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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

FAZENDO VOTOS PARA UMA VIDA MAIS SANTA

Texto base: Salmo 116.12-14

INTRODUÇÃO

Ao findar o ano e se iniciar outro devemos olhar para trás e reavaliar a nossa vida em todas as áreas: familiar, secular, financeira e, principalmente, na espiritual. Será que fomos melhores crentes que no ano anterior? Será que atingimos um patamar mais elevado em nosso conhecimento bíblico e prático ou simplesmente continuamos os mesmos crentes de sempre? Não avançamos em nada, isso quando não se regride.

E como em todo início de ano nós fazemos promessas, ainda que ninguém saiba, de que seremos melhores, que nos esforçaremos para estar mais presente junto à família, na igreja, ler a Bíblia toda... Tudo isso faz parte de um recomeço, pois o ano que se inicia nos trás a ideia de um novo recomeço. Por que o ano é novo, apesar de ficarmos mais velhos. Mas de nada adianta planejarmos o novo ano se nós não olharmos para trás e não revermos como foi a nossa vida no ano anterior. O ano novo traz às pessoas a necessidade de balanço do ano que passou e também a reflexão sobre resoluções para o ano que se inicia.

Este salmo nos leva a pensar nisso – embora este salmo não fala de ano novo, mas nos leva a pensar em novas oportunidades, pois o salmista estava à beira da morte, no entanto o Senhor o livrou. O salmista olha para trás e vê o quanto o Senhor foi bom para com ele. Apesar de ter passado por lutas e dificuldades; observe os versos 8 a 11:

Pois tu me livraste da morte, os meus olhos, das lágrimas e os meus pés, de tropeçar, para que eu pudesse andar diante do Senhor na terra dos viventes. Eu cri, ainda que tenha dito: "Estou muito aflito". Em pânico eu disse: "Ninguém merece confiança". (NVI).

O Salmo 116 registra a gratidão do salmista por ter sido liberto de um mal que o estava levando à morte. Ele buscou a face do Senhor e o Senhor ouviu a sua oração (vs. 8,9). O salmista agradeceu, realizando sacrifícios e oferecendo votos, tudo isso em consonância com a lei mosaica. Ele foi grato a Deus pelo bem recebido. Este Salmo tornou-se um modelo de agradecimento para aqueles que tinham se recuperado de enfermidades ou de outras crises pessoais, e tem sido lido com esse propósito até hoje.

Depois de ter sido liberto, o salmista desejava expressar sua gratidão ao Senhor (v. 12), o que fez de quatro maneiras. Em primeiro lugar, levou ao santuário uma oferta de ação de graças (v. 17; Lv 3; 7.11-21). Em segundo lugar, como parte desse sacrifício, o sacerdote derramou uma porção de vinho sobre o altar, simbolizando a vida do adorador sendo derramada para servir ao Senhor. Em terceiro lugar, o sacerdote separou uma parte da oferta a ser usada numa refeição depois do sacrifício, na qual o adorador compartilhava seu alimento e sua alegria com sua família e amigos. Nessa refeição, o salmista invocou o Senhor e agradeceu publicamente a ele por suas misericórdias. Em quarto lugar, depois da cerimônia e da refeição, o salmista começou a cumprir as promessas (votos) que havia feito ao Senhor durante seu tempo de grande sofrimento e perigo (vv. 14, 18) [1].

Diante desse texto eu quero pensar com você sobre fazer votos. É válido fazer os votos hoje? Se a resposta for sim como devo fazê-lo? Para isso devemos entender o que é um voto segundo a Bíblia para depois pensar em fazê-los ou não.

EM PRIMEIRO LUGAR, O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE FAZER VOTOS A DEUS?

No Antigo Testamento era muito comum fazer votos, tanto que muitos deles foram registrados. Alguns inclusive direcionados pelo próprio Deus. Veja por exemplo o voto de nazireu (Nm 6.1-21). A Bíblia nos fala de algumas pessoas que tinham o voto de nazireado: Sansão (Jz 15.5), Samuel (1Sm 1.11) e João Batista (Lc 1.15). Estes foram homens escolhidos por Deus para obras específicas e especiais. No chamamento desses homens, o Senhor requereu que eles cumprissem o voto do nazireado. Só para esclarecer, Jesus não tinha sido consagrado a esse voto. Veja Lc 7.33,34:

Pois veio João Batista, não comendo pão, nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! (ARA).

1º - Nos tempos do Antigo Testamento as pessoas faziam diversos tipos de votos a Deus. Um exemplo disso nós encontramos em Gênesis 28.20-22, onde Jacó promete dizimar se contasse com a presença de Deus em sua jornada. Veja o texto:

Então Jacó fez um voto, dizendo: "Se Deus estiver comigo, cuidar de mim nesta viagem que estou fazendo, prover-me de comida e roupa, e levar-me de volta em segurança à casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus. E esta pedra que hoje coloquei como coluna servirá de santuário de Deus; e de tudo o que me deres certamente te darei o dízimo" (NVI).

Veja que o voto não era impossível de ser cumprido por Jacó e foi feito diretamente com Deus. Os votos eram feitos com frequência nesse período e, por essa razão, encontramos no capítulo 30 de Números várias orientações escritas por Moisés com respeito ao cumprimento de votos feitos a Deus. A pessoa deveria pensar bem antes de fazer um voto, analisando se conseguiria ou não cumpri-lo. Um voto feito a Deus não deveria ser considerado levianamente e, portanto, não deveria ser feito precipitadamente:

“Quando fizeres algum voto ao SENHOR, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em ti” (Dt 23.21,22).

“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras” (Ec 5.4,5).

Observe que o voto não era obrigado, mas no momento que a pessoa fazia deveria não tardar em cumpri-lo.

2º - No Novo Testamento, Jesus ensinou que o ideal é não fazermos juramentos ou promessas. Isso não quer dizer que não possamos fazer, mas que devemos ter o cuidado, acima de tudo, responsabilidade com as nossas palavras.

“Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’. Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo” (Mateus 5.33-36). Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno (verso 37).

Hoje em dia, algumas pessoas tentam usar votos e promessas para barganhar com Deus, esquecendo-se do sentido original do voto: a consagração e gratidão a Deus. Por isso que quando fazemos um voto a Deus, não o façamos com a intenção de forçá-lo a nos abençoar mais. Primeiro porque já fomos abençoados com toda sorte de bênçãos. Veja o que Paulo nos fala em Ef 1.3:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (NVI).

E outra coisa, as bênçãos de Deus, inclusive a salvação, vêm pela graça e não por nossos méritos próprios: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9). Tudo o que fazemos em nossa vida cristã, deve ser como um agradecimento pela salvação recebida.

Warren W. Wiersbe diz que não devemos considerar nossos votos como um “suborno santo”, uma forma de pagarmos Deus por sua ajuda, pois o salmista certamente sabia que a vontade de Deus não pode ser influenciada por dádivas humanas (Jó 41.11; Rm 11.35) [2].

EM SEGUNDO LUGAR, ANTES DE FAZERMOS ALGUM VOTO DEVEMOS OBSERVAR ALGUMAS ORIENTAÇÕES.

No Novo Testamento, principalmente de acordo com as palavras de Jesus o ideal, segundo Mt 5.33-36, é não fazermos juramentos, promessas ou votos (principalmente os impossíveis de serem cumpridos). Nossa palavra deve ser sim, sim; não, não. Devemos ser honestos em nossa vida e não necessitarmos de juramentos (Mt 5.37).

1º - Se você fez algum voto a Deus possível de ser cumprido, cumpra-o sem demora (Ec 5.4-5). Ninguém é obrigado a fazer voto algum, mas em cumpri-lo sim. Jesus deixou bem claro que a palavra do cristão deve ser sim sim e não não, pois o maligno é que age contrário a isso. 

2º - Não faça votos que não possa cumprir. Se você fez um voto a Deus impossível de ser cumprido, por causa de sua natureza humana, ou que viole os princípios divinos, arrependa-se e peça perdão a Deus e não faça isso novamente. E não faça votos para outros cumprirem (filho, marido, esposa...).

Jefté fez um voto tolo, impensado e que lhe causou grande sofrimento. Ele fez um voto para o “outro” realizar – no caso em questão, o voto impensado e precipitado recaiu sobre a sua filha (Jz 11.30,31, 34,35).

E Jefté fez este voto ao Senhor: "Se entregares os amonitas nas minhas mãos, aquele que vier saindo da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto". Quando Jefté chegou à sua casa em Mispá, sua filha saiu ao seu encontro, dançando ao som de tamborins. E ela era filha única. Ele não tinha outro filho ou filha. Quando a viu, rasgou suas vestes e gritou: "Ah, minha filha! Estou angustiado e desesperado por tua causa, pois fiz ao Senhor um voto que não posso quebrar" (NVI).

3º - Não seja precipitado em fazer votos. Se foi feito um voto precipitado que não esteja em harmonia com os propósitos divinos é preciso arrepender-se e confessar o pecado. Um voto é coisa muito séria, e não deve ser tratado de maneira leviana. Pois os votos podem ser mal-empregados. A própria lei adverte contra isso, assim como os ensinamentos de sabedoria e os livros dos profetas (Dt 23.21-23; Pv 20.25; Jr 44.25). Saul propunha-se tanto a fazer votos insensatos como a não cumpri-los (1Sm 14.24-28; 19.6). Votos por impulso podem não ser cumpridos, o que desperta a ira de Deus.

Antes de fazer qualquer voto devemos nos lembrar de quatro coisas básicas:

1 - Todo voto deve agradar a Deus: Lv 22.17-23.
2 - Todo voto deve ser pago a Deus: Dt 12.11; Sl 22.25; 65.1; Ec 5.4.
3 - Todo voto será lembrado por Deus: Gn 31.13.
4 - Todo voto deve ser feito para Deus: Gn 28.20.

Não brinque com o voto feito a Deus. Hernandes Dias Lopes diz Sansão fez pouco caso de seus votos de consagração e perdeu o vigor de seu testemunho. Perdeu sua força e sua visão. Perdeu sua dignidade e sua própria vida. Vocacionado para ser o libertador do seu povo, tornou-se cativo. Porque desprezou os princípios de Deus, o nome de Deus foi insultado num templo pagão por sua causa. Sansão brincou com o pecado e o pecado o arruinou. Sansão não escutou conselhos e fez manobras erradas na vida [3].

EM TERCEIRO LUGAR, CREIO QUE DEVEMOS FAZER VOTOS HOJE PARA UMA VIDA ESPIRITUAL MAIS ELEVADA.

Concordo com A. W. Tozer quando disse que algumas pessoas rejeitam a ideia de fazer votos, mas na Bíblia você encontrará muitos grandes homens de Deus que foram dirigidos por alianças, promessas, votos e compromissos. O salmista não era avesso a fazer votos. "Os votos que fiz, eu os manterei, ó Deus", disse ele. "Render-te-ei ações de graça" (Sl 56.12).

Meu conselho nessa questão é que se você está realmente preocupado com seu avanço espiritual – a obtenção de novo poder, nova vida, nova alegria e novo reavivamento pessoal dentro de seu coração –, será bom fazer certos votos e empenhar-se por cumpri-los. Se você falhar, prostre-se em humilhação, arrependa-se e comece novamente, mas sempre leve em consideração os votos feitos. Eles irão ajudar a harmonizar seu coração com os vastos poderes que fluem do trono onde Cristo está assentado, à destra de Deus [4].

Como já falamos voto não é barganha, muito menos suborno santo como pagamento pelas bênçãos recebidas. Mas antes de qualquer coisa o voto tem o sentido original de consagração e gratidão a Deus, ou seja, o voto tem como ponto central a glória de Deus através de uma vida consagrada a Ele.

A. W. Tozer nos diz que devemos fazer cinco votos para obtermos poder espiritual. São eles: Trate Seriamente com o Pecado. Não Seja Dono de Coisa Alguma. Nunca se Defenda. Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. Nunca Aceite Qualquer Glória [5].

Votos como estes são bem diferentes do que temos visto por aí em certas igrejas. Estes são votos que nos afastam do pecado e nos aproximam de Deus; são votos que nos levam a refletir sobre nossa vida espiritual e de como devemos vigiar para não sermos canal de maldição e não de bênção na vida das outras pessoas. Tais votos não são fáceis de por em prática, mas são excelentes para nos deixar com uma vida exemplar e mais santa.

Vamos pensar nesses cinco votos.

Primeiro voto: Trate Seriamente com o Pecado. O pecado tem sido disfarçado nestes dias, aparecendo com novos nomes e caras. O pecado é chamado por diversos nomes enfeitados – qualquer nome, menos pelo que ele realmente é. Por exemplo, os homens já não ficam mais sob convicção de pecados; eles têm um complexo de culpa. Em lugar de confessar suas culpas a Deus, para se livrarem delas, deitam-se num divã e tentam relatar o que sentem a um homem que deve conhecer melhor tudo sobre eles. Após algum tempo, a resposta dada é que eles foram profundamente desapontados quando tinham dois anos, ou alguma coisa semelhante. Supõe-se que isso os fará sentirem-se melhor.

A Bíblia é muito clara em relação ao pecado e as suas consequências. Em Romanos 6.23 nos diz que o salário do pecado é a morte, se é a morte não podemos negligenciar esse fato. No entanto, é exatamente isso que em muitas igrejas se tem feito.

Veja o que nos diz Davi no Salmo 32.1-5 nos diz:

“Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo. Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (ARA).

O pecado é uma fraude. Promete prazer e paga com o desgosto. Faz propaganda de liberdade, mas escraviza. Levanta a bandeira da vida, mas seu salário é a morte. Tem um aroma sedutor, mas ao fim cheira a enxofre. Só os loucos zombam do pecado. O pecado é maligníssimo. Ele é pior do que a pobreza, do que a solidão, do que a doença. Enfim, o pecado é pior do que a própria morte. Esses males todos não podem destruir sua alma nem afastar você de Deus, mas o pecado arruína seu corpo, sua alma e afasta você eternamente de Deus [6].

Por isso eu quero convidá-lo a rever a sua vida e a tomar muito cuidado com o pecado. Ele seduz, mas o seu fim é caminho de morte. Ele pode ser doce em nossa boca, mas amargo como fel em nosso ventre. O pecado é algo tão sério que foi por causa dele que o nosso Senhor morreu na cruz. Veja o que nos diz Pedro em sua primeira carta:

“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados” (1Pe 2.24 – NVI). 

Veja também Isaías 53.5,6:

“Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (NVI).

Por isso que a Bíblia nos diz que o pecado deve ser confessado e deixado. Veja o que nos fala 1 João 1.9-10; 2.1,2:

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (NVI).

Precisamos tratar firmemente com o pecado em nossa vida. Lembremo-nos sempre disso. “O reino de Deus não é comida nem bebida”, disse o apóstolo Paulo, “mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). A justiça repousa à porta do reino de Deus. “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18. 4, 20) [7].

Leve o pecado a sério!

Segundo voto: Não Seja Dono de Coisa Alguma. Com isso, não quero dizer que não possamos possuir coisas. Quero dizer que devemos ser libertos do senso de possuí-las. Esse senso de posse é o que nos embaraça.

Não há dúvidas de que esse apego excessivo às coisas é um dos mais danosos hábitos que alguém pode ter. Como é uma atitude bastante natural no ser humano, raramente reconhecemos a malignidade dela; mas suas consequências são trágicas. Como nos alertou Paulo em sua carta em 1 Timóteo 6.9,19:

“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos” (1Tm 6.9,10 –NVI).

A avareza é a sede insaciável de uma quantidade cada vez maior de algo que acreditamos ser necessário para nos fazer sentir verdadeiramente satisfeitos. Pode ser a sede de dinheiro ou das coisas que o dinheiro pode comprar, pode também ser a sede de cargos e de poder. Jesus deixou claro que a vida verdadeira não depende da abundância de posses. Não negou que temos certas necessidades básicas (Mt 6.32; 1Tm 6.17). Apenas afirmou que não tornaremos a vida mais rica adquirindo mais coisas [3].

Terceiro voto: Nunca se Defenda. Todos nós nascemos com o desejo de defender-nos. E caso insista em defender a si mesmo, Deus permitirá que você o faça. Porém, se você entregar sua defesa a Deus, então Ele o defenderá. Ele disse a Moisés certa vez: “Serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários” (Ex 23.22).

Fazer um voto de nunca se defender pode parecer algo plenamente absurdo. Há em nós um mecanismo automático de defesa que nos leva a reagir, por vezes de forma violenta, frente a menor ameaça. Chamamos isso de instinto de defesa. O instinto de defesa, por exemplo, surge como uma ação de preservação frente a uma ameaça. Todas as vezes que uma pessoa se sente ameaçada o instinto de defesa, que também pode ser chamado de instinto de preservação do ego entra em ação. É pela via da proteção que o instinto de defesa surge na vida.

São três tipos de proteção:

Proteção física – quando uma pessoa percebe que a sua integridade física é ameaçada ela tende a se defender desta ameaça até mesmo agredindo o agressor. Essa reação é tão legitima que a lei a reconhece como uma ação em legítima defesa.

Proteção emocional ou psíquica – quando uma pessoa percebe que as suas emoções, os seus sentimentos, a percepção de si mesma é ameaçada ela tende a se defender. Por exemplo: frente a uma fofoca, uma calúnia ou uma acusação à pessoa também busca se defender. A lei também faculta processar uma pessoa frente a uma calúnia ou difamação moral.

Proteção espiritual – o homem é um ser religioso por natureza, e quando ele percebe que existe uma ameaça espiritual que ronda a sua vida ele busca a religião para se proteger dos espíritos malignos.

No Velho Testamento a lei da retribuição era muito bem representada a partir da expressão: “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe” (Êx. 21.24,25). É a conhecida lei de talião, cujo significado é pena igual à ofensa.

Quando falamos “nunca se defenda” queremos dizer duas coisas básicas:

1º - Não seja uma pessoa vingativa. A vontade muitas vezes é retribuir com a mesma moeda a pessoa que nos prejudicou, mas não é isso que a Bíblia nos ensina. Veja o que o Senhor Jesus nos diz em Mateus 5.38-48:

Vocês ouviram o que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado. Vocês ouviram o que foi dito: “Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo”. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês (NVI).

Veja o que o apóstolo Paulo nos fala também em Romanos 12.19-21:

Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor. Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem (NVI).

“Se vocês ouvirem atentamente o que ele disser e fizerem tudo o que lhes ordeno, serei inimigo dos seus inimigos, e adversário dos seus adversários” (Êx 23.22 – NVI).

A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena. Seu Madruga

2º - Não se preocupe em defender a sua reputação. Não existe nada que nos afete mais do que sermos atingidos em nossa reputação. A. W. Tozer diz que: “Sua reputação é o que os outros pensam que você é, e se surgir alguma história sobre você, a grande tentação é tentar correr para acabar com ela”.

Mas a coisa mais difícil é encontrar a pessoa que deu origem a difamação. Chegar ao final de uma história e descobrir quem foi que inventou todo o boato contra a nossa reputação é difícil. O fofoqueiro é além de tudo um covarde. Além de ele usar as pessoas para passar uma inverdade, ele sempre se esconde nas insinuações e se esquiva dizendo: “mas eu não quis dizer isso”.

Se estivermos convictos da nossa relação de compromisso perante Deus não temos o que temer. Pois Deus atuará em nossa defesa, e nós precisamos crer nisso. Mas se o que estão falando a nosso respeito procede temos que mudar a nossa conduta.

Reputação é o que as pessoas pensam ao meu respeito. Caráter é o que eu sou quando ninguém está me olhando. D. L. Moody

Quarto voto: Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. “O amor cobre multidão de pecados” (1 Pe 4.8). O fofoqueiro não tem lugar no favor de Deus. Se você sabe alguma coisa que possa vir a obstruir ou ferir a reputação de um dos filhos de Deus, enterre-a para sempre.

AS TRÊS PENEIRAS

Um rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava contar-lhe algo sobre alguém.
Sócrates ergueu os olhos do livro que estava lendo e perguntou:
- O que você vai me contar já passou pelas três peneiras? 
- Três peneiras? - indagou o rapaz.
- Sim! A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, a coisa deve morrer aqui mesmo. Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo? Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta?
Arremata Sócrates:
- Se passou pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você e seu irmão iremos nos beneficiar.
Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do planeta.
A fofoca é diferente de compartilhar informações de duas maneiras:

1 - Intenção. Os fofoqueiros muitas vezes têm o objetivo de se elevar ao custo de fazer com que outras pessoas se pareçam más; também exaltam-se como uma espécie de repositórios de conhecimento.

2 - O tipo de informações compartilhadas. Os fofoqueiros falam dos erros e defeitos dos outros, ou revelam detalhes potencialmente embaraçosos ou vergonhosos sobre a vida alheia sem o seu conhecimento ou aprovação. Mesmo se não tiverem má intenção, ainda é fofoca.

Mas o que a Bíblia tem a falar sobre a fofoca? Vejamos:

Tiago nos fala do mau uso da língua – Tg 3.1-12. Vejamos outros textos – 1Tm 5.11-13; Pv 11.13, 20.19, 18.19, 26.22; Lv 19.16; Rm 1.29,30; 2Ts 3.11).
Cuidado com a sua língua.

Quinto voto: Nunca Aceite Qualquer Glória. Deus é zeloso de Sua glória e não a dará a ninguém. Ele não irá nem mesmo compartilhar Sua glória com quem quer que seja. É muito natural, diria eu, que as pessoas esperem que talvez seu serviço cristão lhes dê uma oportunidade de demonstrar seus talentos. Verdadeiramente querem servir ao Senhor, mas também querem que os demais saibam que estão servindo ao Senhor. Elas querem ter reputação entre os santos. Este é um terreno muito perigoso: buscar reputação entre os santos. Já é ruim o bastante procurar reputação no mundo, mas é pior procurar reputação entre o povo de Deus. Nosso Senhor desistiu de Sua reputação, e devemos fazer isso também.

Nós vivemos para glorificar o nome do Senhor e não o nosso próprio nome. Tome cuidado para não querer a glória que pertence ao Senhor, o diabo a quis e foi lançado do céu (Is 14.12-14; Ez 28.12-15).  

Jesus nos alertou a respeito do perigo quando o mundo nos tratar bem:

“Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lc 6.26 – NVI).

Paul Washer conta que “John Wesley estava pregando pelo país, montado em seu cavalo, meditando na palavra de Deus. Ele percebeu que em três dias ninguém o tinha perseguido, ninguém o tinha caçado, ninguém o tinha amaldiçoado, ninguém tinha tentado bater em seu corpo com paus e pedras. Então ele desceu de seu cavalo, e começou a orar e indagar em seu coração. Ele disse: “Deus, eu me tornei um homem carnal? Minha mensagem se tornou tão mundana que ninguém mais me persegue?” Exatamente neste momento de sua oração um fazendeiro que odiava John Wesley, o viu orando, pegou um tijolo, e jogou nele, que passou raspando o seu nariz. Então Wesley louvou ao Senhor, dizendo: “Deus, muito obrigado! Agora sei que o Senhor confirmou seu favor por mim”. Então quando você se levanta e pessoas aplaudem é meio assustador, você espera que seja um reflexo de piedade de ambas as partes, mas você nunca tem certeza. Precisamos entender que o cristianismo nunca será amigo deste mundo. O cristianismo sustenta o único caminho para a salvação deste mundo, eles nunca serão amigos. O cristianismo nunca se mistura as exigências do mundo, mas as exigências deste mundo se misturam a ele”.

CONCLUSÃO

Fazer votos, talvez você esteja se perguntando se esse é o caminho certo a percorrer; eu só posso lhe dizer que independentemente de você fazer esses votos ou não, deveria, pelo menos, se abster de não praticá-los. Pois a vida crucificada é uma vida de renúncia, de consagração ao Senhor, por isso que não temos como fugir desses votos. Poderíamos incluir ai: mais tempo de oração, ler a mais a Bíblia e estudá-la com mais dedicação, ler mais livros evangélicos ou livros edificantes, ser mais amigo, mais dedicado à igreja, dar melhor testemunho no trabalho, na escola, na faculdade, ser melhor pai, mãe, filho, marido, esposa...

Esses votos não passam de molhar os pés no Rio da Vida, quando na verdade devemos atravessá-lo à nado (Ez 47.1-5). Mas para atravessá-lo devemos começar molhando os pés.

Faça esses votos e diga para si mesmos: “Com ajuda de Deus irei cumpri-los!”

Pense nisso!
 
Por Pr. Silas Figueira

Notas:

1 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo vol. 3. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 286.
2 – Ibid, p: 286.
3 – Lopes, Hernandes Dias. Mel na caveira de um leão morto. http://hernandesdiaslopes.com.br/portal/mel-na-caveira-de-um-leao-morto/ acessado em 20/12/16.
4 – Tozer. A. W. Cinco votos para obter poder espiritual. Editora dos Clássicos, São Paulo, SP, 2004: p. 8.
5 – Ibid, p: 4.
6 – Lopes, Hernandes Dias. Cuidado com o pecado. http://hernandesdiaslopes.com.br/portal/cuidado-com-o-pecado/ acessado em 21/12/16.
7 – Tozer. A. W. Cinco votos para obter poder espiritual. Editora dos Clássicos, São Paulo, SP, 2004: p. 11.
8 – Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012, p. 286.

Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com

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