma série de
divergências com a fé cristã universal (1) Conhecida como
“regeneração batismal”, a Igreja Local, juntamente com outros grupos unicistas,
associa a salvação ao batismo nas águas; (2) São contra o
estudo das Escrituras. Eles ensinam uma pratica que ficou conhecida como
“orar-ler as Escrituras”; (3) “Satanás habita em nós”. Segundo
Witnees Lee, o “próprio Satanás, como a natureza maligna e como a lei do
pecado, habita em nós para corromper o nosso corpo”.
Unicismo
Herança dos ensinos de Emmanuel Swedemborg (1688-1772), famoso escritor e filósofo sueco,
Witnees Lee desenvolveu uma espécie de “unicismo oculto”. Swedemborg costumava
usar o termo Trindade, mas observando que significava apenas “três modos” e não
uma Trindade de pessoas. Em um de seus livros, A Economia Divina, Lee deixa
evidente essa influência.
“O nosso Deus não é apenas o Deus da criação, mas o
próprio Deus que se tornou homem viveu nesta terra por trinta e três anos e
meio, morreu na cruz e foi ressuscitado. Hoje, Ele é o próprio Deus Triúno – o
Pai, o Filho e o Espírito Santo – em ressurreição”. [4]
Contrariando o que diz o Credo Atanasiano, no seu quarto artigo de fé, Witnees Lee
prossegue:
“Alguns teólogos tradicionais nos dizem que as três
pessoas na trindade divina: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, não devem ser
confundidos e devem ser confundidos e devem ser mantidos claramente separados o
tempo todo. Mas a Bíblia ensina que Jesus, o Filho de Deus, tornou-se o
Espírito. Quando Jesus nasceu, Ele se tornou carne. Quando ressuscitou,
tornou-se o Espírito”. [5]
O movimento A Voz da Verdade
Mais conhecida por causa do conjunto do mesmo nome,
a Igreja Evangélica A Voz da Verdade (IEVV) é um dos movimentos que mais cresce
no Brasil; são exclusivistas e não medem palavras ao nos chamar de “desviados”.
Embora não possa ser comparada a Igreja Tabernáculo da Fé – que também professa
o unicismo – a IEVV é, sim, uma seita.
Fundação
A IEVV foi fundada por Freud Moisés, após uma revelação que o tornaria conhecido como
o “homem que encontrou Jesus no cinema”. Filho de libaneses, converteu-se em
1953. Antes foi um farrista, um jogador viciado, mulherengo e sem paz. Teve um
chamado “especial”, Jesus apareceu-lhe na tela de um cinema e disse que o faria
pescador de almas. Transformado e arrependido começou a anunciar que existe
somente um Deus e seu nome é Jesus. Dezenove anos depois, em 1973, Freud Moisés
daria inicio ao conjunto Voz da Verdade, na antiga Igreja Pentecostal Unida do
Brasil, da vila Paraíso, Santo André (SP). Depois de alguns conflitos surgidos
entre o conjunto e a Igreja local, envolvendo questões de usos e costumes, se
desligam, para fundar, na rua Casa Branca, 168, no bairro do mesmo nome, a
Igreja Evangélica Voz da Verdade. Ali permaneceu, até se mudar para o seu atual
endereço, no antigo cinema Tangara II, no Studio Center, no centro de Santo
André. [6]
Como parte de seu programa anual, realizam
periodicamente acampamentos em que são ministrados estudos e outras atividades
da Igreja, sempre regadas ao som do conjunto A Voz da Verdade.
Declaração doutrinária
O Estatuto da Igreja Evangélica A Voz da Verdade (IEVV) assim declara:
1. Quando a Bíblia se refere a Deus, esta falando
no Espírito Santo que é o Pai, criador e sustentador de tudo;
2. Jesus tanto é o Pai, como é o Filho;
3. Antes da manifestação de Jesus como homem, não
havia Filho de Deus (somente os anjos eram tidos como filhos de Deus);
4. Jesus pode ser Pai e também Filho? É muito lógico
que sim, pois Ele é Deus. [7]
Literatura
A única “obra” impressa pela IEVV é o pequeno livrete “Revelação do Amor”, de Rita de
Cássia Moisés. Com um total de 48 páginas, esboça de maneira superficial a
doutrina unicista. É uma obra que, diferente do livro A Unicidade de Deus – de
David K. Bernard -, não pode ser considerada uma “jóia” da literatura unicista.
Dentre os principais temas abordados, destacamos:
1. Conheça a Bíblia Sagrada;
2. Cristo, a Palavra Viva;
3. Quem afinal é o Senhor?
4. Quem é Deus senão o Senhor?
5. A natureza de Jesus: divina e humana;
6. O que Deus diz de si mesmo?
7. O batismo segundo a Bíblia;
8. O mistério de Deus: Cristo;
9. Deus estava em Cristo reconciliando o mundo com
sigo mesmo;
10. Deus em Jesus.
Os Adeptos do Nome Yehoshua e suas Variantes
Um pouco mais ousados do que a maioria dos
unicistas, os adeptos do Nome Yehoshua (também conhecidos como as “Testemunhas
de Yehoshua”), são os mais exóticos dentro da unicidade. Fundado em 1987, em
Curitiba, Paraná, por Ivo Santos de Camargo, possue cerca de 200 membros em
todo país. É um movimento sincretista, que reúne em sua doutrina elementos do
Judaísmo, Modalismo e da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
De origem religiosa desconhecida, Ivo Santos de Camargo arroga para si à façanha de ter “descoberto” a
verdadeira pronúncia do nome sagrado YHVH.
“No velho concerto o nome de Deus foi representado
pelo tetragrama IOD –HE – VAU – HE (YHVH), que no novo concerto foi vocacionado
pelo anjo a Miriam. “E darás à luz um filho e chamarás o seu nome Yehoshua”
(Mt. 1.21). Portanto, o nome original do salvador é o que foi dado pelo anjo a
Miriam é um nome de origem hebraica, não o nome colocado pelos bispos romanos”.
[8]
Eles rejeitam terminantemente o nome Jesus, alegando que ele teria sido introduzido nas
Escrituras no III século, por Jerônimo.
“Nesta ocasião o nome original Yehoshua foi
substituído pelo nome grego-romano Jesus (IESUS). Esse nome lembra a divindade
grega Zeus”. [9]
Essa é uma declaração perigosa, pois além de descartar Jesus das páginas sagradas, vai mais além, ao
associar seu nome com o sinal da besta.
“A santíssima Trindade, o dualismo e o ídolo romano
Jesus é o sinal da besta (falsa religião). Liberte-se destes dogmas romanos e
receba em sua testa o sinal eterno, YEHOSHUA”. [10]
Segundo eles, Jeová, Javé, Yehov ou Yaveh são todas pronúncias errôneas das letras
hebraicas YHVH, cuja pronúncia correta seria Yehoshua. Como as Testemunhas de
Jeová, eles criaram sua própria versão das Escrituras. Com efeito, dizem que a
salvação esta condicionada ao conhecimento do nome Yehoshua. Afirmam que muitos
perderão a salvação pelo simples fato de fazerem “vista grossa” para certas
verdades recebidas, ou então por estarem presas a um sistema religioso apóstata.
“Precisamos nos convencer a nós mesmos que se não
recebermos o nome Yehoshua não seremos salvos, porque assim dissera os santos
profetas. Faça, pois, como os irmãos de Beréia, não tenha medo da verdade, e
receba em sua vida o nome verdadeiro de nosso Senhor Yehoshua, que é o nome que
veio do céu para nossa salvação”. [11]
Quanto a isso são irredutíveis, estando dispostos a dar tudo de si pela causa de Yehoshua. Dizem
eles:
“Nós, as Testemunhas de Yehoshua, estaremos prontas
e conscientes da responsabilidade que nos foi confiada. Assim sendo,
defenderemos nem que seja com a nossa própria vida. Os santos na terra são a
espada de Yehoshua contra o paganismo”. [12]
PRINCIPAIS ASPECTOS DOUTRINÁRIOS
A principal diferença que separa cristãos trinitaristas e unicistas é a inconsequente doutrina
unicista das manifestações, e é justamente aí que mora todo o perigo. Eles
creem em um tipo de “ministério divino” segundo o qual Pai, o Filho e o
Espírito Santo seriam “manifestações temporárias de um mesmo ser”, e não uma distinção
de pessoas.
O monoteísmo radical
“A base da teologia unicista é um conceito de
monoteísmo radical. Simplesmente declara: Deus é absoluta e indivisilvemente
um. Não há distinções ou divisões em sua natureza divina”. [13]
Embora seja verdade que tanto o Antigo Testamento, quanto o Novo, sustenta a
existência de apenas um Deus, o conceito trinitarista é igualmente monoteísta.
O erro, porém, é que toma por certo que a doutrina da Trindade sugere alguma
divisão em sua natureza divina. Isso ocorre porque os opositores da sã doutrina
possuem um conceito errôneo da divindade. A maneira mais correta para se
entender à divindade é a de uma essência divina, ou seja, a divindade, como a
sua própria definição sugere, é a que une as pessoas do Pai, e do Filho e do
Espírito Santo, fazendo que seja um único Deus. Essa foi à definição exposta no
credo atanasiano, no seu 4o artigo de fé. A substancia é essa essência única de
Deus que não se pode separar, dividir ou multiplicar.
Deuteronômio 6.4
Com o intuito de dar a sua doutrina uma roupagem tipicamente bíblica, os unicistas
frequentemente citam Deuteronômio 6.4 como uma base de sua crença.
“Tanto crentes unicistas como judeus encontram a
expressão clássica de sua fé em Deuteronômio 6.4” “Os judeus ortodoxos obedecem
literalmente essa ordem, amarrando o Tefillin (plylacteries) em seu braço
esquerdo e na testa, quando oram, e colocando o Muzuzzah em suas portas e
portões (Tefillin são pequenas atadas ao corpo com tiras de couro e Muzuzzah
são pequenos recipientes contendo pequenos rolos das Escrituras)… Durante uma
viagem a Jerusalém, onde colhemos as informações citadas acima, tentamos
comprar o Tefillin, o mercador, judeu ortodoxo, afirmou não vender Tefillin aos
cristãos porque eles não acreditam nele nem tem a devida reverência a esses
versículos das Escrituras. Quando citamos Deuteronômio 6.4 e explicamos nossa
total concordância com o mesmo, seus olhos se iluminaram, e prometeu vendê-lo a
nós sob a condição de que tratássemos o Tefillin com cuidado e respeito. Sua preocupação
mostra a extrema reverência e fé profunda que os judeus tem pelo conceito de um
único Deus. Revela, também, que uma das maiores razões porque os judeus têm
rejeitado o Cristianismo, através da história, é a percepção distorcida da
mensagem monoteística.”. [14]
Se para um judeu é difícil compreender a doutrina da Trindade, essa mesma dificuldade
poderia ser sentida se um unicista tentasse explicar que o Deus Jeová do Antigo
Testamento (Pai) é o mesmo encarnado em Jesus no Novo. De maneira que seria
difícil para o unicismo conciliar sua doutrina com o monoteísmo tardio.
Eles negam a preexistência do Filho
O unicismo nega qualquer possibilidade da preexistência do Filho. Por quê? Porque isso
colocaria em risco sua doutrina das Manifestações.
“A filiação – ou papel de Filho – começou com o
nascimento da criança no ventre de Maria.” [15]
“Antes da manifestação de Jesus como homem, não
Filho de Deus. Somente os anjos eram tidos como filhos de Deus”. [16]
Uma coisa é dizer que a
natureza humana do Filho não preexistiu à encarnação, e outra é dizer que
Jesus, como Filho eterno do Pai, não existia desde toda a eternidade passada.
Pressupor, como o faz David K. Bernard, que João 3.16 não significa o “envio do
Filho ao mundo”, mas apenas de uma “natureza enviando outra”, seria um erro
grossante, por exemplo, argumentar que os judeus esperavam a vinda do próprio
Pai em carne.
Além de negar a preexistência
do Filho, os unicistas apontam para o dia quando Deus “deixará de assumir seu
papel de Filho e a filiação será, mais uma vez, absorvida pela grandeza de
Deus, que retornará a seu papel original como Pai, criador e soberano de tudo”.
O que não se entende com relação ao unicismo, é o porquê de todo este
malabarismo divino. A descrição que eles fazem de Deus é, sem dúvida alguma,
uma verdadeira encenação teatral. É justamente esse o conceito que se tem do
Filho – a de um personagem usado temporariamente pelo Pai. Consequentemente,
não haveria Filho de Deus como pessoa espiritual.
As duas naturezas
A doutrina das duas naturezas do Filho – divina e humana – tem sido mal entendida pelos
unicistas. Ela significa duas naturezas distintas no Filho, mas jamais pode ser
vista como significando Pai e Filho. Não existe qualquer tipo de relação
afetiva, moral ou de qualquer outra natureza entre elas. A compreensão unicista
neste sentido, entretanto, é a mais devastadora possível. De uma maneira pouco
racional, eles veem as duas naturezas do Filho da seguinte maneira.
·
Natureza
humana – Filho
·
Natureza
divina – Pai
Daí atribui as mais mirabolantes interpretações possíveis. Eles vão de um extremo ao outro
das Escrituras procurando dar um sentido a sua interpretação. Argumentam que se
há alguma distinção em Deus, essa é apenas no que se refere à distinção de
“funções” na divindade. Essa distinção surgiu como um meio de fuga para alguns
pontos difíceis das Escrituras que, interpretados de outra maneira, poderia dar
a entender uma “dualidade de pessoas”. Por exemplo, quando questionados sobre
algumas distinções no Antigo Testamento, simplesmente declaram:
“Qualquer dualidade vista nesses versículos das
Escrituras indica uma distinção entre Deus e a humanidade”. [17]
Essa é a mesma praxe seguida no Novo Testamento.
“Os crentes unicistas enfatizam as duas naturezas
de Cristo, usando este fato para explicar as referências no plural ao Pai e ao
Filho contidas nos evangelhos. Como Pai, Jesus às vezes agia e falava de sua
auto-consciência divina; como Filho Ele algumas vezes agia e falava de sua
auto-consciência humana”. [18]
A passagem de Mateus 18.10 fere frontalmente a doutrina unicista das naturezas.
A teologia do nome
A unicidade dá forte ênfase à doutrina do nome de Deus como revelado tanto no Antigo como no
Novo Testamento. Enquanto os trinitaristas veem o nome de Jesus como o nome
humano de Deus Filho, os crentes unicistas veem este nome como o nome redentor
de Deus no Novo Testamento. Eles recorrem às passagens de Isaias 52.6; Zacarias
14.9; Mateus 1.21; João 17.26 e Filipenses 2.10 com o intuito de provar que
Jesus é o “único nome da divindade, dado entre os homens”. Segundo eles, Deus
no Antigo Testamento não possuía um nome especifico (Ex. 6.3). Eram atribuídos
diversos títulos, como Eloah, Elohim, Jeová, mas pelo seu próprio nome – Jesus
– não foi perfeitamente conhecido por eles. Jesus é a culminância de todos os
nomes de Deus, no Antigo Testamento. Ele é o mais alto, o mais exaltado jamais
revelado à humanidade.
O batismo em nome de Jesus
O movimento unicista ensina que o batismo nas águas deve ser administrado na fórmula mágica
de Mateus 28.19. “A Teologia do nome e a rejeição do trinitarismo exige uma
fórmula Cristocêntrica. [19]
Eles chegaram a essa conclusão após uma “revelação” do texto hebraico de Mateus 28.19.
“A gramática do versículo denota um nome singular.
Sendo que Jesus é ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo, e sendo que Ele
veio em nome de seu Pai e enviará seu Espírito em seu nome, o único nome de
Mateus 28.19 tem que ser Jesus. A igreja primitiva, que incluía Mateus, cumpriu
as instruções de Cristo, batizando em nome de Jesus”. [20]
Veja Atos 2.38; 8.12,16; 10.48; 19.5; 22.16. Citam
Paulo como tendo seguido essa suposta “instrução” de Cristo.
Referências Bibliográficas
1. SILVA, E.S. Manual de Apologética Cristã, CPAD,
pág. 317.
2. Folheto Explicativo, A Verdade sobre a Igreja,
CPP, Alvorada – RS.
3. LEE, W. A Base da Igreja, Árvore da Vida, págs.
6-10.
4. LEE, W. A Economia de Divina, São Paulo – SP:
Editora Árvore da Vida, 4ª edição, outubro de 2000, pág. 24.
5. Ibidem, pág. 79
6. MOISES, R.C. Revelação do Amor, A Voz da
Verdade, pág. 6.
Ibidem, pág. 6
7. A Igreja Evangélica a Voz da Verdade e o
Unicismo, Defesa da Fé, ano 3, número 20, março de 2000, pág. 54.
8. Folheto Explicativo, O Nome Sagrado, pág. 1.
9. Ibidem, pág. 2.
10. Folheto Explicativo, O Inefável Nome Sagrado,
pág. 2.
11. Ibidem, pág. 2.
12. Id. Ibidem, pág. 3.
13 BERNARD, David K. Essenciais da Teologia
Unicista, pág. 6
14. BERNARD, David K. A Unicidade de Deus, pág. 17
15. Estatuto da Igreja Voz da Verdade, número 2
16. Ibidem
17. BERNARD, David K. A Unicidade de Deus, pág. 152
18. BERNARD, David K. Essenciais da Teologia
Unicista, pág. 18
19. Ibidem, pág. 22
20. Id. Ibidem, pág. 21
Fonte: INPR
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