Clarice
Lispector escreveu o seguinte sobre a solidão: “Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de
chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o
escuro da noite”. A solidão, em certo sentido, não é algo ruim.
Quem é escritor, poeta, pensador, por exemplo, geralmente é uma pessoa
solitária, mesmo rodeado de pessoas. Particularmente eu gosto muitas vezes de
ficar sozinho, tranquilo com meus pensamentos. Como sou poeta e escritor, o
sossego é essencial.
Ficar sozinho de vez em quando é
normal. O problema é quando nos isolamos das outras pessoas por causa de alguma
fobia social ou algum outro problema. As causas da solidão são as mais
diversas: causas sociais, psicológicas, circunstanciais, etc. Estar sozinho
algumas vezes é uma coisa, viver solitário é outra. Não podemos fugir sempre
das relações humanas, porque elas são fundamentais para nosso crescimento e
saúde emocional e mental. O próprio Deus quando criou o homem disse: “Não é bom que o homem viva só:
far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gênesis 2.18).
Nos
dias hodiernos as redes sociais têm sido, em alguns casos, um meio de algumas
pessoas conseguirem, em algum sentido, aplacar um pouco sua solidão. No
entanto, em outros casos é apenas um escape para que algumas pessoas não
busquem relações sociais longe do “mundo virtual”. E esse “mundo” tem seus
limites. Muitos apenas conhecem esse mundo de faz de contas e quando se deparam
com a realidade da vida não sabem como agir. Em alguns casos mais radicais,
essa mania de viver apenas no “mundo virtual”, é uma porta para uma depressão
aguda. Alguns estudos estão sendo feitos para mais aprofundamento no assunto. O
fato é que relacionalidades virtuais não tem cheiro, abraço, beijo, calor
humano, coisas essências para um bom desenvolvimento físico e psíquico.
O
ser humano é um ser complexo. Algumas pessoas sofrem de fobia social, outros de
ansiedades incompreensíveis, medo de avaliação negativa, extremos angustiantes,
etc. E daí essas coisas maximizam a ansiedade e suas crenças negativas
levando-as a se encaramujar socialmente e levando-as a uma solidão extrema.
Os
perigos da solidão são também diversos. Um dos mais graves é o desenvolvimento
de uma baixa autoestima e de pensamentos derrotistas, inclusive levando, em
alguns casos, ao suicídio. Criar vínculos afetivos e mantê-los é uma
necessidade de conectividade social. Cuidar desses relacionamentos desembocam
em mais saúde mental e física. Pode melhorar a autoestima, fazendo com que as
pessoas sejam mais generosas e felizes na vida.
O
ser humano é um ser relacional. E nem sempre estar acompanhado significa não
estar solitário, todos sabemos disso. Para se enfrentar a solidão pode-se fazer
várias coisas. Entendo, por exemplo, que quem gosta de ler nunca se sentirá
solitário. Sozinho, sim, solitário jamais. Ou talvez, se você não está
aguentando a solidão pode ser que sua companhia não seja agradável a você
mesmo. Tem gente que não sabe ficar só consigo mesmo. Pessoas que ficam
agoniadas nos momentos de solidão. Em outro polo, existem aqueles que vivem
sempre ligando para alguém; sempre arranjando compromissos ou indo para os ajuntamentos
sociais, mesmo sem gostar, para poder estar sempre em companhia, mesmo sentindo
as maiores agonias na alma.
A
solidão pode atingir qualquer um. O salmista Davi viveu momentos de solidão.
Ele disse: “Olha
para mim, e tem piedade de mim, porque estou solitário e aflito”
(Salmo 25.16). Mas, nosso maior modelo de como viver a vida de forma plena é
Jesus. Ele gostava de momentos solitários, mas não dispensava momentos de
interação social. A Bíblia diz em Mateus 14.23-24 “Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à
parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho”. Ainda em Marcos 1.35 está
escrito: “De madrugada,
ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava”.
Mas, logo em seguida Ele disse no verso 38: “E
ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue;
porque para isso vim”.
Quando
as pessoas queriam sufocá-lo, Ele se afastava e buscava refúgio no Pai. Jesus
gostava de ficar sozinho para estar consigo mesmo e com o Pai celestial. Essa é
a diferença da religião e da comunhão com Deus. E a religião é um lugar onde os
solitários se escondem na capa da espiritualidade de fogos de artifícios.
Muitos nos púlpitos são alegres e espontâneos, mas na solidão do seu quarto são
pessoas tão escondidas em si mesmas que o único barulho que escutam é silêncio
ensurdecedor da dor desértica da alma. Pode ser pastor, padre, budista ou
qualquer líder religioso.
É
preciso entender também que quem conhece Deus, pode até se sentir solitário de
vez em quando, mas nunca estará sozinho. Ele não nos deixou órfãos. Temos um
que vive em nós e consola nossa alma nos momentos de angústia: o Espírito Santo
(João 14.16-18). Nunca estamos completamente sozinhos. Está escrito em Hebreus
13.5: “Ele mesmo disse:
Não te deixarei, nem te desampararei”. Ele está mais perto do que
você imagina.
Fonte: Napec.org
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