"Quando o meu coração estava amargurado e no íntimo eu sentia
inveja, agi como insensato e ignorante; minha atitude para contigo era a
de um animal irracional." (Salmos 73:21-22)
A confissão
acima foi feita por Asafe e diz respeito à forma como ele havia se
comportado antes de voltar a si e perceber que Deus era bom para com os
de coração puro (73:1). Mas o que havia acontecido?
Podemos
verificar isso a partir do segundo versículo do Salmo. Asafe afirma que
quase se desviou dos caminhos do Senhor por ter inveja dos arrogantes e
perversos. Na cabeça dele, os ímpios estavam numa situação bem melhor
que a sua. Eles eram prósperos, não tinham preocupações, eram sadios e
fortes, estavam livres de fardos e não eram atingidos por doenças. Além
disso, eles eram bem vistos e ouvidos pelo povo que se saciava com sua
sabedoria. Asafe chega a afirmar que "assim são os ímpios; sempre despreocupados, aumentam suas riquezas" (73:12).
Diante
disso, a conclusão parecia lógica: servir a Deus conservando o coração
puro e lavando as mãos na inocência havia sido inútil, pois ele era
afligido e todas as manhãs castigado (73:13,14). Era como se ele
estivesse dizendo: Se Deus não me dá o que eu mereço, não vale a pena
servi-lo.
Entretanto, por mais lógica que possa parecer essa conclusão, ela esta errada por alguns motivos:
1. Ela aponta para as benesses desta vida como essenciais para a felicidade
Asafe
achava que seria plenamente realizado à medida que tivesse "coisas".
Ele estava tão seduzido pela prosperidade dos ímpios que se deixava
enganar pela ilusão de que aqueles que têm posses materiais estão
isentos dos problemas e aflições desta vida. Certamente você conhece
pessoas que sofrem e que enfrentam doenças terríveis a despeito de serem
abastadas financeiramente (A alegria está em Deus – 25).
2. Ela pressupõe que o servo de Deus seja merecedor de bênçãos
Ao
dizer que foi inútil servir a Deus, está implícita a presunção de
merecimento. Como ele poderia passar por privações e aflições enquanto
ímpios tinham de tudo? Há aqui um coração orgulhoso e cobiçoso. Um
coração que serve a Deus por aquilo que ele pode conceder e não por quem
ele é.
Vi isso de perto quando eu cursava o seminário e tive de
entrevistar o pastor de uma igreja neopentecostal para o trabalho de uma
matéria. Uma das perguntas era se a oração muda a vontade de Deus. Após
responder que sim, o pastor arrazoou e terminou dizendo: "Se a oração
não muda a vontade de Deus, é melhor servir ao diabo". Em outras
palavras, servirei a quem "dá mais".
3. Ela faz de Deus um "estraga prazeres"
Isso
também fica implícito quando Asafe afirma ser inútil servir a Deus. O
Senhor não o estava deixando usufruir aquilo que ele merecia.
Podemos
ver isso quando, em nossos dias, alguns dizem: Deus deu ao homem o
desejo sexual, mas mandou ter relacionamento só no casamento; Deus deu
ao homem o paladar e o proíbe a gula, etc. Isso não é novo, se você
estudar as primeiras páginas da Bíblia verá algo parecido com isso:
"Deus deu o melhor fruto, aquele que era bom para se comer, agradável
aos olhos e desejável para dar entendimento, tornando o homem como ele, e
os proibiu de comer" (Leia Gênesis 3:1-7). Sabemos como terminou isso.
4. Ela parte de uma leitura pontual da vida
Asafe
só conseguia enxergar a sua situação atual. Não havia em sua mente
passado ou futuro, gratidão por aquilo que já tinha recebido do Senhor
ou esperança quanto ao que Deus haveria de ainda fazer. O que importava
era simplesmente o presente. Não é sem razão que Paulo ensina no Novo
Testamento que "se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (1 Coríntios 15:19).
Foi
por tudo isso que Asafe afirmou que sua atitude era a de um irracional.
O pecado é sempre assim, irracional. Ele não parte de um entendimento
correto, mas da completa falta de compreensão a respeito do caráter e
das obras de Deus. Não foi à toa que Davi exortou seus leitores a não
serem "como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem" (Salmos 32:9) e que Deus, por boca do profeta Isaías, disse a seu povo desviado: "O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende" (1:3).
O que trouxe Asafe à razão foi entender a vida numa perspectiva mais ampla e futura: "Até
que entrei no santuário de Deus, e então compreendi o destino dos
ímpios; [...] Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na
glória" (73:17,24). Esta vida e suas intempéries, diante da
eternidade, não são nada. Ainda que tenhamos uma vida totalmente
terrível (o que é improvável), diante da eternidade na presença bendita
do Senhor, não é nada.
A mudança de perspectiva faz com que ele também saiba que a satisfação verdadeira está no Senhor: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem me compraze na terra" (73:25) e que "bom é estar junto a Deus" (73:28), que é o verdadeiro refúgio. Essa é a satisfação que você também pode ter.
Não
cometa o mesmo erro de Asafe. Em vez de se deixar enganar pela sedução
do pecado, portando-se como um irracional, não se conforme com este
século, antes, transforme-se pela renovação da sua mente, levando cativo
todo o seu pensamento à obediência de Cristo, para experimentar a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus (cf. Romanos 12:2 e 2 Coríntios
10:5).
Milton Jr.
Fonte: https://www.internautascristaos.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário