O objetivo deste artigo é analisar os dados
bíblicos sobre a doutrina da Trindade a fim de extrair conclusões logicamente
dedutíveis desses versículos. As Escrituras são essencialmente trinitárias, mas
a fim de não redigir um texto demasiadamente longo, foram selecionados sete
versículos bíblicos que ajudam a raciocinar sobre o assunto:
1. Gênesis 1.26: “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’.”
Logo no início das Escrituras encontramos uma descrição de Deus em termos plurais de modo que o Criador deve ser tanto uma unidade quanto uma diversidade. O texto diz: “E disse [singular - unidade] Deus [plural - diversidade]” (hebraico: wayyomer Elohim) Façamos (naaseh) [plural] o homem [unidade - adam] à nossa [plural] imagem (besalmenu) e à nossa [plural] semelhança (kiḏmuṯênu) “[1] e o verso seguinte (v.27) diz: “E criou [singular] Deus [plural] o homem [unidade – ha adam] à sua [singular] imagem (besalmow): macho (zakar) e fêmea (uneqebah) [diversidade]”[2]. Desse modo, o texto faz um jogo entre singular (unidade)/ plural (diversidade), tanto em relação a Deus, quanto em relação ao homem criado semelhante a Deus. Deus cria uma só espécie (humana) com dois sexos distintos (macho e fêmea) a fim de refletir a unidade e a diversidade de Deus. Outras passagens veterotestamentárias também usam nomes e verbos plurais para falar de Deus (Gênesis 3.22; 11.6,7; Jó 35.10; Salmos 149.2; Isaías 54.5; Eclesiastes 12.1; Provérbios 9.10; 30.3; Josué 24.19). Em Isaías 6.3, 8 a apresentação de Deus em termos plurais aparece junto com a adoração tríplice “Santo, Santo, Santo”.[3] Considerar essas construções como plurais de majestade parece improvável pois se isso fosse assim deveríamos esperar encontrar o uso de plurais de majestade no contexto das monarquias de Israel e de Judá[4].
2. Deuteronômio 6.4: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.”
O texto afirma inequivocamente a unidade absoluta de Deus: “Yahweh elohenu Yahweh ehad” (“O Senhor, nosso Deus, o Senhor é Um” [5]). Deus é nomeado como “Yahweh”, o nome pactual do Senhor que o apresenta como um Deus de relacionamento e de Aliança. Yahweh é essencialmente um Deus de relacionamento pessoal e pactual[6]. Além de apresentar o Senhor como um Deus Pessoal, o nome Yahweh também carrega os significados de imutabilidade, eternidade e autoexistência (Êxodo 3.14)[7]. A palavra Um (ehad) significa uma unidade que pode admitir uma diversidade de pessoas (Gênesis 2.24)[8]. Assim, Yahweh é um Ser Pessoal não apenas ad extra, mas também em Sua própria essência, em Si mesmo Ele É um relacionamento pessoal e pactual. Provavelmente aduzindo a esta confissão do Shemá (“Yahweh é Um’’), o apóstolo Paulo declarou que a Igreja crê em “Um só Deus, o Pai” (Grego: Heis Theos ho Pater) e “Um só Senhor, Jesus” (Heis Kyrios Iesous)[9]. Isso é dito em um contexto no qual o apóstolo está tratando da questão dos sacrifícios aos ídolos. Paulo chama os ídolos de “deuses (theoi) e senhores (kirioi)”[10] e nega a existência real dessas divindades pagãs. Assim quando Paulo chama o Pai e o Filho de “único Deus e único Senhor”, ele está afirmando que a Igreja não cultua os deuses falsos, mas sim o único Deus Verdadeiro, o Pai e o Filho[11]. Kyrios é um sucedâneo do nome Yahweh, de modo que a confissão de Jesus como “um só Kyrios” reflete a confissão do Shemá do “um só Yahweh”[12]. De fato, o Pai e o Filho existem em uma unidade essencial e relacionam-se eternamente de maneira pessoal e pactual[13]. Paulo também identifica o Espírito Santo como Yahweh: “Ora, Jeová [Kyrios][14] é o Espírito, e onde está o Espírito de Jeová, ali há liberdade. E todos nós, ao passo que com o rosto descoberto refletimos como um espelho a glória de Jeová, somos transformados nessa mesma imagem, com mais e mais glória, exatamente como Jeová, o Espírito, o faz.”[15] Assim, há uma só essência divina autoexistente, eterna e imutável na qual existe um relacionamento pessoal entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
3. João 1.1: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.”
Neste versículo o Filho é chamado de “Logos”, que no pensamento judaico se referia ao envolvimento e à presença ativa e pessoal de Yahweh no mundo [16].A expressão “No Princípio” aduz ao princípio de Gênesis 1.1 e está intimamente relacionada com o início da criação do espaço e do tempo. Desse modo, o Filho (a Palavra) é colocado junto com o Pai na “eternidade passada”, ou melhor, na atemporalidade. Isso é confirmado pelo verso 3 que diz que absolutamente nada veio a existência, senão através do Filho. Assim, se o Filho é temporal, algo teria vindo a existência antes dele, a saber, o espaço e o tempo. Outras expressões bíblicas usadas para descrever a “eternidade passada” são usadas com respeito ao Filho. Ele existe antes de todas as coisas (“pro pranton” – Colossenses 1.17)[17] e por meio dele, Deus formou os tempos (“aionas” – Hebreus 1.2)[18]. O texto não diz que o Filho veio a existir no Princípio, mas que Ele era (En arché en ho Logos). O verbo “en - era” está no tempo imperfeito indicando uma ação contínua no passado, assim a Palavra existia na “eternidade passada”[19]. A Palavra estava com o Deus de modo que ela precisa ser outra Pessoa distinta que existe na eternidade com o Deus Pai. A Palavra não pode ser o próprio Pai. Isso é confirmado pelo fato do Pai ser chamado de “o Deus” (com artigo) e o Filho de “Deus” (sem artigo), o que insinua uma distinção entre eles. Por outro lado, os vocábulos “Deus” e “o Deus” são usados lado a lado (ton Theón, kai Theós[20]) sugerindo uma unidade semântica essencial: o Logos é Deus no mesmo sentido em que o Pai é Deus, embora eles sejam duas pessoas distintas. Assim, o Filho é eterno, atemporal e igualmente Deus com o Pai, embora seja outra Pessoa em relação ao Pai.
4. João 8.58: “Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!’”
É importante notar que Jesus não diz “antes de Abraão nascer, eu nasci”, nem, “antes de Abraão nascer, eu vim a ser”, mas “antes de Abraão nascer, ‘Eu Sou’” (Ego Eimi)[21], afirmando Sua eternidade. A expressão “Eu sou”, usada por Jesus, tem como plano de fundo as declarações “Eu Sou” de Yahweh no livro de Isaías (41.4; 43.10, 13, 25; 46.4; 48.12, 51.12; 52.6), note as construções “para que saibais que Eu Sou” e “para crerdes que Eu Sou” (João 8.24,28; 13,19 – Isaías 43.10). Ao se declarar como o “Eu Sou”, Jesus se identifica como Yahweh, o Deus Imutável, Eteno e Autoexistente (Êxodo 3.14)[22]. No Evangelho de João, a expressão “Eu Sou” é relacionada a sete metáforas redentoras: “Eu Sou” o Pão da Vida (6.35,48,51), a Luz do Mundo (8.12; 9.5), a Porta (10.7,9), o Bom Pastor (10.11,14), a Ressurreição e a Vida (11.25), o Caminho, a Verdade e a Vida (14.6) e a Videira Verdadeira (15.1,5)[23]. Essas e outras metáforas, tais como, Semeador, Diretor da Colheita, Rocha e Noivo, empregadas por Jesus para falar de si mesmo, têm como fundo as parábolas que o Antigo Testamento usa para descrever Yahweh, desse modo Jesus estava se identificando com Jeová [24].
5. João 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido.”
Jesus é o Filho Unigênito de Deus. Sempre que Cristo é chamado de “Unigênito”, isso é associado com o nascimento espiritual dos crentes (João 1.12, 13,14,18; 3.6, 16, 18; 1 João 4.7, 9; 5.18)[25]. Desse modo, Jesus “nasceu espiritualmente” do Pai em um sentido único. Ele é o Verbo ou a Sabedoria que nasceu do Senhor na eternidade (Provérbios 8.22-26) e Sua origem está na eternidade (Miquéias 5.2). No ato da geração, o Filho recebe do Pai, por comunicação, “vida em si mesmo”, isto é, a essência divina completa e autoexistente (João 5.26). Assim, por ter a mesma essência do Pai, ele é a perfeita revelação do Deus invisível. Na medida em que essa geração é eterna, o Filho não veio à existência, Ele sempre existiu, existe e existirá sendo continuamente gerado do Pai em um ato eterno, porém sempre completo [26].
6. João 15.26: “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.”
“É importante notar que diferente dos verbos no futuro usados para falar do envio do Espírito (João 14.26), o verbo “procede” (grego: “ekporeuetai”) está no presente, isto é, a emanação do Espírito do Pai é contínua e estava acontecendo no momento em que Jesus estava falando. A ideia é que Jesus enviará o Espírito da parte do Pai no tempo (economia) porque na eternidade (imanência) o Espírito procede do Pai. O Filho diz que ele é quem enviará o Espírito, de modo que o Espírito também deve proceder do Filho. Levando em conta a primeira parte da Regra de Rahner (“A Trindade Econômica é a Trindade Imanente”) que diz que a revelação da Trindade no tempo reflete aquilo que Deus é na eternidade, o envio do Espírito da parte do Pai pelo Filho corresponde a uma relação de emanação do Espírito do Pai e do Filho na eternidade.”[27] Assim, o Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho. Ele é apresentado como o outro Paracleto que viria para substituir o Paracleto Jesus (1 João 2.1), de modo que temos um Intercessor Divino na Terra (o Espírito Santo – Romanos 8.26 – 27) e um Intercessor Divino nos Céus (Jesus Cristo – Hebreus 7.25) e ele também é chamado pelo pronome neutro ekeinos (“Ele”) o que o revela como um Ser Pessoal[28].
7. Mateus 28.19: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,”
Esse versículo faz parte dos 50 padrões trinitários do Novo Testamento[29]. Eles são importantes, não pelos simples fato de mostrar as três pessoas divinas juntas, mas porque são padrões que geralmente aparecem associados com as obras da Divindade, como por exemplo, a salvação (Efésios 1.3-14; 2.13-14; 1Pedro 1.2), a expiação (Hebreus 9.14), a adoção (Gálatas 4.6) e a distribuição de dons espirituais (1 Coríntios 12.4-6). A bênção apostólica, por exemplo, provavelmente tem como plano de fundo a tríplice bênção araônica, o que identifica os membros da Trindade com Yahweh (2 Coríntios 13.13; Números 6.24-26). O nome, no contexto bíblico, está fortemente relacionado com a identidade de um indivíduo. O Nome de Deus o identifica como o Eterno e o Imutável “Eu Sou”, que é uma só Essência una e indivisível. “Nome”, aqui, aparece no singular, ainda que o texto mencione três pessoas (Pai, Filho e Espírito), ressaltando a unidade da essência divina. Ao mencionar cada membro da Trindade o texto repete “(e) do” de modo a distinguir cada Pessoa. Esta distinção evita a falsa ideia do “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” como designações de uma mesma Pessoa. Assim o texto fala de três Pessoas distintas (Pai, Filho e Espírito) designadas por um só Nome, isto é, que compartilham de uma e a mesma Essência [30].
Considerações finais
Os textos bíblicos analisados [31] nos permitem concluir que: (i) Há absolutamente um só Deus, um só Ser divo, que é uma só substância una e indivisível. (ii) Na Unidade da essência divina há três Pessoas distintas que se relacionam entre si: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. (iii) O Filho é eternamente gerado do Pai e (iv) O Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho:
1. Gênesis 1.26: “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’.”
Logo no início das Escrituras encontramos uma descrição de Deus em termos plurais de modo que o Criador deve ser tanto uma unidade quanto uma diversidade. O texto diz: “E disse [singular - unidade] Deus [plural - diversidade]” (hebraico: wayyomer Elohim) Façamos (naaseh) [plural] o homem [unidade - adam] à nossa [plural] imagem (besalmenu) e à nossa [plural] semelhança (kiḏmuṯênu) “[1] e o verso seguinte (v.27) diz: “E criou [singular] Deus [plural] o homem [unidade – ha adam] à sua [singular] imagem (besalmow): macho (zakar) e fêmea (uneqebah) [diversidade]”[2]. Desse modo, o texto faz um jogo entre singular (unidade)/ plural (diversidade), tanto em relação a Deus, quanto em relação ao homem criado semelhante a Deus. Deus cria uma só espécie (humana) com dois sexos distintos (macho e fêmea) a fim de refletir a unidade e a diversidade de Deus. Outras passagens veterotestamentárias também usam nomes e verbos plurais para falar de Deus (Gênesis 3.22; 11.6,7; Jó 35.10; Salmos 149.2; Isaías 54.5; Eclesiastes 12.1; Provérbios 9.10; 30.3; Josué 24.19). Em Isaías 6.3, 8 a apresentação de Deus em termos plurais aparece junto com a adoração tríplice “Santo, Santo, Santo”.[3] Considerar essas construções como plurais de majestade parece improvável pois se isso fosse assim deveríamos esperar encontrar o uso de plurais de majestade no contexto das monarquias de Israel e de Judá[4].
2. Deuteronômio 6.4: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor.”
O texto afirma inequivocamente a unidade absoluta de Deus: “Yahweh elohenu Yahweh ehad” (“O Senhor, nosso Deus, o Senhor é Um” [5]). Deus é nomeado como “Yahweh”, o nome pactual do Senhor que o apresenta como um Deus de relacionamento e de Aliança. Yahweh é essencialmente um Deus de relacionamento pessoal e pactual[6]. Além de apresentar o Senhor como um Deus Pessoal, o nome Yahweh também carrega os significados de imutabilidade, eternidade e autoexistência (Êxodo 3.14)[7]. A palavra Um (ehad) significa uma unidade que pode admitir uma diversidade de pessoas (Gênesis 2.24)[8]. Assim, Yahweh é um Ser Pessoal não apenas ad extra, mas também em Sua própria essência, em Si mesmo Ele É um relacionamento pessoal e pactual. Provavelmente aduzindo a esta confissão do Shemá (“Yahweh é Um’’), o apóstolo Paulo declarou que a Igreja crê em “Um só Deus, o Pai” (Grego: Heis Theos ho Pater) e “Um só Senhor, Jesus” (Heis Kyrios Iesous)[9]. Isso é dito em um contexto no qual o apóstolo está tratando da questão dos sacrifícios aos ídolos. Paulo chama os ídolos de “deuses (theoi) e senhores (kirioi)”[10] e nega a existência real dessas divindades pagãs. Assim quando Paulo chama o Pai e o Filho de “único Deus e único Senhor”, ele está afirmando que a Igreja não cultua os deuses falsos, mas sim o único Deus Verdadeiro, o Pai e o Filho[11]. Kyrios é um sucedâneo do nome Yahweh, de modo que a confissão de Jesus como “um só Kyrios” reflete a confissão do Shemá do “um só Yahweh”[12]. De fato, o Pai e o Filho existem em uma unidade essencial e relacionam-se eternamente de maneira pessoal e pactual[13]. Paulo também identifica o Espírito Santo como Yahweh: “Ora, Jeová [Kyrios][14] é o Espírito, e onde está o Espírito de Jeová, ali há liberdade. E todos nós, ao passo que com o rosto descoberto refletimos como um espelho a glória de Jeová, somos transformados nessa mesma imagem, com mais e mais glória, exatamente como Jeová, o Espírito, o faz.”[15] Assim, há uma só essência divina autoexistente, eterna e imutável na qual existe um relacionamento pessoal entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
3. João 1.1: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.”
Neste versículo o Filho é chamado de “Logos”, que no pensamento judaico se referia ao envolvimento e à presença ativa e pessoal de Yahweh no mundo [16].A expressão “No Princípio” aduz ao princípio de Gênesis 1.1 e está intimamente relacionada com o início da criação do espaço e do tempo. Desse modo, o Filho (a Palavra) é colocado junto com o Pai na “eternidade passada”, ou melhor, na atemporalidade. Isso é confirmado pelo verso 3 que diz que absolutamente nada veio a existência, senão através do Filho. Assim, se o Filho é temporal, algo teria vindo a existência antes dele, a saber, o espaço e o tempo. Outras expressões bíblicas usadas para descrever a “eternidade passada” são usadas com respeito ao Filho. Ele existe antes de todas as coisas (“pro pranton” – Colossenses 1.17)[17] e por meio dele, Deus formou os tempos (“aionas” – Hebreus 1.2)[18]. O texto não diz que o Filho veio a existir no Princípio, mas que Ele era (En arché en ho Logos). O verbo “en - era” está no tempo imperfeito indicando uma ação contínua no passado, assim a Palavra existia na “eternidade passada”[19]. A Palavra estava com o Deus de modo que ela precisa ser outra Pessoa distinta que existe na eternidade com o Deus Pai. A Palavra não pode ser o próprio Pai. Isso é confirmado pelo fato do Pai ser chamado de “o Deus” (com artigo) e o Filho de “Deus” (sem artigo), o que insinua uma distinção entre eles. Por outro lado, os vocábulos “Deus” e “o Deus” são usados lado a lado (ton Theón, kai Theós[20]) sugerindo uma unidade semântica essencial: o Logos é Deus no mesmo sentido em que o Pai é Deus, embora eles sejam duas pessoas distintas. Assim, o Filho é eterno, atemporal e igualmente Deus com o Pai, embora seja outra Pessoa em relação ao Pai.
4. João 8.58: “Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!’”
É importante notar que Jesus não diz “antes de Abraão nascer, eu nasci”, nem, “antes de Abraão nascer, eu vim a ser”, mas “antes de Abraão nascer, ‘Eu Sou’” (Ego Eimi)[21], afirmando Sua eternidade. A expressão “Eu sou”, usada por Jesus, tem como plano de fundo as declarações “Eu Sou” de Yahweh no livro de Isaías (41.4; 43.10, 13, 25; 46.4; 48.12, 51.12; 52.6), note as construções “para que saibais que Eu Sou” e “para crerdes que Eu Sou” (João 8.24,28; 13,19 – Isaías 43.10). Ao se declarar como o “Eu Sou”, Jesus se identifica como Yahweh, o Deus Imutável, Eteno e Autoexistente (Êxodo 3.14)[22]. No Evangelho de João, a expressão “Eu Sou” é relacionada a sete metáforas redentoras: “Eu Sou” o Pão da Vida (6.35,48,51), a Luz do Mundo (8.12; 9.5), a Porta (10.7,9), o Bom Pastor (10.11,14), a Ressurreição e a Vida (11.25), o Caminho, a Verdade e a Vida (14.6) e a Videira Verdadeira (15.1,5)[23]. Essas e outras metáforas, tais como, Semeador, Diretor da Colheita, Rocha e Noivo, empregadas por Jesus para falar de si mesmo, têm como fundo as parábolas que o Antigo Testamento usa para descrever Yahweh, desse modo Jesus estava se identificando com Jeová [24].
5. João 1.18: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido.”
Jesus é o Filho Unigênito de Deus. Sempre que Cristo é chamado de “Unigênito”, isso é associado com o nascimento espiritual dos crentes (João 1.12, 13,14,18; 3.6, 16, 18; 1 João 4.7, 9; 5.18)[25]. Desse modo, Jesus “nasceu espiritualmente” do Pai em um sentido único. Ele é o Verbo ou a Sabedoria que nasceu do Senhor na eternidade (Provérbios 8.22-26) e Sua origem está na eternidade (Miquéias 5.2). No ato da geração, o Filho recebe do Pai, por comunicação, “vida em si mesmo”, isto é, a essência divina completa e autoexistente (João 5.26). Assim, por ter a mesma essência do Pai, ele é a perfeita revelação do Deus invisível. Na medida em que essa geração é eterna, o Filho não veio à existência, Ele sempre existiu, existe e existirá sendo continuamente gerado do Pai em um ato eterno, porém sempre completo [26].
6. João 15.26: “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.”
“É importante notar que diferente dos verbos no futuro usados para falar do envio do Espírito (João 14.26), o verbo “procede” (grego: “ekporeuetai”) está no presente, isto é, a emanação do Espírito do Pai é contínua e estava acontecendo no momento em que Jesus estava falando. A ideia é que Jesus enviará o Espírito da parte do Pai no tempo (economia) porque na eternidade (imanência) o Espírito procede do Pai. O Filho diz que ele é quem enviará o Espírito, de modo que o Espírito também deve proceder do Filho. Levando em conta a primeira parte da Regra de Rahner (“A Trindade Econômica é a Trindade Imanente”) que diz que a revelação da Trindade no tempo reflete aquilo que Deus é na eternidade, o envio do Espírito da parte do Pai pelo Filho corresponde a uma relação de emanação do Espírito do Pai e do Filho na eternidade.”[27] Assim, o Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho. Ele é apresentado como o outro Paracleto que viria para substituir o Paracleto Jesus (1 João 2.1), de modo que temos um Intercessor Divino na Terra (o Espírito Santo – Romanos 8.26 – 27) e um Intercessor Divino nos Céus (Jesus Cristo – Hebreus 7.25) e ele também é chamado pelo pronome neutro ekeinos (“Ele”) o que o revela como um Ser Pessoal[28].
7. Mateus 28.19: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,”
Esse versículo faz parte dos 50 padrões trinitários do Novo Testamento[29]. Eles são importantes, não pelos simples fato de mostrar as três pessoas divinas juntas, mas porque são padrões que geralmente aparecem associados com as obras da Divindade, como por exemplo, a salvação (Efésios 1.3-14; 2.13-14; 1Pedro 1.2), a expiação (Hebreus 9.14), a adoção (Gálatas 4.6) e a distribuição de dons espirituais (1 Coríntios 12.4-6). A bênção apostólica, por exemplo, provavelmente tem como plano de fundo a tríplice bênção araônica, o que identifica os membros da Trindade com Yahweh (2 Coríntios 13.13; Números 6.24-26). O nome, no contexto bíblico, está fortemente relacionado com a identidade de um indivíduo. O Nome de Deus o identifica como o Eterno e o Imutável “Eu Sou”, que é uma só Essência una e indivisível. “Nome”, aqui, aparece no singular, ainda que o texto mencione três pessoas (Pai, Filho e Espírito), ressaltando a unidade da essência divina. Ao mencionar cada membro da Trindade o texto repete “(e) do” de modo a distinguir cada Pessoa. Esta distinção evita a falsa ideia do “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” como designações de uma mesma Pessoa. Assim o texto fala de três Pessoas distintas (Pai, Filho e Espírito) designadas por um só Nome, isto é, que compartilham de uma e a mesma Essência [30].
Considerações finais
Os textos bíblicos analisados [31] nos permitem concluir que: (i) Há absolutamente um só Deus, um só Ser divo, que é uma só substância una e indivisível. (ii) Na Unidade da essência divina há três Pessoas distintas que se relacionam entre si: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. (iii) O Filho é eternamente gerado do Pai e (iv) O Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho:
“Na unidade da Divindade há três pessoas de uma
mesma substância, poder e eternidade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o
Espírito Santo, O Pai não é de ninguém - não é nem gerado, nem procedente; o
Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do
Pai e do Filho.” - Confissão de Fé de Westminster II.III[32]
Notas:
[1] http://biblehub.com/interlinear/genesis/1-26.htm
[2] http://biblehub.com/interlinear/genesis/1-27.htm
[3] http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/10/cristao-ao-ler-as-escrituras-devepartir_9.html
[4] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 80.
[5] http://biblehub.com/interlinear/deuteronomy/6-4.htm
[6] Revista do Professor – Nossa Fé – Os Patriarcas, p. 18.
[7] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp. 77-79.
[8] http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=140
[9] http://biblehub.com/interlinear/1_corinthians/8-6.htm
[10] http://biblehub.com/interlinear/1_corinthians/8-5.htm
[11] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 94.
[12] http://brunosunkey.blogspot.com.br/2015/10/jesus-cristo-o-senhor-jeova.html
[13] Existe um Pacto Eterno entre o Pai e o Filho chamado “Aliança da Redenção”, confira: BERKHOF, L. (2012). Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, pp. 115-118.
[14] http://biblehub.com/interlinear/2_corinthians/3-17.htm
[15] 2 Coríntios 3.17-18 adaptado da Tradução do Novo Mundo: https://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/nwt/Nomes-e-ordem-dos-livros/2-Cor%C3%ADntios/3/
[16] Neves, Itamir. Comentário Bíblico de João. São Paulo: Rádio Trans Mundial, 2011. (Série Através da Bíblia), pp. 28-29.
[17] http://biblehub.com/interlinear/colossians/1-17.htm
[18] http://biblehub.com/greek/165.htm
[19] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 105.
[20] https://pt.wikipedia.org/wiki/No_princ%C3%ADpio_era_o_Verbo
[21] http://biblehub.com/interlinear/john/8-58.htm
[22] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp. 107-108.
[23] Neves, Itamir. Comentário Bíblico de João. São Paulo: Rádio Trans Mundial, 2011. (Série Através da Bíblia), p. 21.
[24] GEISLER, N. (2015). Teologia Sistemática 1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, p. 794.
[25] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, p. 100.
[26] BERKHOF, L. (2012). Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 63.
[27] Como já havia analisado este versículo em outro artigo, apenas copiei sua análise: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/11/a-processao-eterna-do-espirito.html
[28] FERREIRA, F. & MYATT (2007). Teologia Sistemática - VIDA NOVA, pp. 682 -684.
[29] Estes padrões podem ser encontrados em: João 14.26; Mateus 12.31-32. Mateus 3.16,17; Mateus 28.19; Lucas 1.35; Lucas 3.21-22; Marcos 1.9-11; Lucas 4.1-12; João 14.16-20; João 15.7-26; João 20.21-22; Atos 1.1-6; Atos 2.31,32,38,39; Atos 5.31-32; Atos 7.55-56; Atos 10.38, 46,47,48; Atos 15.8-11; Atos 20.23,24,28; Atos 28.23,25,31; Romanos 1.4; Romanos 5.5-6; Romanos 8.2,3,9,16,17; 1 Corintios 6.11; 1 Coríntios 12.4,5,6,12,13,18; 2 Coríntios 1.21-22; 2 Coríntios 13.14; Gálatas 3.11,13,14; Gálatas 4.6; Efésios 1.2,3,13; Efésios 2.18,20; Efésios 3.16,17,19; Efésios 4.4,5,6; 1 Tessalonissenses 1.4,5,6; 2 Tessalonissenses 2.13; Tito 3.4,5,6; Hebreus 2.3-4; Hebreus 6.4,5,6; Hebreus 9.14; Hebreus 10.10,12,15; 1 Pedro 1.2; 1 João 3.21,23,24; 1 João 4.13-14; Judas 20-21 - http://mcapologetico.blogspot.com.br/2012/07/50-textos-biblicos-no-nt-que-ensinam.html
[30] SILVA, André de Aloísio de Oliveira da. A Trindade Imanente: Unidade de essência e diversidade de pessoas como igualmente fundamentais em Deus. Teresinha: Seminário Teológico do Nordeste Memorial Igreja Presbiteriana da Coreia – Monografia, 2014, pp. 90. 123.
[31] Para uma análise de versículos bíblicos geralmente e equivocadamente utilizados contra a Trindade, confira: http://brunosunkey.blogspot.com.br/2016/01/10-versiculos-biblicos-contra-trindade.html
[32] http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm
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Autor: Bruno dos Santos Queiroz
Divulgação: Bereianos
Autor: Bruno dos Santos Queiroz
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