Trata-se
de um livro incomum. Escrito durante um período de mais de 1500 anos por homens
que, na maioria dos casos, sequer se conheceram, ela permanece hoje, mais de
2000 anos depois que sua última porção foi escrita, como o maior best-seller da
literatura mundial. Não que seus assuntos sejam particularmente atraentes.
Embora contenha páginas de grande beleza literária e forte dose de emoção, a
maior parte de seu conteúdo seria rejeitada por qualquer editor moderno como
“destinada ao fracasso”.
Além
disso, seus autores dificilmente concorreriam a algum prêmio Nobel de
literatura. Entre eles, perfilam-se uns poucos reis, alguns lavradores, alguns
pescadores, um coletor de impostos, um pequeno número de religiosos
vocacionados e um médico que virou jornalista. Novamente, há algumas páginas de
arrebatamento literário, capazes de emocionar até às lágrimas; a maioria
descreve em linguagem perfeitamente natural aspectos pouco mencionados da
História e prediz de maneira não sensacionalista eventos futuros. Algumas
páginas, com o devido respeito, são tão emocionantes quanto a leitura de uma
lista telefônica.
O
que torna a Bíblia um livro tão especial? Por que afirmar, nesta segunda década
do século XXI, que nós cremos na Bíblia? O que nos leva a distingui-la dos
demais livros que reivindicam para si o direito de regular o comportamento e o
destino eterno dos homens? O que justifica a afirmação “Nós cremos na Bíblia como a
Palavra de Deus”?
A Bíblia − um livro soprado por Deus
Ao
longo da história da Igreja, crentes piedosos sempre reconheceram na Bíblia um
livro humano, uma obra que reflete situações humanas e traz as marcas de seus
autores. Embora umas poucas passagens sejam um “ditado” de Deus aos Seus
servos, a maior parte da Bíblia apresenta as marcas do raciocínio, das emoções
e até da pesquisa humana (Lc 1.3).
Isto
não quer dizer, todavia, que a Bíblia é um livro exclusivamente humano, pois a
posição histórica da Igreja é a de que as Escrituras são divinas em sua origem.
O termo usado desde o final do segundo século é que a Bíblia é um livro inspirado por
Deus. Como devemos entender essa palavra, encontrada uma só vez nas Escrituras,
em 2Timóteo 3.16?
Seu
sentido normal na língua grega é o de soprar, mais expirar do que inspirar.
Falar de inspiração da Bíblia significa, então, afirmar que ela foi originada
por Deus, usando como veículos (ou filtros) os autores humanos das Escrituras,
com todas as suas características pessoais, à exceção do erro, do qual foram
preservados pela atuação do Espírito Santo.
A
inspiração como característica das Escrituras nos fala de sua origem divina e
de sua produção como resultado do controle do Espírito Santo sobre os autores
humanos de modo a preservá-los do erro sem, contudo, roubar-lhes qualquer das
características de personalidade. É lógico que esta verdade contém um mistério
psicológico que nem toda a ciência humana pode desvendar. Trata-se, sem dúvida,
de uma questão de fé naquilo que a própria Bíblia afirma: Sabendo primeiramente isto:
nenhuma profecia da Escritura jamais surgiu de interpretação pessoal, pois a
profecia jamais foi trazida ao homem por simples vontade humana, mas homens
santos da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo (2Pe
1.20-21 – tradução do autor).
Razões para crermos na origem divina da Bíblia
Além
da declaração direta mencionada acima, que já seria base suficiente para nossa
fé, há indicações firmes de que devemos crer nessa autorreivindicação da Bíblia
quanto à sua origem divina. Outros livros também o fazem, mas nenhum deles com
as credenciais da Bíblia.
1. A origem divina é reivindicada através de toda a Bíblia
Moisés,
o legislador e estadista, indicou a origem divina de seus escritos (Lv 1.1); Davi, o rei salmista, tinha plena
consciência de que era um porta-voz do Espírito de Deus (2Sm 23.2); Isaías e os demais profetas
afirmavam categoricamente que suas mensagens ao povo de Israel provinham de
Deus (Is 1.2; Jr 1.2 e outras mais); os autores do
Novo Testamento igualmente reivindicaram origem e autoridade divina para seus
escritos (1Co 14.37; 2Pe 3.15-16; Ap 1.1-2).
É
claro que, num tribunal, as palavras do próprio acusado são ouvidas e
consideradas pelo juiz e pelos jurados. As declarações bíblicas quanto à sua
origem divina são fatos ou fenômenos bíblicos, tal como as parábolas, as
profecias e os milagres. Elas devem ser ouvidas e analisadas pelos que querem,
com imparcialidade, assumir uma opinião sobre a Bíblia.
2. A unidade de pensamento e propósito indicam origem divina
Do
Gênesis ao Apocalipse, a Bíblia nos fala do propósito divino de compartilhar
Sua glória com o homem (através de uma reconciliação iniciada por Deus, suprida
por Deus e sustentada por Deus) e manifestar Sua perfeita justiça na condenação
do pecado.
Embora
tenha havido progresso na quantidade de revelação oferecida por Deus à
humanidade, a natureza básica dessa revelação permaneceu inalterada e ela
jamais se contradiz.
A
Bíblia é coerente com sua visão do homem (mesmo os heróis bíblicos têm suas
falhas e pecados postos em destaque) como um ser totalmente dependente de Deus
para redenção; a Bíblia é realista para com a situação do mundo, vendo-o como
criação perfeita de Deus sujeita à corrupção do pecado, necessitado também de
reconciliação com seu Criador. A Bíblia é definitiva em sua visão da origem do
mal, não como um defeito das estruturas que afeta o homem, mas como uma
deficiência intrínseca do homem que, por isso, afeta qualquer estrutura. A
Bíblia, embora consistentemente otimista com respeito ao futuro, é realista o
suficiente para afirmar que o homem jamais produzirá sua Utopia, indo antes de
mal a pior, até que o próprio Deus, na pessoa de Cristo, resgate o cosmos do
caos em que o homem o transformou.
Produzir
um livro assim, nas condições acima descritas, é tarefa de competência
exclusiva de Deus. Como já disse alguém com muita propriedade, a Bíblia não é livro que o
homem quereria escrever, se pudesse, nem livro que poderia escrever, se
quisesse.
3. A exatidão histórica e arqueológica indica origem divina
A
partir do século XVIII, quando o racionalismo começou a minar os alicerces da
fé judaico-cristã ocidental, a moda é desacreditar “cientificamente” a Bíblia.
Foi assim que por muitos anos, pseudo-historiadores fizeram pouco caso do livro
de Daniel, por mencionar que o último rei da Babilônia tinha sido Belsazar, que
a “História” não registrava. Descobertas arqueológicas provaram a perfeita
exatidão do título, pois Belsazar era o regente de Nabonido na cidade da
Babilônia. Quem estava certo?
Igualmente
ácidos eram os comentários a respeito das menções bíblicas aos hititas (os
chamados “heteus”), pois não havia traços de tal povo nos registros
arqueológicos; tratava-se de mera ficção bíblica. As ampulhetas arqueológicas
deixaram cair mais um pouco de areia e eis que toda uma civilização é extraída
do solo da Turquia oriental; hoje sabemos até como os hititas fabricavam pão,
queijo e vinho! Quem estava certo?
Lucas,
o médico amado, foi muitas vezes acusado de ser péssimo jornalista por dar informações
erradas, especialmente quanto à sua geografia e aos títulos de autoridades
romanas. À medida, todavia, que aumenta o conhecimento dos arqueólogos e
historiadores em relação ao primeiro século da nossa era, mais que se confirma
a frase Lucas é
um historiador consumado, com direito a figurar entre os grandes escritores
gregos (E.
M. Blaiklock, professor de literatura clássica na Universidade de Auckland).
Nem
mesmo as investidas do neodarwinismo (evolucionismo científico) podem provar
que o aparecimento do universo não se deu conforme narrado em Gênesis; ambos
são questão de fé, mas a doutrina da criação por Deus oferece uma fé mais
racional do que o evolucionismo.
4. O cumprimento exato de profecias indica origem divina
Quatro
quintos da Bíblia são de natureza profética, dizem os especialistas. Destes
quatro quintos, uma grande parte já se cumpriu literalmente, como profetizada
por servos de Deus.
Bastam-nos
aqui alguns exemplos sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus. O local de
seu nascimento foi profetizado por Miqueias (5.2), seu nascimento virginal foi predito
por Isaías (7.14), que igualmente predisse o local (9.1-2) e a natureza de seu ministério (61.1-3); Zacarias predisse que Jesus seria
abandonado pelos companheiros (13.7) e o preço pelo qual o Senhor Jesus
seria traído (11.12-13); Davi predisse a natureza da
morte do Messias (Sl 22.16), e anunciou com 1000 anos de
antecedência a ressurreição (Sl 16.10). Quando uma longa lista de trinta
profecias referentes à vinda, vida, morte e ressurreição de Jesus foi compilada
por este autor, a probabilidade de que todas elas tivessem acontecido por mero
acaso foi de uma em 1.205.806.384! Não é racional e lógico crer na origem
divina da profecia bíblica?
5. A contínua relevância da Bíblia indica origem divina
Um
dos testemunhos mais impressionantes da origem divina das Escrituras é o fato
de que ao longo dos séculos, e nas mais variadas condições socioculturais, a
Bíblia tem mantido sua relevância para as grandes questões levantadas pelo
homem.
A
perspectiva bíblica da História, a análise bíblica da psicologia humana e do
comportamento moral do homem (indivíduo e sociedade), a provisão espiritual
para as necessidades temporais e eternas do indivíduo, bem como a perspectiva
realista e otimista quanto ao futuro contida nas profecias não têm similar em
qualquer outro livro religioso.
A
esperança e o conforto, o heroísmo e a coragem, o amor e a compaixão que a
leitura e a absorção da mensagem bíblica vêm produzindo ao longo da História
também apontam para sua origem divina.
Este
é um resumo das razões por que nós cremos na Bíblia como a Palavra de Deus!
*
Dr. Carlos Osvaldo
Pinto foi chanceler da Organização Palavra da Vida Brasil.
https://marceloberti.wordpress.com/2014/08/21/nos-cremos-na-biblia/
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