1. O ponto de partida
Partamos de
Romanos 12:1,2. Após expor o conteúdo do evangelho até o capítulo 11,
Paulo trata de ética (12:1). Começa com “pois”. O grego é oûn, uma
partícula conclusiva, com o sentido de “portanto”. O que se segue é
consequência do anterior. Por tudo que foi dito (o conteúdo do
evangelho) deve-se viver de uma maneira. Primeiro a teologia (o credo).
Depois a ética (a conduta). O que uma pessoa crê afeta sua maneira de
ser. O seguidor de Jesus não vive como o mundo sem Jesus vive (Ef
4:18,19). Ele deve apresentar-se a Deus e não se amoldar ao mundo (Rm
12:2). “Não vos conformeis” significa “não tomar a forma do mundo”. O
cristão não é massa de bolo que toma a forma de onde é posta. Ele é do
Senhor, na igreja, na casa e no mundo. Ele se nega a ser moldado pelos
padrões do mundo.
Devemos
apresentar nossos “corpos” como um ato de culto a Deus (v. 1). O grego é
sômata, que significa mais que a parte física. É “a realidade da
existência, a pessoa concreta”. É a totalidade da pessoa, não só o
físico. O cristão deu toda a vida a Cristo: física, mental, emocional e
espiritual. Por isso, sua “mente” deve ser transformada (v. 2).
“Transformai-vos” é metamorfouste, de onde vem “metamorfose”, que é
passar para outro estágio. É a lagarta que se transforma em borboleta.
Eis o ponto
de partida. Cremos em Jesus, assumimos o compromisso de uma vida santa.
A ética segue a fé. Quem crê rompeu com o passado. O crente em Jesus
não é massa de manobra. Ele ousa nadar contra a correnteza.
2. Como o Novo Testamento vê o mundo
Precisamos
recuperar a visão bíblica da vida. Muitos crentes são moldados pela
mídia e têm uma visão romântica do mundo. Outros o amam. A igreja
contemporânea é mundana. Até os critérios para se avaliar uma igreja são
mundanos e não bíblicos: a arquitetura do templo, o volume de entradas,
o nível social dos membros. O critério deveria ser: quanto de Cristo
ela exibe ao mundo?
Como o Novo
Testamento vê o mundo? Não o cosmos ou as pessoas que Deus amou (Jo
3:16), mas “mundo” como um sistema de valores corrompidos?
Não é um
olhar positivo. Somos filhos de Deus, no meio de uma geração corrupta
(Fp 2:15). No longo texto de Efésios 4:17 a 5:21 há uma descrição do
mundo, que é como não devemos ser. Por isso, “Não ameis o mundo, nem o
que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1
Jo 2:15).
A igreja de
Jesus não pode ser moldada pelo mundo nem ceder aos seus apelos. A
conversa de “igrejas amigas do mundo” é perigosa. Não devemos ser
beligerantes nem nos julgarmos superiores. Mas, desde o convite divino
ao pai da fé, o chamado é “anda em minha presença, e sê perfeito” (Gn
17:1).
Isto não é
legalismo nem fundamentalismo. Chamar alguém de legalista e
fundamentalista é obra de quem não tem argumento. Isto é santidade. O
padrão de vida para a igreja está no Novo Testamento, não em pesquisas
de opinião ou em planos de marqueteiros eclesiásticos. Ela deve ser
santa, e não bajuladora de pecadores. Paulo diz que é assim que devemos
viver (Cl 1:10-12).
3. A santidade é moral, não litúrgica
No judaísmo
a santidade era litúrgica. Expressava-se por ritos. No evangelho é
moral. Ser santo não é adotar posturas no culto. É ter uma moral sadia. A
santidade se liga ao caráter. Há uma série de declarações de Paulo que
podem ser chamadas de “éreis” e “sois”. Elas mostram o que éramos antes
da conversão, e o que somos agora. Entre algumas passagens “éreis”, que
mostram nosso passado e como não mais devemos ser, estão Romanos
6:20,21, 1 Coríntios 6:9-11, 12:2, Efésios 5:8 e Colossenses 1:21.
Veja-se ainda 1 Pedro 4:3. Entre as passagens “sois” estão Romanos 1:6, 1
Coríntios 1:30,31, 3:16,17, 5:7 e 6:19,20, Efésios 2:19-22, 5:1-8 e
1Tessalonicenses 5:5.
O exame
destas passagens mostra que a conversão é um divisor de águas na vida
moral da pessoa. Mudou seu destino final, de inferno para céu. Mudou sua
vida aqui na terra. Seus valores mudaram. Quem aceita a Cristo tem um
novo jeito de viver. O comportamento do mundo não é sadio. Podemos nos
acostumar com o adultério, o roubo, o homossexualismo, a violência,
porque a mídia despeja estas coisas em nossas casas e nos anestesia. Mas
elas são pecado! Mesmo que as leis humanas as autorizem e punam quem as
combatam, elas são pecado! A Bíblia diz que são pecado. A santidade é
moral, e não gestual, como levantar as mãos, ou de volume nos cânticos.
Santidade é caráter de acordo com o padrão bíblico.
4. A santidade é relacional, não mística
Na Idade
Média havia os “santos no poleiro”. Eram pessoas que subiam a uma
plataforma sobre um alto poste e ali ficavam anos a fio. Alguns, quando
retirados, tinham os membros inferiores atrofiados. Isolavam-se do
mundo, viviam de comida que lhes davam e ficavam ao relento. Eram
inúteis à sociedade. Santos no poleiro não ajudam o mundo em nada.
Vivemos num
mundo altamente individualista. Na cultura atual, chamada de
pós-moderna, prevalece o individual sobre o coletivo. Somos uma
sociedade fragmentada, em que cada um busca seu interesse. Um mundo
mesquinho.
A igreja é
uma comunidade e não um bando de solitários. “Deus faz que o solitário
viva em família” (Sl 102:6) e isto acontece na igreja. Somos postos como
família, para nos relacionar uns com os outros. Na igreja nos agrupamos
como pessoas para exercitarmos a fé, aprendermos uns dos outros,
aperfeiçoarmos uns aos outros, e recebermos forças para vivermos no
mundo. Vivemos em grupo, exercemos a fé em grupo, e vivemos no mundo,
como cristãos. A vida cristã não é vida no poleiro, mas bondade nas
relações (Ef 4:32). O amor cristão não busca seus próprios interesses
(1Co 13:5). Volta-se para os outros. A igreja de Jerusalém e Barnabé nos
mostram isso (At 4:32-37). Os crentes devem ter vidas entrelaçadas,
sendo responsáveis uns pelos outros, como se vê em 2 Coríntios 8:1-5.
Muita gente levanta um poleiro espiritual, no culto, onde canta, louva,
ora, mas não se envolve com os necessitados nem com a obra do reino em
geral. Esta santidade mística é desvirtuada. Santidade é relacional, não
intimista, apenas eu e Deus. Sou eu, Deus e meu próximo. Isto é a
igreja: Deus e nós, e não Deus e eu. Isto é santidade: relações corretas
com Deus e com o próximo.
Quando
saímos do culto, fortalecidos pela comunhão com Deus e com os irmãos,
vamos ao mundo testemunhar nossa fé. O caráter cristão, prova da nossa
fé, se vê em nossas relações. Mostra misericórdia, apoio aos fracos (Rm
15:1, 1 Ts 5:14) e retidão na vida. É melhor ser ingênuo e ultrapassado
que ser cruel e frio como o mundo. Deus vê e julga.
Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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