Existem
várias e diversas declarações de fé. São documentos históricos
importantes que servem como resumo daquilo que uma comunidade ou
localidade específica crê. A mais conhecida delas é o Credo Apostólico,
em que todo cristão se vê identificado. Há a Confissão de Westminster, a
Helvética, a da Guanabara, o Pacto de Lausanne, entre outros.
Porém,
como vivemos em um tempo estranho (passamos daquilo que Francis
Schaeffer denomina “linha do desespero”) onde o “não” significa “sim”, o
“sim”, talvez” e o “talvez”, “quem sabe, pode ser, passa lá em casa
para tomar um café”, resolvo fazer uma confissão de fé diferente. Faço
uma confissão de não-fé.
Não
creio que o Espírito Santo mude de ideia a cada seis meses, feito
barata tonta, teleguiado por gente com desejos inconfessáveis.
Não
creio que Deus tenha se “esquecido” de derramar seus dons por dois mil
anos, reavivando somente agora alguns dons específicos, como línguas.
Não
creio em apóstolos auto-nomeados, auto-ordenados e auto-consagrados.
Napoleão Bonaparte sagrou-se imperador e deu no que deu.
Não
creio na autoridade bíblica de pessoas que não se submetem a outros, em
atitude de total arrogância e prepotência, fazendo do espelho e do
afago bajulador os melhores aliados.
Não
creio que Deus tenha eleito pessoas especiais dentro de sua eleição
salvadora. Tropa de elite é coisa só de filme, ou de polícia.
Não
creio na total autonomia humana em fazer escolhas certas sem a ação
direta de Deus, especialmente em relação à salvação. Se posso mudar de
ideia sobre o que almoçar, quanto mais para algo tão importante quanto
seguir a Jesus!
Não
creio que meu ego, corrompido pelo pecado, seja um referencial na minha
adoração a Deus. Não creio ainda que a adoração deva ser
necessariamente individual. A experiência coletiva é altamente benéfica
para quebrantar potenciais megalomanias.
Não
creio que a submissão, ou melhor, a subserviência da igreja ao Estado
seja algo do agrado de Deus. A história se repete como farsa, como bem
disse Karl Marx, e Constantino serve de aviso contra a tentação de se
aliar ao poder temporal e poder espiritual.
Não
creio que constituições, estatutos, manuais, apostilas e coisas
parecidas tenham o mesmo peso das Escrituras na vida de um cristão.
Não
creio que o ego ou o espelho sejam padrão e medida para a
espiritualidade e conduta na vida cristã de outros. Se temos a Bíblia
como fonte inesgotável de sabedoria, qualquer tentativa de ir além disso
é confissão de farisaísmo.
Não
creio em barganhas com Deus. Se eu fosse abençoado única e
exclusivamente com a salvação eterna, sem nenhuma bênção aqui na terra,
ainda assim teria muito o que agradecer. Afinal, Deus salva e abençoa
não por obrigação e pressão, mas por amor e misericórdia.
Não
creio no divórcio entre minha vida religiosa e minha vida, digamos,
“civil”. Os puritanos tinham um lema genial: “Aquilo que você faz fala
tão alto que não consigo escutar aquilo que você diz”. São separações
assim que geram episódios bizarros como a “oração pela propina
alcançada”.
Não creio em demônios que tomam conta de certas regiões geográficas, ou mesmo de anjos que os combatem nessas mesmas regiões.
Não
creio em copo de água em cima da televisão, rosa ungida, toco de
carvão, corredor de sal grosso e outras “macumbas gospel”. Os
sacramentos são elementos comuns (pão, água, vinho) que servem de canal
para a graça em nossas vidas. Mas tudo o que citei anteriormente, em vez
de ser só uma cópia malfeita dos sacramentos, é, em sua essência,
tentativa de manipular um pretenso mundo espiritual a favor daquele que
pede.
Vou
terminar minha declaração de não-fé com uma declaração de esperança:
“Creio e espero que Deus, em sua infinita graça, venha restaurar os
corações e as mentes da igreja evangélica brasileira, tornando-a
saudável e livrando de seus tumores e mau humores. Derrama sua graça
sobre nós, Senhor!”.
Por: Rodrigo de Lima Ferreira, casado,
duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA,
hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com
Fonte: https://bereianos.blogspot.com


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