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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Discípulos sim, prosélitos nunca!

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e, depois de o terdes feito, vós o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós. Mateus 23:15

Mais uma vez este sujeito entrelaça os pés pelas mãos ao tentar realizar o inútil serviço de “defensor” da santidade de Deus e da autoridade da Igreja, pois Deus e a Igreja não precisam de advogados.

Mas dessa vez vejo uma intenção mais ousada por parte dele, por isso, antes de chegar onde quero, preciso explicar o contexto que envolve o versículo que citei acima.

Quando se trata de conceituar a palavra prosélito nas Escrituras é necessário muito cuidado, portanto, avaliar o contexto em que ela está sendo aplicada é indispensável, pois no judaísmo nem todas as pessoas classificadas assim pertenciam à mesma categoria.

Ou seja, nem todos aceitavam a religião judaica de forma absoluta, pois, nas Escrituras, alguns que poderiam ser assim denominados, são chamados de “tementes a Deus” ou simplesmente “adoradores”. Estes haviam renunciado suas práticas pagãs apenas pelo fato de terem simpatizado o suficiente com a religião dos judeus para frequentarem a sinagoga. Muitos entre estes que eram chamados “prosélitos de porta” foram alcançados pelo Evangelho e se converteram a Cristo, como por exemplo, Lídia (At. 16:14).

Entretanto, outros foram muito mais longe na sua mudança do paganismo para o judaísmo, isto é, embora fosse impossível se tornarem judeus quanto à raça, se tornavam judeus quanto à religião e, isso, até o ponto de ultrapassar os mandamentos e obedecer cegamente todas as regras dos rabinos. Esses eram aceitos na comunidade judaica como “prosélitos de justiça”, ou “homens novos” e, na maioria das vezes, recebiam até mesmo novos nomes.

Podemos estar certos então que quando Jesus diz que os escribas e fariseus percorriam o mar e a terra para fazer um prosélito está se referindo a esse último tipo, pois o propósito dos religiosos partidários não era simplesmente transformar um gentio num judeu, mas transformá-lo em um judeu cheio de zelo, absolutamente legalista, em tudo ritualista, dado a todas as sutilezas, ou seja, alguém inflamado de amor beato por sua nova religião.

Implicitamente, Jesus diz que esse novo convertido seria, em seu fanatismo, mais religioso que os religiosos que o converteram, pois não é incomum que novos adeptos se devotem de maneira lunática à sua nova fé e isso explica o porquê Jesus pôde dizer: “… e, depois de o terdes feito, vós o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós”.

Dito isto, a ideia do boicote proposto pelo cidadão em questão ganha um contorno, pois, quando, ao exercer sua religiosidade, ele se nega a coexistir com os diferentes e, não satisfeito só em praticar sua rigidez religiosa, convoca outros a o imitarem, fica clara a intenção dele de criar prosélitos partidários.

A missão da Igreja é fazer discípulos de Jesus por meio do amor revelado no Evangelho e estendido a partir disso. Esse é o único serviço e meio para a sua realização.

Sei que você agora pode estar repetido uma das expressões preferidas dele, “mas amar não significa concordar com o erro” e digo sim, isto é verdade, mas é mais verdade ainda que o amor reclamado pelo Evangelho deva ser estendido na mesma medida do entendimento da gravidade do pecado cometido contra Deus.

Assim, percorrer todos os caminhos para fazer um seguidor de um amor seletivo e inflexível aos erros, não tem nada de correlato com a ordem de fazer discípulos Daquele que, mesmo sendo a encarnação do amor e da justiça, decidiu conviver com todos nas suas piores manifestações e sem a neurose de estar se associando a quem quer que seja.

O “candidato a Aiatolá evangélico” que vive do surto de criar um exército de prosélitos intransigentes e partidários está cada vez mais fanático por sua ideologia, mas confiemos na graça e na misericórdia Daquele que orou pedindo para o Pai que não nos tirasse do mundo, mas que nos livrasse do mal, pois de que adianta nos isolarmos do mundo temendo sua influência, mas estarmos cada vez mais entranhados no mal que obscurece o bem que deve nos influenciar?

É APENAS no EVANGELHO que somos feitos discípulos de Jesus para boicotar o pecado que nos habita e o proselitismo que nos acedia por terra e mar.
 
Por Sandro Veiga
 

Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com

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