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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

EVANGELHO MERCANTILISTA


Desmacarando o comércio do evangelho nos templos.


O autêntico Evangelho tem sofrido diversos ataques da modernidade nos últimos tempos. Não bastassem as falsas teologias que deturpam o verdadeiro sentido das Boas Novas do Senhor Jesus Cristo, contempla-se na atualidade, em muitas igrejas evangélicas e pentecostais, a forte tendência de subordinar as atividades eclesiásticas ao comércio e ao lucro. A Bíblia Sagrada nos adverte: “..., também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias;” (II Pedro 2.3“a”). Invertem assim a ordem de importância, pois condicionam atividades espirituais à aquisição de valores materiais, como se o Reino de Deus dependesse de negócios terrenos para prosseguir sua marcha na caminhada da fé.

A visão empresarial tem se impregnado na mente de muitos líderes. No conforto cômodo de gabinetes, fragmentam o rebanho em departamentos e designam sobre eles abnegados líderes, os quais recebem a incumbência de cumprir uma vasta programação anual, contudo sem o apoio financeiro para desenvolver os eventos propostos. Surgem então as microempresas no interior do templo. Cada departamento constitui-se um empreendimento comercial autônomo, dispondo-se a trabalhar arduamente nas várias atividades mercantis, no afã de “angariar fundos para realizar a festa da igreja”. Agita-se de um lado para outro, ocupado em muitos afazeres, como fez Marta (Lucas 10.38-42), embora a intenção seja de bem servir ao Senhor Jesus.

O modelo capitalista tem exercido forte influência sobre o cristianismo. A vida pacata e modesta há muito sucumbiu ante o padrão exigente no sustento refinado de certas igrejas. As contribuições bíblicas e voluntárias dos fiéis não mais são suficientes para manter a Obra do Senhor. Nasce então uma subespécie de cristianismo econômico, com forte matiz mercantil e uma fé medíocre na provisão Divina. Nada se faz sem cantina, bazar, banca ou lanchonete, principalmente por ocasião dos grandes ajuntamentos, como se o templo fosse um imenso mercado ou feira-livre. Não raras vezes, vende-se ao povo aquilo que o próprio povo doou, numa mercancia desenfreada.

Colhem-se ofertas até mediante constrangimento público. Comumente são pedidos determinados valores e as pessoas apontadas publicamente a ofertar, contrariando frontalmente o princípio ensinado em Mateus 6.1-4. Também se recorre a sorteios, rifas, leilões e até mesmo a jogos de azar, proibidos em nosso país pelo Decreto-Lei nº 9.215, de 30 de abril de 1946, cujo preâmbulo preconiza que “a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e à exploração de jogos de azar;”.

Tudo isso sob a cumplicidade de dirigentes que disso colhem proveito. Não foi esse o exemplo que nos deixou o Mestre Jesus. Ao subir a Jerusalém, em ocasiões distintas, como nos mostram os textos de Mateus 21.12-13, Marcos 11.15-18, Lucas 19.45-48 e João 2.13-17, deparou-se no interior do templo com vendedores de bois, ovelhas e pombas, e com cambistas. Utilizando um chicote de cordas os expulsou dali, derribou as mesas, espalhou pelo chão o dinheiro e assim os repreendeu: “A minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.”

No atual contexto tem predominado a visão essencialmente patrimonialista. Os dízimos e ofertas que deveriam prover o mantimento na casa do tesouro (Malaquias 3.10 “b”), prestam-se mais a investimentos em patrimônio. Gastam-se enormes quantias em templos suntuosos, construções, mobiliário, equipamentos, generosas prebendas, automóveis, salários de funcionários e manutenção de toda ordem. Há verdadeiros impérios econômicos e empresariais edificados pelo esforço do rebanho. Há pastores que se apascentam a si mesmos (Ezequiel 34.1-10), apropriando-se das ofertas do altar e de nada prestam contas, a pretexto de cuidar dos reais interesses da Casa de Deus, assim como fazia Judas Iscariotes (João 12.1 a 8).

Praticamente nada se aplica na assistência aos necessitados. Os ensinamentos bíblicos a esse respeito são completamente ignorados, como Deuteronômio 14.22-29, e, Deuteronômio 26.12-13, que assim admoesta: “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem. Dirás perante o Senhor, teu Deus: Tirei de minha casa o que é consagrado e dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão, e à viúva, segundo todos os teus mandamentos que me tens ordenado;...”.

O próprio rebanho carente não tem se alimentado da casa do tesouro. Por maior e mais abundante que sejam as contribuições, pouco se faz diretamente em prol dos membros. No Corpo de Cristo o amor e a comunhão não mais são demonstrados na prática de partir o pão de casa em casa como registra Atos 2.46. Não há o sustento de viúvas segundo relata Atos 6.1-2, confirmado pelos ensinos de I Timóteo 5.3-16. Os ceifeiros no campo deixaram de ser prioridade. Muitos missionários vivem praticamente isolados, recebendo migalhas de suas luxuosas catedrais. Não se vê a igreja como instituição exercer a generosidade na assistência em favor dos santos como fazia a igreja de Corinto (II Coríntios 9.1-15). O que se tem feito é relegar a responsabilidade da assistência aos membros isoladamente, num mau exemplo de individualismo denominacional e de justiça financeira em causa própria (Mateus 5.20).

A propagação do Evangelho tem perdido a essência de sua simplicidade. A sofisticação das liturgias e o requinte das programações vagueiam distante do despojamento evangelístico modelado pelas Sagradas Escrituras. Os congressos, confraternizações, encontros e outros eventos tão propalados, assemelhados a show ou programa de auditório, têm se tornado objetivos maiores em si mesmos, tão importantes e mais valiosos que qualquer pobre alma pecadora longe do caminho da Salvação, embora avaliada por Cristo como mais preciosa que o mundo inteiro: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8.36).

De igual modo, perdeu-se de vista a singeleza e a humildade do padrão demonstrado por Jesus na missão de evangelizar o mundo. Ao enviar seus discípulos às cidades para pregar a chegada do Reino dos Céus, Jesus Cristo ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, nem pão, nem alforje e nem dinheiro. Não usassem duas túnicas e fossem calçados apenas com sandálias (Mateus 10.1-10; Marcos 6.8-11; Lucas 9.3-5, 10.4-12 e 22.35). Patenteou assim a verdade irrefutável de que a Obra de Deus pode ser realizada despida de ornato exterior e sem apego a bens terrenos.

Afinal, como se manifesta entre os homens o Reino de Deus? A Palavra de Deus esclarece: “O reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14.17). “E levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.” (Lucas 6.20).

Com efeito, não são os negócios e a riqueza desta vida que nos levam à glória de Deus. “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.” (Isaías 55.1). Portanto, na Obra do Senhor Jesus Cristo deve ser sempre assim: “...de graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10.8 “b”), e o que passar desse Evangelho é pura especulação mercantilista.                            
 
 Adiel Teófilo

 

Fonte: http://adielteofilo.blogspot.com

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