Historicamente as igrejas
cristãs tem sempre entendido que Satanás nem sempre foi “Satanás” (ou seja, opositor ou adversário, que é o significado do seu nome), mas era no princípio
um anjo de luz que por desobediência e rebeldia foi expulso do Céu – levando
uma parte dos anjos consigo – e se tornou aquilo pelo qual conhecemos hoje.
Este é um dos poucos assuntos em que as igrejas protestantes, católicas e
ortodoxas concordam, e me parece não ter havido controvérsias antigas a este
respeito. Era um raro consenso, apesar de tantas divergências que sempre
marcaram todas as eras. Mas em tempos recentes, alguns têm colocado este ensino
em xeque – principalmente grupos de “desigrejados”, embora a ideia tenha alguma
aceitação entre um ou outro cristão denominacional.
Eu preciso primeiramente dizer
que não tenho nada contra que doutrinas sejam colocadas em “xeque”. Pelo
contrário, esse apelo cego à “tradição” é a raiz de muitos males, uma vez que
erros e mais erros são inventados em algum momento e com o tempo ganham o
status de “tradição”, e a partir daí se tornam inquestionáveis e sacrossantos.
Isso é uma peste na teologia, talvez a mais difícil de se lidar, pois é de
senso comum que o mais “tradicional” é o mais verdadeiro, embora isso seja na
verdade uma falácia ad antiquitatem,
de apelo à
tradição. Toda doutrina pretensamente estabelecida precisa ser confrontada, pois somente assim poderemos saber se ela
é ou não verdadeira. Não há doutrina que esteja isenta da “peneira bíblica”, de
passar pelo filtro das Escrituras e provar seu valor.
Não obstante, as bases pelas
quais se estabelecem a teoria alternativa são frágeis e menos sólidas do que a
da tese tradicional neste caso. Segundo eles, Satanás já teria sido criado como
“Satanás”, nunca foi bom e nunca caiu do céu, e é na verdade um “servo
negativo” de Deus. Por “servo negativo”, eles entendem que na verdade Satanás
não está realmente se opondo aos
planos de Deus, mas está trabalhando em favor desses planos fazendo o “trabalho
sujo” que Deus não pode fazer (mas quer!). Um dos sites que defendem essa
teoria explica a coisa assim: “Afinal, quem incitou
Davi? Deus ou o diabo? Digamos que foi Deus, usando seu servo negativo,
Satanás. Ele é o instrumento da ira de Deus, já que Deus é amor e é imutável.
Ele criou O assolador para destruir, no momento em que ele precisa usar alguém
assim” (fonte).
O problema com essa teoria é que
ela faz de Deus um cínico e manipulador. Deus não pode fazer o mal, mas quer
fazer o mal mesmo assim, então usa o diabo como “capacho” para cumprir esse
desejo. Isso é o mesmo que eu querer a morte de alguém, mas ao invés de ir lá
matar o sujeito eu contrate um assassino de aluguel para fazer o trabalho sujo
por mim. Segundo os proponentes dessa tese, Deus faz isso e passa impune, pois
agindo assim a culpa é toda do diabo. Eu não apenas acho isso completamente
errado moralmente como também incompatível biblicamente. Por exemplo, lugar
nenhum da Bíblia diz que Deus “usou o diabo” para enviar o dilúvio, que foi a
maior tragédia física de todos os tempos. Quando Deus quer executar algum
juízo, ele mesmo faz isso.
Ademais, a definição do diabo
como um “servo de Deus” confronta seu próprio significado etimológico, que é de
opositor. Um opositor que está
trabalhando junto com a pessoa para cumprir o mesmo plano não é um opositor de
verdade, e mal serve de opositor de mentirinha. Seria o mesmo que eu chamar o
tal assassino de aluguel que eu contratei de “opositor” meu, o que seria
completamente falso (mas não se preocupe, eu não pretendo contratar um
assassino de aluguel ainda). A conclusão inevitável é que o diabo é realmente
um inimigo, não um servo obediente
usado de capacho ou alguém que já tenha sido criado com essa natureza
demoníaca.
Os adeptos dessa tese
alternativa fazem uso de alguns textos para provar que o ser que chamamos de
diabo “já nasceu diabo”, como esses aqui:
“Quem
comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca
desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer
as obras do diabo” (1ª João 3:8)
“Jesus
disse: ‘Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso
pai. Ele foi homicida desde o princípio,
e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere
mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira’”
(João 8:44)
Há, porém, duas formas de se
interpretar esses versículos sem a implicação que lhe é dada pelos adeptos
dessa tese: (a) que os textos fazem menção ao diabo como diabo; ou seja, que o diabo peca desde quando é “diabo”
propriamente dito, e não que ele não possa ter sido outra coisa antes;
(b) que esse “princípio” não se refere a um tempo cronológico específico, mas é
uma forma de dizer que peca desde os tempos antigos. Note que o segundo texto
citado faz menção a um pecado bem específico, o do homicídio. Mas acontece que
o primeiro homicídio no qual o diabo pode ter tido participação foi o homicídio
de Caim, que ocorreu provavelmente séculos
após a criação do homem, já que está implícito que a terra já estava
relativamente povoada nessa ocasião (cf. Gn 4:14).
Se o diabo passou séculos sem
“matar” ninguém e mesmo assim é «homicida desde o princípio», é perfeitamente
possível que este “princípio” não abranja todos os momentos, ou seja, que houve
uma época – cronologicamente falando
– em que ele não era um homicida, embora tenha se tornado um muito cedo. Em
consonância a esta conclusão temos a própria continuação do verso, que logo após
dizer que ele foi «homicida desde o princípio» complementa dizendo que ele «não
se firmou na verdade». Ora, se ele não se firmou
na verdade, é porque algum dia esteve
na verdade. Se eu digo que o Paraná Clube “não se firmou na Série A do
Campeonato Brasileiro”, está implícito que ele esteve na Série A, mas caiu
cedo. Da mesma forma, se é dito que Satanás “não se firmou na verdade”, está
implícito que ele esteve na verdade um dia – o que já refuta a tese de que ele
já foi criado com uma natureza essencialmente maligna desde o princípio cronológico dos tempos.
Há um texto em que Jesus
corrobora este pensamento, quando diz que “vi
Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lc 10:18). Isso mostra que
Satanás estava no céu e que de fato caiu de lá, exatamente conforme a teoria
tradicional diz. Talvez seja o texto mais forte em favor disso, levando em
consideração que a Bíblia pouco aborda a história do diabo. O artigo
recém-mencionado cita ainda Isaías 47:5 para dizer que Deus criou o mal (como
significando que ele “criou o diabo”). Contudo, o original hebraico possui quatro
palavras diferentes para o “mal”, e nem todas elas representam o mal moral.
Aqui a palavra hebraica utilizada é rá,
que tem como um de seus significados «calamidade» (Strong, 7451).
Essa interpretação é mais
reforçada pelo contexto, que traça um contraste entre paz e guerra, e não entre
bem e mal. Se a tradução correta fosse por “mal”, o texto estaria contrastando
o bem e o mal, e ficaria assim: «eu faço o bem e crio o mal». Mas o “mal” aqui
está em contraste com paz, o que significa que está falando da guerra, que é o
oposto da paz. Norman Geisler e Thomas Howe concordam com isso no “Manual
Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia”:
Na sua forma
temporal, a execução da justiça de Deus às vezes é chamada de “mal”, porque
parece ser um mal aos que estão sujeitos a ela (cf. Hb 12:11). Entretanto, a
palavra hebraica correspondente a “mal” (rá)
empregada no texto nem sempre tem o sentido moral. De fato, o contexto mostra
que ela deveria ser traduzida como “calamidade” ou “desgraça”, como algumas
versões o fazem (por exemplo, a BJ). Assim, se diz que Deus é o autor do “mal”
neste sentido, mas não no sentido moral.
Assim, a tradução mais correta
desse verso é aquela oferecida pela Nova Versão Internacional e por outras traduções,
que diz:
“Eu
formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a desgraça; eu, o Senhor,
faço todas essas coisas” (Isaías 45:7)
A “desgraça” (NVI) ou “mal”
(ARA) não é o mal moral, como o pecado, mas a guerra, em contraste com a paz. Muito
menos diz respeito ao diabo, como se o texto estivesse dizendo que Deus o criou
assim. O artigo também cita Isaías 54:16, onde Deus diz que «criei o assolador
para destruir». No entanto, apesar do texto não detalhar que “assolador” ou
“destruidor” é esse, a maioria dos eruditos bíblicos concorda que não se trata
do diabo, mas sim dos seres humanos citados na primeira parte do mesmo verso,
os quais forjam as suas armas para este fim (veja aqui).
Ou seja, é uma alusão ao fato de que Deus pode usar a guerra e exércitos
inimigos para executar seus juízos sobre o mundo (o mesmo sentido expresso no
outro verso, de Isaías 45:7).
O artigo também cita textos onde
o diabo precisa da “permissão” de Deus para agir de determinada maneira, como
quando pediu para peneirar os discípulos (Lc 21:31-32) ou no episódio de Jó.
Mas isso não significa que o diabo esteja agindo como um servo de Deus para
cumprir as vontades divinas, apenas significa que Deus continua soberano e por
isso nada no universo pode ocorrer sem sua permissão (mesmo quando a razão para
isso é respeitar o livre-arbítrio dos seres criados e aceitar as consequências
de seus atos). Ou seja, muitas vezes o motivo dessa “permissão” não tem nada a
ver com a sua vontade, assim como um
pai pode permitir que seu filho rebelde vá para o bar beber de tanto insistir
nisso, mesmo sem concordar nada com essa atitude, mas para respeitar sua
liberdade ainda que mal usada.
Tome como exemplo o texto em que
Paulo diz que “eu mesmo, Paulo, quis visitá-los, e
não apenas uma vez, mas duas; Satanás,
porém, nos impediu” (2Ts 2:18). Observe que não é dito que aquela
viagem era contra a vontade de Deus ou que Deus tenha mudado de ideia em
relação a isso. É dito claramente que Satanás
o impediu. Sabemos que Paulo ganhou muito mais lutas do que perdeu, mas ele
era humano e, às vezes, Satanás obtinha êxito em frustrar seus planos. Isso não
se parece muito com um “cão amarrado à coleira”, embora em um sentido ontológico
nada escape à soberania divina. Ou seja, Satanás não tem liberdade para fazer
“o que quiser” (senão provavelmente já teria possuído alguém para explodir uma
bomba atômica e aniquilar a vida humana na terra), mas também não é um “pau-mandado”
de Deus. Ele é um inimigo, mas um
inimigo sujeito a certas limitações, que jamais terá uma manopla com todas as
joias do infinito.
O outro texto citado é o de 1º
Crônicas 21:1, que diz que Satanás incitou Davi a fazer o recenseamento de
Israel, em conexão com 2º Samuel 24:1, que aparentemente diz que foi Deus quem
fez isso. Este é um dos textos mais “problemáticos” da Bíblia (no sentido de
abrir margem para múltiplas interpretações), e você pode ter uma ideia da
quantidade de interpretações diferentes possíveis aqui. Como
são muitas, eu me limitarei a citar as três principais aqui.
A de Geisler e Howe é a que mais
se aproxima da posição deles, pois eles também entendem que Deus incitou Davi
usando Satanás para este fim (embora nenhum dos dois creia na tese de que Deus
criou “Lúcifer” já mau, já que isso não é uma implicação lógica e irredutível
do texto). Outra é do meu professor-orientador do mestrado, Antonio Renato
Gusso, um dos maiores linguístas do Brasil, que defende a tese de que na época
em que 2º Samuel foi escrito os judeus ainda desconheciam a figura do diabo (em
função da revelação progressiva) e por isso atribuíram a Deus, enquanto na
época em que 1º Crônicas foi escrito essa crença já estava mais clara e o autor
pôde dizer que foi Satanás.
Mas ambas essas teses – junto a
outras que não vem ao caso aqui – me desagradam por razões diferentes, as quais
não me aprofundarei para não tornar o artigo exageradamente longo. A que
considero mais plausível é a de Albert Barnes, que argumenta que 1º Crônicas
não está falando de Satanás em pessoa, mas de “um adversário”, que é seu
significado mais frequente do termo no AT. Diferente de outros textos como Jó
1:6 e Jó 2:1, aqui não há o artigo definido, que caracterizaria Satanás
(lembre-se que o hebraico bíblico não tinha distinção entre maiúsculas e
minúsculas, então a identificação dependia basicamente do artigo e do
contexto). Ele também argumenta que no outro texto (o de Crônicas) quem incita
não é Deus, mas um sujeito não identificado (a tradução mais correta seria
“Davi foi incitado”, e não “incitou Davi”), o qual seria o mesmo adversário de 1º
Crônicas, trazendo o mesmo sentido aos dois textos. Seja como for, a passagem
de modo algum implica que Satanás seja um “servo de Deus” (ainda que
ocasionalmente ele pudesse se prestar a isso, claro que não intencionalmente).
O artigo também objeta a dois
textos clássicos que são tradicionalmente usados na defesa da tese de que
Satanás era antes um anjo de luz. Eles estão em Ezequiel 28 e em Isaías 14.
Geralmente os que negam que esses textos se refiram ao diabo dizem apenas que
se referem ao rei de Tiro (no caso de Ezequiel) e ao rei da Babilônia (no caso
de Isaías), mas o autor do artigo (que prefere não se identificar) diz que o
primeiro texto fala de Adão, e o segundo de Cristo. Eu não vou transcrever os
textos aqui por serem longos demais, mas você pode consultar a sua Bíblia nos
textos em questão e constatar as seguintes características:
Ezequiel 28
|
Isaías 14
|
Era
perfeito em sabedoria e formosura (v. 12)
|
Caiu
do céu e foi atirado à terra (v. 12)
|
Estava
no Éden (v. 13)
|
Queria
erguer seu trono acima das estrelas (anjos) de Deus (v. 13)
|
Era
um querubim guardião (v. 14)
|
Queria
ser como o Altíssimo (v. 14)
|
Era
inculpável até se achar maldade (v. 15)
|
Mas
será atirado ao abismo (v. 15)
|
Tornou-se
orgulhoso por sua beleza (v. 17)
|
Será
um “cadáver pisoteado” e atirado fora do túmulo (v. 19)
|
Foi
atirado à terra (v. 17)
|
Não
terá um sepultamento porque destruiu a terra e matou seu povo (v. 20)
|
Será
consumido com fogo e “não mais existirá” (vs. 18-19)
|
Seus
filhos são malfeitores que também serão mortos (vs. 20-21)
|
Em vista da completa
impossibilidade de se tratar apenas de
uma descrição do rei de Tiro e da Babilônia (dadas as discrepâncias bastante
nítidas), a maioria dos intérpretes bíblicos ao longo dos séculos têm entendido
esses dois textos como uma profecia de dupla referência, que se aplica
parcialmente aos respectivos reis, mas parcialmente a um outro sujeito, que é
aquele a quem hoje chamamos de Satanás. Isso seria uma confirmação bem mais
clara de que o diabo foi um dia um anjo bom, que se desviou e foi expulso do
céu, cujo fim está determinado por Deus. Mas o autor do artigo argumenta que a
outra referência no primeiro texto é a Adão, e a segunda é a Jesus.
De fato, Adão estava no Éden (v.
13) e presumivelmente era perfeito em sabedoria e formosura (v. 12), mas ele
não era um querubim, como diz o texto (v. 14), que é por definição «um ser
angelical» (Strong, 3742). Pelo contrário, é dito que Deus colocou dois
querubins para guardar o jardim, após eles terem sido expulsos dali (Gn 3:24),
o que elimina a possibilidade de querubins serem seres humanos como Adão. Além
disso, não faz sentido dizer que Adão «caiu à terra» (v. 17) depois de pecar,
já que ele já estava na terra. Por fim, seria temeroso afirmar tão
categoricamente que Adão será consumido no dia do juízo e já não existirá (vs.
18-19), já que não sabemos se Adão foi salvo ou não (a despeito de ter cometido
o primeiro pecado). Mas com Satanás, tudo isso se encaixa como uma luva.
Agora pensemos no outro texto,
de Isaías: ele não pode estar falando de Jesus, porque diz respeito a alguém
soberbo que por orgulho quis ser igual a Deus – não tem nada a ver com ser
igual a Deus no sentido de ter natureza divina ou coisa do tipo. O «caiu do céu»
e «foi atirado à terra» (v. 12) não pode ser uma referência à encarnação de
Cristo, porque diz respeito a um tipo de condenação por seu orgulho (i.e, uma expulsão, e não um ato voluntário da
parte dele). E Jesus não foi atirado fora do túmulo, não teve uma descendência
ímpia que será morta com ele e nem assassinou alguém. O texto em seu contexto
não tem nenhuma aplicação positiva, mas novamente cai como uma luva em Satanás,
que quis ser igual o Altíssimo, que não terá um sepultamento, que é homicida e
que será aniquilado juntamente com “sua descendência”, ou seja, os ímpios que o
seguem.
Note ainda as semelhanças entre
ambos os textos, que mais uma vez nos indicam fazer referência ao mesmo
sujeito, que não é Adão e nem Cristo. E o segundo texto ainda diz que será
atirado no abismo, que é justamente o lugar de aprisionamento dos demônios,
como já escrevi neste
artigo (nunca é dito na Bíblia que uma pessoa humana é lançada neste lugar
espiritual). Há ainda uma confirmação apocalíptica disso, que não foi mostrada
e nem comentada no artigo deles, mas que também é importante neste sentido:
“Houve
então uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o
dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e
assim perderam o seu lugar no céu. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a
antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os
seus anjos foram lançado à terra” (Apocalipse 12:7-9)
Você vai dizer: “Mas Lucas, o
Apocalipse é simbólico!”. É verdade, mas este texto já é uma interpretação da simbologia, que aparece alguns versos
antes:
“Então
apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete cabeças e dez
chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas. Sua cauda arrastou consigo um
terço das estrelas do céu, lançando-as na terra” (Apocalipse 12:3-4)
Aqui aparece a mesma coisa, mas
em linguagem simbólica. O que os
versos 7-9 fazem é explicar o significado
dessa simbologia, dizendo que o “dragão” é Satanás, que as “estrelas” são
anjos, que a “cauda” que arrastou um terço das estrelas para fora do céu é a
batalha que eles perderam e então foram expulsos, etc. Como este texto já é a
explicação do simbolismo, então ele próprio não pode ser simbólico, até porque
não faz sentido nenhum uma simbologia explicar outra simbologia em um ciclo sem
fim. Uma explicação de simbologia presume um teor literal. Há coisas que João
explica o significado em seu livro (ex: “o lago de
fogo é a segunda morte” – Ap 20:14), e outras que ele não explica (mas
que podemos deduzir através do raciocínio lógico, do conhecimento histórico ou
da conexão com outros textos). Felizmente, essa é uma das partes que ele
explica, o que torna claro a existência da guerra no céu e a verdadeira e única
origem de Satanás.
Em tempo: antes que me
questionem a respeito, não, “Lúcifer” não é o nome do diabo. Mas este é um
outro assunto, que eu já tratei neste
outro artigo (que é um extrato do meu livro “Exegese de Textos Difíceis da
Bíblia”, disponível na página
dos livros). Infelizmente, navegando pelo site
em questão eu descobri que eles defendem várias outras coisas estranhas,
como por exemplo que não devemos mais batizar nas águas e nem celebrar a Santa
Ceia, que o Apocalipse já passou, que não existe pecado, que os demônios já
estão todos mortos, entre outras esquisitices (para dizer pouco).
Infelizmente, em se tratando de
teologia parece que só existem dois grupos: o dos “obstinados”, que aprendem de
um jeito e não abandonam nada mesmo que se prove que alguns aspectos desse
“pacote pronto” estão errados, e o dos “revoltados”, que descobrem que uma
coisa está errada e já chutam o balde rejeitando todo o pacote de uma vez só. É
bom ser questionador, mas é melhor ainda saber reconhecer quando o seu
questionamento está errado – como tudo aponta ser o caso aqui.
Fonte: lucasbanzoli.com
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