Apesar de a
Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) hoje defender a doutrina da Trindade
(ainda que de maneira um tanto polêmica), esse nem sempre foi o caso. Qualquer
um que se dedique ao estudo da história da IASD há de concluir que os pioneiros
do movimento assumiam uma posição ariana ou semi-ariana. A visão de Cristo que
os autores adventistas tinham durante esses anos era a de que houve um tempo em
que Cristo não existia, que Sua divindade foi delegada e que, portanto, Ele é
inferior ao Pai. Em relação ao Espírito Santo, a posição deles era que Ele não
era o terceiro membro da Trindade, mas a “força” de Deus.
Isso é
reconhecido não somente pelos críticos da organização, mas também por parte de
seus membros. De fato, a maioria dos documentos que iremos citar são fornecidos
gratuitamente por sites oficiais da IASD. Atualmente, vários autores
adventistas, que se opõem à doutrina da Trindade, estão tentando ressuscitar os
pontos de vista dos pioneiros nessas questões. Eles estão exortando a IASD a abandonar
a “doutrina romana” da Trindade e a aceitar novamente a posição semi-ariana dos
pioneiros. Um conflito que nós, protestantes, só podemos observar de fora.
Dois dos
principais fundadores da Igreja Adventista do Sétimo dia, Joseph Bates e James
White (não confundir com o pastor batista reformado de mesmo nome),
foram originalmente membros da igreja Christian Connection que rejeitava a
doutrina da Trindade. Quando os dois se juntaram ao Movimento do Advento, eles
continuaram a manter a visão antitrinitária que tinham aprendido na igreja
Christian Connection.
A posição
dos pioneiros
Em 1855,
James White publicou um artigo no “Review and Herald” intitulado “Pregue
a Palavra”. Ao lidar com a declaração de Paulo em 2 Timóteo 4:4 sobre fábulas, ele
escreveu o que considerava como fábulas cridas por católicos e/ou protestantes:
A expressão do Apóstolo, “eles darão ouvido às
fábulas”, é digna de atenção especial. Observaremos brevemente algumas das
fábulas populares de nossa época:
1. A conversão do mundo e mil anos de paz e
santidade antes da segunda vinda de Cristo. […]
2. O Segundo Advento espiritual. A maioria dos pregadores religiosos afirma que o segundo advento de Cristo acontece na morte, ou na conversão. […]
3. A herança dos santos dada “além dos limites do tempo e do espaço”, em vez de uma terra tornada nova. […]
4. A imortalidade da alma. […] A fábula pagã e papal da imortalidade natural faz da morte, o último inimigo do homem, um portão para alegrias infinitas, e torna a ressurreição uma coisa de pouca importância. É a base do espiritualismo moderno. Aqui também podemos mencionar a Trindade, que acaba com a personalidade de Deus e de seu Filho Jesus Cristo, os atos de aspersão ao invés do “sepultamento com Cristo no batismo”; mas passamos dessas fábulas para notar uma que é afirmada por quase todos os cristãos professos, tanto católicos como protestantes. Esta é:
5. A mudança do Sábado do quarto mandamento do sétimo para o primeiro dia da semana.
[Review and Herald, Dec. 11, 1855, p. 85]
2. O Segundo Advento espiritual. A maioria dos pregadores religiosos afirma que o segundo advento de Cristo acontece na morte, ou na conversão. […]
3. A herança dos santos dada “além dos limites do tempo e do espaço”, em vez de uma terra tornada nova. […]
4. A imortalidade da alma. […] A fábula pagã e papal da imortalidade natural faz da morte, o último inimigo do homem, um portão para alegrias infinitas, e torna a ressurreição uma coisa de pouca importância. É a base do espiritualismo moderno. Aqui também podemos mencionar a Trindade, que acaba com a personalidade de Deus e de seu Filho Jesus Cristo, os atos de aspersão ao invés do “sepultamento com Cristo no batismo”; mas passamos dessas fábulas para notar uma que é afirmada por quase todos os cristãos professos, tanto católicos como protestantes. Esta é:
5. A mudança do Sábado do quarto mandamento do sétimo para o primeiro dia da semana.
[Review and Herald, Dec. 11, 1855, p. 85]
Joseph Bates
escreveu em 1868:
Mas eles abraçavam alguns pontos na fé que eu
não conseguia entender. Nomearei apenas dois: o modo de batismo e a
doutrina da trindade. Meu pai, que tinha sido um diácono há muito tempo
com eles, esforçou-se para convencer-me de que eles estavam certos tratando-se
de doutrina. Eu o informei que minha mente estava perturbada em relação ao
batismo. Ele disse: “Batizei a você quando criança”.
Respondi: […] A Bíblia nos
ensina que devemos primeiro acreditar e então ser batizados (Marcos 16:16; 1
Pedro 3:21), eu não era capaz de acreditar quando era criança. Em relação à
trindade, achei que era impossível para mim acreditar que o Senhor Jesus
Cristo, o Filho do Pai, era também o Deus Todo-Poderoso, o Pai, um e o mesmo
ser. Eu disse ao meu pai: “Se você puder me convencer de que somos um
nesse sentido, que você é meu pai e eu, seu filho e também que eu sou seu pai e
você meu filho, então eu posso acreditar na trindade“.
[Autobiografia, Battle Creek, 1868, 205]
[Autobiografia, Battle Creek, 1868, 205]
Outros
adventistas proeminentes se manifestaram contra a Trindade. Entre eles J. N.
Loughborough:
PERGUNTA 1. Que objeção séria existe à doutrina
da Trindade?
Resposta: Há muitas objeções que podemos exortar,
mas, devido ao nosso limitado espaço, as reduziremos às três seguintes: 1. É
contrária ao senso comum. 2. É contrária às Escrituras. 3. Sua
origem é pagã e fabulosa.
R.F.
Cottrell:
Afirmar a doutrina da trindade não é tanto uma
evidência de intenção maligna, mas sim de intoxicação daquele vinho do qual
todas as nações beberam. O fato de que esta era uma das principais doutrinas,
se não a central, sobre a qual o bispo de Roma foi exaltado ao papado, não diz
muito a seu favor.
J.N. Andrews
tentando adivinhar a identidade de Melquisedeque, escreve:
Todos os membros da família humana, exceto Adão,
tiveram pais e todos tiveram um começo de dias; e de fato, com duas exceções
[Enoque e Elias], cada um teve fim. Até mesmo os anjos de Deus tiveram
primeiros dias, de modo que seriam tão excluídos dessa linguagem quanto os
membros da família humana. E quanto ao Filho de Deus, ele seria excluído
também, pois ele tinha Deus como Pai e, em algum momento na eternidade
passada, teve um início de dias.
Na edição de
1865 do livro “Thoughts, Critical and Practical, on the Book of Revelation“,
Uriah Smith chama Cristo de “o primeiro ser criado” (para conferir, clique aqui). No
entanto, há evidências de que mais tarde ele mudaria sua opinião (o que não
quer dizer que ele havia se tornado um trinitariano). De fato, na edição de
1881, página 74, do mesmo
livro ele escreveu:
Outros, no entanto, […] entendem que Cristo é o
agente por meio do qual Deus criou todas as coisas, mas que ele mesmo veio a
existir de uma maneira diferente, pois é chamado de “unigênito” do Pai.
Pareceria muito inapropriado aplicar essa expressão a um ser criado no sentido
ordinário do termo.
Os pioneiros
claramente tinham opiniões arianas ou semi-arianas em relação à pessoa de
Cristo. Eles entendiam as expressões “primogênito sobre toda a criação” (Cl
1:15) e “Filho unigênito” (João 3:16) em um sentido literal. O Pai, portanto, era
o primeiro e superior, e o Filho, que teve um começo na eternidade, estava
subordinado ao Pai. Um corolário dessa visão era a crença de que o Espírito
Santo é uma influência ou o poder de Deus, mas não uma pessoa.
A confusa
posição primitiva de Ellen White
Ao descrever
a queda de Satanás, ela escreveu:
Lúcifer, no Céu, antes de sua rebelião foi um
elevado e exaltado anjo, o primeiro em honra depois do amado Filho de Deus. Seu
semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. A testa era
alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, o porte
nobre e majestoso. Uma luz especial resplandecia de seu semblante e brilhava ao
seu redor, mais viva do que ao redor dos outros anjos; todavia, Cristo, o amado
Filho de Deus, tinha preeminência sobre todo o exército angelical. Ele era um
com o Pai, antes que os anjos fossem criados. Lúcifer invejou a Cristo, e
gradualmente pretendeu o comando que pertencia unicamente a Cristo.
O grande Criador convocou os exércitos celestiais para,
na presença de todos os anjos, conferir honra especial a Seu Filho. O Filho estava assentado no trono com o Pai, e a multidão celestial de
santos anjos reunida ao redor. O Pai então fez saber que, por Sua própria
decisão, Cristo, Seu Filho, devia ser considerado igual a Ele, assim que em
qualquer lugar que estivesse presente Seu Filho, isto valeria pela Sua própria
presença. A palavra do Filho devia ser obedecida tão prontamente como a palavra
do Pai. Seu Filho foi por Ele investido com autoridade para comandar os
exércitos celestiais. Especialmente devia Seu Filho trabalhar em união com Ele
na projetada criação da Terra e de cada ser vivente que devia existir sobre
ela. O Filho levaria a cabo Sua vontade e Seus propósitos, mas nada faria por
Si mesmo. A vontade do Pai seria realizada nele.
O relato
contado por Ellen White parece indicar que depois que os anjos foram criados,
eles não sabiam ou reconheciam Cristo como igual ao Pai e foi necessário um “conselho
celestial” especial para informá-los disso. Apesar disso, mais tarde ela
parece assumir uma posição mais isenta (ainda que sugira uma espécie de posição
trinitariana).
Pergunta
para reflexão
Com essa
coleção de dados, surge uma pergunta que tem relação direta com os diferenciais
da IASD e como, supostamente, ela seria o “remanescente fiel” profetizado nos
livros de Daniel e Apocalipse:
- Pode um grupo com raízes heréticas ter
entendido melhor o sacerdócio de Cristo do que a Igreja que sempre
confessou Sua divindade e eternidade?
Em minha
humilde opinião, não. Do arianismo não sai nada de piedoso. E a doutrina
adventista do “Juízo Investigativo” é só mais um exemplo.
Autor: Erving Ximendes
Fonte: https://olhaievivei.wordpress.com
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