A poligamia
na Bíblia é um assunto que desperta muita curiosidade e dúvida nas pessoas. A poligamia é a prática de se ter mais de uma esposa ou marido
dentro de um casamento.
Sabemos que
muitos personagens bíblicos tiveram mais de uma mulher, e diante
disto, geralmente surgem algumas perguntas: O que é a poligamia? Como
entender a poligamia na Bíblia? Por que Deus permitiu a poligamia? Por que
homens piedosos tiveram mais de uma mulher na Bíblia?
A poligamia
no Antigo Testamento
A poligamia
era praticada nos tempos do Antigo Testamento, inclusive por homens tementes a
Deus. No entanto, o primeiro caso de poligamia
registrado na Bíblia foi com a pessoa do impiedoso Lameque, descendente de
Caim (Gênesis 4.19).
O
importante patriarca Abraão também praticou a poligamia (Gênesis
16.1-3; 25.1-6), assim como seus netos, Esaú e Jacó (Gênesis 26.34,35; 28.9;
Gênesis 29.21-35). Nos tempos dos juízes de Israel, o notável Gideão foi
poligâmico (Juízes 8.30), enquanto que o pai do profeta Samuel também possuía
duas esposa: Ana e Penina (1 Samuel 1.1,2).
No período
da monarquia, a poligamia também caracterizou o casamento de muitos reis.
Durante esse período, obviamente os casos que mais chamam a atenção são: o
rei Davi, com várias esposas e concubinas (1 Samuel 25.40-43; 2 Samuel 3.2-5;
5.13; 2 Crônicas 14.3); e o rei Salomão, que teve setecentas esposas e
trezentas concubinas (1 Reis 3.1; 11.1-3).
Também é
verdade que a Lei Mosaica não proibia a poligamia, mas a regulamentava (Êxodo
21.10). Tal regulamentação tinha por objetivo
proteger os direitos e a dignidade das esposas e dos filhos gerados por elas, e
desencorajar os homens a terem haréns (Deuteronômio 17.17; 21.15-17; 1 Reis
11.3).
Além disso,
dentro da Lei, a poligamia também não era interpretada como uma violação do
mandamento que proíbe o adultério (Êxodo 20.14; cf. Gênesis 39.9). Sob este
aspecto, o adultério consistia no ato de tomar a mulher de outro homem, mas não
de possuir para si mais de uma mulher legitima.
Por que a
poligamia era praticada?
Em linhas
gerais, a poligamia era praticada com base em diferentes motivações. Os reis geralmente praticavam poligamia para estabelecer alianças
políticas, como aconteceu com o rei Salomão ao se casar com a filha de Faraó,
e rei Acabe ao se casar com a princesa Jezabel (1 Reis 3.1;
16.31).
Outras vezes
a poligamia era praticada para aumentar a descendência de um homem. Naquela
época quanto mais filhos um homem tivesse melhor seria, especialmente por causa
das constantes guerras que aumentam em muito as taxas de mortalidade (cf.
Juízes 8.30; 1 Crônicas 7.4).
Ainda com
base nesta questão da descendência, muitas vezes um homem também recorria a uma
segunda esposa por causa da esterilidade de sua primeira mulher. Finalmente,
havia também aqueles que se casavam com outras mulheres por sentimento ou por
algum tipo de paixão.
Por que Deus
permitiu a Poligamia?
Primeiramente
é importante entender que a poligamia nunca foi a intenção original de Deus
para o relacionamento conjugal. Quando
Deus uniu Adão e Eva, Ele foi muito claro ao dizer: “Portanto deixará o
homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma
carne” (Gênesis 2.24).
Observe o
uso do singular nesta frase, ou seja, o homem deve se apegar “à sua
mulher” para com ela formar uma só carne, e não “às suas
mulheres”, ou seja, Deus deu a Adão uma única esposa, não várias esposas.
Além disso,
como foi dito, o primeiro exemplo de poligamia na Bíblia ocorreu com Lameque,
um homem ímpio e depravado, após a Queda do Homem. Isto significa que
antes da origem do pecado na humanidade, não havia a poligamia, e,
portanto, tal prática teve origem na corrupção da natureza humana.
Também não
há nenhuma passagem bíblica que coloque a poligamia como regra para um
relacionamento conjugal ao lado da monogamia, ao contrário, a poligamia sempre
é retratada como uma exceção. Portanto,
sempre é o casamento monogâmico que aparece como o padrão a ser adotado
(Provérbios 5.15-20; 12.4; 19.14). Sob este aspecto, a monogamia no casamento
também foi utilizada pelos profetas como figura do relacionamento entre Deus e
seu povo escolhido (Isaías 54.1-8; Jeremias 2.1,2; 3.20).
Diante de
tudo isto, a melhor maneira de tratar este assunto é entender que Deus jamais
aprovou a poligamia, mas apenas tolerou e permitiu tal prática como uma medida
temporária por causa da dureza do coração pecaminoso do homem.
Então muitas
especulações têm sido levantadas para tentar explicar o porquê de Deus ter
tolerado a poligamia. As principais delas apontam para o fato de que naquela
época uma mulher que não tivesse um marido estava completamente desamparada.
Inclusive, muitas delas, acabavam recorrendo à prostituição como meio de
sobrevivência.
Combinado a
isto, também é verdade que a população de homens era muito menor que a
população de mulheres. Os homens estavam constantemente envolvidos em guerras,
e rotineiramente muitas mulheres acabam tornando-se viúvas.
Portanto,
devido a uma sociedade corrompida pelo pecado e envolvida em diversas
limitações, Deus parece ter tolerado a poligamia e permitido uma regulamentação
na Lei nesse sentido, especialmente em misericórdia às mulheres e seus filhos,
a fim de protegê-las de uma situação ainda pior resultante da depravação total
da humanidade.
A poligamia
ainda é aceitável? O que o Novo Testamento diz?
Não, a
poligamia não é aceitável! Mesmo no período da Antiga
Dispensação quando os casamentos poligâmicos eram tolerados por Deus, as
Escrituras retratam de forma bastante clara suas terríveis consequências, que
destroem a unidade e harmonia familiar e podem até levar seus envolvidos à
ruína (Gênesis 16.4; 29.30; 30.1-26; 1 Samuel 1.5-8; 2 Crônicas 11.21).
Já na época
do Novo Testamento, o próprio Jesus apontou para o casamento monogâmico como
sendo o padrão original de Deus para o matrimônio, e que qualquer comportamento
contrário a isto, é resultado da dureza do coração do homem (Mateus 19.1-9).
No período
apostólico, a Igreja Primitiva já havia entendido que a monogamia, e não a
poligamia, era o tipo de relacionamento conjugal que Deus desejava para seu
povo (1 Coríntios 7.1-2). Aos líderes das comunidades cristãs, foi dada a
recomendação explicita de que deviam ser “marido de uma só mulher” (1
Timóteo 3.2-12; Tito 1.3-5).
Outra
passagem que claramente aponta para a importância da monogamia no casamento é a
comparação que o apóstolo Paulo faz entre o casamento monogâmico e o
relacionamento de Cristo e sua Igreja (Efésios 5.22,23). Cristo tem uma
só esposa, a Igreja, e a Igreja um só esposo, Cristo.
Também não
se deve esquecer que a poligamia, quando tolerada pelo Senhor, estava inclusa
no contexto da Antiga Dispensação, onde, de acordo com a revelação progressiva
de Deus, muita coisa foi permitida, mas quando Cristo se manifestou trazendo a
Nova Dispensação, tais coisas foram abolidas, e o que era temporário e
imperfeito deu lugar ao que é permanente e perfeito, de modo que o próprio
Cristo revela o propósito pleno de Deus para seu povo.
Portanto,
mesmo não encontrando uma proibição explicita de Deus contra a poligamia na
Bíblia, nitidamente é possível perceber que o relacionamento poligâmico é uma
distorção do propósito original de Deus para o casamento, e é resultante da
natureza pecaminosa do homem, causando-lhe terríveis consequências e grandes
sofrimentos.
Fonte: cristaoreformado.com.br
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