Por Bruno
dos Santos Queiroz
A doutrina da Trindade está baseada em três
pressupostos bíblicos: (1) Unidade: "Há absolutamente um só Deus e Deus é
absolutamente um só" (Deuteronômio 6.4; 1 Timóteo 2.5; Marcos12.32; 2
Samuel 7.22; Romanos3.30; Tiago 3.19). (2) Deidade: o Pai é Deus absoluto, o
Filho é Deus absoluto e o Espírito Santo é Deus absoluto (1Coríntios8.6;
Filipenses 2.11; Isaías9.6; João1.1; Hebreus1.8; Colossenses2.9; Judas.4;
2Coríntios3.17-18; Romanos8.9) e (3) Distinção: O Pai, o Filho e o Espírito
Santo são três pessoas (Subsistências) distintas (João8.17-18; Atos7.55; João
14.26; Mateus12.31-32. Mateus 3.16,17; Mateus 28.19).1 Apesar da clara base
bíblica da fórmula trinitária alguns argumentos têm sido levantados contra ela,
os quais pretendo refutar abaixo:
1. ARGUMENTO DO SILÊNCIO:
Defende que
para uma doutrina ser bíblica ela precisa aparecer de maneira explícita nas
Escrituras. Assim é comum vermos antitrinitários perguntando: “Onde a palavra
‘trindade’ aparece na Bíblia? ’’, ou ainda “só acredito na Trindade se você me
mostrar o verso que diz ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só’”.
Evidentemente, como a Bíblia não é um tratado de Teologia Sistemática, não se
deve esperar encontrar nela a palavra Trindade, mas sim seu conceito e textos
sobre as quais está embasada.
2: ARGUMENTO DA ADULTERAÇÃO
Argumenta que
se um texto apoia a Trindade, ele foi adulterado. Ainda que não haja argumentos
sólidos e consistentes, e até mesmo fortes evidências contrárias, atribuem
adulterações a textos como Mateus28.19 e Isaías 9.6. No entanto as credências
desses textos estão acima de qualquer contestação séria. Geralmente, os
antitrinitários preferem o duvidoso Textus Criticus do que o tradicional Texto
Majoritário, comumente cometendo uma falácia cronológica, como se a veracidade
de um manuscrito fosse determinada por sua antiguidade2.
3: ARGUMENTO DA POSSIBILIDADE DE TRADUÇÃO
Textos como Tito 2.13 e Romanos 9.6 podem ser
traduzidos tanto se referindo a divindade do Filho, quanto do Pai. Na realidade
as duas possibilidades de tradução não só não contrariam a Trindade, como a
apoiam. É importante ressaltar que uma possibilidade de tradução que ignora o
contexto pode levar ao erro, a exemplo de traduções equivocadas de João 1.1 “um
deus” e Hebreus 1.6 “prestar homenagem”, quando o contexto favorece mais a
tradução “Deus” e “adorar”.
4: EXIBICIONISMO CRONOLÓGICO
Afirma que a
Trindade é falsa porque foi desenvolvida e sistematizada após o término da
escrita bíblica. No entanto, embora tenha sido sistematicamente formulada tempo
depois do término da escrita bíblica, a Trindade sempre esteve presente nas
Escrituras. Desde o início do Cristianismo tinha-se a noção de que o próprio
Cristo, enquanto Logos, era Deus absoluto (Jo1.1), em Paulo ele preexiste na
forma de Deus (Fp2.6), em hebreus, Ele é o Senhor que no princípio fundou a
Terra (Hb1.10). Nas cartas paulinas os Três são vistos como constituindo um só,
“Jeová é o Espírito” (2Co3.17), e o Espírito de Deus é o Espírito de Cristo
(Rm8.9). A Trindade foi espiritualmente revelada nas Escrituras, mas
precisava-se de tempo e distância para chegar-se a uma formulação dos conteúdos
revelados. A Trindade está presente espiritualmente, desde os primeiros tempos
da Igreja, e seria pura questão de palavras insistir que a Trindade só foi
descoberta tempo depois.
5: PARALELISMO INDEVIDO DE PASSAGENS
Deve-se tomar muito cuidado com o método
comparativo e o paralelismo textual. Nem sempre uma expressão ou construção
textual de uma passagem tem o mesmo sentido da de outra. Não é porquê “deus” se
refere a Moisés e juízes num sentido que deverá ter o mesmo sentido para
Cristo3. Nem que “espírito” por poder se referir a um aspecto antropológico
humano ou a um elemento impessoal, que terá o mesmo sentido ao se referir ao
Espírito Santo. Palavras em contextos diferentes tem significados diferentes.
6: INVALIDAÇÃO PRESSUPOSICIONALISTA
Relembrando,
existem três pressupostos básicos na fórmula trinitária: (i) Unidade; (ii)
Divindade e (iii) Distinção. A falácia 6 argumenta que uma pressuposição da
Trindade invalida a outra. Assim pensa-se que o primeiro pressuposto (unidade),
contraria os outros dois. Assim é comum vermos antitrinitários citando textos
que falam que “há um só Deus”, no entanto isso não é argumento contra a
Trindade, mas sim a favor. Além do mais o pressuposto primeiro não invalida os outros
dois, pois estes se referem à hipóstase, e aquele à essência.
7: CONFUSÃO CONCEITUAL
Alguns
confundem a Trindade com o modalismo, e assim querem refutar a Trindade
mostrando que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não são a mesma pessoa, enquanto
é justamente isso que a Trindade ensina. Outros confundem também com tríade, e
assim alegam que a Trindade é um politeísmo disfarçado, ou “três deuses” ou
ainda com tripartidismo, e assim acham que a Trindade ensina que existem três
seres divinos em um só Deus, ou ainda que Jesus é parte de uma Trindade, ou que
para a Trindade Deus é uma unidade composta, que Jesus é uma pessoa separada de
Jeová, ou mesmo que a Trindade ensina um Deus com divisões e separações.
8: ALEGAÇÃO DE PAGANIZAÇÃO
Ensina que a
Trindade é pagã por usar termos filosóficos ou por haver conceitos semelhantes
em culturas pagãs. O erro desse argumento é esquecer-se da Revelação Geral de
Deus, da origem comum das culturas e geralmente se baseia numa confusão
conceitual dos pressupostos da Trindade ou em um uso equivocado do método
histórico-comparativo.
9: ARGUMENTO ANTIFILOSÓFICO
Afirma que a
Trindade é falsa por usar termos filosóficos gregos em sua formulação.
Esquecem-se da Revelação Geral de Deus e ignoram que a Trindade é derivada
primariamente das Escrituras e não da filosofia. A realidade é que por
influência da filosofia grega pagã, argumentos neoplatônicos foram usados para
defender tanto a trindade como o unitarismo, nas discussões de Atanásio e Ário,
por exemplo. Ário, um antitrinitário fez uso da filosofia platônica da ideia de
Monas. Vários elementos da filosofia grega invadiram o Cristianismo, e foram
usados tanto para defender doutrinas bíblicas como antibíblicas. Existe uma
falsa ideia, entre aqueles que querem 'purificar' o Cristianismo do paganismo,
segundo a qual tudo o que possui influência da filosofia grega é heresia. É
verdade que não podemos menosprezar a Bíblia (nossa única regra de fé) em favor
de filosofias humanas, nem ignorar que muitas heresias têm sua origem no
pensamento greco-romano. No entanto, será um equívoco de nossa parte achar que
a filosofia grega não trouxe nenhuma contribuição positiva para a epistemologia
cristã, embora não como fundamento base para derivar uma doutrina. O próprio
apóstolo Paulo não ignorou a literatura grega (At17.28). Segundo Gordon Clark:
"Não importa o quanto um estudante principiante gostaria de evitar a
filosofia, mais cedo ou mais tarde ele enfrentará essas dificuldades ou resignará
a teologia em desespero."4
10: ARGUMENTO ANTICATÓLICO
Há por parte
de alguns, um ódio contra tudo que possa remeter às palavras, “pagã” e
“católico”, de modo que qualquer dogma que supostamente tenha alguma ligação
com essas palavras são atacadas com todas as forças. Embora seja verdade que a
Igreja Romana seja a mãe de muitas heresias, alguns só negam a Trindade por
amor ao judaísmo e ódio ao catolicismo, e não por apreço à verdade. É comum
vermos pessoas levantando fatos históricos como a inquisição para invalidar a
Trindade. Ignoram que quem revelou a doutrina da Trindade foi Deus e não a
Igreja Romana.
11: CONFUSÃO ENTRE ECONOMIA E ONTOLOGIA
Por
economicamente o Pai ser maior que o Filho e o Filho maior que o Espírito,
acreditam que isso também seja válido ontologicamente. Boa parte das críticas
levantadas contra a Trindade erra justamente neste ponto, apresentado a
hierarquia funcional como argumento contra a igualdade essencial das Pessoas da
Trindade. Esse equívoco se vê por aqueles que insistem em provar que o Pai é
maior que o Filho e o Espírito menor que o Filho e que assim a Trindade é
invalidada. É comum insistirem, a partir daí, que um sabe mais que o outro, que
há diferença de poderes entre Eles, etc.. Tais argumentos acabam por confundir
função com essência e por isso conduzem a essas conclusões desastrosas. Uma
compreensão clara da hierarquia funcional entre as hipóstases da divindade e da
igualdade essencial entre elas eliminaria muito dos argumentos falaciosos
levantados contra a Trindade.
1http://brunosunkey.blogspot.com.br/search/label/Trindade
2http://aprendiz.witnesstoday.org/ARTIGO_TEXTUS_RECEPTUS.htm
3http://www.ia-cs.com/2014/07/testemunhas-de-jeova-jesus-e-deus-assim.html
http://www.monergismo.com/textos/trindade/A_Trindade_Gordon_Clark.pdf
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