Flávio Josefo é a prova irrefutável de que Tiago era irmão (e não primo) de Jesus! - O Peregrino

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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Flávio Josefo é a prova irrefutável de que Tiago era irmão (e não primo) de Jesus!

Josephus

Por mais que a Bíblia afirme e reafirme reiteradas vezes a existência dos irmãos de Jesus, os apologistas católicos preferem acreditar na lenda de que eram “simples primos”, na única manobra possível para salvar o dogma da virgindade perpétua de Maria. Para eles, os vários textos do Novo Testamento que falam nos irmãos de Jesus dizem respeito apenas a primos porque no hebraico a palavra para irmão e primo era a mesma. O que ninguém jamais explicou a eles é que o Novo Testamento foi escrito em grego, não em hebraico, e que neste idioma já havia palavra específica para irmão (adelphos) e primo (anepsios), além do termo mais genérico para parente (suggenes). E que, por “coincidência”, todas as vezes que a Bíblia se refere aos irmãos de Jesus ela usa o termo para irmão mesmo (adelphos).

Mas eles não desistem e martelam na tecla de que os autores do Novo Testamento preferiram dizer “irmão” para quem era na verdade “primo”, mesmo tendo uma palavra específica para primo que poderia ter sido perfeitamente utilizada caso quisessem, e mesmo correndo o risco de alguém confundir um primo com um irmão quando lê um texto dizendo irmão. Para eles, o mesmo apóstolo Paulo que disse que Marcos era primo­-anespsios de Barnabé (Cl 4:10) preferiu dizer que Tiago era irmão-adelphos de Jesus (Gl 1:19), talvez porque tenha tido uma amnésia súbita da existência do termo anepsios naquela ocasião, ou porque estava mal-informado, ou porque não se importava em confundir as pessoas mesmo.

Mas provar os irmãos de Jesus pela Bíblia é covarde e duplamente inútil: primeiro porque isso já foi feito neste artigo (altamente recomendável para quem quer entender o tema), e segundo porque nenhum apologista católico crê realmente na Bíblia (a série de pérolas dos zumbis tridentinos é uma prova clara disso). Então neste artigo eu irei usar um historiador judeu que viveu no primeiro século e que é a principal fonte não-cristã usada como prova a favor da historicidade de Cristo: trata-se de Flávio Josefo (37-100 d.C). Apologistas católicos quando debatem com ateus citam Josefo para provar que Jesus existiu (e fazem bem ao agirem assim), mas misteriosamente somem com ele quando o mesmo escreve a respeito de Tiago, o irmão de Jesus.

Vejamos o que Josefo escreve sobre Tiago, o “primo” de Jesus no conto papista:

“Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia a função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos, eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes, perante o qual trouxe Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, junto com alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para serem apedrejados” (Antiguidades Judaicas, Parte 1, Livro XX, 8)

Por alguma misteriosa razão, os sites católicos que usam a outra citação de Josefo sobre Jesus simplesmente somem com essa (algo me diz que é por conveniência, mas vamos dar o ônus da dúvida). Algum apologista católico poderia contestar e dizer que Josefo escrevia em hebraico e por isso teria dito “irmão”, mas sabemos que Josefo escreveu em grego. Então poderiam objetar dizendo que, mesmo escrevendo em grego, Josefo preferiu usar o termo “irmão” como uma palavra genérica significando irmão ou primo para manter seu “costume hebreu” (sim, inacreditavelmente é a desculpa que eles arrumaram para o NT!).

Para saber se essa segunda objeção tem algum fundamento, só nos resta uma coisa: irmos até os escritos de Josefo para averiguar se ele realmente costumava usar o termo “irmão” para qualquer parentesco, ou se também usava o termo grego para “primo” e diferenciava um e outro. Lamentavelmente para os apologistas católicos, eu não precisei de muito tempo até encontrar inúmeras citações expressas de primos (anepesios), como por exemplo Boaz, primo (não irmão!) de Abimeleque:

“Orfa consentiu naquele desejo, mas a extrema afeição que Rute devotava à sogra não lhe permitiu abandoná-la e desejou ser sua companheira também na adversidade. Assim, chegaram ambas a Belém, onde veremos em seguida que Boaz, primo de Abimeleque, as recebeu com grande bondade” (Antiguidades Judaicas, Parte 1, Livro I, 11)

Ou quando diz que Jonadabe era primo de Amnom:

“Amnom, seu filho mais velho, apaixonou-se tão perdidamente por ela que, não podendo satisfazer a sua paixão, porque ela era cuidadosamente vigiada, ficou em tal estado que se tornou irreconhecível. Jonadabe, seu primo e amigo particular, julgou que aquela enfermidade só podia vir de uma causa semelhante e rogou-lhe que dissesse qual era. Amnom revelou o amor que sentia pela irmã, e Jonadabe, que era um homem inteligente, deu-lhe um conselho, o qual ele pôs em prática” (Antiguidades Judaicas, Parte 1, Livro VII, 7)

Ou então quando afirmou que Grapta era primo de Izate:

“Travou-se um combate, mataram a muitos dos dele, impeliram-no até quase o palácio, construído por Grapta, primo de Izate, rei dos adiabenianos, que João havia escolhido para sua residência e onde ele guardava todo seu dinheiro, como produto dos roubos e saques, que eram efeito de sua tirania; entraram lá com ele e o obrigaram a se retirar ao Templo” (Antiguidades Judaicas, Parte 2, Livro IV, 34)

Ou então quando escreveu que Macrom (não confundir com o presidente francês) era primo de Caio:

“Tudo, porém, Macrom fez para dissipar essas dúvidas e suspeitas e particular-mente o temor que ele tinha pelo neto; ele afirmava-lhe que Caio tinha por ele grande respeito, muito afeto como primo, e que lhe cederia de boa vontade o império; que só se devia atribuir ao pudor e ao seu retraimento o que todos julgavam espírito fraco” (Antiguidades Judaicas, Livro Único, 4)

Ou então quando alegou que Tibério também era um primo de Caio:

“Ações tão criminosas, na mente de Caio, eram como outras tantas vitórias que ele obtivera sobre o que havia de mais ilustre no império. Seu furor tinha sufocado o brilho da família imperial no sangue do jovem Tibério, seu primo, que ele devia, ao invés, ter associado ao soberano poder” (Antiguidades Judaicas, Livro Único, 6)

Um caso particularmente interessante é quando “primo” e “irmão” são usados em um mesmo trecho, mostrando que Josefo conhecia bem a diferença entre ambos:

“Eis como Caio procedeu para executar uma resolução tão detestável contra aquele, com o qual a justiça obrigava a dividir a suprema autoridade. Mandou vir o jovem Tibério, reuniu seus amigos e disse-lhes falando dele: ‘Eu não o amo somente como meu primo, mas como se ele fosse meu próprio irmão, e desejaria, de todo meu coração, poder agora associá-lo ao governo, para satisfazer à última vontade de Tibério, mas vedes que, sendo tão jovem, ele tem mais necessidade de governante do que de ser governador’” (Antiguidades Judaicas, Livro Único, 3)

E o que dizer disso?

“Mas eu quisera bem saber de quem ele teria podido aprender o que diz; eu fui instruído desde o berço por meu pai, meus irmãos, meus primos, meus avós, meus bisavós e tantos outros grandes príncipes, de quem sou descendente dos lados paterno e materno, sem falar das sementes de virtude que a mesma natureza introduz no sangue daqueles que ela destina a governa” (Antiguidades Judaicas, Livro Único, 4)

A família inteira é mencionada de uma só vez – pai, irmão, primo, avós e bisavós –, e mesmo assim, para os apologistas católicos, Josefo não tinha a capacidade de distinguir irmão e primo e por isso generalizava usando o termo “irmão” de forma genérica, aplicando-o a qualquer forma de parentesco próximo – algo que beira o ridículo. Curioso é notar que todas essas referências estão na mesma obra em que Josefo chama Tiago de irmão (e não primo!) de Jesus. Qualquer um pode encontrar o livro em pdf, baixá-lo e constatar que os trechos citados aqui estão exatamente como constam no livro.

Diante disso, fracassadas todas as suas tentativas de “refutar” Josefo, a última escapatória para um apologista católico seria atacar a tradução em português, que talvez tenha sido feita por um protestante cruel, malvado e anticatólico (talvez um membro da famosa – nos blogs católicos, é claro – “Inquisição protestante”). Para descobrir essa última informação que nos faltava eu procurei o grego original dos escritos de Josefo e descobri aqui. Os vinte livros da “Antiguidades Judaicas” estão lá, cada trecho com o original grego seguido de uma tradução em inglês. Você pode entrar lá e conferir exatamente o trecho citado na referência sobre Tiago, que é o livro 20 (veja aqui). E, adivinhem, no grego consta exatamente o termo para irmão, como também traduz a versão inglesa:

45

Eu fiz o mesmo para ver se no grego consta a palavra diferente para primo, como nessa citação do livro 17. E adivinhem:

46

Ou seja, o grego traz a mesma coisa que a tradução em português e em inglês. Josefo cita adelphos em relação a Tiago irmão de Jesus, e anepsios em relação ao parentesco de outras pessoas que eram primas, mas não irmãs. Agora que todas as possibilidades de refutação já foram demolidas de antemão, só restará ao apologista católico apelar ao truque final: dizer que Josefo estava redondamente mal-informado. Isso se tornaria ainda mais irônico se vindo de certos apologistas católicos preteristas que interpretam o Apocalipse 100% baseados no testemunho de Josefo, que por conveniência se torna “não-confiável” quando o que escreve é algo que confronta diretamente suas crenças pessoais – o que só mostra mais uma vez a desonestidade desse tipo de gente.

Josefo é usado pelos católicos quando fala de Jesus, também é usado por eles quando fala sobre a guerra entre Jerusalém e Roma em 70 d.C, mas quando fala do parentesco de Tiago em relação a Jesus se transforma subitamente em uma fonte contestável que deve ter errado grosseiramente em suas pesquisas. Josefo era contemporâneo de Tiago, que era o líder da igreja cristã em Jerusalém e contemporâneo de Josefo, que, como se não bastasse, era um historiador competente – mas mesmo assim não sabia que Tiago era apenas um “primo” de Jesus! Pelo jeito não são só os protestantes que se enganaram em relação a Tiago, mas também um historiador contemporâneo não-cristão e todos os escritores bíblicos de uma só vez. Todo mundo se enganou, exceto a apologética católica, que com um golpe de mestre “descobriu” o primo de Jesus recorrendo como fonte a um Pai da Igreja de cinco séculos posteriores. É realmente cômico.

Todos os evangelistas e apóstolos disseram que os irmãos de Jesus eram adelphos mesmo, e não primos – mas mesmo assim eram primos. Josefo se refere a Tiago como sendo irmão-adelpho de Jesus em vez de primo (mesmo tendo por hábito chamar os primos de primos), mas mesmo assim Tiago era um primo. Mesmo quando a arqueologia descobre o ossuário de Tiago datado exatamente do século I com a inscrição aramaica “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” (Ya'akov bar Yosef achui d'Yeshua) e é provada verdadeira em tribunal (veja aqui), ainda assim Tiago continua sendo “apenas um primo”. Não importa quantas provas sejam acumuladas – sejam elas bíblicas, históricas ou arqueológicas –, nada poderá mudar a mente de alguém que a tem cauterizada para não escutar verdades desagradáveis e inconvenientes.

 

Fonte: lucasbanzoli.com


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