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terça-feira, 3 de setembro de 2019

A perversidade dos homens e o Decreto de Deus

O texto a seguir foi retirado e traduzido do Comentário Bíblico feito por João Calvino e joga uma forte luz sobre a pergunta tão frequentemente direcionada aos calvinistas: Se Deus tem um decreto, isso não faz dEle o autor do mal?

 Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito“. (Gênesis 45:8)

Esta é uma passagem que nos ensina que o curso dos acontecimentos nunca é tão deturpado pela depravação e maldade dos homens, mas que Deus pode direcioná-los a um bom fim. Também somos instruídos da maneira e do propósito que devemos considerar a providência de Deus. Quando homens de mentes inquisitivas discordam sobre isso, eles não só misturam e pervertem todas as coisas sem considerar o fim designado, mas inventam toda espécie de absurdo em seu poder, para suavizar a justiça de Deus. E esse tumulto faz com que alguns homens piedosos e moderados desejem que esta parte da doutrina seja escondida de nossa vista; Pois tão logo quanto é declarado publicamente que Deus detém o governo do mundo inteiro e que nada é feito senão por Sua vontade e autoridade, aqueles que pensam com pouca reverência sobre os mistérios de Deus, abordam várias questões, não só de forma frívola, mas prejudicial. Mas, como esta intemperança profana da mente deve ser restringida, então uma medida justa deve ser observada, por outro lado, para não fomentar uma ignorância grosseira das coisas que não apenas são claras na Palavra de Deus, mas são extremamente úteis em seu conhecimento. Bons homens têm vergonha de confessar, que o que os homens empreendem não pode ser realizado senão pela vontade de Deus; temendo que línguas desenfreadas clamem imediatamente que Deus é o autor do pecado, ou que os homens perversos não devam ser acusados de crime, visto que apenas cumprem o conselho de Deus. Mas, embora essa fúria sacrílega não possa ser efetivamente refutada, basta que a tenhamos como detestável.

Enquanto isso, é correto manter, o que é declarado pelos testemunhos claros das Escrituras, que apesar das coisas que os homens consigam, no entanto, em meio a todos os tumultos, Deus é que prevalece sobre seus conselhos e tentativas; e, em suma, faz, pelas mãos dos homens, o que Ele mesmo decretou. Bons homens, que temem expor a justiça de Deus às calúnias dos ímpios, recorrem a esta distinção, que Deus quer algumas coisas, mas que outras Ele apenas permite. Como se, verdadeiramente, qualquer grau de liberdade de ação fosse deixado aos homens se Ele cessasse de governar. Se Ele tivesse apenas permitido que José fosse levado ao Egito, Ele não haveria ordenado que este fosse ministro de libertação para seu pai, Jacó, e seus filhos; ato tal que está expressamente declarado na passagem. Afastados, então, dessa invenção vã, que, somente com a permissão de Deus, e não por Seu conselho ou vontade, é que esses males são cometidos, e que Ele depois os volta para um bom propósito. Eu falo de males com respeito aos homens, que não propõem mais nada para si além de agir perversamente. E, à medida que o vício habita neles, toda a culpa deve ser colocada sobre eles. Mas Deus trabalha maravilhosamente por meio de Seus meios, para que, da impureza dos homens, Ele produza a sua perfeita justiça. Este método de atuação é secreto e muito acima do nosso entendimento. Portanto, não é de se estranhar que a licenciosidade de nossa carne se aumente contra ele. Mas tanto mais diligentemente devemos estar em nossa guarda, que não tentemos reduzir esse alto padrão para a medida da nossa pequenez. Que este sentimento permaneça fixo conosco, que enquanto a luxúria dos homens exulta, e incessantemente os apressa de um lado para outro, Deus é o governante e, por Sua rédea secreta, dirige os movimentos dos homens para onde quer. Ao mesmo tempo, no entanto, também deve ser mantido, que Deus age tão distintamente deles, que nenhum vício pode se unir a Sua providência e que Seus decretos não têm afinidade alguma com os crimes dos homens. Esse modo de procedimento é demonstrado no ilustre exemplo que é colocado diante de nossos olhos: José foi vendido por seus irmãos; por qual razão se não pela inveja daqueles que desejavam, por qualquer meio que fosse, arruiná-lo e aniquilá-lo? Ainda assim, a mesma obra é atribuída a Deus, mas por um fim muito diferente; isto é, que em um tempo de fome a família de Jacó pudesse ter um suprimento inesperado de comida. Por isso, Ele quis que José parecesse como um que estivesse morto, por um curto período de tempo, para que de repente Ele pudesse levantá-lo do túmulo, como o salvador da vida. Por isso, embora pareça que, no começo, Ele faça o mesmo que os ímpios, ainda assim há uma enorme distância entre as iniquidades dos homens e o Seu julgamento admirável.

E, sem dúvida, deve ser mantido que as ações dos homens não devem ser avaliadas de acordo com o evento em si, mas de acordo com a medida que eles podem ter falhado em seu dever, ou em ter tentado algo contrário à Ordem Divina e ultrapassado os limites de suas vocações. Portanto, aqueles cujas consciências os acusam do mal, não têm nenhuma vantagem na pretensão de que a providência de Deus os exonerou da culpa. Mas, por outro lado, sempre que o Senhor se interpõe para evitar o mal daqueles que desejam nos causar dano, e não só isso, mas transforma seus maus planos em algo que resulta em nosso próprio bem, Ele subjuga, por esse método, nossas afeições carnais, e nos torna mais justos e mais suaves. Assim, vemos que José era um hábil intérprete da providência de Deus, uma vez que ele construiu um argumento baseado nela para conceder perdão a seus irmãos. A magnitude do crime cometido contra ele poderia fazer com que ele fosse consumido com o desejo de vingança: mas quando ele reflete que os efeitos da maldade de seus irmãos haviam sido anulados pela maravilhosa e inusitada bondade de Deus, esquecendo-se do dano recebido, ele gentilmente abraça os homens cuja desonra Deus cobriu com a Sua graça. E verdadeiramente a caridade é engenhosa ao esconder as faltas dos irmãos e, portanto, ela aplica livremente a esse uso qualquer coisa que possa tender a apaziguar a ira e a acabar com inimizades.

Tradução/adaptação: Erving Ximendes



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