Por Bruno Queiroz
Muitas
objeções têm sido levantadas contra o ensino bíblico da Santíssima Trindade,
algumas delas apelam para textos da Bíblia que supostamente ensinariam que Deus
não é trino, que Jesus é inferior ao Pai e que o Espírito Santo é o poder de
Deus em ação. Tratemos dessas passagens:
1: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. ”
- Deuteronômio 6:4
Segundo este versículo Deus é Um e não Três. De fato, o texto
ensina que há um só Deus e que Deus é um só. Mas é exatamente nisso que
creem os trinitários. Temos o cuidado de distinguir as “pessoalidades” da
“natureza”. Deus é Três apenas em relação às pessoalidades, no entanto em
relação a natureza Deus é absolutamente Um, uma unidade absoluta, não composta
por partes, nem dividida entre três pessoas. É falsa a ideia que se propaga por
aí de que os trinitários negam que há um só Deus e que Deus é um só. A doutrina
da Trindade entende que só existe um único Ser que possui natureza divina e que
essa natureza é uma unidade absolutamente simples.
2: “O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o
princípio, antes do começo da terra. ” -Provérbios 8:22
Alega-se que a Sabedoria Personificada neste texto seja Jesus, que apresenta-se
como a primeira criatura de Jeová. No entanto lendo o contexto (Provérbios 8 –
9) fica claro que não se pode aplicar todas as propriedades da Sabedoria
personificada a Jesus: “A personificação do divino atributo da sabedoria começa
no capítulo 1: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a sua voz” (v.
20). No capítulo 3, é-nos dito que ela “mais preciosa é do que pérolas” e “os
seus caminhos são... paz” (vs. 15 e 17). No capítulo 7 ela é chamada “irmã”
(7:4); e no capítulo 8, a sabedoria mora junto com a prudência (8:12).”1 Provérbios
9 ainda diz que a Sabedoria construiu uma casa, ergueu sete colunas, matou
animais e preparou uma refeição (vv.1-2). Com isso não se nega que o texto se
aplique homileticamente a Jesus, o que se está em questão é
que como o texto faz uso de uma figura de linguagem, alguns elementos são
puramente metafóricos e aplicam-se apenas a uma personificação de uma
manifestação específica de um atributo divino. Isso também fica claro pelo fato
da Sabedoria de Deus não poder ter sido criada, pelo contrário
a sabedoria é um atributo eterno de Deus (cf. Isaías 40.28). Desse modo, o
texto pode estar apenas apresentando “uma manifestação específica da eterna
sabedoria de Deus em Cristo na obra da criação” 2. O texto
também não indica necessariamente que a Sabedoria foi criada, de acordo com o
teólogo Wayne Grudem: “A palavra hebraica que geralmente significa
"criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que
ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa
"obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui:
"O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King
James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec
2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria
for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou
a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do
início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da
criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo
diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir
e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.”3
3: “Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de
Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas
origens estão no passado distante, em tempos antigos. ” - Miquéias
5:2
Esse texto claramente mostra Jesus como tendo uma origem antiga, num passado
distante – indica isso que ele foi criado a muito tempo? Algumas traduções
sugerem que o texto esteja dizendo que o menino Jesus que nasceria em Belém
teria uma origem genealógica que remontaria a tempos antigos.
No Evangelho de Lucas a genealogia do menino Jesus vai até Adão e Deus (Lucas
3.23-38). Assim Miqueias 5.2 pode perfeitamente estar se referindo às origens
humanas, isto é genealógicas de Jesus, já que o texto fala do nascimento dele
em Belém.A Tradução Interconfessional mostra o sentido genealógico: "ele
descende duma família, cuja origem vem dos tempos mais antigos." Esse
sentido é fortalecido pelo contexto que fala de nascimento (v.3). Assim é
provável que o texto fale da origem genealógica de Jesus, que é descendente de
Davi. Essa interpretação é ainda mais reforçada pelo fato do texto apresentá-lo
como aquele "que será governante em Israel" (v.2). Apesar disso,
alguns têm entendido essa passagem como uma referência à geração eterna do
Filho.
4: “Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom?
Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. ” - Mateus
19:17
Está aqui Jesus negando ser o Bom Deus? De forma alguma! Ele apenas convida o
jovem rico a pensar nas implicações de suas palavras. “Em resposta, temos de
observar que aqui Jesus não negou que Ele fosse Deus, Ele lhe pediu que
examinasse as implicações do que estava dizendo. Jesus estava lhe dizendo:
‘Percebes o que estás dizendo quando me chamas de bom? Percebes que isto é algo
que tu deves atribuir somente a Deus? Tu estás dizendo que sou Deus? ’ O jovem
não percebeu as implicações do que ele estava dizendo. Portanto, Jesus forçou-o
a um dilema incômodo. Ou Jesus era bom e era Deus, ou então ele era ruim e era
homem. Um Deus bom ou um homem ruim, mas não um homem bom”4
5: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, senão somente o Pai. ” -
Mateus 24:36
De acordo com esse texto nem o Filho, nem o Espírito Santo sabem a data do fim
deste sistema de coisas – como podem então os três serem o mesmo Deus
Onisciente? Só precisamos entender essa passagem a luz do seu contexto
histórico: “Na cultura Judaica antigas, o casamento era quase sempre arranjado.
Depois do casamento ter sido arranjado, o noivo fazia os preparativos na casa
de seu pai, onde ele e sua esposa iriam viver. O costume dizia que o pai do
noivo iria decidir quando os preparativos estavam terminados e a casa pronta
para o jovem casal se mudar para la. O que significa que apenas o pai sabia
quando seria o tempo do noivo se juntar a sua noiva. Mas isso não significa que
o noivo não sabia o tempo certo. O casamento era um grande evento na época, bem
maior do que atualmente, era um grande evento em comunidade. Isso significa que
as pessoas tinham que se preparar antecipadamente para o evento, e reservar um
tempo de seu trabalho diário. O dia tem que ser conhecido semanas antes, para
que as pessoas pudessem ajustar seus horários para o casamento. Preparativos,
como reserva de comida, também tinha que ser preparado com antecedência, já que
não havia refrigeração ou supermercado. Todos sabiam quando o casamento estava
chegando, no entanto, era costume em respeito ao pai e ao noivo dizer que
apenas o pai sabia quando o noivo ficaria com sua noiva. Com isso em mente, um
novo entendimento de Marcos 13.32 e Mateus 24.36 aparece. Jesus não estava
dizendo que ele e o Espírito Santo não sabiam quando os eventos de sua volta
aconteceriam, estava explicando com o que a tribulação seria parecida. Onde
todos sabiam o tempo do casamento, mas apenas o Pai diria quando aconteceria”5 Também
é admissível a interpretação que vê neste texto um contraste entre a natureza
humana limitada de Jesus (“o Filho do Homem”v.37) e a natureza divina ilimitada
do Onisciente (“o Pai”v.36).
6: “Vocês me ouviram dizer: Vou, mas volto para vocês. Se vocês me
amassem, ficariam contentes porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que
eu. ” - João 14:28
Como o Filho e o Pai podem ser iguais em essência, se Jesus disse que o Pai é
maior que Ele? É importante distinguir ontologia de economia quando
se lê esse e outros textos similares. Jesus é igual ao Pai em natureza,
mas menor que Ele em função. O apóstolo Paulo esclarece isso
melhor: “... [Jesus] sendo Deus, não considerou usurpação ser igual a Deus, mas
esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo e tornando-se semelhante aos homens.
” (Fp2.6-7). Mesmo tendo o direito de ser igual a Deus, tanto essencialmente
quanto funcionalmente, o Filho decidiu cumprir a humilde função de Servo
(Isaías 42.1), se tornando, até mesmo, menor do que os discípulos (Lucas
22.26-27). O Servo de Jeová exerceu o papel de Filho obediente (Hebreus 5.8;
Filipenses 2.8) enviado pelo Pai (João 8.42; 12.49; 17.3). Como Homem
limitado se fez instrumento nas mãos de Deus, o Pai (Jo5.19). E nessa posição
pode chamar o Pai de seu Deus (Jo20.17). Tal submissão não se restringiu ao
ministério terreno de Cristo: “Mas quando tudo for dominado por Cristo, então o
próprio Cristo que é o Filho, se colocará debaixo do domínio de Deus, que pôs
todas as coisas debaixo do domínio dele. Então Deus reinará completamente sobre
tudo.” (1Coríntios 15.28). “Jesus lhes disse: ‘Certamente vocês beberão do meu
cálice; mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim
conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados por meu
Pai. ’” (Mateus 20:23).
7: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. ” - João 17:3
Ensina esse texto que só o Pai é Deus, e portanto o Filho e o Espírito Santo
não são Deus? Não, a Bíblia também diz que só Jesus é Mestre, Senhor e Soberano
(Mateus 23.8, 10; 1 Coríntios 8.6; Judas 1.4), significa isso que o Pai não é
Mestre, Senhor nem Soberano? Não, antes que tanto o Pai, como o Filho como o
Espírito Santo são um Deus Único.
8: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras
línguas, conforme o Espírito os capacitava. ” - Atos 2:4
A Bíblia fala do Espírito Santo como sendo “derramado” e como algo que “enche”
as pessoas – como ele pode então possuir pessoalidade? O livro de Atos
claramente apresenta o Espírito Santo como uma Pessoa divina (Atos 1.16; 13.2;
15.28; 20.28; 21.11; 28.25). Uma leitura desses textos deixa evidente que eles
tratam de relações interpessoais reais, e não de meras personificações. Pode-se
facilmente perceber que expressões “derramar”, “encher” e “ungir” são
necessariamente figuradas quando aplicadas ao Espírito Santo. Ora, nem se
crêssemos em sua impessoalidade poderíamos literalizar essas expressões, e
assim são injustos aqueles que recorrem a essas expressões para despersonalizar
o Santo Espírito. Por outro lado insistir que em Atos, numa narrativa histórica
de inter-relação pessoal clara, devemos tomar o Espírito como personificado, é
no mínimo absurdo.
9: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” - Colossenses 1:15
“O termo ‘Primogênito’ é um título, e não se refere a origem, mas sim a
posição de Jesus, como Rei Soberano da Criação. Primogênito em Jesus significa
‘Soberano’, como mostra Salmos 89.27, em que Davi tipifica a Jesus como o Rei
dos reis: ‘E eu farei dele o primogênito, O maior dos reis da terra. ’”6 Note
que Davi não 'nasceu' primogenito, mas sim que ele se 'tornaria' por ocupar uma
posição de rei supremo. O próprio contexto favorece o sentido posicional para
Cristo (v.18). A Bíblia claramente mostra Jesus como Eterno: Aquele que é antes
de toda a Criação, inclusive do tempo, sendo portanto Atemporal (Eterno)
(João1.3; Colossenses 1.16-17). Ele é chamado de "o Primeiro e o
Último" (Apocalipse 1.17), expressão baseada em Isaías 44.6 que usa o
termo para significar que só Jeová é o Deus Eterno.
10: “E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha
fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”- Apocalipse 3:14
Jesus é chamado de o Princípio da Criação de Deus, significa isso que Ele é a
primeira criatura? Não, isso simplesmente significa que é em Jesus que todas as
coisas criadas encontram seu Princípio. Mesmo o Pai é chamado de “o Princípio”
em sentido semelhante (Apocalipse 21.6).
FONTE: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/01/10-versiculos-biblicos-contra-trindade.html
4Geisler, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Imagem: Google
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