Se você já
se deparou com alguém “evangelizando” pelas ruas e pedindo para que tão somente
as pessoas recitem uma oração já preparada em seu panfleto e assim garantam sua
salvação, então você já teve contato com a falsa doutrina da “Graça Livre“.
Nos últimos anos essa posição se tornou bem conhecida devido à influência de
gente como John R. Rice, Jack Hyles, Charles Stanley e Zane Hodges. Essas
pessoas tentam passar a aparência de que promovem uma espécie de posição de “Sola
Gratia“. Apesar do nome, a questão é que elas não poderiam estar mais
distantes disso. Após um exame minucioso, é fácil descobrir que o grupo troca
livremente a palavra ”graça” por “fé” como se estivessem falando exatamente da
mesma coisa. Deixe-me explicar… apesar de a posição da “Graça Livre”
parecer tentar admiravelmente proteger a doutrina da “justificação somente por
meio da fé”, no processo ela acaba deixando de lado a doutrina bíblica da
“salvação somente pela graça”. Para surpresa de absolutamente ninguém, essas
pessoas se posicionam firmemente contra o conceito de regeneração monergista. E
isso está intimamente relacionado ao tópico em questão. Elas rejeitam todas as
evidências bíblicas que sugerem que a regeneração precede a fé.
Em vez disso, eles veem a fé como algo que devem contribuir para o preço de sua
salvação. Então, embora pareçam estar promovendo uma posição de “Graça Livre“,
o fato é que eles não acreditam que a fé surge como um dom de Deus. Se esse é o
caso, a salvação não é somente por graça e somente por meio da fé, mas por “graça
+ fé“. Então, ao final das contas, essa teologia acaba sendo
autodestrutiva. Charles Spurgeon certa vez disse:
Lembrem-se disso ou poderão cair no erro de fixar
tanto a vossa mente na fé, que é o canal da salvação, a ponto de esquecer que a
graça é fonte até da própria fé. A fé é a obra da graça de Deus em nós.
“Ninguém pode vir a mim”, diz Jesus,” a menos que o Pai, o qual me
enviou, o atrair”. A Graça é a primeira e última causa da salvação; e a fé,
essencial como seja, é apenas uma parte importante do mecanismo que a graça
emprega. Somos salvos “por meio da fé”, mas a salvação é “pela graça”.
Acreditem
essas pessoas ou não, é a posição reformada que na verdade abraça uma real Graça
Livre (e sem aspas). Isto é porque Deus tanto inicia quando nos dá uma
nova vida PARA QUE NÓS POSSAMOS acreditar. Essa nova disposição é o que
nos leva ao arrependimento. O arrependimento é necessário para nossa salvação …
o próprio evangelho claramente e sem ambiguidade diz isso… isso não é um
acréscimo. Mas, é preciso dizer, esse arrependimento certamente não vem da
nossa própria habilidade intrínseca natural. A graça de Deus é o que nos
permite fazer isso. Se olharmos para 2
Timóteo 2:25, fala de como os crentes devem responder às pessoas que
se opõem ao evangelho e o que Deus pode fazer por eles: “Instruindo com
mansidão os que resistem, a ver se porventura DEUS LHE DARÁ ARREPENDIMENTO para
conhecerem a verdade“.
Em outras
palavras, o arrependimento é algo que é concedido por Deus – o resultado que
naturalmente procede do fato de Deus ter aberto os nossos olhos e nos mostrado
a nossa necessidade de Cristo à luz de Sua santidade, beleza e excelência. Um
homem não regenerado não pode apreender tais verdades espirituais (1
Coríntios 2:14). Quando 2
Timóteo 2:25 diz que a ação da graça de Deus os leva a “um
conhecimento da verdade“, isso está se referindo claramente à salvação. Não
é algo que surge a partir de nós mesmos em nossas naturezas não-regeneradas. E
no que consiste esse arrependimento? Primeiro, é um arrependimento de toda
confiança que colocamos em nossa própria capacidade de nos salvar. Isto é,
um arrependimento completo da confiança que colocávamos em nossas “boas” obras.
É um completo e humilde reconhecimento que parte do Espírito Santo de que somos
espiritualmente impotentes. Em seguida, devido ao fato de a regeneração ter
iluminado nossa compreensão espiritual, circuncidado o nosso coração, curado nossos
ouvidos surdos, aberto nossos olhos espirituais e implantado novas afeições,
portanto, agora amamos a Deus mais do que amávamos ao pecado antes. Deus opera
o arrependimento em nós, pois o objeto de nossas afeições foi mudado. Ninguém
diz que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo. Então isso significa que não
queremos mais viver um estilo de vida de pecado ininterrupto. O poder do
pecado foi quebrado. Aqueles que continuam em um estilo de vida de pecado podem
realmente não ter garantia alguma de sua salvação. As pessoas que negam a
precedência da regeneração em relação a fé estão promovendo a perigosa teologia
antinomiana que parece sustentar uma versão corrompida da doutrina da Eterna
Segurança. Esse grupo abraça o conceito de que qualquer pessoa que já tenha
repetido a oração do pecador numa tarde de evangelismo provavelmente foi salva
e ainda que mais tarde ela venha se revelar ateia ou budista, isso não importa,
afinal de contas ela já está dentro do grupo dos salvos.
A visão da
maioria dos cristãos através da história da igreja é que as Sagradas Escrituras
nunca afirmam tal coisa. Há avisos claros contra aqueles que fazem profissões
(falsas) e vivem em pecado ininterrupto. 1 João 2:19 ensina que aqueles que
deixam a fé nunca fizeram parte dela para começar. E Jesus também diz:
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no
reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mateus 7:21-23)
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mateus 7:21-23)
Observe que
o texto diz que Ele nunca os conheceu. Não diz aos falsos professos que
Ele os conheceu e deixou de conhecê-los mais tarde. Não, diz “eu nunca te
conheci”. Isso significa que existem pessoas que acreditam em Cristo mas de
maneira imprópria e não-salvífica. Isso deve ser decepcionante, mas se nos
apegarmos às promessas de Deus, obteremos grande consolo, porque a nossa
regeneração muda a disposição de nossos corações, da hostilidade ao afeto por
Cristo, e nos implanta um princípio de perseverança. O cristão, apesar de poder
cometer graves pecados, não pode viver continuamente neles. Pelo contrário,
tanto a fé como o desejo de obedecer possuem uma natureza contínua. Deus
encoraja e disciplina aos que Ele ama, para que eles continuem em sua fé. Em 1 Coríntios 11:31,32, Paulo diz: “Porque,
se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos
julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo“. Uma pessoa que se recusa a se arrepender do pecado, como uma
professa cristã, pode eventualmente vir a ser excomungada, com na esperança de
que ela seja reconciliada/restaurada à comunhão por meio do arrependimento. Não
podemos dizer a alguém que vive em pecado que eles podem ter segurança da
salvação. Fazer isso não faz nenhum bem à pessoa em questão. É totalmente
prejudicial.
Geralmente essas pessoas definem os que acreditam
no Senhorio de Cristo como indivíduos que acreditam na necessidade da
disposição de abandonar os pecados ou de entregar a vida a Cristo para ser
salvo. Ao criticá-los, os antinomianos veem essas coisas como
desnecessárias para a salvação, como um acréscimo ao evangelho. Em outras
palavras, podemos nos apegar aos pecados e não ter desejo algum de entregar
nossas vidas a Cristo, desde que tenhamos feito algum tipo de profissão de fé.
Tal crença é horrível e antitética a tudo o que a Bíblia ensina e precisa ser
censurada de todas as maneiras. O arrependimento nunca é visto como opcional.
Uma pessoa verdadeiramente regenerada desejará acreditar e obedecer. Frequentemente
falharemos miseravelmente, mas o Espírito que habita em nós nos pressiona para
a santificação. Um estilo de vida de pecado sem desejo de obedecer a Cristo é
um sinal bem óbvio de que a pessoa não é regenerada e se encontra em grande
perigo. Mas seja o que for que a nossa consciência nos acuse, podemos nos
voltar em fé até Cristo e Ele nos perdoará.
Os antinomianos também acusam os reformados de
acreditarem que as promessas da Palavra de Deus, embora necessárias para a
segurança, não são suficientes. Ou seja, que é preciso também olhar para as
suas obras e que nenhum crente pode ter 100% de garantia de salvação ao apenas
olhar para as promessas na Palavra de Deus para o crente. Sério mesmo? Pelo
contrário, a posição Reformada é a única que confia na suficiência das
promessas de Deus. Aqueles que fazem tais acusações esquecem que a
santificação também é uma promessa de Deus ao crente. Veja João
15:16: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e
vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a
fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.”
Cristo antes
nos adverte contra não permanecer na videira e diz que aqueles que não o
fizerem serão queimados, mas então no versículo 16 Ele afirma que Ele mesmo nos
escolheu e nos designou para dar frutos… logo, o verdadeiramente regenerado não
acabará no mesmo lugar daqueles que caíram. Cristo garante isso. Cristo não
pode perder um crente sequer. Ele intercede por nós (Romanos
8:34) para que não fracassemos. Será que a oração de Cristo pelos
seus eleitos pode falhar? Hebreus 7:25 também confirma a oração de
Cristo por nós: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Esta é
a palavra de Deus e, portanto, quando notamos que nossas obras evidenciam a
verdadeira crença, a glória delas vai somente para Deus porque
foi Ele quem estabeleceu que daríamos frutos. Esses frutos não nascem de
nossa natureza caída. O apóstolo Paulo disse em Efésios
2:10: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as
boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
O texto apresenta continuamente esta mensagem: que é necessário perseverar e
que Deus nos concede a capacidade de fazê-lo. Aqueles que não perseveram não
podem viver em segurança.
Então, ao invés do famoso bordão “uma vez salvo,
salvo para sempre”, acreditamos que Cristo nunca perderá um cristão.
Acreditamos que Ele nos capacitará a perseverar e nos salvará por completo. “Tendo
por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará
até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses
1:6). Deus concede o desejo de continuar até o fim, sempre lembrando
que somos pecadores e que podemos confiar somente em Cristo. Nosso desejo por
fé, arrependimento e obediência é um presente da pura graça de Deus, não algo
que devemos inventar em nossa carne. A posição antinomiana pensa que se o
arrependimento é exigido, então de alguma forma estamos pedindo confiança nas
obras. Desculpe-me, mas uma fé verdadeira produz obras porque a regeneração e a
santificação são uma obra de Deus. Não é você que decide quando nascer de novo.
Não é você quem estabelece o significado de ter um espírito vivificado. Tudo
isso é obra de Deus. Aqueles que confiam em sua própria capacidade de ter fé
são os que, em última análise, confiam em si mesmos, uma vez que tal fé é
produzida à parte do trabalho regenerativo de Deus. Novamente, na posição
antinomiana, a fé é um produto da natureza humana não-regenerada. Mas se não é
a graça de Deus que te faz nascer de novo (e sim uma cooperação entre o homem e
Deus), será que essa graça é realmente livre?
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus. (João 1:12,13)
Tradução/Adaptação:
Erving Ximendes
Autor:
John Hendryx
Fonte: https://olhaievivei.wordpress.com
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