INTRODUÇÃO
“Creio... na remissão dos pecados”
A mensagem de Cristo é boa nova por nos comunicar
que somos perdoados por Deus. Mas, a grande questão é: porque precisamos ser
perdoados?
Precisamos receber perdão porque somos
transgressores da Lei de Deus. Nosso estado de rebeldia teve inicio quando Adão
e Eva decaíram do estado de graça, desobedecendo uma ordem expressa do SENHOR.
Depois da Queda, a humanidade continuou sendo a imagem de Deus, só que manchada
pelo pecado. Como uma folha em branco que depois de amassada ela continua
branca, só que toda amarrotada, perdeu sua originalidade, a sua beleza. Em
Tiago 3.9 diz sobre a imagem de Deus, e o “Homem” ali no grego é anthropos
que quer mostrar que toda a humanidade – logo, toda a humanidade tem a imagem
de Deus só que manchada pelo pecado.
Quando obtemos o perdão pelos nossos pecados, isso
é uma preciosa dádiva, pois, não éramos bons ou amáveis aos olhos do Pai, ao
invés disso, nosso estado era de depravação total: Ef 2:3; Rm 3:12; Jo 8:34. Nossa
consciência estava cativa aos desejos carnais. Vivíamos acorrentados pelos
prazeres mundanos e não dávamos um passo sequer na direção de Deus. Estávamos
imundos e nos sujávamos ainda mais.
O objetivo deste texto é demonstrar a preciosidade
da remissão de nossa pecaminosidade.
SOMOS TODOS DEPRAVADOS
Na era do politicamente correto, falar que o homem
é pecador soa agressivo e ofende os ouvidos sensíveis de uma geração mimada e
que tem “fé em si mesma”. Mas devemos ser bíblicos e demonstrar que ninguém é
bom. Como diz o texto sagrado: Não há um justo sequer (Rm 3:12).
A teologia reformada cunhou o termo Depravação
Total para expressar o miserável estado de pecaminosidade. Todo homem caído é
depravado desde o nascimento, e o termo total não quer dizer que ele chegou ao
limite desta depravação, acreditem, o poço da iniquidade é bem fundo. A
totalidade desta depravação é ensinada pelo apóstolo Paulo em sua, digamos,
antropologia.
Paulo utilizou sete termos para descrever os
aspectos do homem natural/decaído, são eles: alma (psychç); espírito (pneuma);
carne (sarx); corpo (sôma); coração (kardia); mente (nous);
e consciência (syneidçsis). Veremos abaixo a forma pela qual o pecado
afeta cada uma dessas partes, fazendo com que o ser humano, em sua totalidade,
seja depravado ao ponto de ser controlado pela intensa e vibrante vontade de
pecar.
- Alma (psych): este é o termo antropológico menos citado por Paulo; existem 13
menções, apenas. Quando usado, psych refere-se à vida humana. Em Romanos
2:9, Paulo vincula a alma humana à prática do mal. No entanto, isto não quer
dizer que a alma humana seja má em si mesma, mas, por fazer parte do ser
humano, está diretamente envolvida na condição geral pecaminosa do homem. Já em
1 Coríntios 2.14, o termo psychikos (material, natural) é utilizado como
referência ao homem não regenerado, contrastando com pneumáticos (espiritual).
- Espírito (pneuma): embora seu uso mais comum seja referente ao Espírito Santo, pneuma,
na teologia paulina, também é parte inerente ao ser humano. Quando, em 1
Coríntios 2:11, o apóstolo fala no “espírito do homem”, fica difícil de aceitar
que o homem recebe o pneuma após a conversão. Mais coerente, é
considerar que o pneuma está desativado pela degeneração, e quem o
reativa é o Espírito de Deus, no processo de conversão/regeneração. Assim,
podemos entender pneuma como sendo a mais elevada representação da
natureza humana. Por si mesma, essa natureza não é boa nem má; ela torna-se boa
ou má através da influência dominante. Sendo assim, o cristão regenerado tem a
natureza sob influência do Espírito Santo, tornando-se, por fim, bom. Em
contrapartida, o não regenerado continua escravo do pecado, sendo mal em sua
essência depravada.
- Coração (kardia): Paulo utiliza kardia para descrever o local onde nasce a
concupiscência dos homens e sua insensatez (Romanos 1:21 e 24). Não é o coração
que é insensato, é o homem, com a sua degeneração moral, que o faz proceder
deste modo. Para Paulo, em alguns casos, o coração é o centro das emoções, e, em
outros, significa a pessoa, em sua totalidade. Ele dirá, ainda, que é no
coração que recebemos a iluminação para enxergarmos, através de Cristo, a
glória de Deus (2 Coríntios 2:6 e Efésios 1:18).
- Mente (nous): este termo é sempre associado, nos escritos paulinos, ao homem.
Diferentemente dos gregos, que faziam separação entre a mente e o restante do
corpo como se ela fosse uma faculdade especial. Paulo utiliza nous de
acordo com a tradição hebraica, abrangendo o homem como um todo, sem destacar o
intelecto das demais partes. Novamente, nous não é boa e nem má em si
mesma; seu posicionamento moral vai sofrer a influência do que for predominante
– a carne ou o Espírito Santo. No caso dos crentes, suas mentes não são mais
vis e cegas como a dos incrédulos (2 Coríntios 4:4), mas, sim, iluminadas e
renovadas (Romanos 12:2 e 2 Coríntios 4:6).
- Consciência (syneidçsis): esta palavra pode ser definida como o conhecimento de uma ação
acompanhado de uma reflexão. É uma palavra que apresenta o homem como um ser racional.
A consciência sabe o que é certo. Todo homem, então, é extremamente ciente de
seus atos. Em 1 Timóteo 4:2, Paulo fala da consciência “cauterizada” entre
aqueles que são enganados pelos que ensinam doutrina de demônios. O fato de o
homem saber o que é certo e não fazê-lo explicita a sua natureza degenerada.
- Carne (sarx): este é o termo mais empregado pelo apóstolo Paulo, e, também, o mais
variado em seu sentido. Contudo, queremos frisar apenas o conceito
antropológico, que remonta à fraqueza humana, devido à sua natureza terrena. Sarx
e pecado estão ligados na teologia paulina ao ponto de o apóstolo a definir
como fonte dos maus desejos (Gálatas 5:16). Indo mais além, a carne é uma
produtora de pecados; e, em Gálatas 5:19, temos ideia dos seus produtos. Num
contexto não cristão, sarx é predominante e conduz à morte
(Romanos 7:5).
- Corpo (soma): finalizamos essa análise da antropologia paulina com soma.
Aqui, deve-se fazer distinção entre corpo e carne. Sarx não sofre
transformação; o corpo, sim, sendo liberto em Cristo da sua influência carnal.
Este é o sentido da santificação na vida do cristão. A finalidade de soma
é ser morada do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19). A mudança de um corpo carnal
para um corpo glorificado é progressiva, do mesmo modo que ocorre com a mente.
Todavia, o corpo daquele que não for regenerado por Cristo será destinado à
morte. Como está escrito: “Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos
7:24). Por conseguinte, segundo Paulo, o homem natural não é espiritual. Essa é
uma deficiência que só pode ser suprida pelo poder e atuação do Espírito Santo.
Não há nada em nenhuma das epístolas paulinas - ou em algum outro ensino
bíblico -, que destoe da DT.
PERDÃO VISÍVEL
Ao nos depararmos com esta realidade, passamos a
valorizar mais a remissão dos pecados. Até porque ela nos foi oferecida
gratuitamente. Não pagamos o preço, mas Cristo sim. Na cruz do calvário, Ele
despachou de uma vez por todas o nosso estado de pecaminosidade e rasgou nossa
dívida para com o nosso Criador.
“Quando vocês estavam mortos em pecados e na
incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos
perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia
em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz”. - Colossenses 2:13,14
Louvado seja Deus, pois por mérito do Cordeiro
pascoal nós fomos reconciliados consigo. Ao nos contemplar, Deus nos enxerga
lavados e remidos pelo sangue de seu Filho. Isto é uma realidade na qual todos
os crentes que compõem a comunhão dos santos vivenciam. Este perdão é real.
Devemos com júbilo repetir as palavras de Paulo aos crentes de Roma: “Portanto,
agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).
Sempre que a Igreja se reúne, este perdão é
celebrado. Devemos então lembrar, que agora temos acesso ao trono da graça e
fazer de cada culto uma festa solene, em louvor ao nosso amável Remidor. Além
disto, Deus nos deixou dois meios de graça, que são os sacramentos da Ceia e do
Batismo, para nos servir como sinais visíveis de nossa redenção. O Batismo, que
é o rito de entrada para a Igreja nos comunica que somos lavados, e assim,
nosso velho homem morre para que o novo reine por meio do Santo Espírito que
habita em nós. Já a Ceia nos faz lembrar do sacrifício que nos conferiu a
remissão de nossos pecados.
Ainda sobre os sacramentos, eles não são simples
memoriais, vão além disso, nos auxiliando em nossa fé, nutrindo as nossas almas
com a presença espiritual de Cristo e nos dando a vívida imagem do perdão que
alcançamos pela bendita graça que vem de Deus.
CONCLUSÃO
Mesmo a nossa carne ainda prevalecendo em alguns
momentos, devemos ter a noção de que nada muda o nosso status – adquirido por
Cristo – perante o SENHOR. Na cruz, nossos pecados passados, presentes e
futuros foram remidos. Todavia, isso não quer dizer que não necessitamos de
constante confissão.
Nós não confessamos nossos pecados por medo de
perder a salvação, pois não a conquistamos por nós mesmos. A confissão é
resultado de uma pessoa que está em processo de santificação, e que reconhece,
ao pecar contra Deus, que precisa estar em Sua dependência para vencer as
tentações e vivenciar uma vida santa em gratidão a Cristo, para o louvor de Sua
glória.
O Catecismo de Heidelberg (resposta a questão 56)
elucida bem a questão. É com ele que finalizamos:
“Creio que Deus, por causa da satisfação em Cristo,
jamais quer lembrar-se de meus pecados e de minha natureza pecaminosa, que devo
combater durante toda a minha vida. Mas Ele me dá a justiça de Cristo pela
graça, e assim nunca mais serei condenado por Deus”.
Soli Deo Gloria
Autor: Pr. Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos
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