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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Uma defesa filosófica para a Doutrina da Trindade


Defesa filosófica da Trindade

A doutrina da Trindade não pode ser provada pela razão humana; só é conhecida porque é apresentada por revelação especial (na Bíblia). No entanto, só porque ela ultrapassa a razão não significa que vá contra a razão. Ela não é irracional ou contraditória, como muitos críticos acreditam.

A lógica da Trindade

A lei filosófica da não-contradição nos informa que algo não pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Essa é a lei fundamental de todo pensamento racional. E a doutrina da Trindade não a viola. Isso pode ser demonstrado afirmando antes de mais nada o que a Trindade não é.

A Trindade não é a crença de que Deus é três pessoas e apenas uma pessoa ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Isso seria uma contradição. Pelo contrário, é a crença de que há três pessoas em uma natureza. Isso pode ser um mistério, mas não é uma contradição. Isto é, pode ultrapassar a capacidade de compreender completamente, mas não vai contra a capacidade de apreender coerentemente. Além disso, a Trindade não é a crença de que há três naturezas numa natureza ou três essências em uma essência. Isso sim, seria uma contradição. Mas, pelo contrário, os cristãos afirmam que há três pessoas em uma essência. Isso não é contraditório, porque faz uma distinção entre pessoa e essência. Ou, em termos da lei da não-contradição, apesar de Deus ser um e muitos ao mesmo tempo, ele não é um e muitos no mesmo sentido.

Ele é um quanto à essência, mas três pessoas. Portanto, não há violação da lei da não-contradição na doutrina da Trindade.

Um modelo da Trindade

Afirmar que Deus tem uma essência e três pessoas quer dizer que ele tem um “Algo” e três “Alguéns”. Os três Alguéns (pessoas) compartilham o mesmo Algo (essência). Assim, Deus é uma unidade de essência com pluralidade de pessoas. Cada pessoa é diferente, mas todas compartilham uma natureza comum.

Deus é um em substância.

A unidade está na sua essência (o que Deus é), e a pluralidade está nas pessoas de Deus (como se relaciona consigo mesmo).

Essa pluralidade de relacionamentos é interna e externa.

Dentro da Trindade cada membro se relaciona com os outros de certas maneiras. Essas são de certa forma análogas às relações humanas. As descrições da Bíblia sobre Iavé como Pai e Jesus como Filho dizem algo sobre como o Filho se relaciona com o Pai. O Pai envia o Espírito como Mensageiro, e o Espírito é uma Testemunha do Filho (Jo 14.26).

Essas descrições ajudam a entender as funções na unidade da Trindade. Cada um é totalmente Deus, e cada um tem seu trabalho e tema inter-relacional com os outros dois. Mas é vital lembrar que os três compartilham a mesma essência, de forma que se unificam em um Ser.

Algumas ilustrações da Trindade.


Nenhuma analogia da Trindade é perfeita, mas algumas são melhores que outras. Primeiro, algumas más ilustrações devem ser repudiadas.

A trindade não é como uma corrente de três elos. Pois estes são três partes separadas e separáveis. Mas Deus não é separado nem separável. E Deus não é como o mesmo ator com três papéis diferentes numa peça. Pois Deus é simultaneamente três pessoas, não uma pessoa representando três papéis.

E Deus, não é como os três estados da água: sólido, líquido e gasoso. Pois normalmente a água não está em todos os três estados ao mesmo tempo, mas Deus é sempre três pessoas ao mesmo tempo. Ao contrário de outras más analogias, esta não implica triteísmo. Entretanto, reflete outra heresia conhecida como modalismo.


A maioria das ilustrações falsas da Trindade tende a apoiar a alegação de que o trinitarismo é realmente triteísmo, já que indicam partes separáveis. As analogias mais úteis retêm a unidade de Deus ao mesmo tempo que mostram uma pluralidade simultânea. Há várias que seguem essa descrição.

Uma ilustração matemática.

Um aspecto do problema pode ser expresso em termos matemáticos. Os críticos fazem questão de computar a impossibilidade matemática de acreditar que há um Pai, um Filho e um Espírito Santo na Trindade, sem afirmar que há três deuses. Não é verdade que 1 + 1 + 1 = 3?

Certamente é, se você adicionar, mas os cristãos afirmam que a Trindade divina é semelhante a 1 x 1 x 1 = 1. Deus é trino, não tríplice. Sua essência única tem centros múltiplos de personalidade. Logo, não há problema matemático em conceber a Trindade, assim como não há problema em entender 1 ao cubo(1³).

Uma ilustração geométrica.

Talvez a ilustração mais utilizada da Trindade seja o triângulo. Um triângulo tem três arestas, que são inseparáveis umas das outras e simultâneas umas às outras. Nesse sentido essa é uma boa ilustração da Trindade. É claro que o triângulo é finito e Deus é infinito, então não se trata de uma ilustração perfeita.

Outro aspecto da Trindade é que Cristo é uma pessoa (demonstrada como uma aresta do triângulo), mas tem duas naturezas, uma divina e uma humana.

Alguns mostram esse aspecto graficamente simbolizando a divindade de Cristo pela aresta do triângulo e usando outra figura geométrica, um círculo, por exemplo, para ilustrar a natureza humana. No ponto da pessoa de Jesus Cristo, o círculo é fundido com o triângulo, a natureza humana tocando a natureza divina, mas não se misturando a ela.

As naturezas, humana e divina, existem lado a lado sem confusão no Filho. Suas duas naturezas humanas estão unidas numa pessoa. Ou em Cristo há dois Algos e um Alguém, ao passo que em Deus há três Alguéns e um Algo.

Uma ilustração moral

Agostinho sugeriu uma ilustração de como Deus é três e um ao mesmo tempo. A Bíblia nos diz que “Deus é amor” (1 Jo 4.16). O amor envolve o que ama, o amado e o espírito de amor entre eles. O Pai deve ser comparado ao que ama, o Filho ao amado e o Espírito Santo é o espírito de amor. Mas o amor não existe sem que esses três estejam unidos em um. Essa ilustração tem a vantagem de ser pessoal, já que envolve amor, uma característica que flui apenas de pessoas.

Uma ilustração antropológica

Como a humanidade é feita à imagem de Deus (Gn 1.27), é razoável supor que homens e mulheres se assemelhem à Trindade na sua existência.

Algo que causa mais problemas que resolve é imaginar o ser como uma “tricotomia” de corpo, alma e espírito. Se a posição tricotomista está correta, essa não é uma ilustração útil. Corpo e alma não são uma unidade indivisível. Eles podem ser (e são) separados na morte (cf. 2C0 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9). A natureza e as pessoas da Trindade não podem ser separadas.

Uma ilustração baseada na natureza humana mais correta é a relação entre a mente humana, com suas idéias, e a expressão dessas idéias em palavras. Há obviamente uma unidade entre as três, sem haver uma identidade. Nesse sentido, elas ilustram a Trindade.

Uma ilustração islâmica de pluralidade em Deus

Ao falar com muçulmanos, a melhor ilustração de pluralidade é a relação entre o conceito islâmico do Alcorão e Deus.

Yusuf K. Ibish, num artigo intitulado “The muslim lives by the Qur’an” (“O muçulmano vive segundo o Alcorão”), citado por Charis Waddv, The muslim mind [A mente muçulmana], a descreveu da seguinte maneira:

O Alcorão “é uma expressão da Vontade Divina. Se quiser compará-la a algo no cristianismo, precisa compará-la ao próprio Cristo. Cristo era a expressão do Divino entre os homens, a revelação da Vontade Divina. É isso que o Alcorão é”.

Os muçulmanos ortodoxos acreditam que o Alcorão é eterno e incriado. Não é o mesmo que Deus, mas uma expressão da mente de Deus tão eterna quanto o próprio Deus. Certamente há aqui uma pluralidade na unidade, algo que é diferente de Deus mas ao mesmo tempo um com Deus em características essenciais.

Conclusão

Apresentamos acima algumas respostas filosóficas acerca da natureza divina constituída de diversidade na unidade, correspondendo exatamente as indagações dos críticos anti-trinitarianos.
 

Elisson Freire

Graduado em História pela Universidade Norte do Paraná e Bacharelando em Teologia pela UNINTER sou um cristão de tradição batista, casado com Miriam Lisboa Freire e pai de 3 lindas filhas.

 

Bibliografia


Referências Bibliográficas de pesquisa:

J. N. D. Kelly, Doutrinas centrais da fé cristã.

C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples.

Norman Geisler, Enciclopedia de Apologética Cristã.



Fonte: https://www.resistenciaapologetica.com

 

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