Quando pensamos que
Deus tem que agir conforme o nosso querer Ele não passa de um ídolo para nós. Ou,
mais especificamente, o Deus que apoia os nossos planos, segundo o que nós
achamos melhor para o mundo e a nossa história, esse Deus não passa de uma
criação nossa, um deus falso. Nesse modo de agir, Deus é o nosso “parceiro”, alguém
com quem nos relacionamos desde que ele faça o que queremos. Se ele quiser agir
de outra maneira, nosso desejo é “despedi-lo” ou “hostilizá-lo”, como faríamos
com um assistente pessoal ou um conhecido insubordinado ou incompetente.
Elisabeth Elliot no epílogo
do livro Através dos portais do esplendor,
escrito em 1996, em que relata a morte de cinco missionários,
dentre eles o seu esposo Jim Elliot, ela relata que eles queriam alcançar o
então isolado e hostil povo waorani da floresta amazônica. No entanto, eles
foram mortos por esses índios, deixando para trás muitas viúvas e órfãos. Elizabeth
Elliot desafia os pontos de vista secular e tradicional a respeito de Deus e do
sofrimento como algo simples e ingênuo. Ela alerta contra a tentativa de “descobrir
um raio de sol entre as nuvens escuras” que justifique os acontecimentos.
Elisabeth escreve:
Sabemos
que, na história da igreja cristã, repetidamente o sangue dos mártires foi sua
semente. Somos tentados a pressupor uma equação simples aqui. Cinco homens
morreram. Isso resultará num número “x” de waoranis cristãos. Talvez sim. Talvez
não... Deus é Deus. Se eu exigisse que Ele aja de modo a satisfazer a minha
ideia de justiça, estarei destronando-o do meu coração. Esse é o mesmo espírito
que provocou: “... se és Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27.40). Existe
descrença, até mesmo rebelião no coração que afirma: “Deus não tinha o direito
de fazer isso com os cinco homens, a não ser que...”.
O tema recorrente em
toda a obra de Elliot é que confiar em Deus quando não o entendemos significa
tratá-lo como Deus, e não como outro ser humano. É tratá-lo como glorioso,
infinitamente superior a nós em bondade e sabedoria. Mas, como Jesus diz, a
glória de Deus nunca foi revelada de maneira mais esplendorosa do que na cruz
(Jo 12.23,32). Ali vemos que Deus é tão infinito e integralmente justo que
Cristo precisou morrer pelo pecado, mas também que Deus é tão absolutamente
amoroso que Jesus se mostrou disposto e feliz em morrer. Isso é sabedoria
consumada, o fato de que o amor e justiça de Deus, aspectos aparentemente
contraditórios, tenham sido cumpridos ao mesmo tempo. Portanto, confiar na
sabedoria de Deus durante o sofrimento, mesmo quando ficamos sem entender nada,
é lembrar da glória e do significado da cruz.
Vemos então que um dos
propósitos do sofrimento é glorificar a Deus tratando-o como o Deus infinito,
soberano, totalmente sábio e, mesmo assim, encarnado e sofredor, que ele é. Isso
glorifica Deus aos olhos de Deus; é o comportamento mais apropriado que podemos
ter. E se nos comportarmos da forma
apropriada com relação a Deus e às nossas almas, encontraremos, como Elisabeth
Elliot afirma, o descanso que não está firmado em circunstâncias.
Por Timothy Keller
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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