Após um bom tempo
estudando o comportamento de pessoas na internet que discutem sobre os mais
diversos assuntos que você possa imaginar – desde política e religião até
futebol e cinema – eu observei duas coisas. A primeira é que, especialmente
aqui no Brasil, dificilmente alguém consegue discutir um assunto
civilizadamente; tudo vira logo uma “briga de bar”, porque são facilmente
fanatizadas por qualquer coisa que seja. E a segunda é que os fanáticos de
qualquer tipo e por qualquer coisa apresentam as mesmas características uns dos
outros. Aqui veremos 14 delas.
1º O fanático se acha o dono da verdade
O fanático não tolera
uma discussão racional porque ele acha que a discussão já foi encerrada antes
de começar, e que o vencedor é obviamente ele. Ele não trabalha com a possibilidade de
estar errado, e por isso tende a ser dogmático, obstinado, autoritário e
pedante. Termos como “provavelmente”, “possivelmente”, “talvez” e o simples
“não sei” jamais sairão de sua boca, porque mesmo nos assuntos que ele não domina
e nem estudou a respeito ele ainda assim pensa que tem a resposta final, como
um gênio da lâmpada mágica. Tudo é tratado em termos absolutos e cabais, e na
cabeça dele quem pensa diferente que ele é, no mínimo, um grande idiota.
2º O fanático tem sempre uma postura agressiva e hostil
Este é um dos traços mais característicos de um fanático: antes que você consiga trocar meia
dúzia de palavras com ele, ele te encherá de palavrões, deboches, ofensas e
ameaças, ainda que você tenha sido gentil e educado com ele. “Respeito” é uma
palavra que não existe em seu dicionário, pelo menos não com quem pensa
diferente dele. Basta se sentir acuado e sem reposta sobre qualquer assunto, e
um festival de ad hominem será
vomitado, junto a todas as táticas de escárnio e intimidação, porque se ele não
consegue ganhar nos argumentos, pelo menos vai pela força.
3º O fanático não tem segurança das próprias crenças
Este é o ponto mais
irônico, pois enquanto a uma primeira vista um fanático aparenta ser alguém
plenamente convencido de tudo aquilo que crê, no fundo ele tem são profundas
dúvidas que inquietam seu coração, as quais guarda apenas para si. É por isso
que precisa apelar aos ataques baixos e às ofensas, numa tentativa de suprir a
falta de argumentos. Como ele não é capaz de sustentar uma discussão no campo
da razão, joga o debate para o mais baixo nível, onde se sente à vontade,
obrigando o oponente a descer ao nível dele (e o debate virar pura baixaria,
como ele quer) ou a abandonar o debate (podendo assim dizer que o oponente
“fugiu” e declarar vitória). Ou seja, o xingamento é uma forma de suprir sua insegurança e compensar sua incapacidade.
É também uma forma de jogar com o emocional do
oponente, pois muita gente não está psicologicamente preparada para lidar com
um nível tão baixo. Só há um motivo por
que pessoas ameaçam outras de morte por dizerem coisas que elas não querem
ouvir: porque aquilo mexeu muito
com
elas. E só mexeu com elas tanto assim porque a crença delas é instável, o
fundamento é
bambo e a convicção é zero. Se elas estivessem seguras do que defendem,
poderiam ouvir qualquer um dizer o que for contra essas coisas que elas
pouco se importariam, mas aquilo mexe tanto com elas que elas acham que
precisam matar o
outro, para que ele pare de falar e assim suas crenças não sejam mais
abaladas.
Por detrás de todo “machão de internet” há um menininho frágil e fraco,
que
precisa apelar a todo tipo de subtefúrgio para se sentir minimamente
seguro.
4º O fanático acha que quem prega o contrário o faz
sempre por maldade
Qualquer pessoa que
critique um fanático será imediatamente taxada de “canalha”, “desonesto”,
“imundo” e etc. Já vimos que o fanático não trabalha com a possibilidade de
estar enganado, mas a coisa é pior do que isso: ele não trabalha nem mesmo com a
possibilidade do seu oponente estar honestamente
enganado. Por isso, todos os que discordam dele só discordam porque são
monstros humanos que querem deliberadamente destruir a civilização. Um fanático
de extrema-esquerda não trabalha com a possibilidade de que os direitistas
sejam de direita porque consideram que o liberalismo econômico é o melhor modo
de gerar riqueza para toda a sociedade; ele só é de direita porque é um “fascista
opressor” que “odeia os pobres” e por isso precisa ser tratado “na ponta do
fuzil”. Da mesma forma, um fanático de extrema-direita não trabalha com a
possibilidade de que um esquerdista seja de esquerda porque na cabeça dele a
ideologia dele é a que mais favorece os pobres; ele só é de esquerda porque
é um “comunista vagabundo” que está ali apenas para roubar o dinheiro público e
para conspirar contra os cristãos.
Certamente há
indivíduos desses dois tipos, mas entre eles há muitos que defendem uma
ideologia errônea apenas e tão-somente porque foram ensinados assim desde
sempre, ou por ingenuidade e ignorância, ou porque não estudaram tanto, ou
simplesmente porque na cabeça deles as explicações apresentadas fazem mais
sentido para o lado deles do que para o outro. Mas o fanático não entende isso,
e por isso trata o diferente como um típico vilão de cinema, contra quem trava
uma cruzada mortal. O fanático é incapaz de um diálogo com quem pensa diferente,
porque acha que quem pensa diferente é alguém que merece ser exterminado. Fanático
não aceita a divergência, não aceita ser contrariado. Por isso você nunca verá
dois fanáticos de pólos diferentes fazendo o crossover que o Pirula e o Yago fizeram no canal deles, porque o
fanático só é capaz de diálogo com quem pensa igual.
5º O fanático tende a seguir gurus com todas as respostas
Independente de qual
fanático você esteja falando, uma coisa você poderá notar: ele nunca será um
“livre pensador”, com uma mente individual e livre, capaz de pensar por si
mesmo e chegar às suas próprias conclusões sem estar condicionado a aceitar o
que algum “guru” diz por aí. Quase sempre pessoas fanáticas formam seu
pensamento a partir do que um ou mais indivíduos disseram a ela, e seguem esses
indivíduos como se fossem Deus, como se estivessem sempre com a razão em tudo, como
estando acima do bem e do mal. E se alguém criticar o guru delas, elas se
sentirão ainda mais ofendidas do que se a ofensa fosse contra elas mesmas.
Uma mente livre tende
a não ser fanática porque entende suas limitações e sabe que ninguém é
perfeito, e assim pode estudar todas as vertentes e autores sem comprar todas
as ideias de alguém em particular. Já uma mente cativa a alguém condiciona seus
pensamentos a essa pessoa, fazendo dela o seu senhor e deus, mesmo quando é um
simples mortal tão falho quanto ela mesma. Também nota-se a extrema facilidade
que é alguém se fanatizar por uma modinha do momento, a respeito da qual ele
estudou pouco ou nada, mas como muitos dos seus amigos aderiram à modinha, ele
entra na modinha também (a hilária “volta da monarquia” é um exemplo perfeito
disso). Tão logo a modinha passe, ele passa a se fanatizar por outra coisa (a
nova modinha, seja ela qual for). É o típico gado que segue o “efeito
manada”, seja em torno de um guru ou de uma modinha (isso quando o próprio guru
não é a própria modinha!).
6º Um fanático está preso numa bolha e é cego ao que
acontece fora dela
Um fanático nunca irá
acompanhar de forma mais ou menos igualitária todos os lados de uma discussão;
em vez disso, ele se fechará em seu casulo e só ouvirá aquilo que lhe convém
(lembre-se que um fanático é no fundo uma pessoa insegura, então precisa do viés de confirmação). Todos
os canais que ele segue no youtube, todas as páginas que ele acompanha no
facebook, e até mesmo todas as suas companhias e amizades (no caso dos
fanáticos que tem alguma) são de dentro dessa “bolha”, ou seja, vem de pessoas
que reproduzem exatamente o mesmo discurso uns dos outros, sobre qualquer
assunto que seja. Tudo o que ele lê, ouve e assiste é aquilo que confirma suas
crenças prévias, que em nenhuma hipótese podem ser desafiadas. Como ele sempre
ouve as mesmas opiniões sobre tudo, considera um tremendo absurdo quando
ocasionalmente ouve alguém dando uma opinião divergente sobre alguma coisa. Ela
se isola completamente, de modo a reforçar o “nós contra eles” (“nós” como
sendo a bolha na qual ele está inserido, e “eles” como todos os outros).
7º O fanático ataca em bando
Um fanático é
geralmente um covarde, e um covarde não tem peito para comprar suas próprias
brigas sozinho. Por isso ele precisa recorrer à tática do “ataque em bando”, convocando
os “companheiros” ou “irmãos de batalha” para atacar, ofender, ameaçar, humilhar,
intimidar e perseguir a vida de quem conflita com ele. Gente assim, se tiver
muitos seguidores, cria uma atmosfera de seita e usa esses seguidores como
massa de manobra para atuar contra seus desafetos, e recorre a essa “milícia
virtual” sempre que lhe convém, na tentativa de calar seus opositores na marra.
Se o fanático em questão for um anônimo qualquer, ele fará toda a questão de ir
ao vídeo ou ao post do guru a quem segue apenas para comentar que o oponente
foi “humilhado” (mesmo sem ter visto o vídeo), e fará o mesmo com o oponente em questão, esculhambando o quanto puder.
8º Um fanático raramente lida com o argumento
O fanático é mestre na
arte de “vencer um debate sem ter a razão”, recorrendo para isso a todas as
estratégias de ataque pessoal, de desmoralização, de assassinato de reputação e
todo o arsenal de falácias e sofismas, mas raramente vai lidar com o argumento
em si, de forma racional e séria. Mesmo que dedique parte da sua fala à
argumentação, ela nunca vai ultrapassar uns 5% do vídeo. O resto será ocupado
com deboche, escárnio, zombaria, palavras chulas, imitaçõezinhas pejorativas e
artifícios de criança de quinta série, que só atraem a atenção de outros
fanáticos como ele, mas que não tem efeito algum em uma discussão de nível
acadêmico.
9º Um fanático nunca admite que está errado
Essa é também uma das
marcas principais, senão a maior: a impossibilidade de assumir um erro. Todo
mundo pode errar, mas ele não. Ele é infalível, ainda que não se defina assim
(embora alguns até se definam...). Mesmo que o erro seja uma coisa escandalosa
e notória, patente e indiscutível, ele ainda assim fará todos os
contorcionismos possíveis para negar que cometeu um erro mesmo. Dirá que era
uma “hipérbole”, ou que “distorceram” suas palavras, ou que “tiraram do
contexto”, ou que para ser mesmo refutado precisa antes refutar
por completo todos os livros que ele já escreveu na vida, e outras manobras do
tipo. É criada toda uma cerca em torno do sujeito, de modo a torná-lo “irrefutável”
aos olhos dos outros. Palavras como “eu errei”, “eu me desculpo” ou “mudei de
opinião sobre isso” são coisas que você raramente ou nunca verá sair de sua
boca. Ele vai insistir até o final, mesmo que implique em negar que a grama é
verde e que a terra gira em torno do sol.
10º Um fanático tem uma necessidade compulsiva em
criticar e contrariar
Às vezes eu posto um
vídeo de uma ou duas horas de duração, e menos de dois minutos depois já tem um
dislike de algum hater. Com o tempo, notei que essa é uma prática habitual de
um fanático: ele nunca espera um vídeo acabar para decidir que ele é ruim; ele
nem mesmo espera o vídeo começar, ele já está tão fanatizado que todas as suas
convicções são pré-concebidas e não tem qualquer interesse em procurar a
verdade, numa atitude típica de torcedor de futebol que já escolheu um time.
Muitas e muitas vezes eu já vi vídeos muito bons com 95% de likes contra 5% de
dislikes, mas então quando ia ler os comentários só tinha gente detonando o
cara (ou seja, só esses 5% é que comentavam).
Como o mesmo padrão é
recorrente em cada vídeo que assisto sobre qualquer tema polêmico, percebi que
quem gosta de um conteúdo tem uma propensão relativamente baixa de manifestar
seu gosto, enquanto em contrapartida o hater tem uma necessidade compulsiva e incontrolável de manifestar abertamente
sua discórdia, ou seja, ele simplesmente não consegue ficar calado. Por isso há
tantos vídeos onde as críticas são completamente desproporcionais ao percentual
de likes/dislikes. Um fanático não suporta ver suas opiniões sendo refutadas em
qualquer lugar que seja; onde ele ver uma coisa dessas, irá imediatamente
partir para o ataque, furiosa e impetuosamente.
11º Um fanático leva tudo aos extremos
Se você observar com
atenção, o discurso de um fanático está sempre cheio de superlativos. Tudo é
dito de forma propositalmente exagerada e ganha proporções abismais, de modo
que mesmo quando ele acerta no conteúdo, erra na dose, pois perdeu o senso de
proporção. Como ele exagera tudo, ele quase certamente estará em algum extremo
da discussão. Por isso dificilmente você se depara com um “católico de IBGE”
fanático, mas encontra muitos tradicionalistas fanáticos. Da mesma forma,
dificilmente você encontra um fanático de centro-esquerda ou de centro-direita,
mas nos extremos fanático é o que não falta, com um discurso explosivo e, acima
de tudo, exagerado. Para o fanático, o seu time é o melhor de todos, só o seu
estilo musical é aceitável, só o seu político de estimação pode salvar o país e
sua igreja é a única verdadeira. Não existem ressalvas, meio-termos, reservas
ou ponderações; é tudo trabalhado na base do 8 ou 80.
No entanto, é
importante destacar que nenhum extremista se vê como um extremista. Até hoje eu
nunca vi ninguém se intitular de “extrema-esquerda” ou de “extrema-direita”
(mesmo quando é o caso). Para o fanático, ele sempre é o “ponderado” e o
extremista é sempre o outro, por isso ele sempre enxerga as coisas nos
extremos. Há alguns dias um leitor do site me disse que o professor dele (um
militante do PSTU, de extrema-esquerda) alegou que “o PT é de direita”. De um
certo modo, ele está certo: como o PSTU é a esquerda mais radical que existe, o
PT está à direita deles. Obviamente,
o PT é um partido assumidamente e universalmente reconhecido como de esquerda,
mas aos olhos de um extremista, qualquer coisa que seja um pouco mais “light” que a visão dele já é taxada para o extremo
oposto.
O mesmo ocorre com
quem está no outro extremo, não sendo poucos os casos de gente que diz que o
PSDB é um “partido comunista”. Até mesmo o Paulo Guedes não escapou da acusação
de “comunista” pelo Paulo Kogos (aquele gordinho doidão que defende o
anarcocapitalismo). O fanatismo político deixa as pessoas míopes a tal ponto
que só conseguem enxergar 8 ou 80. Se alguém é "9" já é o bastante
para ser enquadrado no grupo dos "80" (e para os "80",
qualquer um de 79 pra baixo já é rotulado no grupo dos "8"). Em
síntese: quanto mais fanático alguém é em suas posições, mais ele tende a
enxergar o mundo de uma forma bipolarizada e míope, sem racionalidade ou
imparcialidade.
12º Um fanático é incapaz de pensar, fazer ou falar sobre
outra coisa
Um fanático é um ser
unidimensional. Um fanático sobre futebol só é capaz de assistir coisas sobre
futebol, de falar sobre futebol e de brigar por futebol; um fanático por
política só assiste coisas sobre política, só fala de política e só briga por
política; um fanático religioso só assiste canais religiosos, só fala de
religião e só briga por religião, e assim por diante. Se você conversa com um
fanático sobre qualquer coisa que fuja minimamente da área dele, ele não sabe
desenvolver a conversa nem tem conteúdo pra isso. Um fanático é quase que por
definição um viciado, um bitolado em uma coisa só – aquilo que caracteriza o
seu fanatismo. Não há variedade; sua mente está concentrada em uma única coisa,
e ela irá dedicar toda a sua vida nisso.
13º Um fanático não “constrói”, apenas “destrói”
Há tempos atrás um
fanático religioso decidiu criar um site inteiro só para me atacar
(literalmente, um site inteiro só para isso, com o meu nome de título e tudo).
Isso me levou a pensar que raios passa na cabeça de alguém que decide criar um
site inteiro apenas de ataques pessoais a alguém em específico. Li o tal site
uma vez, e lá ele defendia a matança de mulheres e crianças muçulmanas, o
massacre de ortodoxos gregos e o extermínio de protestantes, e entendi tudo. Um
fanático dificilmente conseguirá construir algo para si próprio porque para
isso seria preciso atrair a atenção de muitos outros fanáticos tão doentes
quanto ele, então para compensar ele tenta derrubar alguém que conseguiu chegar
a algum lugar que ele é incapaz de chegar. É como uma criança que sonha em
construir um castelinho de areia, mas como não consegue, se contenta em
destruir o castelinho da outra criança, e concentra todas suas energias nisso.
Por isso um fanático
nunca dará uma palavra de exortação, edificação ou crescimento espiritual, nem
nada que agregue ou acrescente minimamente a vida de alguém. Tudo o que ele
fará é atacar, atacar e atacar mais ainda a todos que odeia, numa lista que
quase não tem fim. Seu objetivo na vida é assassinar a reputação dos outros,
isso quando não é assassiná-los fisicamente. Não raramente nem ele mesmo
acredita nas aberrações que diz, apenas diz porque quer desesperadamente
destruir alguém, numa necessidade obsessiva e patológica de atacar alguém até o
ponto em que essa pessoa desista de prosseguir, como um alpinista que não
consegue subir uma montanha e então corta a corda do outro alpinista para não ter
o desprazer de vê-lo conseguir o que ele não pôde.
14º Um fanático é alguém consumido pelo ódio
Essa última
característica é de longe a mais notória (e triste) de um fanático: ele é
inteiramente consumido pelo ódio. Naturalmente, todos nós temos momentos de ira
e raiva em nosso cotidiano, mas o fanático vive
permanentemente no ódio, um ódio contínuo e incessante que lhe consome por
dentro, até o ponto de perder a própria humanidade. Ódio é tudo o que tem em
seu coração e que passa pela sua cabeça. Para não pensar que eu estou
exagerando, usarei como exemplo prático e objetivo o mesmo cidadão que criou o
tal blog para me atacar (não se preocupe, eu censurei as palavras mais feias):
Fonte: lucasbanzoli.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário