Mas o Senhor lhe disse: Vai,
porque este é para mim um instrumento escolhido... E eu lhe mostrarei quanto
lhe importa sofrer pelo meu nome. Atos 9:16
Quando lemos o relato bíblico
do ministério de Paulo, apóstolo do Senhor, e seus próprios testemunhos acerca
do que teve que enfrentar por amor a Cristo, ficamos sempre impressionados.
Mais ainda pelo fato de que ele, como os cristãos primitivos de forma geral,
tinha como privilégio ser perseguido e sofrer por sua fé.
Só para que você se lembre do
quão difícil foi o ministério desse apóstolo, leia suas próprias
palavras: “São ministros de Cristo? Eu ainda mais: em trabalhos, muito
mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas
vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui
três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes;
uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em
perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em
perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos
no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias,
muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além
das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com
todas as igrejas” (II Co 11: 23-28).
Ufa! Esse breve e incompleto
resumo do que custou a Paulo servir a Cristo é de tirar o fôlego. A maioria de
nós teria desistido por muito menos.
Na verdade, Paulo, assim como
toda aquela primeira geração de cristãos, recebeu um evangelho bem diferente do
que costumamos ouvir hoje. O chamado cristão envolvia tribulação e isso ficava
claro qualquer um que se convertesse. O próprio Paulo, ainda quando estava
recebendo o bê-a-bá da fé, compreendeu isso. Ao enviar Ananias para
consolidá-lo, ainda novo convertido, o Senhor colocou a seguinte verdade entre
as lições que ele teria que aprender: “Eu lhe mostrarei o quanto lhe
importa sofrer pelo meu nome” (At 9:16).
Um dos motivos pelos quais o
número de desviados em países como o Brasil cresce no compasso veloz do
evangelismo que a igreja pratica é o fato de que o evangelho pregado nos nossos
dias não ensina as pessoas a sofrer. Na verdade, o que se passa adiante é a
ilusão de que a fé anulará os problemas. Os crentes são ensinados a prosperar,
a ser felizes, a ter o carro do ano, a casa própria, a saúde perfeita, etc... E
como essa mensagem é música para os ouvidos, multidões correspondem a ela,
entendo que o chamado cristão é para uma vida fácil e sem preço, surfando nas
ondas da bênção.
O resultado dessa pregação
mutilada da dor é uma igreja cheia de crentes frágeis, escravos dos próprios
caprichos e despreparados para as lutas que certamente virão.
O que estou advogando aqui não
é a busca pelo sofrimento, como se por si só ele fosse uma expressão nobre da
fé, e nem que reneguemos as promessas de prosperidade, vitória sobre a
enfermidade e tudo o mais que podemos conquistar no Senhor. O que quero dizer é
que devemos nos preparar para as conquistas, sabendo que elas muitas vezes
custarão preços altíssimos e que, eventualmente, aquilo que almejamos da parte
de Deus não acontecerá, ou pelo menos não acontecerá da maneira que projetamos.
Se queremos ser e formar
discípulos indesistíveis, precisamos aprender a vencer as tribulações (e,
muitas vezes, vencer as tribulações significa suportá-las). A teologia que só
fala da bênção não serve para os momentos difíceis, porque deixa as pessoas
confusas e cheias de dúvida no “dia mau”. Afinal, elas aprenderam que a
presença de Deus anula o sofrimento e, se estão sofrendo, onde estará esse Deus?
Na verdade havia muitos
argumentos teológicos consistentes na vida de Paulo, das primeiras gerações de
cristãos e, ainda hoje, na de muitos irmãos nossos que permanecem fiéis, mesmo
diante da morte. Gente assim se fortalece com verdades bíblicas que não costumam
ser pregadas na maioria dos púlpitos modernos. Uma delas é a de que o
sofrimento é uma maneira de nos identificarmos com Cristo. Paulo dizia que as
perdas eram uma maneira dele conformar-se com Cristo na sua morte (veja Fp
3:8-11). Ele chegou a dizer: “me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e
preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne” (Cl 1:24). Em
outras palavras, as dores nos tornam mais parecidos com nosso Senhor.
Há muitos outros argumentos
importantes nessa compreensão de que sofrer faz parte do chamado, verdades que
podem nos sustentar e fortalecer no meio das tribulações. Um deles é o de que
pessoas que sofrem juntas se amam mais (veja II Tm 1:8 e Pv 17:17). Também de
que, diante da eternidade e da glória que nos será revelada, nossas angústias
aqui, ainda que intensas, terão sido “uma leve e momentânea tribulação” (conf.
II Co 4:17). Quem tem uma visão assim, ainda que esteja em meio a grandes
lutas, crê na promessa: “Pois te esquecerás dos teus sofrimentos e deles
só terás lembrança como de águas que passaram” (Jó 11:16).
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Danilo Figueira é um dos pais da Comunidade Cristã de
Ribeirão Preto onde tem exercido um ministério profético e de ensino, liderando
a equipe de pastores juntamente com sua esposa Mônica. Ele tem atuado como
conferencista pelo Brasil e exterior, com forte ênfase na formação de
liderança, e provido cobertura apostólica para muitos ministérios. Os escritos
do Pr. Danilo, especialmente a série de livros "LIDERANÇA PARA A ÚLTIMA
COLHEITA", têm sido ferramenta para inúmeras igrejas e suas Escolas de
Líderes, já tendo sido traduzidos para outros idiomas como o Inglês, o Francês
e o Espanhol.
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