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domingo, 13 de abril de 2008

ORAÇÃO – O DIÁLOGO DA ALMA COM DEUS

A oração é a principal forma de comunicação do homem para com Deus.

INTRODUÇÃO
- Na seqüência do estudo das disciplinas da vida cristã, estudaremos a oração. Se o amor é o pressuposto e o elemento fundamental para que se tenha uma vida espiritual disciplinada, não é possível se ter comunhão com Deus se não houver comunicação e a principal forma de comunicação do homem para com Deus é a oração.
- Deus, ao estabelecer Seu plano de criação e redenção do homem, tem como propósito o estabelecimento de uma comunhão eterna entre Ele e o homem(Gn..3:8; Jo.17:21; Ap.21:3) Assim, o cristão, como realização deste propósito, não pode ficar um segundo sequer sem tributar ao seu Senhor a devida adoração e a adoração pressupõe comunicação, que se faz pela oração.
I – A COMUNHÃO COM DEUS EXIGE UMA VIDA DE ORAÇÃO
- Na vida agitada dos nossos dias, no corre-corre do nosso cotidiano, é quase certo que se não administrarmos o nosso tempo, estaremos correndo sério risco de não fazermos tudo o que necessitamos no dia. Faz-se preciso, entretanto, que não só administremos bem o tempo, mas que impeçamos que esta má administração seja uma arma utilizada em detrimento de nosso relacionamento com Deus. Não podemos permitir, de forma alguma, que os dias maus em que vivemos sejam uma grande arma do adversário para nos impedir de ter uma vida espiritual saudável conforme os ditames bíblicos. Que possamos seguir o conselho do apóstolo e remir o tempo, porquanto os dias em que vivemos são maus (Ef.5:16).
- A vida espiritual, como qualquer vida, não é algo que se manifeste de vez em quando, mas é algo que tem uma determinada permanência, é algo que necessita de uma continuidade, de um desenvolvimento que não permite qualquer paralisação. Todos nós sabemos que não podemos, no sentido físico, viver um dia por semana, ou alguns dias no mês. Se isto é uma realidade no ponto-de-vista físico, onde o homem é comparado a uma flor da erva, que, pela manhã, está viçosa e ao entardecer já está seca e sem qualquer esplendor (I Pe.1:24), que dirá a vida espiritual, que é a melhor parte, aquela que está relacionada com a eternidade e que se constitui na própria razão das coisas? Portanto, o nosso cuidado diário no nosso relacionamento com Deus deve ser prioridade e devemos lutar incansavelmente para que esta porção não nos seja roubada, pois, via de regra, o ladrão age sutilmente, na nossa falta de vigilância e este tem sido um dos aspectos que mais tem colaborado para o fracasso espiritual de muito.
- A vida espiritual é uma vida de comunhão com Deus. Ora, a comunhão é, como nos diz o Dicionário Koogan-Larousse, entre outras coisas, "união no mesmo estado de espírito". Com efeito, quem está em comunhão com Deus discerne a vontade de Deus, segue a direção de Deus, sabe perfeitamente como agradar a Deus, tem condições de apresentar o seu corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, ou seja, de lhe prestar o culto racional (Rm.12:1).
- Entretanto, para que possamos estar em comunhão com Deus, faz-se mister que saibamos exatamente o que Deus quer que façamos, bem assim que tenhamos com ele um diálogo, uma intimidade, da mesma maneira que um casal que, ao passar dos anos, somente pelo olhar tem condições de se comunicar e de estabelecer uma conversa sem que uma palavra seja dita. A comunhão com Deus exige, pois, que tenhamos duas atitudes incessantes, duas ações que são indispensáveis para que estabeleçamos uma "união no mesmo estado de espírito" com Deus: a oração e a leitura da Palavra de Deus. Lembramo-nos aqui, aliás, de um antigo corinho que até hoje é ensinado nas classes infantis da EBD e que sintetiza esta realidade espiritual que, por muitos, lamentavelmente, tem sido esquecida nos nossos dias: " Leia a Bíblia e faça oração se quiser crescer".
- Orar é o ato pelo qual o homem se dirige a Deus para com Ele dialogar. É uma atitude que expressa em si, de uma só vez, uma série de verdades que, por si só, já demonstram a excelência de uma conduta desta natureza, a saber:
a) quando oramos, reconhecemos a soberania de Deus, pois estamos dizendo que Deus é o único que pode atender aos nossos pedidos, bem como é o único que merece nosso louvor e adoração, que nada mais é que o cumprimento do grande mandamento (Mt.22:36,37).
b) quando oramos, reconhecemos a nossa insuficiência, pois demonstramos a consciência de que tudo está no controle de Deus e que, sem Ele, nada podemos fazer, o que, nada mais é, que a primeira bem-aventurança proclamada por Jesus no sermão do monte (Mt.5:3).
c) quando oramos, revelamos a nossa fé, pois demonstramos que nossa confiança está em Deus e não em qualquer outro ser, o que significa uma ação que agrada a Deus, pois sem fé é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6).
d) quando oramos, revelamos a nossa obediência, pois cumprimos a vontade de Deus expressa em Sua Palavra, que quer que oremos sem cessar (I Ts.5:17), bem como que imitemos Jesus (I Co.11:1, I Pe.2:21), cujo ministério terreno foi, sobretudo, um ministério de oração.
e) quando oramos, demonstramos o nosso amor para com o próximo, pois intercedemos por eles e, como somos justos, permitimos que tal oração tenha uma eficácia benévola em suas vidas, o que é o complemento do grande mandamento (Mt.22:39,40), bem como a comprovação de que somos filhos de Deus (I Jo.2:5).
OBS: Por isso, não tem cabimento se falar, como se tem falado ultimamente, em “oração contrária”, algo que uma amada irmã, certa feita, bem definiu como sendo “macumba evangélica”. A oração jamais pode revelar algo que não o amor ao próximo, o amor que temos de ter uns com os outros, assim como Jesus nos amou, o que, aliás, é o novo mandamento que deve ser observado por todo cristão (Jo.15:12). Neste passo, aliás, uma vez mais reproduzimos o que escreveu, recentemente, o atual chefe da Igreja Romana, na sua encíclica Spe Salvi: “…Apesar de Agostinho falar diretamente só da receptividade para Deus, resulta claro, no entanto, que o homem neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não se torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. De fato, só tornando-nos filhos de Deus é que podemos estar com o nosso Pai comum. Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. O modo correto de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e, precisamente desta forma, aptos também para os homens. Na oração, o homem deve aprender o que verdadeiramente pode pedir a Deus, o que é digno de Deus. Deve aprender que não pode rezar contra o outro. Deve aprender que não pode pedir as coisas superficiais e cômodas que de momento deseja – a pequena esperança equivocada que o leva para longe de Deus. Deve purificar os seus desejos e as suas esperanças. Deve livrar-se das mentiras secretas com que se engana a si próprio: Deus perscruta-as, e o contato com Deus obriga o homem a reconhecê-las também. « Quem poderá discernir todos os erros? Purificai-me das faltas escondidas », reza o Salmista (19/18,13). O não reconhecimento da culpa, a ilusão de inocência não me justifica nem me salva, porque o entorpecimento da consciência, a incapacidade de reconhecer em mim o mal enquanto tal é culpa minha. Se Deus não existe, talvez me deva refugiar em tais mentiras, porque não há ninguém que me possa perdoar, ninguém que seja a medida verdadeira. Pelo contrário, o encontro com Deus desperta a minha consciência, para que deixe de fornecer-me uma autojustificação, cesse de ser um reflexo de mim mesmo e dos contemporâneos que me condicionam, mas se torne capacidade de escuta do mesmo Bem.…” (BENTO XVI. Spe Salvi, n.33. Disponível em: www.vatican.va Acesso em 18 fev. 2008).
- Não pode existir uma vida real de comunhão com Deus sem que haja oração. A oração é o canal pelo qual o homem exercita a sua submissão a Deus, é a forma pela qual se põe como um verdadeiro servo do Senhor. A oração é, assim, a própria exteriorização de nossa qualidade de servo de Deus. Nas páginas das Escrituras Sagradas, veremos, sempre, que os grandes homens de Deus eram homens de oração, bem como que os grandes fracassos espirituais ali descritos têm, como ponto em comum, a falta de oração, a falta de diálogo com Deus. Quando o homem se distancia de Deus, podemos verificar que o distanciamento se deu, num primeiro instante, pela perda de contato entre o homem e Deus através da oração. Eis porque todas as forças do mal buscam retirar o nosso tempo de oração, buscam eliminar a oração do nosso dia-a-dia. A oração, como bem afirmou Paulo, é indispensável para que vençamos as hostes espirituais da maldade, pois é a ferramenta que nos coloca em forma para podermos utilizar adequadamente a armadura de Deus (Ef.6:13-18).
- Diante de tamanha importância para a oração, é preciso que ela seja uma constante tanto na nossa vida pessoal, como também na vida de nossa família e de nossa igreja local, que são os grupos sociais principais aos quais nós participamos. Individualmente, é importantíssimo que reservemos um período para que oremos ao Senhor, um período onde não sejamos importunados por pessoa ou coisa alguma, um período em que fiquemos a sós com o Senhor, adorando-O e fazendo-Lhe as necessárias petições. Este período, nos dias agitados em que vivemos, será, quase sempre, a madrugada, oração esta que tem o agrado do Senhor, como vemos em Pv.8:17. É interessante observar que o grande jurisconsulto e político brasileiro, Ruy Barbosa, demonstrava as grandes vantagens para o estudo durante a madrugada, ao qual se dedicava intensamente e que é apontado como um dos fatores que fez deste grande brasileiro uma das maiores inteligências de todo o mundo. Ora, se a busca por um saber intelectual, passageiro e falho, mostrou-se ser tão exitosa por ter se feito durante a madrugada, por que não tentar algo similar do ponto-de-vista espiritual, algo muito mais excelente, mormente quando a própria Bíblia Sagrada nos apresenta ser esta uma atitude que agrada a Deus ? Querido irmão, comece a buscar ao Senhor de madrugada e, certamente, ali, naqueles momentos, o irmão encontrar-se-á com o Senhor dos Senhores, com o Rei dos Reis !
- Em nossa família, também, devemos edificar um altar constante de oração. No mundo antigo, o que caracterizava a existência de uma família perante a sociedade era a existência de um "lar", entendido este como sendo um compartimento da casa onde tinham acesso apenas os membros da família (ou seja, ali não ingressavam hóspedes, visitantes ou escravos) e onde havia um altar para o culto dos antepassados, os chamados "deuses lares", costume que vemos mencionado na Bíblia, por exemplo, em Gn.31:30,34. Entre os pagãos, portanto, uma família era reconhecida por ter um "lar", ou seja, um altar para cultuar o seu deus. Será que temos edificado um lar em nosso ambiente familiar ? Será que temos reunido os membros de nossa família para que haja uma oração familiar ? Ou será que fazemos (quando o fazemos…) como Jó(Jó 1:4,5), que, sozinho, ia interceder por seus filhos, enquanto eles se regalavam com banquetes e festas, despreocupados com uma eternidade, de forma que fora colhidos de surpresa e tiveram ceifadas as suas vidas ? É assaz importante que a família tenha um freqüente encontro de oração, onde possa dialogar conjuntamente entre si e com o Senhor, que tem o máximo interesse em preservar e guardar a família que, afinal de contas, é instituição por Ele próprio criada.
- Causa-nos perplexidade vermos que muitos servos do Senhor, dedicados e fiéis, tiveram uma vida de oração intensa para a constituição de suas famílias e, depois, quando recebem a bênção do Senhor, passam a agir desleixada e descuidadamente, não mais buscando a direção de Deus para a administração das famílias pelas quais tanto oraram. Acordemos, pois na falta de oração familiar está uma das principais explicações pela paralisia espiritual de muitas famílias e pela sua total falta de resistência aos infames e cada vez mais cruéis ataques do adversário contra as famílias cristãs na atualidade. A presença de Jesus no lar leva-nos a uma vida de maior reverência e santidade diante do Senhor em todos os demais aspectos da família. Basta olharmos para José e Maria e verificarmos como cumpriram rigorosamente a lei do Senhor durante a infância e adolescência de nosso Salvador. Entretanto, bastou o Senhor estar o ausente do convívio familiar, para que nem mesmo Seus irmãos cressem nEle. Vigiemos e nunca permitamos que o Senhor Jesus esteja ausente em nosso lar. A descendência de Sete foi conhecida como sendo os "filhos de Deus"(Gn.6:2), porque Sete, ainda quando tinha apenas um filho, começou a invocar o nome do Senhor em seu lar (Gn.4:26). Que possamos, do mesmo modo, sermos identificados como filhos de Deus.
II – A ORAÇÃO É UM DEVER DO CRISTÃO
- Quando falamos em oração, salientemos que a oração não é uma mera faculdade que esteja à disposição do cristão nas horas de angústia ou de necessidade. Muito pelo contrário, a oração é um dever, ou seja, é algo que é obrigatório e que o cristão não tem o direito de deixar de fazer. Quem diz que a oração é um dever é o próprio Jesus. Certa feita, o Senhor contou aos discípulos uma parábola, a parábola do juiz iníquo, para ilustrar o "dever de orar sempre e nunca desfalecer" (Lc.18:1). Assim, o crente que não ora é, antes de tudo, alguém que está em falta diante de Deus.
- É importante observar que esta idéia da oração como um dever cristão não é enfatizada devidamente no meio evangélico, ao contrário do que ocorre seja entre os católico-romanos, seja entre os ortodoxos ou, mesmo, em outras religiões, como os judeus, os muçulmanos, os budistas e os hinduístas. Esta omissão, aliás, tem sido um grande e poderoso instrumento para a disseminação de práticas esotéricas e similares, levada a efeito sobretudo pelo movimento Nova Era, exatamente porque os cristãos têm se deixado levar por uma vida secular e formalista, que tem deixado de lado o dever de orar sempre e nunca desfalecer.
- Diz Jesus que o dever de orar se caracteriza por duas propriedades: deve-se orar sempre e nunca se deve desfalecer. Orar sempre significa nunca deixar de orar. Orar sempre significa que não há tempo nem lugar certo para orar. A oração deve ser uma constante em nossas vidas, daí porque Paulo ter dito que devemos "orar sem cessar" (I Ts.5:17). Mas, então, devemos nos tornar como os monges que se enclausuram em conventos e passam a se dedicar a intermináveis orações ? Não, não é disto que o Senhor Jesus ou o apóstolo Paulo estão nos dizendo. Muito pelo contrário, se é verdade que devemos ter um instante de oração a sós com Deus, a nossa missão como Igreja obriga-nos a que estejamos no mundo, a que sejamos sal da terra e luz do mundo, o que é, exatamente, o contrário desta vida contemplativa característica do monasticismo e cuja validade evangélica e bíblica é, no mínimo, questionável.
- Orar sempre significa estarmos dispostos e prontos a orar ao Senhor a cada instante, em cada situação, estarmos, para usarmos de uma linguagem moderna, sintonizados com o Senhor, na Sua mesma freqüência. Devemos ter a nossa mente dirigida para o Senhor diuturnamente e, enquanto fazemos os nossos afazeres, desempenhamos nossas tarefas do dia-a-dia, estarmos em condição de, em alguns instantes, dirigirmo-nos ao Senhor de coração e com reverência, mesmo que de forma silenciosa e sem qualquer alvoroço. Nossas orações devem ser discretas e provir de nossas almas, exatamente o contrário do que ocorre com os gentios, que transformam as orações em práticas rituais, cerimoniais, automáticas e mecânicas, cujo intento e objetivo é dar uma demonstração exterior e formal de santidade e de comunhão com Deus, mas que se revelam como simples exaltações do ego e de um sentimento de auto-suficiência que, em si, é a verdadeira negação da submissão perante o Senhor. É neste sentido que a oração cristã se distingue das demais, pois não é ostensiva nem busca o reconhecimento dos semelhantes, o que, entretanto, não pode servir de justificativa para uma vida sem oração, como já falamos supra.
- Vivemos em um mundo onde as principais religiões contêm em suas regras fundamentais a oração. Seja entre os judeus, seja entre os muçulmanos, seja entre os budistas, seja entre os hinduístas, a oração e a meditação têm lugar de destaque em suas práticas religiosas e em sua devoção. Quando observamos, por exemplo, o fervor dos islâmicos que, cinco vezes ao dia, dirigem suas faces em direção a Meca e fazem suas orações onde quer que estejam, ou dos judeus, que tem suas três orações cerimoniais diárias, vemos como as palavras de Jesus são atuais(Mt.6:5) e como devemos fugir da ostentação e do formalismo em nosso relacionamento com Deus.
- Muitos crentes procuram, ante os exemplos retirados das Escrituras, em especial o de Daniel, criar algumas regras relativas à oração, estipulando o número de vezes que devemos orar, em que ocasiões devemos orar e assim por diante. Não entendemos seja incorreto que alguém procure seguir o exemplo de homens fiéis a Deus e que, podendo, tenha o hábito de orar três vezes ao dia ou que ore ao acordar, ao se deitar, antes das refeições, hábitos que são salutares. O que devemos, porém, evitar é que estas práticas sejam estabelecidas como regras válidas a todos, o que seria indevida imposição de uma prática devocional pessoal a todos os demais ou, então, que tais práticas passam a ser tidas como demonstração de santidade e de comunhão com Deus por si sós, o que nos levará para o formalismo e ritualismo que tanto foram condenados por Jesus. Diz a Bíblia que devemos orar sempre e, em sendo assim, que cumpramos a Palavra de Deus, cada um ao seu modo, cada um à sua maneira, mas dentro do modelo bíblico.
- No entanto, ao observarmos muitas orações que têm sido ouvidas e pronunciadas em nosso meio, vemos, com tristeza, que este formalismo, esta ostentação não é exclusividade dos seguidores de Maomé ou dos descendentes dos que rejeitaram em Messias na Palestina. Há muitos crentes que se comprazem, em suas congregações, em intermináveis, longas e altas orações, para demonstrar uma santidade perante os seus conservos. Estes, assim como aqueles, têm o mesmo triste destino do fariseu da parábola (Lc.18:14).
- Há muitos crentes, ainda, que, de forma automática, repetitiva e num estado em que os lábios estão completamente desligados do coração, fazem verdadeiras rezas, o que é igualmente condenado pelo Senhor (Mt.6:7). De nada adianta ficarmos repetindo palavras a esmo, sem que nelas esteja nosso coração, nossas mentes, como se as palavras tivessem poder em si (algo, aliás, que tem sido, indevidamente, pregado por aí, como se estivéssemos acolhendo a idéia das "palavras mágicas" dos contos de fadas, ou, o que é ainda pior, acolhendo a idéia hinduísta dos "mantras", que ficaram famosos no Ocidente através da seita "Hare Krishna"). Deus ouve ao contrito de coração, àquele que, efetivamente, estiver entregando a sua alma no seu diálogo com Deus, num diálogo que vem do interior do homem ao interior de Deus.
- Se devemos orar sempre, Jesus também salientou que o dever de orar impõe uma outra conduta: o de nunca desfalecer. Nunca desfalecer, como bem traduziu a Nova Versão Internacional, significa nunca desanimar. O dever de orar impõe o dever da perseverança, da insistência, de confiança diante de Deus. Quem ora deve ter a convicção de que Deus está ouvindo a sua oração e de que irá responder ao clamor, bem como que irá providenciar o melhor para aquele que O busca. A oração daquele que desiste, daquele que esmorece, daquele que não insiste é algo igualmente vazio e sem qualquer validade diante de Deus. Quem ora numa perspectiva de que deve ser atendido de imediato, de que o nome de Deus é "Já" e que não tem que esperar, não ora, segundo nos ensina Jesus, mas, simplesmente, perde seu tempo, pois esta oração não corresponde ao dever que tem o servo de Deus, pois é uma oração que trará, em breve, o desânimo, que não representa qualquer submissão a Deus e que, portanto, não alcançará qualquer resultado prático.
III – A ORAÇÃO QUE O SENHOR NOS ENSINOU
- Neste ponto, aliás, cabe-nos falar algo sobre a oração que o Senhor nos ensinou, a chamada "oração do Senhor", "oração dominical" ou, como é conhecido, o "Pai nosso". Esta oração não é senão um modelo, ou seja, não foi ensinada pelo Senhor para ser repetida automaticamente, como uma reza, como muitos a têm tornado, mas, muito pelo contrário, nela temos uma verdadeira aula de como devemos orar a Deus. Quem quer aprender a orar, deve ler esta lição de Jesus e, com certeza, ao aplicá-la, estará orando corretamente e de forma agradável ao Senhor.
- O fato de Jesus nos ensinar a orar mostra claramente que a oração embora não seja uma "reza", ou seja, algo repetitivo, de aparência exterior, não é uma atitude que não tenha regras, que não tenha um modo correto de se expressar. O símbolo bíblico da oração é o incenso (Sl.144:2; Ap.5:8) e este incenso estava submetido a uma série de exigências e de requisitos, precisamente a nos indicar que a oração, embora tenha de ser espontânea, não é algo que seja isento de um modo de realização, algo que esteja ao arbítrio do orante.
- Esta é uma das razões pelas quais não se pode admitir o ensino da “oração forte”, expressão que foi herdada do espiritismo e que não tem o menor respaldo bíblico. Nenhuma oração pode ser “forte” ou “fraca” por causa do orante. Não é o arbítrio do orante que determina a força desta ou daquela oração, mas a oração é, antes de tudo, o reconhecimento da soberania divina e de nossa necessidade. A composição do incenso era determinada por Deus e, do mesmo modo, a oração tem de ter o conteúdo prescrito pelo Senhor, que, pela Sua graça, nos permite, apesar de nossas fraquezas, termos a ousadia de chegarmos à Sua presença pelo Seu Filho. “Oração forte” é invencionice, é resquício de espiritismo e bruxaria, onde surgiu a própria expressão. Com efeito, dizem os estudiosos do folclore que “oração forte” é “amuleto ou talismã, guardada num saquinho, lida ou rezada todas as noites antes de dormir, tem o poder de proteger a pessoa que a conduz contra as doenças, os maus negócios, tudo de ruim que possa acontecer na vida de uma pessoa.” (Oração. In: Dicionário do folclore para estudantes. Disponível em: http://www.soutomaior.eti.br/mario/paginas/dic_o.htm Acesso em 20 fev. 2008) ou, ainda, no Dicionário do Folclore Brasileiro, de Câmara Cascudo, “Oração-forte - São as súplicas dirigidas a Deus ou aos santos, segundo fórmulas que não devem ser usadas comumente. As orações-fortes são trazidas ao pescoço, num saquinho cosido, ou dentro da carteira, do bolso, em lugar oculto. As orações-fortes são rezadas em momento de aflição extrema, como remédio salutar e supremo para a sua resolução.…” (Amuletos. Disponível em: http://cristoeaverdade.net/ESTUDOS/PORQUE_AS_VEZES_NOSSA_ORACAO.html Acesso em 20 fev. 2008)
- O altar do incenso, no tabernáculo, ficava em frente ao véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo (Ex.30:1-6), a mostrar que a oração é o meio pelo qual se dá o contato entre o homem e Deus. A queima do incenso deveria ser contínua (Ex.30:7), como contínua deve ser a oração (I Ts.5:17).
- Mas, além de a queima do incenso ser contínua, também se exigia que o incenso a ser utilizado deveria ter uma composição especial (Ex.30:34-38), não se admitindo incenso estranho (Ex.30:9). Isto nos fala que a oração não pode ser feita de qualquer modo, mas deve ter um conteúdo especialmente determinado por Deus, daí porque Jesus ter nos ensinado como devemos orar, a fim de que o nosso incenso suba até a presença do Senhor, onde Ele está a interceder por nós (Is.53:12).
- O incenso santo deveria ser temperado, puro e santo (Ex.30:35). Isto nos mostra que a oração que agrada a Deus, a oração por Ele exigida deve ser temperada, ou seja, ser feita com domínio próprio, sem fanatismo, feita conscientemente, com propósito e discernimento. Além de temperada, deve ser pura, ou seja, a oração deve ser tal que o orante deve estar devidamente purificado de seus pecados. O altar do incenso ficava no lugar santo e, para lá se entrar, o sacerdote deveria lavar-se com água (Ex.30:20,21).
- Assim, para orar ao Senhor, é preciso que, antes, tenhamos sido purificados no sangue de Jesus, tenhamos sido perdoados dos nossos pecados. A oração precisa ser de um justo para que produza efeito (Tg.5:16) e a justiça depende de sermos justificados pela fé em Cristo (Rm.5:1). Para se chegar a Deus, é preciso, antes, que os pecadores alimpem as mãos (Tg.4:8). Não é ã toa que, no dia da expiação, o sumo sacerdote aspergia sangue sobre o altar do incenso (Ex.30:10), a demonstrar que não há como pensarmos em uma vida de oração sem a consciência de que tudo se deve ao sacrifício de Cristo por nós na cruz do Calvário.
- Mas além de temperada e pura, a oração, assim como incenso, tem de ser santa. O incenso que chega à presença de Deus é a oração dos santos (Ap.5:8). A santificação é uma condição para que se veja a Deus (Hb.12:14). O altar do incenso ficava no lugar santo, a mostrar que, sem santidade, não há como se orar. A oração é um privilégio dos sacerdotes, ou seja, daqueles que alcançaram a salvação na pessoa de Jesus Cristo e que, por isso, têm as vestes brancas. Somente aqueles que estão santificados em Cristo Jesus são chamados santos (I Co.1:2) e somente estes, que têm as vestes brancas (como os sacerdotes na antiga aliança - Ex,28:40-43), podem orar e, por orarem, comunicando-se com o Senhor aqui, estarão para sempre com Ele na eternidade (Ap.3:4,5).
- Vemos, pois, que a oração, já na sua simbologia, está sujeita a algumas regras e quando Jesus nos ensinou a orar, revelou-nos tudo quanto o Senhor quer que saibamos a respeito desta importante matéria (Jo.15:15).
- A oração dominical começa com a expressão "Pai nosso", cujo significado é sobremodo excelente e mostra toda a diferença entre o cristão e os gentios. Ao reconhecermos em Deus o nosso Pai, demonstramos que a relação que existe entre Deus e o homem não é uma relação de senhorio, de propriedade, de domínio ou de cruel submissão, como se vislumbra, por exemplo, entre os islâmicos, mas é, sobretudo, uma relação de amor, de filiação, de intimidade e comunhão. Ao chamarmos a Deus de nosso Pai, ao reconhecermos isto, estamos dizendo que confiamos em Deus e em Seu amor e que nada, absolutamente coisa alguma de ruim para nós pode ocorrer, pois Ele nos ama. É por isso que Jesus insiste em que tenhamos a imagem de Deus, na oração, como a imagem do Pai, daquele que é infinitamente muito mais bondoso do que nosso pai terreno e que, portanto, nunca pode querer nos prejudicar ou nos causar dano. Aliás, o próprio Jesus nos disse que”se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt.7:11).
- Mas a oração-modelo continua e nos lembra que este Pai bondoso, amoroso e misericordioso está nos céus, ou seja, é o Senhor do universo, o Soberano, Aquele que tem todo o poder. Lembrar que Deus é Pai mas está nos céus, é lembrar que Ele não é nosso empregado, nem está à nossa disposição ou à disposição de nossos caprichos, o que, efetivamente, para certos crentes de nossos dias é uma incômoda lembrança…
- A oração leva-nos, pois, a reconhecer que somos pobres e necessitados que dependem do cuidado do Senhor (Sl.40:17). A oração faz-nos assumir o lugar que nos é devido, que é o lugar de servos que, pela imensa misericórdia do Senhor, pela Sua morte no Calvário, permitiu-nos livre acesso ao trono da graça (Hb.10:19-22). A oração, também, faz-nos entender que estamos “embaixo” e o Senhor, “em cima”. Não é à toa que o símbolo da oração na antiga aliança fosse o incenso, que sobe, a nos indicar que o Senhor está em Seu trono, no céu, acima de tudo e de todos.
- Em seguida, a oração-modelo lembra-nos que o nome do Senhor é santificado, ou seja, que para termos uma verdadeira comunhão com Deus é necessário que estejamos em santidade diante de Deus. Os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus (Is.59:2). Não é possível que queiramos orar a Deus sem que estejamos em paz com Ele, o que somente se dá mediante a justificação pela fé em Jesus (Rm.5:1). Para termos uma vida de oração correta e aceitável diante de Deus, é imperioso que estejamos vivendo de acordo com a Sua Palavra, pois é ela quem nos santifica (Jo.17:17).
- Aqui, quando se fala em “santificação do nome do Senhor”, não devemos nos esquecer do conceito judaico que aqui se expressa. Muitos ficam estupefatos ao se falar em “santificação do nome de Deus”, visto que Deus é santo e, portanto, não precisa Se santificar. No entanto, a expressão tem um sentido bem preciso entre os judeus.
- Para os mestres judaicos que elaboraram o Talmude (o segundo livro sagrado do judaísmo), o “Kidush Hashem”, ou seja, a “santificação do nome de Deus” estava relacionada com o mandamento de amor a Deus (Dt.6:5) no sentido de que cada um dos israelitas deveria fazer com que Deus fosse amado, ou seja, que o nome de Deus seria amado por causa de cada israelita, o que nos remete, imediatamente, às palavras de Jesus no sermão do monte, segundo as quais as nossas boas obras fariam com que o nome do Senhor fosse glorificado pelos homens (Mt.5:16).
OBS: “…’ E amarás ao Eterno, teu Deus’ — isto significa que o Nome dos Céus será amado por sua causa. Se alguém estuda as Escrituras e a Mishná [conjunto da tradição oral judaica, reunida após a destruição do Templo, observação nossa] e está entre os discípulos dos Sábios, se é honesto nos negócios e fala afavelmente com as pessoas, o que as pessoas dizem sobre ele? Feliz o pai que o ensinou Torá [a lei, observação nossa], feliz o mestre que o ensinou Torá, infortúnio aos que não estudaram Torá, pois este homem estudou Torá — e veja quão primorosas são suas maneiras e quão honrados seus feitos. Sobre ele, as Escrituras dizem: ‘ e me disse: Tu és Meu servo, Israel, em quem Me glorificarei’ (Isaías 49:3). Mas se alguém estuda as Escrituras e a Mishná e está entre os discípulos dos Sábios, mas é desonesto nos negócios e descortês com as pessoas, o que as pessoas dizem sobre ele? Infortúnio a ele que estudou Torá, infortúnio ao pai que o ensinou Torá, infortúnio ao mestre que o ensinou Torá, pois este homem estudou Tora — e veja quão corruptos são seus feitos e quão feias suas maneiras. Sobre ele, as Escrituras dizem: ‘fazendo com que deles se dissessem: ‘Estes são o povo do Eterno, que foram por Ele expulsos de Sua terra.’ (Ezequiel 36:20)…” (Talmude de Babilônia, tratado Ioma, 86-a apud SACKS, Jonathan. Para curar um mundo fraturado: a ética da responsabilidade. Trad. de Betty Rojter e Uri Lam, pp.80-1).
- Portanto, quando, na oração, devemos pedir ao Senhor que o Seu Nome seja santificado, estamos, na verdade, pedindo a Deus que sejamos instrumentos para a glorificação do Senhor enquanto aqui vivermos. Assumimos, assim, um compromisso de sermos meios pelos quais os homens glorificarão ao Senhor, comprometemo-nos em servir a Deus fielmente, a fim de que os homens reconheçam a Deus como o Soberano do universo. A oração é, portanto, um pedido para que possamos cumprir as tarefas a nós cometidas pelo Senhor, é a forma pela qual pedimos a Deus que sejamos uma bênção e não um escândalo. Como é, pois, importante e imprescindível a oração a todos nós!
- "Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu" , ou seja, quando oramos a Deus devemos ter a consciência de que devemos viver em submissão a Deus, ou seja, de que a vontade de Deus é o objetivo que devemos buscar para nossas vidas. Quando dizemos "venha o teu reino" estamos dizendo para Deus que queremos que Sua vontade se realize em nossas vidas, que Ele seja o nosso Senhor, Aquele que comanda as nossas vidas. Como afirma R.N.Champlin, "…só é possível é recebê-la (a ajuda do Senhor, observação nossa) quando a alma crente se encontra em estado de submissão a Cristo…" (Oração. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.4, p.604). Quão diferente é a oração daqueles "super-crentes", daqueles que, baseados nas falsas doutrinas da confissão positiva e da teologia da prosperidade, acham que a vontade deles é que tem de ser feita…
- "O pão nosso de cada dia nos dá hoje", isto é, a oração também envolve o aspecto material de nossas vidas, mas dentro de uma perspectiva de cumprimento da vontade de Deus e de Sua soberania. Deus não Se esquece das necessidades materiais do ser humano e sabe que, enquanto aqui estamos, precisamos de comida, de vestido e de bebida, razão pela qual está disposto a nos conceder o necessário para a nossa sobrevivência (Mt.6:31-34), mas devemos priorizar o reino de Deus e a sua justiça. Como se não bastasse isso, Deus Se compromete com o necessário, não com a opulência ou a riqueza desmedida, como têm defendido os teólogos da prosperidade, numa perspectiva que mais os faz avarentos e, por conseguinte, idólatras (Cl.3:5), do que servos de Deus.
- "E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores". Neste ponto, Jesus quis nos deixar claro que a vida de comunhão com Deus deve refletir-se, necessariamente, em uma vida excelente no convívio social. O homem não foi feito para habitar sozinho, mas, sim, em sociedade (Gn.2:18). Destarte, quando é transformado pelo Senhor, realizará boas obras e, com isto, fará os homens glorificarem a Deus que está nos céus (Mt.5:16), produzindo um fruto permanente na vida cristã (Jo.15:16). Na oração, portanto, devemos ter consciência de que nossa vida com Deus depende de nosso comportamento com o próximo, razão pela qual não podemos jamais querer ter comunhão com Deus se não a tivermos com os demais homens (Mt.5:23-25). Jamais nos esqueçamos de que nada podemos dever aos homens senão o amor (Rm.13:8).
- "E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal" - Nesta parte da oração, Jesus lembra-nos do compromisso divino de nos livrar do mal enquanto vivermos neste mundo de aflições e que está imerso no maligno (I Jo.5:19), compromisso este que foi ratificado e reiterado pelo próprio Senhor em Sua oração sacerdotal (Jo.17:15). Este compromisso é a certeza que o cristão tem de que o mal não lhe tocará ( I Jo.5:18), nem que o inferno prevalecerá contra a igreja (Mt.16:18). Isto não quer, em absoluto, dizer que o crente sincero nunca terá dificuldades ou lutas, nem que não poderá sofrer. Deus prometeu a vitória e somente há vitória após uma luta, de forma que a promessa de vitória é uma indireta declaração de que haverá lutas na vida do cristão, o que, aliás, foi explicitado pelo próprio Senhor (Jo.15:33).
- "porque Teu é o reino, e o poder, e a glória para sempre. Amém." - A oração-modelo termina com uma expressão de adoração, parte indispensável em qualquer oração. É através da oração que expressamos nosso amor ao Senhor, que Lhe rendemos a glória que só a Ele é devida. Lamentavelmente, nos nossos dias, oração tem significado apenas um petitório. Somente pedimos, pedimos, pedimos e, para finalizar, pedimos. Nem sempre nos lembramos de agradecer ao que Deus nos fez, que dirá adorá-lO, render-Lhe glória e louvor. É fundamental que a nossa oração, pelo menos, tenha uma parte de adoração. É preciso que louvemos e glorifiquemos a Deus em nossas orações.
IV - IMPEDIMENTOS ÀS ORAÇÕES
- Tendo visto que a oração depende de uma determinada disciplina, pois, embora tenhamos liberdade para pedir a Deus o que quisermos, embora a oração tenha de ser espontânea, ela deve atender a alguns requisitos, tanto subjetivos (relativos a quem ora), quanto objetivos (relativos ao que ó orado), resta-nos apenas verificarmos, para encerrarmos este estudo, o que as Escrituras mostram ser impedimentos para que as orações alcancem seus objetivos ou, pelo menos, cheguem até a presença de Deus. Tais advertências da Bíblia Sagrada demonstram, claramente, que a oração deve ser um exercício dirigido conforme a Palavra do Senhor, uma aspecto relevantíssimo para quem quer viver disciplinadamente diante de Deus.
- O salmista afirmou que as iniqüidades impedem as nossas orações (Sl.66:18). Como vimos, somente os sacerdotes poderiam oferecer incenso. Assim também, somente os santificados em Cristo Jesus podem orar. A única oração ouvida por Deus de quem não é santificado é a oração de arrependimento e confissão de pecados (Rm.10:9-11).
- O segundo fator que impede as orações de serem ouvidas pelo Senhor é a insinceridade. Quando oramos "da boca para fora", quando usamos da oração única e exclusivamente para nos exaltar, para nossa glorificação própria, esta oração não é ouvida por Deus (Mt.6:5). São orações que buscam o reconhecimento dos homens, de forma que, ao receberem tal reconhecimento, já tiveram o que buscavam. Deus está muito, mas muito distante de tais orações.
- Terceiro fator a impedir as orações, segundo as Escrituras, são os motivos carnais (Tg.4:3). A oração deve ser feita "em nome de Jesus" (Jo.14:14; 16:23,24), ou seja, de acordo com as Escrituras, de acordo com a vontade do Senhor. A oração reflete a nossa comunhão com o Senhor, mostra que temos o mesmo querer de Deus, que somos um com Ele(Jo.15:7; 17:21,22). Quando pedimos algo que sirva apenas para os nossos deleites, que tenha em vista apenas o prazer carnal, estamos dando lugar à carne e, portanto, não estaremos em comunhão com o Senhor (Rm.8:6-8). Por isso, trata-se de um mau pedido, ao qual o Senhor não atende.
- Quarto fator a impedir as orações é a descrença. Tiago afirma que "a oração da fé salvará o doente"(Tg.5:15 "in initio") e Jesus, em várias oportunidades, afirmou que a fé do beneficiário havia sido responsável pelo milagre realizado. A falta de fé impede que alguém receba algo da parte de Deus (Tg.1:6,7), porque sem fé é impossível agradar ao Senhor (Hb.11:6). Não nos esqueçamos do que disse o poeta sacro, em letra adaptada por Paulo Leivas Macalão: "Aqui só há descrença, as lutas não têm fim, mas de Jesus a presença, glória será para mim" (final da primeira estrofe do hino 204 da Harpa Cristã).
- Quinto fator a impedir as orações é a atividade satânica e/ou demoníaca. Deus, por vezes, pode permitir que haja interrupção na comunicação entre Deus e os homens por atuação de forças malignas, a serem devidamente expulsas pelo poder do Senhor mediante o discernimento espiritual dos crentes. Daniel teve suas orações impedidas pelas hostes espirituais da maldade (Dn.10:12,13) e isto pode acontecer em nossos dias, notadamente quando nos encaminhamos para o final desta dispensação, em que a atuação maligna aumenta grandemente diante da multiplicação da iniqüidade (Mt.24:12,24; II Co.2:1; 11:3) e pelo aumento da intensidade do espírito do anticristo (II Ts.2:1-12). Em casos de atividade satânica e/ou demoníaca, devemos orar ainda mais, a fim de que o Senhor remova os obstáculos que permitiu houvesse para o aumento da nossa fé e da nossa perseverança.
- Sexto fator a impedir as nossas orações de alcançarem a presença de Deus são os desentendimentos com a família. Quando há falta de comunhão no lar, quando o altar do lar está quebrado, Deus não responde, Deus não ouve o que é pedido ( I Pe.3:7).
- Sétimo fator a impedir as orações de produzirem resultado é o orgulho (Lc.18:10-14). Ao nos relatar a parábola do publicano e do fariseu, Jesus dá-nos uma lição a respeito da oração, mostrando-nos que a oração deve ser feita sempre com humildade, com reconhecimento da soberania divina e da indignidade do homem como tal. Não podemos jamais orar com arrogância, como que a mostrar méritos ou "direitos" diante do Senhor. Oramos porque precisamos de Deus e da Sua misericórdia, porque nos reconhecemos pecadores e carentes da graça de Deus, algo bem diverso das orações dos modernos fariseus, que são uma seqüência de "exigências", "determinações", "decretos" e tantas outras invencionices, cujo único resultado é fazer com que as pessoas orgulhosas e soberbas saiam sem justificação do templo onde vociferaram suas tolices.
- Oitavo fator que impede as orações é o desprezo pelas coisas de Deus, a idolatria, visto que algo é posto no lugar primeiro, que é exclusivo do Senhor. Diz a Bíblia que o povo de Israel não era abençoado materialmente e que suas orações por prosperidade material não eram ouvidas porque deixaram de dar prioridade às coisas de Deus, seja deixando de edificar o templo nos dias de Ageu (Ag.1:1-11), seja nos dias de Malaquias, quando cessaram de contribuir com seus dízimos para a casa do tesouro (Ml.3:7-10). Sempre quando passamos a pôr as coisas de Deus em segundo lugar, amando o dinheiro ou qualquer outra coisa desta vida, as orações nossas não são ouvidas, porquanto estamos a constituir ídolos em nossas vidas.
- Isto não quer dizer, como dizem os mercenários dos nossos dias, de que devamos, então, barganhar com Deus, dando-lhe bens materiais a fim de que venhamos a obter prosperidade material. Não, não e não! Quem assim faz, comete os mesmos erros dos judeus dos dias de Ageu e de Malaquias, pois continua amando o dinheiro, que é a raiz de toda espécie de males (I Tm.6:10) e quem serve às riquezas, não serve a Deus (Mt.6:24).
- Para não termos impedidas as nossas orações por causa deste fator, basta que amemos a Deus sobre todas as coisas, que busquemos o reino de Deus e a sua justiça e, dando a prioridade a Deus e às coisas de cima (Cl.3:1,2), tudo o mais que for necessário e suficiente a uma vida digna nos será concedido pelo Senhor (Mt.6:33).
- Fator muito semelhante a este e que também causa o impedimento das orações é a recusa a ajudar os necessitados. Como vimos supra, a oração demonstra sempre amor ao próximo e não há como se admitir uma oração de quem não ama o próximo. O proverbista é claro ao afirmar que o que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, também não será ouvido (Pv.21:13), texto que não fala apenas de uma aplicação da lei da ceifa, mas, também, da circunstância de que Deus é o primeiro a não ouvir quem assim proceder, pois Deus é o grande defensor dos pobres e necessitados, daqueles que nada têm ou podem ter, como se vê claramente nos dispositivos da lei que tratam dos órfãos e das viúvas (Sl.10:14; 146:9; Os.14:3)
- Também impede as nossas orações a recusa a submissão à Palavra de Deus. Diz o proverbista que Deus não ouve aos que O buscam mas que rejeitam a repreensão do Senhor, aos que não atendem ao conselho do Senhor, aos que não temem a Deus (Pv.1:23-32). A todos quantos endurecerem a sua cerviz, que não atentarem aos chamados do Senhor para arrependimento e melhora dos caminhos, o Senhor não mais ouvirá suas orações e permitirá que sofram as conseqüências de seus desatinos, de sua teimosia, de sua dura cerviz. Como é triste contemplarmos, hoje em dia, pessoas que endurecem seus corações para o Senhor e cujas orações não mais ultrapassam sequer o teto de seus aposentos, isto porque seus corações também não deixaram penetrar a luz da Palavra do Senhor. Tomemos cuidado para que não nos tornemos insensíveis ao Espírito de Deus e, como reação, Deus Se torne insensível ao nosso clamor.
- Por fim, também impedem as nossas orações, como já visto no estudo da oração dominical, a recusa em perdoar ou ser perdoado. A falta de perdão denuncia uma soberba, uma arrogância, um amor de si mesmo que revela o domínio da carne sobre a vida da pessoa e, por isso, não há como Deus ouvir a oração de quem se recusa a ter o amor de Deus em seu coração. Por duas oportunidades, no sermão do monte, Jesus sinaliza que a falta de perdão impede a comunhão com Deus - Mt.5:23,24; 6:12,14.
Colaboração para o Portal EscolaDominical – Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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