Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! Porque percorreis o mar e a terra para fazer um
prosélito e, depois de o terdes feito, vós o tornais duas vezes mais
filho do inferno do que vós. Mateus 23:15
Mais uma vez este
sujeito entrelaça os pés pelas mãos ao tentar realizar o inútil serviço
de “defensor” da santidade de Deus e da autoridade da Igreja, pois Deus e
a Igreja não precisam de advogados.
Mas dessa vez vejo uma
intenção mais ousada por parte dele, por isso, antes de chegar onde
quero, preciso explicar o contexto que envolve o versículo que citei
acima.
Quando se trata de
conceituar a palavra prosélito nas Escrituras é necessário muito
cuidado, portanto, avaliar o contexto em que ela está sendo aplicada é
indispensável, pois no judaísmo nem todas as pessoas classificadas assim
pertenciam à mesma categoria.
Ou seja, nem todos
aceitavam a religião judaica de forma absoluta, pois, nas Escrituras,
alguns que poderiam ser assim denominados, são chamados de “tementes a
Deus” ou simplesmente “adoradores”. Estes haviam renunciado suas
práticas pagãs apenas pelo fato de terem simpatizado o suficiente com a
religião dos judeus para frequentarem a sinagoga. Muitos entre estes que
eram chamados “prosélitos de porta” foram alcançados pelo Evangelho e
se converteram a Cristo, como por exemplo, Lídia (At. 16:14).
Entretanto, outros foram
muito mais longe na sua mudança do paganismo para o judaísmo, isto é,
embora fosse impossível se tornarem judeus quanto à raça, se tornavam
judeus quanto à religião e, isso, até o ponto de ultrapassar os
mandamentos e obedecer cegamente todas as regras dos rabinos. Esses eram
aceitos na comunidade judaica como “prosélitos de justiça”, ou “homens
novos” e, na maioria das vezes, recebiam até mesmo novos nomes.
Podemos estar certos
então que quando Jesus diz que os escribas e fariseus percorriam o mar e
a terra para fazer um prosélito está se referindo a esse último tipo,
pois o propósito dos religiosos partidários não era simplesmente
transformar um gentio num judeu, mas transformá-lo em um judeu cheio de
zelo, absolutamente legalista, em tudo ritualista, dado a todas as
sutilezas, ou seja, alguém inflamado de amor beato por sua nova
religião.
Implicitamente, Jesus
diz que esse novo convertido seria, em seu fanatismo, mais religioso que
os religiosos que o converteram, pois não é incomum que novos adeptos
se devotem de maneira lunática à sua nova fé e isso explica o porquê
Jesus pôde dizer: “… e, depois de o terdes feito, vós o tornais duas
vezes mais filho do inferno do que vós”.
Dito isto, a ideia do
boicote proposto pelo cidadão em questão ganha um contorno, pois,
quando, ao exercer sua religiosidade, ele se nega a coexistir com os
diferentes e, não satisfeito só em praticar sua rigidez religiosa,
convoca outros a o imitarem, fica clara a intenção dele de criar
prosélitos partidários.
A missão da Igreja é
fazer discípulos de Jesus por meio do amor revelado no Evangelho e
estendido a partir disso. Esse é o único serviço e meio para a sua
realização.
Sei que você agora pode
estar repetido uma das expressões preferidas dele, “mas amar não
significa concordar com o erro” e digo sim, isto é verdade, mas é mais
verdade ainda que o amor reclamado pelo Evangelho deva ser estendido na
mesma medida do entendimento da gravidade do pecado cometido contra
Deus.
Assim, percorrer todos
os caminhos para fazer um seguidor de um amor seletivo e inflexível aos
erros, não tem nada de correlato com a ordem de fazer discípulos Daquele
que, mesmo sendo a encarnação do amor e da justiça, decidiu conviver
com todos nas suas piores manifestações e sem a neurose de estar se
associando a quem quer que seja.
O “candidato a Aiatolá
evangélico” que vive do surto de criar um exército de prosélitos
intransigentes e partidários está cada vez mais fanático por sua
ideologia, mas confiemos na graça e na misericórdia Daquele que orou
pedindo para o Pai que não nos tirasse do mundo, mas que nos livrasse do
mal, pois de que adianta nos isolarmos do mundo temendo sua influência,
mas estarmos cada vez mais entranhados no mal que obscurece o bem que
deve nos influenciar?
É APENAS no EVANGELHO
que somos feitos discípulos de Jesus para boicotar o pecado que nos
habita e o proselitismo que nos acedia por terra e mar.
Por Sandro Veiga
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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