Certa vez um leitor me perguntou qual época da história da humanidade era a melhor para se viver. Minha resposta foi: século XXI.
Se você parar pra pensar, notará
que nós temos a tendência de supervalorizar o passado e desprezar o presente. O
lema que “antes era melhor”, que “naquela época que era bom” e o saudosismo
pelos “velhos tempos” marcam a nossa mentalidade independentemente do assunto
que estamos lidando. Se é sobre política, “na época da ditadura que era bom”,
ou então “na época da monarquia” (mesmo com a renda per capita de hoje sendo mais
de dez vezes superior que na época da monarquia). Se é sobre futebol, “na
época do Pelé que era bom”, como se na década de 60 e 70 o futebol fosse melhor
jogado, o que o Bruno Formiga já refutou com maestria aqui. E até quando
pensamos na nossa própria vida, costumamos mistificar um passado distante
“perfeito”, mas que na verdade quando o vivíamos sabíamos muito bem que não era
bem assim. Em suma, estamos sempre tentando idealizar o passado, e, consequentemente,
desprezar o presente.
Para os católicos tridentinos,
por exemplo, a Idade Média é esse “tempo ideal”, quando a Igreja Romana
dominava tudo, quando praticamente todo o mundo ocidental era católico, e
quando a influência da Igreja era infinitamente maior do que nos dias de hoje
(a ponto de deixar um imperador por três dias na neve implorando o perdão do
papa para poder voltar a reinar, ou chegando a convocar a Europa
inteira para uma cruzada suicida contra os “infiéis” no outro lado do mundo, e eles iam mesmo).
Para esse tipo de gente fanática, o mundo seria muito melhor se todos fossem
católicos e se a Igreja tivesse um poder temporal enorme, e como isso de fato já foi a realidade por algum tempo, é
esse o tempo tido como o “ideal”, a “idade do ouro” dos tridentinos.
Um de meus livros de história
favoritos é o “A Idade Média: a cavalaria e as cruzadas”, de Ivan Lins (um
historiador brasileiro que escreveu na década de 30). Nessa época o catolicismo
romano era muito mais forte do que é hoje, e mesmo com o Estado sendo laico,
quem ousasse dar uma opinião que divergisse da religião predominante sofria
pressão e ataques de todos os tipos. Em uma de suas palestras sobre a Idade
Média, onde não diz nada de mais além da verdade, sem nenhum ataque à Igreja, mas
apenas por narrar as coisas tal como eram, foi atacado por um grupo de
militantes católicos que, aos gritos, o impediram de continuar a conferência.
No dia seguinte, Lins ainda foi atacado por vários jornais, entre eles um que
nos serve de exemplo de pensamento saudosista medievalista:
Qualquer homem que tenha na cabeça a
mais ligeira noção de História julga, da melhor maneira, a Idade Média, onde se
desenvolveu a mais harmônica e a mais espiritual de todas as sociedades
humanas. Bastaria lembrar que a Idade Média criou a sociedade humana que mais
profundamente viveu de acordo com os princípios do Cristianismo. Sobre a Idade
Média já está portanto lavrado o parecer da História: foi uma época de cultura,
de civilização, de clima espiritual e religioso. Uma época feliz, por
consequência. E quem será o senhor Ivan Lins que ousa, tão levianamente,
afirmar o contrário? Um pobre diabo, não tenhamos dúvida![1]
A verdade é que a Idade Média
tão estimada pelos católicos saudosistas era um período bem diferente do que
eles imaginam. Para que ninguém me acuse de estar usando uma fonte
“anti-católica” que tem por intuito “difamar a Igreja”, usarei aqui apenas o
livro “A Inquisição em seu Mundo”, do propagandista católico João Bernardino
Gonzaga, muito citado pelos papistas (a maioria dos quais jamais o leu). Um
autor que tem como única finalidade defender a Inquisição a fim de defender a
Igreja Romana deve ser um autor insuspeito (se ele não for, não sei quem
seria). Pois bem: segundo Gonzaga, na Idade Média “por
toda parte torturavam-se normalmente os acusados e, às vezes, também as
testemunhas não merecedoras de fé. Em França, as Ordenações de 1254 e todas as
subsequentes adotaram oficialmente a questão, ou interrogatório com tormentos”[2].
As ruas das cidades eram “sombrias e imundas, com os esgotos correndo a céu
aberto. Nelas os moradores dás casas jogavam seus dejetos, o lixo, as sobras da
cozinha, formando-se uma massa de podridão, revolvida pelos cães, gatos, porcos
e ratos que infestavam a cidade. O mau cheiro se espalhava por toda parte; as
enfermidades endêmicas e epidêmicas tinham livre curso, varrendo famílias
inteiras”[3].
O homem que cometesse adultério era punido com a morte, mas se este homem fosse
rico (da nobreza) não acontecia rigorosamente nada[4].
Gonzaga diz ainda que “um banal furto ou até mesmo uma simples tentativa de
furto bastavam para que se impusesse ao seu autor, pelo resto da vida, o
trabalho escravo ou o envio às colônias”[5].
Além disso, ele afirma que “houve estatutos locais
que chegaram ao extremo de castigar inclusive o trabalho exercido por alguém
nos dias santos e a violação dos deveres de jejum e abstinência”[6].
Não podemos nos esquecer dos massacres cometidos contra os judeus, que eram
exterminados pela única razão de serem considerados “inimigos de Cristo” (por
terem crucificado Jesus há milhares de anos). Sobre isso, Gonzaga escreve:
A margem desse movimento [das
cruzadas], ocorre porém a ideia de que, em vez de ir tão longe em busca dos
inimigos de Cristo, melhor seria ocupar-se daqueles que na Europa viviam,
infiltrados nas suas terras. Em consequência, bandos armados se alastram pelo
continente, para saquear e exterminar os judeus. A matança foi tremenda.
Começou na França, passou à Alemanha, onde lavrou longa e duramente, chegou até
Praga e somente se foi diluir no território húngaro. Durante muito tempo essas
hordas de ‘cruzados’ irregulares submeteram as populações judaicas a imenso
banho de sangue, com muitos milhares de mortos.[7]
A condição de vida dos cidadãos
comuns (católicos) também era horrível. Ele escreve:
Em sua maioria os habitantes
apresentavam-se mal alimentados, de saúde medíocre e vida curta. Viviam 20 a 25
anos, em média. A metade das crianças morria antes de completar um ano. Os
sobreviventes morriam amiúde entre os 30 e os 40 anos. Mesmo os que se nutriam
melhor, reis, grãos-senhores, grandes burgueses, desapareciam comumente entre
48 e 56 anos. Entretanto, essa população não é jovem, pois as criaturas
envelhecem depressa. Depois dos 40 anos, um homem é um velho caduco. Nas regiões
pobres, camponesas de 30 anos parecem anciãs enrugadas e encurvadas. O número
de habitantes conserva-se em nível pouco elevado, pois, quando sobe, diminui a
quantidade de alimentos per capita e aumenta a mortalidade.[8]
Com uma expectativa de vida tão
baixa, não é de se surpreender que a mortalidade infantil fosse incomparavelmente
maior que nos dias atuais. Sobre isso, Gonzaga comenta:
A mortalidade infantil era enorme
inclusive nas classes superiores. A História registra incontáveis filhos de
nobres e até mesmo de reis que faleceram ao nascer ou muito jovens. As famílias
eram muito numerosas, e facilmente chegavam a ter mais de vinte filhos.
Portanto, não fosse o forte índice de mortalidade, calcula-se que as populações
dobrariam a cada vinte e cinco anos. Com muita frequência as mulheres morriam
durante o parto.[9]
Era essa a suposta “mais
harmônica e a mais espiritual de todas as sociedades humanas”, nas palavras não
de um iluminista, nem de um protestante ou de um não-católico ou anti-católico
qualquer, mas de um proselitista católico fanático e ferrenho. Gonzaga não
disse, mas a imoralidade na Idade Média era também muito maior do que
costumamos pensar. Em plena Roma papal, no berço da Igreja Romana, a cidade era
o maior centro de prostituição do planeta. Com uma população de 100.000 pessoas,
a inícios do século XVI, Roma contava com nada a menos que 6.000 prostitutas, muito
mais em proporção do que há hoje nas cidades da Europa em que mais há
prostituição no mundo atual[10].
Talvez você esteja tentado a
pensar que este era um problema somente dos leigos, e que no clero a situação
era bem diferente. E há alguma razão em se pensar assim, porque era diferente
mesmo: mas pra pior. Erasmo dizia que
os monastérios de seu tempo eram piores que os prostíbulos[11],
e um exemplo disso foi o Concílio de Constança (1414-1418), um dos concílios
ecumênicos da Igreja Romana, no qual 700 prostitutas atenderam sexualmente os
bispos que ali participavam[12]. Era
comum a sugestão de que, quanto mais perto se chegava de Roma, tanto piores
eram os cristãos, e de que tudo estava à venda em Roma. Expressavam-se a
ambição e a avareza dos papas renascentistas fazendo com que as primeiras
letras do ditado “a avareza é a raiz de todos os males” fosse soletrada como
‘Roma’ (Radix Omnia Malorum Avaritia = ROMA)[13].
A verdade é que a esmagadora
maioria desses saudosistas da Idade Média não conseguiria viver uma semana
neste mundo se conseguissem voltar por uma máquina do tempo, e tudo o que
fariam seria implorar para voltar ao século XXI, com todos os benefícios que
temos aqui – benefícios esses adquiridos em grande parte porque nos
distanciamos bastante do modelo que essa gente quer voltar a implementar no
mundo. Diante disso, não poderia deixar de passar a introdução do livro de
Lins, que, ainda na década de 30, já explanava este conceito:
A nossa época é frequentemente
malsinada pelos espíritos que procuram enxergar no passado radiosas idades de
ouro. Para tais saudosistas, o largo período histórico que se designa com o
nome de Idade Média brilha com os encantos de uma era maravilhosa. Ivan Lins
reduz esse conceito à realidade, e é consolador vermos, em suas páginas, que,
não obstante todas as crueldades atuais, a época em que vivemos é ainda uma das
mais doces e amáveis da história. Também será agradável às mulheres a leitura
desse livro. Nas páginas de Ivan Lins poderão elas verificar o que de
grosseiro, de violento e muita vez de triste, havia no viver das mulheres
medievais, e poderão também sentir quanto a civilização cobriu de veludos a
vida para elas.[14]
Aqui eu não teria tempo de falar
sobre Inquisição, cruzadas, caça às bruxas, extermínio dos índios pelos
espanhois, massacres sistemáticos de judeus, de albigenses, de valdenses e dos
boêmios, da proibição à liberdade de consciência, às liberdades individuais, à
liberdade de imprensa e à liberdade de expressão, sobre as guerras religiosas
causadas por Roma (às
vezes contra outros povos católicos) e outros trocentos temas. Muitos
historiadores eram levados a detestar a Idade Média por essas razões e a
apelidaram de “Idade das trevas”, por superestimarem o período anterior (a
Antiguidade clássica), em grande parte devido à cultura romana e à filosofia
grega. Mas este é um erro ainda mais grosseiro, pelo simples fato de que a
moral na Antiguidade em geral era tão degradante quanto, ou muito pior que a
medieval.
Lins afirma que não há “nada mais subalterno, entre os antigos, do que o papel
das mulheres: meras máquinas de procriar, sem que merecessem o menor apreço
quer sob o prisma intelectual, quer mesmo sob o aspecto afetivo, achando-se, no
direito romano, compreendidas na classe das coisas”[15].
O censor Cecílio Metelo, cognominado o Numídico, no século II, afirmava que “se a natureza tivesse sido bastante benfazeja para
dar-nos a existência sem as mulheres, ficaríamos livres de uma companhia
extremamente importuna”[16].
Talvez você esteja propenso a
pensar que os grandes filósofos gregos escaparam a esse tipo de misoginia, mas está
errado. Platão sustentava que as almas dos homens deveriam ser punidas na
próxima reencarnação encarnando-se numa mulher, e depois em um animal[17].
Aristóteles, por sua vez, considerava a mulher um intermediário entre o homem e
o animal, e sustentava que algumas pessoas são “escravas por natureza”,
oferecendo uma justificativa moral para a escravidão de seres tidos como
“inferiores”. Mesmo quando ele listava as virtudes, a compaixão não aparecia na
lista, e o que mais chegava perto disso era a “pena”, que era classificada nos vícios, e não nas virtudes.
Os espartanos pegavam seu sexto
filho e o deixavam nas colinas, para achá-lo morto na manhã seguinte (e no
inverno). Em muitas partes do mundo, o canibalismo era normal, assim como o
sacrifício de crianças. Ao mesmo tempo, tendiam a ler legalistas, sendo que na
Roma antiga não havia a liberdade que temos hoje para uma série de coisas
consideradas normais entre nós:
Os romanos – atesta Plutarco em a Vida de Catão, o Antigo – não
acreditavam que se devesse deixar, a cada cidadão, a liberdade de casar-se, ter
filhos, escolher um gênero de vida, dar festins ao capricho de sua fantasia,
sem submeter-se a nenhum julgamento e fiscalização. E, realmente, em Roma, o
censor fazia regulamentos sobre o luxo e as despesas dos cidadãos, a maneira
pela qual se deviam vestir, lançando impostos sobre os celibatários, proibindo
vinho às mulheres, etc. Manílio, já designado cônsul pelo povo, foi, por Catão,
expulso do Senado, visto haver beijado sua mulher em pleno dia, perante uma de
suas filhas. Rufino, antigo ditador e duas vezes cônsul, foi, segundo narra
Tito Lívio, excluído do Senado por possuir uma baixela de prata, e Valério
Máximo registra o caso de Durônio, o qual incorreu na mesma pena visto haver
revogado, quando tribuno do povo, uma lei contra o luxo das refeições. Em
Esparta costumavam os éforos, conforme conta Plutarco, determinar que fossem os
bigodes raspados, havendo regulamentos até sobre o peso dos cidadãos.[18]
Esse era o mundo pré-medieval,
que também deveria ser considerado uma “idade das trevas” sob a perspectiva do
mundo moderno, usando-se da mesma ótica daqueles que entendem a Idade Média
desta maneira. E quando eu falo em “mundo moderno” eu não estou me referindo ao
período de tempo que os historiadores classificam como “Idade Moderna”, que vai
desde a Queda de Constantinopla em 1453 a Revolução Francesa de 1789. Este
período também é um tempo marcado por um barbarismo quase igualável ao dos
períodos anteriores, com guerras que chegaram a exterminar um terço da
Alemanha, com perseguições religiosas e o restabelecimento da Inquisição na
Espanha, em Portugal e em Roma, com massacres como o da Noite de São
Bartolomeu, com a escravidão, o racismo e o segregacionismo, e com uma
expectativa de vida que permanecia insignificante. O mundo vai dar um salto
adiante e um progresso causado pelo advento do protestantismo, mas isso só é
sentido nos países protestantes, minoria na Europa, e mesmo assim de uma forma
relativa, pois mesmo o que era considerado “rico” para os padrões antigos podia
não ser muita coisa para o padrão moderno.
Os
próprios benefícios trazidos
pela Reforma são mais perceptíveis através de dois fenômenos que ela
ajudou a
causar: a revolução científica do século XVI e a revolução industrial do
século
XVIII. O mundo começa a descobrir a cura para doenças que antes eram
tratadas
na base da superstição e misticismo, o Universo é descortinado como
nunca
antes, a população global que durante milênios se manteve relativamente
estável
na faixa de algumas centenas de milhões de pessoas começa a disparar
como
resultado das melhores condições de vida, as pessoas vivem mais e com
mais
qualidade, a pobreza vai diminuindo, a tecnologia bate às portas, temos
saneamento básico na maior parte das cidades, os
prostíbulos se reduzem, a escravidão é abolida, a servidão é superada, a
república surge, as mulheres têm direito ao voto, a imprensa é livre, as
fogueiras se apagam, a diplomacia aparece em lugar do fogo e ferro,
temos
internet cada vez mais acessível a todos, a informação e o conhecimento
são cada vez mais disseminados e livres, e a democracia finalmente
mostra o
rosto projetado superficialmente desde a Grécia antiga.
É claro que isso não significa
uma mudança contínua, linear e perfeita. A primeira metade do século XX é o
século das duas grandes guerras, da carnificina dos regimes comunistas, do
nazismo e do fascismo, e na segunda metade aparece a ideologia de gênero, a
sexualização de mulheres produzida pela mídia, o terrorismo islâmico, o apartheid,
o genocídio de Ruanda, o crescimento do ateísmo. O mundo não evolui de uma
forma linear, mas com altos e baixos que no final nos fazem aprender com os
erros do passado e a lidar com nossos problemas atuais. Mas em termos de
liberdade, conforto e de relativa paz, vivemos em uma época altamente
privilegiada na história do mundo, superior a qual não temos registro.
O mundo como está hoje pode ser
considerado ruim, mas nunca houve um tempo na história em que não fosse pior.
Na época dos apóstolos João dizia que "o mundo
jaz no maligno" (1Jo 5:19), a moralidade do mundo greco-romano era
uma moral escravista, misógina e de desprezo pela vida humana, e a quantidade
de cristãos no mundo era absolutamente irrisória e insignificante. O mundo nos
"persegue" hoje no sentido de discordar das nossas crenças, mas
perseguia aos cristãos antigos com o ferro e o fogo, e o martírio era o destino
de grande parte do povo de Deus durante muitos séculos (ainda é hoje em alguns
países muçulmanos principalmente, mas essa não é a nossa realidade no Ocidente,
pelo menos não ainda).
Pode ser difícil conviver na
nossa era com pessoas intolerantes e ignorantes, mas eu prefiro isso mil vezes a
viver na época da Reforma, quando ser um cristão verdadeiro implicava em estar
constantemente em perigo de ser queimado nas fogueiras de uma "Santa"
Inquisição, ou de ser alvo de massacres sistemáticos, pogroms e chacinas em um
mundo que além do mais era muito mais propenso à guerra do que é hoje (essa
coisa da "Europa em paz" entre todos os países e se reunindo em
cúpulas internacionais para tratar de assuntos políticos era absolutamente
impensável para a Europa da época que vivia em guerras infindáveis país contra
país, onde os nacionalismos eram o que mais predominava e importava). A América
também não anda nada bem, mas não andava melhor na época em que chacinaram 25
milhões de nativos indígenas no Novo Mundo, ou quando esses mesmos nativos
ofereciam seus filhos em sacrifício aos seus deuses, ou quando era imposta uma
religião do Estado restringindo a liberdade de consciência de todos os demais,
ou quando era um crime expressar uma opinião diferente do Estado ou da religião
do Estado.
Vivemos em um mundo cheio de
pestes, mas não com pestes que tirem a vida de 1/3 da população da Europa
inteira, como a Peste Negra, ou que seja tratada na base da chacina de judeus
acusados de “envenenar os poços”, ou que seja combatida com superstições
idólatras em vez de com antídotos e remédios. Vivemos em um mundo de guerras, mas não de
guerras que tirem a vida de quase a metade da Alemanha inteira, como na Guerra
dos Trinta Anos. Vivemos em um mundo imoral, mas não em um em que 6% da
população romana era de prostitutas, em plena Idade Média, e em que chamavam
200 prostitutas para atender sexualmente os bispos que participavam de um
concílio "ecumênico".
Vivemos em um mundo cheio de
mortes, mas não em um em que a estimativa de vida do cidadão médio da época
girava em torno dos 20 a 25 anos, e onde chegar aos 40 era ser um “velho
caduco”. Vivemos em um mundo onde muita gente trabalha duro pra sobreviver, mas
não em um com escravos sem direitos perante a lei, que podiam levar quantas
chibatadas o senhor quisesse e cuja própria vida estivesse na mão de seu
proprietário, para dela dispor ao seu bel-prazer (inclusive para tirá-la
impunemente). Vivemos em um mundo onde somos atacados e até ridicularizados por
expressar nossa opinião, mas que dificilmente iremos pagar com a vida por causa
disso.
Vivemos em um mundo repleto de charlatões, mas não em um em que a grande massa popular acredita piamente em "relíquias" como a asa de Miguel, o dedo do soldado Malco, a barba de Noé, os (milhares de) pedaços da cruz de Cristo, as várias cabeças de João Batista e até o leite das mamas da virgem Maria. Vivemos em um mundo com muito menos mortalidade infantil, com condições de saneamento e higiene infinitamente melhores (pelo menos no Palácio de Versalhes já não fazem as fezes nos corredores), com uma liberdade de imprensa que nunca antes foi vista (onde a própria ideia do Índex já seria ridicularizada e condenada a priori), e em que a ideia de um “papa que manda no imperador”, de um “faraó divino Filho de Rá” ou de um rei que exige adoração como um deus sob pena de morte seria tratada de forma cômica, mas jamais levada a sério, como o eram nos tempos antigos.
Vivemos em um mundo repleto de charlatões, mas não em um em que a grande massa popular acredita piamente em "relíquias" como a asa de Miguel, o dedo do soldado Malco, a barba de Noé, os (milhares de) pedaços da cruz de Cristo, as várias cabeças de João Batista e até o leite das mamas da virgem Maria. Vivemos em um mundo com muito menos mortalidade infantil, com condições de saneamento e higiene infinitamente melhores (pelo menos no Palácio de Versalhes já não fazem as fezes nos corredores), com uma liberdade de imprensa que nunca antes foi vista (onde a própria ideia do Índex já seria ridicularizada e condenada a priori), e em que a ideia de um “papa que manda no imperador”, de um “faraó divino Filho de Rá” ou de um rei que exige adoração como um deus sob pena de morte seria tratada de forma cômica, mas jamais levada a sério, como o eram nos tempos antigos.
Este artigo não tem a finalidade
de fazê-lo gostar do mundo que vive ou da era que vive, porque nosso propósito
como cristãos não é de nos conformarmos com este século, mas de transformá-lo à
imagem de Cristo, o que claramente ainda não foi alcançado. Mas serve para
evitar saudosismos supérfluos que no final não ajudarão em nada, exceto a
contribuir para a volta de um sistema que não deu certo em um mundo que precisa
aprender com o passado não para voltar nele, mas para construir um futuro
melhor.
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Fonte: lucasbanzoli.com
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