Desde que
iniciei uma série sobre o Vinho nas Escrituras, muitos leitores tem enviado
questões relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas. Apesar de ter deixado
uma breve apresentação da minha visão sobre o assunto no primeiro artigo da
série, O Vinho a Escritura e o Cristão, resolvi
escrever esse artigo com a intenção de apresentar as diferenças de opinião
sobre o assunto. Minha intenção nesse artigo é apenas demonstrar que existem
entre os cristãos quatro diferentes respostas à pergunta: “Afinal, o
cristão pode beber?” Entretanto, no final desse artigo, também apresento
como eu entendo essa questão e convido o leitor a refletir sobre a questão.
1. Proibicionistas
O primeiro
grupo que gostaria de mencionar são os proibicionistas. Como fica
evidente pelo própria nomenclatura, o proibicionista é aquele que acredita que
toda e qualquer espécie de bebida alcoólica é proibida para o cristão. Sem
sombra de dúvidas, essa é o maior grupo entre os cristãos. Ao que pude perceber
durante minha jornada entre igrejas evangélicas brasileiras, a proibição ao
consumo de bebidas alcoólicas parece ser a regra na grande maioria das igrejas
que conheço. Entretanto, existem diferentes tipos de proibicionistas:
(1) O
primeiro grupo de proibicionistas afirma que Deus se opõe ao consumo de
qualquer bebida alcoólica. Esse grupo afirma que as escrituras como um todo
condenam o consumo de bebidas alcoólicas e que não existe como defender o
contrário a partir do relato bíblico. Segundo esse grupo, as escrituras são
claras em apontar o fato de a imagem do vinho (e seus derivados e relativos)
é negativa e, portanto, proibitiva.
(2) O
segundo grupo de proibicionistas afirma que a igreja deve proibir seu
consumo por diferentes razões. Há quem aponte para o fato de que o consumo
exagerado de bebidas alcoólicas na nossa sociedade sugere que a igreja deva
impor a proibição do consumo de tais bebidas. Há que aponte tristes tragédias
familiares, ou quem tenha sofrido tais tragédias, e então conclua que a opção
mais adequada diante desse cenário é a proibição do consumo. Há ainda quem
aponte para o fato de que as bebidas alcoólicas dos nossos dias, especialmente
as destiladas, tem teor alcoólico muito elevado e que portanto, a melhor
resposta a essa realidade é a proibição do consumo de bebidas alcoólicas.
Como fica
evidente, por razões/meios diferentes os proibicionistas chegam a um destino
comum: a bebida alcoólica é proibida para o cristão dos dias de hoje.
Entre os
artigos já publicados no Teologando, dois lidam e respondem biblicamente
as afirmações feitas por esse: (1) Vinho de Acordo com o Antigo Testamento;
(2) Era o Vinho
Proibido no Antigo Testamento?
2. Abstêmios
Os abstêmios
são aqueles que entendem que a abstinência à bebida alcoólica é a melhor
alternativa para a prática cristã. Diferentes razões são oferecidas pelos
abstêmios para justificar tal conclusão: (1) Do ponto de vista cultural e
social, parece prudente para o cristão evitar aquilo que os demais abusam.
Famílias são destruídas pelo abuso e dependência da bebida alcoólica. Acidentes
tem ceifado a vida de tantos que dirigem sob a influência do álcool. A bebida
alcoólica carrega um stigma social negativo de modo que a identificação com tal
stigma é contraproducente para a expansão do reino. (2) Do ponto de vista a
divergência de opinião entre os cristãos, a abstinência alia-se com os
proibicionistas na prática de não consumir bebidas alcoólicas e com isso
evitam escandalizar o irmão mais fraco. (3) Do ponto de vista do amor, é melhor
abster-se da bebida alcoólica para ajudar a preservar a consciência fraca dos
irmãos imaturos.
Em geral, o
abstêmio concorda na prática com o proibicionista, mas discorda de sua teologia.
Ele entende que nem Deus nem a igreja deva proibir o consumo de bebida
alcoólica, pois entende que Deus oferece liberdade ao cristão para exercer
julgamento sobre o assunto. Ele entende que embora Deus não se oponha ao
consumo de bebidas alcoólicas, a abstinência melhor se adapta às
responsabilidades morais e espirituais que tem para com o corpo de Cristo e com
seu testemunho pessoal ante ao mundo. O abstêmio em geral não impõe a
abstinência como regra para o cristianismo, pois caso o fizesse seria contado
entre os proibicionistas. Também entende que apenas a embriaguez e dependência
é pecado, e não o consumo. Em geral, o abstêmio aceita que outros tomem bebidas
alcoólicas sem que isso seja necessariamente pecado, mas por preferência
pessoal prefere não beber.
Entretanto,
nem todo abstêmio o é por razões exclusivamente teológicas. Existe aqueles que
simplesmente não gostam de qualquer tipo de bebidas alcoólicas. Teologicamente
entendem que o consumo moderado de bebida alcoólica não é uma violação da
vontade moral de Deus, entretanto, a bebida alcoólica não lhe apetece o
paladar. Há também aqueles que tornam-se abstêmios em função do ministério a
que servem. Algumas instituições religiosas, e até mesmo igrejas são contrárias
ao consumo de bebidas alcoólicas e quando eles servem a instituições com esse
tipo de perfil, muitos tornam-se abstêmios sem se quer concordar teologicamente
com a imposição proibitiva da instituição.
Seja como
for, o abstêmio é aquele que, por diferentes razões, entende que a abstinência
do consumo de bebidas alcoólicas é a melhor resposta prática às estipulações
morais do evangelho.
3. Moderados
Os moderados
são aqueles que entendem que o consumo moderado de bebidas alcoólicas é
autorizado por Deus. Esse é um grupo pequeno entre os cristãos, e em geral eles
o são apenas dentro de suas casas. Esse grupo entende que Deus não proíbe o
consumo de bebidas alcoólicas e que a igreja também não deveria fazê-lo. Eles
discordam tanto da teologia quanto da prática dos proibicionistas. Para eles,
os proibicionistas proíbem o que Deus não proíbe e fazem com que suas igreja
proíbam o que não deveria ser proibido.
Para os
moderados, o vinho é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição. Da mesma forma
que o vinho pode alegra o coração (Sl.104.15) e tornar a vida mais agradável (Ec.10.19) ele é também escarnecedor (Pv.20.1) e causador de diversos males.
Portanto, para eles o problema não é produto da vinha em si, mas no consumo
excessivo do mesmo. Os moderados concordam com os abstêmios ao afirmar que a
embriaguez é contrária ao padrão moral exigido tanto pelo evangelho como pelo
Senhor do evangelho. Entretanto, eles discordam dos abstêmios na prática pois
bebem moderadamente. Os moderados não impõe aos outros sua preferência pessoal
de beber ocasionalmente, da mesma forma que os abstêmios também não impõem sua
preferência pessoal sobre os moderados. Eles concordam que teologicamente Deus
não se opõe ao consumo moderado de bebidas alcoólicas. Eles também concordam
que a embriaguez é a violação do padrão moral de Deus.
4. Libertinos
Os
libertinos são contrários a todos os anteriores da mesma forma que todos os
anteriores estão em oposição a esse grupo. Esse é o grupo de cristãos imaturos,
e provavelmente rebeldes, que falham em apresentar qualquer raciocínio
teológico em suporte à sua conduta. Eles entendem de modo equivocado a
liberdade cristã e dão ocasião à carne (Gl.5.13). Esse grupo viola não apenas a
conduta moral esperada do cristão como também o testemunho esperado de um filho
de Deus. Faltam com sabedoria ante a sociedade, amor com ante seus irmãos e
prudência consigo mesmo.
Dada a clara
incompatibilidade dessa opinião com aquela apresentada nas escrituras e da
infeliz presença desse tipo de pensamento na vida da nossa amada igreja
brasileira, convido os leitores a visitar o artigo O Vinho a Escritura e o Cristã e
verificar a inconsistência dessa opinião.
5. A opinião do autor
Como autor
desse blog e artigo, acredito que as escrituras rejeitam duas das opiniões
supracitadas: (1) O proibicionismo é apenas uma forma de legalismo e é,
portanto, rejeitada pelas escrituras. (2) A libertinagem é de fato contrária a
qualquer ensino de Cristo. Em outras palavras, estou afirmando que apenas a
primeira e a última opção são condenáveis diante das escrituras. Afirmar que
Deus é contrário a algo que Ele não O é, é errado ainda que produza a tão esperada
sobriedade cristã. Proibir o que Deus não proíbe é legalismo, mesmo que o
resultado possa ser positivo.
O grande mal
do legalismo é que ele impõe ao invés de ensinar. Ele proíbe ao invés de
instruir. É uma forma de exercer controle e domínio sobre as pessoas para que
se conformem com suas preferências pessoais sobrepostas à escritura. Não há
dúvidas de que a abstinência é louvável, mas a abstinência apresentadas nas
escrituras provém da liberdade cristão e não da proibição pastoral. Do mesmo
modo, a libertinagem é nociva para a vida da igreja. Libertinos violam o
princípio da sobriedade e abrem as portas à dependência do álcool. Aqueles
que usam equivocadamente sua liberdade tornar-se-ão escravos de suas
preferências pessoais e constantes violações morais do evangelho.
Em outras
palavras, é opinião do autor que apenas a abstinência pessoal fruto da
liberdade cristã e o consumo moderado de bebidas alcoólicas são suportadas e
recomendadas pelas escrituras, mas não ao mesmo tempo obviamente. O que quero
dizer com isso é que tanto a abstinência como o consumo moderado são
autorizados por Deus de modo a não violar Sua palavra. Nem o legalismo do
proibicionismo, nem a libertinagem dos imaturos, mas a maturidade da
abstinência ou consumo moderado fruto da liberdade cristã.
Eu acredito
que o libertino é o cristão imaturo que se nega ao desenvolvimento e
maturidade, enquanto o proibicionista é aquele que inibe o desenvolvimento e a
maturidade dos outros. Nesse sentido, o proibicionista é tão perigoso para a
maturidade e crescimento do corpo de Cristo quanto o libertino. Por isso,
acredito piamente que as posições extremistas do proibicionismo e da
libertinagem devem ser evitadas pelo cristão a qualquer custo.
Agora, a
questão que fica é em que grupo você se enquadra? E melhor ainda, como você
defende sua posição diante das escrituras? Aproveite os comentários abaixo e
deixe sua opinião e critique (responsavelmente) nosso artigo aqui.
Fonte: https://marceloberti.wordpress.com/2015/06/02/afinal-o-cristao-pode-beber/
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