A IMPORTÂNCIA DO PREFÁCIO DOS DEZ MANDAMENTOS
PARA A IGREJA DE CRISTO.
Texto Bíblico: “Então, falou Deus
todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra
do Egito, da casa da servidão”.(Êxodo 20.1-2).
Introdução:
A
Lei de Deus tem sido totalmente rejeitada em nossa sociedade atual, e o
triste disso tudo é o fato de que tem sido rejeitada pela igreja atual
também. A Influência dispensacionalista em nossos dias é muito grande.
Muitos presbiterianos dizem que não são dispensacionalistas, mas todas
as vezes que negligenciamos os mandamentos de Deus, por menor que nos
pareça, ou mesmo, diminuímos o valor de qualquer destes mandamentos da
Lei de Deus, já nos tornamos dispensacionalistas práticos.
Uma
forma notória de dispensacionalismo é contemplada quando lemos
comentários bíblicos sobre os Dez Mandamentos e não encontramos uma
abordagem detalhada do prefácio ao Decálogo.
É
aqui no prefácio à Lei de Deus que temos uma profunda visão da
divindade que servimos; é precisamente aqui onde aprendemos mais sobre
Deus do que imaginamos, pois, neste texto as verdades a respeito de Deus
são colocadas de forma singular diante de nossos olhos, e assim, somos
tomados por um senso de grande gratidão para com o Deus que a Bíblia de
fato revela. A gratidão exercida em nossos corações não é por aquilo que
Deus nos pode oferecer, mas pelo quê Ele é. Algumas verdades podem ser
extraídas deste texto exegeticamente, e recebemos algumas informações
fundamentais ao nosso cristianismo:
I – O TEXTO NOS INFORMA SOBRE A ORIGEM DA LEI.
Alguns intérpretes da Bíblia
possuem o entendimento que a Lei deve ser considerada como tendo a sua
origem em Moisés. É verdade que a Lei pode ser considerada assim, mas
não significa que é fruto dele, mas que ele registrou a vontade de Deus,
e apenas neste sentido a lei pode ser atribuída a Moisés.
Por
que falamos isso? É porque os que dizem ser a lei fruto de Moisés
tendem a rejeitá-la por sustentarem um conceito dispensacional das
Escrituras; o texto que temos diante de nos indica a origem da Lei: “
então, falou Deus...” no texto hebraico nós temos: Vaydaber Elohim. E a
idéia transmitida é a seguinte: “E verbalizou, proferiu, ditou como
regra Deus....” O substantivo - Elohim – indica que a Lei tem um autor
que é o próprio DEUS.
Então, as
dez Palavras do Sinai não são frutos da criação legal de Moisés. Isso
implica em algo fundamental ao cristianismo que tem sido a noção de que a
Lei não é de origem humana, mas divina. Não é da terra, mas é
celestial. O texto pressupõe o fato de que a Lei é revelacional, pois
ela nasce em Deus.
Sendo uma
revelação não é algo opcional. O homem não tem o direito de dizer qual
mandamento deve guardar ou não. Devemos nos lembrar que para o
cristianismo tradicional a revelação infalível é a essência do Teísmo. E
o negar a revelação é o mesmo que negar a existência de Deus.
II – O TEXTO NOS INFORMA SOBRE A SUFICIÊNCIA DA REVELAÇÃO:
O segundo aspecto que devemos
levar em consideração é que este prefácio do Decálogo nos informa a
suficiência da revelação de Deus ao homem.
O
texto nos diz que Deus não falou algumas palavras, mas o texto nos
informa que ele falou “todas estas palavras”. No texto temos a expressão
“Eth kol haddevarim”.
No texto
hebraico a palavra “kol” aponta par a idéia de completude, este termo
está no construto que indica uma relação de posse; em outras palavras,
todas as palavras pertencem a Deus, e são suficientes. O termo
“haddevarim” – regras, palavras – são suficientes para o homem viver no
mundo, são suficientes para oferecer uma direção ao povo do pacto, eles
não precisam ir em busca de novas revelações, de novas regras para
viverem a vida, eles não precisam de novas revelações para saberem qual é
a vontade de Deus para as suas relações com o divino e com o seu
semelhante, pois, a Lei sumariza e revela tudo isso de forma clara.
O
“êth” (vocábulo hebraico sem tradução) é colocado no inicio da sentença
para indicar a diretividade, pois, ele serve para indicar o objeto
direto da sentença. Os homens precisam apenas encontrar-se com Deus na
Lei para conhecerem a vontade dEle para as suas vidas. A única regra de
vida está sendo apresentada ao povo da aliança – O Decálogo.
Isto
implica no fato de que não devemos aumentar nenhum “til” ou “iod” à
Lei, pois ela é suficiente e pela mesma razão não podemos diminuir nada
da Lei. Ela é suficiente para cada um de nós.
A
Lei não pode ser substituída pela subjetividade profética vazia do
conteúdo da Lei de Deus; um profeta que profetizasse algo que se
cumprisse, mas que introduzia erros no povo da aliança, não levando em
consideração o Decálogo, tal profeta deveria ser morto diante do povo da
aliança este é o teste de Deuteronômio 18, a pedra de Toque é Lei de
Deus.
Mas porque isso? Porque
Deus falou tudo o que era suficiente para o seu povo e expressou isso em
sua Lei. E o que nós aprendemos no prefácio desta Lei?
III – PODEMOS APRENDER A RESPEITO DA PESSOALIDADE DE DEUS.
O teísmo apresenta um Deus
pessoal. Assim também o faz o Cristianismo. No prefácio aos dez
mandamentos nós aprendemos sobre a pessoalidade de Deus nas palavras “Eu
sou”, no texto hebraico nós temos um pronome independente na primeira
pessoa do singular Anoki, este pronome é sempre usado para descrever a
existência pessoal de alguém, é usado aqui para enfatizar a pessoalidade
o soberano da terra.
Indica que
Deus não é uma força ativa, uma energia elétrica, ou coisa do tipo, mas a
designação pessoal diz que ele mantém um relacionamento com o seu povo.
Devemos nos lembrar que os pronomes independentes “servem como
substitutos para uma um substantivo antecedente ou implícito”. Deus está
sendo o centro do texto logo ele deve ser visto como pessoa. Deus não é
uma grande energia. Aqui o panteísmo é rejeitado e o teísmo bíblico é
confirmado. Deus é pessoa no sentido mais pleno da palavra.
Outra
verdade que podemos aprender aqui é o fato de que não é apenas o teísmo
que tem sido confirmado aqui, mas o próprio monoteísmo que é o
fundamento da verdadeira religião . Se existe um Deus Ele deve ser
pessoal, pois, os homens inevitavelmente irão buscar refúgio nEle. Os
homens orarão a Ele na mais solene convicção que hão de ser ouvidos em
suas preces, e isto, só pode ser possível se Deus for uma pessoa.
IV – PODEMOS APRENDER QUE O NOME DESSA PESSOA REVELA UMA RELAÇÃO PACTUAL COM O SEU POVO.
O texto que temos diante
de nós informa que o Deus que é pessoal é chamado de SENHOR no texto
hebraico temos “yahweh”. Esse nome revela não só o próprio nome de Deus,
mas aponta para o nome pactual no qual Deus tem se revelado através da
história da redenção. Deus não é isolacionista – ele chama o homem a ter
uma relação pactual consigo mesmo.
Mas
algo precisa ser dito sobre esse nome Yahweh não significa somente uma
relação pactual, mas indica também a existência eternidade desse Deus e
aponta para a realidade de que Deus sempre existiu.
O
nome “yahweh” é derivado a raiz hyh no hebraico que pode significar uma
existência intemporal conforme Êxodo 3.13-14. O texto claramente indica
que Deus é eterno, mas indica que ele é suficiente como Deus que é. A
expressão “Eu sou o SENHOR” aponta para o fato de que o SENHOR E O QUE
ENTRA EM ALIANÇA COM O POVO.
V – APRENDEMOS QUE ESSA PESSOA É O OBJETO DE CULO
O nosso texto nos informa que
antes de considerarmos a lei precisamos entender que a pessoa que nos
ordena estas dez palavras é digna de nosso culto e adoração. O texto
diz: “Eu sou o SENHOR teu Deus...”
Chamo
a atenção para a expressão “Teu Deus” no hebraico temos “elohika”,o
termo é uma junção de um substantivo “Elohim” mais um sufixo “ka” que
tem a função de indicar a posse, mas pode também apontar para a questão
da autoridade. Aqui o termo pode ser entendido como colocando Deus como o
objeto de todas as nossas afeições, ou seja, todo o sentimento
religioso deve ser movido para ele somente – ele é o teu Deus.
Deus
é ensinado nos dez mandamentos como sendo o único digno de louvor e da
adoração – aqui se anula os ídolos e toda forma de objeto de culto que
não seja Deus somente. Aqui Deus é contemplado como sendo suficiente
como objeto de culto e o centro de nossas afeições. O texto nos diz que
devemos ter confiança nEle somente, e sermos submissos a Ele somente.
Não devemos olhar para outro objeto de culto, e por isso, devemos nos
submeter à sua lei.
VI – APRENDEMOS QUE DEUS TEM SE REVELADO COMO DEUS SALVADOR E REDENTOR DO POVO SEU.
O prefácio dos dez
mandamentos nos mostra que o Deus que declara a Lei é “Redentor”, penso
que falar de Deus como sendo um resgatador é apropriado. Note como
Moisés coloca-nos isso “teu Deus, que te tirei da terra do Egito da casa
da servidão”.
A expressão
hebraica “asher hotser’thika” que significa “te tirei” no original tem o
sentido de “te fazer sair”, também pode ser entendido como “colocar a
mão para tirar”, Deus manifesta a sua redenção ao libertar o povo do
estado de escravidão. Aqui somos informados que o autor das dez palavras
não é um tirano que impõe a Lei sobre um povo desconhecido, mas mostrar
que é um Deus amoroso, libertador de um povo indigno que não merecia a
revelação deste Deus que nos revela as Escrituras Sagradas.
Mas
aqui não é somente um resgatador que se nos apresenta aos olhos, mas
que Ele se envolve na história dos homens. Ele é o Senhor da história. A
história é a manifestação dos atos redentivos de Deus. E o fato
histórico narrado neste texto é a libertação do povo hebreu do cativeiro
egípcio.
Isto indica que Deus se
envolve na criação, age na história para salvar o seu povo. Os dez
mandamentos são um resumo da verdade suprema de que Deus está no
controle de tudo; da história do povo da aliança como da vida religiosa e
moral deste mesmo povo. Deus governa as nossas vidas, o nosso culto até
nosso comportamento na sociedade. Aqui se desprende as seguintes
verdades:
• A soberania de Deus
na salvação: Deus como salvador manifesta o seu braço redentor ao tirar o
povo da casa da servidão. Aqui o prefácio nos diz que Deus dá a Lei ao
povo regenerado, ou seja, foram resgatados para receberem a Lei de Deus
como norma de vida. Isto indica que os dez mandamentos são dirigidos
especificamente à Igreja.
• Que
Deus é Senhor da História: O deísmo é condenado aqui porque o prefácio
nos diz que Deus age no mundo para libertar o seu povo que estava
oprimido.
• Que Deus é suficiente
em si mesmo: O prefácio dos dez mandamentos nos ensina que Deus é
suficiente, pois, é o único que pode dar sentido à nossa existência
(Atos 17.24,28).
• Que Deus é o
único que pode ser adorado: Deus como se revela a nós pecadores deve ser
visto como nosso único objeto de culto. E precisamos desejar adorá-lo
como prescreveu em sua Lei. Lc.1.74-75.
Conclusão:
O
prefácio aos dez mandamentos nos aponta para que cada sentença que é
mencionada em cada mandamento está centrada em Deus e não no homem. Cada
mandamento deve ser obedecido e guardado porque Deus tem o direito de
criação e redenção.
De criação
porque como Deus único e soberano que é, trouxe esse mundo à existência,
por isso, cada pessoa individualmente, deveria submeter-se à sua lei
eterna; de redenção porque sempre se revelou redentor do seu povo.
Por: Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Fonte: http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com
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