Este artigo visa refutar as ideias contidas no
livro “Obras Póstumas”, de Allan Kardec. Neste livro, há um capítulo
chamado “Estudo sobre a natureza de Cristo”. Numa abordagem ousada, já em seu
início, tenta falar que a “controvérsia” em torno da natureza de Cristo ainda
não se resolveu (!) e que isto foi responsável, durante os séculos, pela origem
de várias seitas. Nesta segunda parte temos que concordar, aliás, é algo digno
das seitas distorcerem a pessoa de Jesus. Muitos dizem sê-lo só um homem,
outros só Deus, um profeta, um mensageiro, um…neste ponto, já é seita, pois o
cristianismo ortodoxo vê Jesus como Deus. Vamos analisar o ponto de vista
espírita.
Já de início também notamos que suas idéias lembram algo do mormonismo e das Testemunhas de Jeová, com a velha tática de dizer que a Igreja “apostatou” ou recebeu ensinos pagãos e por isso era necessário vir quem? Eles, para que pudesse a verdade ser trazida de volta. Todas as citações do livro estão em azul e minhas respostas em preto (todos os grifos são nossos).
No exame, que vamos fazer, da questão da divindade
do Cristo, pondo de lado as sutilezas da escolástìca, que unicamente serviram
para tudo embaralhar sem esclarecer coisa alguma, apoiar-nos-emos
exclusivamente nos fatos que ressaltam do texto do Evangelho e que, examinados
friamente, conscienciosamente e sem espírito de partido, superabundantemente
facultam todos os meios de convicção que se possam desejar.
Ora, entre esses fatos, outros não há mais
preponderantes, nem mais concludentes, do que as próprias palavras do Cristo,
palavras que ninguém poderá refutar, sem infirmar a veracìdade dos apóstolos.
Pode-se interpretar de diferentes maneiras uma parábola, nma alegoria; mas,
afírmações precisas, sem ambigüidades, repetidas cem vezes, não poderiam ter
duplo sentido. Ninguém pode pretender saber melhor do que Jesus o que ele quis
dizer, como ninguém pode pretender estar mais bem informado do que ele sobre a
sua própria natureza. Desde que ele comenta suas palavras e as explica para
evitar todo equívoco, é a ele que devemos recorrer, a menos lhe neguemos a superioridade
que lhe é atrìbuída e nos sobreponhamos à sua própria intelïgência. Se ele foi
obscuro em certos pontos, por usar de linguagem figurada, no que concerne à sua
pessoa não há equívoco possível. Antes de examinar as palavras, vejamos os
atos.
Pelo que vemos desde o início do capítulo, o autor
espírita quer “filtrar” as palavras de Jesus e dos discípulos e apóstolos,
vendo só aquilo que lhe apraz. Não é a toa que existe o “Evangelho Segundo o
Espiritismo”. A Bíblia, tal a como conhecemos hoje, é lacrada e canônica, não
tendo outro escrito além dela, como livro máximo, para os cristãos. Mas as
seitas tentam tirar o que lhe agradam e interpretam a seu prazer os textos.
Pelo visto, o autor diz que as palavras dos evangelistas, quando não se
conformam à sua doutrina, são só opiniões. As seitas não interpretam o
Evangelho como TODO inspirado.
II – Os milagres provam a divindade do Cristo?
Segundo a Igreja, a divindade do Cristo está
firmada pelos milagres, que testemunham um poder sobrenatural. Esta consideração
pode ter tido certo peso numa época em que o maravilhoso era aceito sem exame;
hoje, porém, que a Ciência levou suas investigações até as leis da Natureza, há mais incrédulos do que crentes nos milagres, para cujo descrédito não
contribuíram pouco o abuso das imitações fraudulentas e a explorações que
dessas imitações se há feito.
Neste segundo item do capítulo, o autor discorre
sobre os milagres de Jesus e se são sinais de Sua divindade. O autor tenta dar
a ideia de que todos os milagres tiveram explicação científica, tentando,
talvez, onerar Cristo de seu papel neles. Como o mormonismo, o espiritismo
procura culpar a Igreja de conspiração, alteração e guarda de segredos, que
podiam acabar com ela (!). Depois, insinua que milagres não são privilégio só
da religião cristã e que outras religiões tem ou tiveram também milagres ou
atos miraculosos, alegando que a Igreja só teve como resposta a eles que eram
coisa do demônio.
Os verdadeiros milagres só acontecem dentro do cristianismo. Não se há relatos de ressurreição, curas ou prodígios verídicos deste porte fora do cristianismo. Vemos que o texto inteiro serve para demonstrar unicamente que Jesus não era divino só em base de Seus milagres. Allan Kardec parece querer dizer “há explicação científica para tudo”.
III – As palavras de Jesus provam a sua divindade?
Neste terceiro tópico, Allan Kardec discorre sobre
as palavras de Cristo (lembre-se que ele parece querer ter dito que as palavras
de Cristo e a dos apóstolos que vão ao encontro das ideias de Kardec é que
valem e que se há discordância era só “opinião pessoal” do hagiógrafo?) e se
elas provam que Ele era Deus.
De antemão dizemos que os espíritas não diferem
muitas das Testemunhas de Jeová no tocante a este tema, só com a diferença que
as TJ parecem acolher mais os outros textos da Bíblia, ao contrário do
espiritismo, que passa um “filtro” naquilo que não lhe agrada. A lei parece ser
essa: “só vale a palavra de Cristo. Se algum discípulo insinuar que Jesus era
divino, era só opinião dele”. É difícil dialogar neste ponto, pois os espíritas
aparentemente não creem em toda a revelação bíblica e que ela é TODA inspirada.
Só partem para as palavras que eles gostam, descartando toda exegese e
hermenêutica bíblica. Mas mesmo assim, vamos dar uma chance a eles.
Não vamos discorrer de todos os versículos citados
por Kardec, mas só alguns representativos. Vamos começar com Jo 8,42:
“Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso
pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui
estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou“
Antes de respondermos este versículo quero dizer
que, independente da visão espírita sobre a revelação bíblica, que ela é TODA
inspirada e é a PALAVRA de Deus, poderei usar versículos de toda a Bíblia para
refutar o ensino espírita, visto que todos se harmonizam. Pois bem, vejamos:
sem ter em conta o contexto, o autor interpreta este versículo isoladamente,
ignorando o painel todo. Querendo usar este versículo para provar que Jesus não
é Deus, Kardec na verdade nos dá uma tremenda PROVA da divindade de Jesus. O
Quadro Verbais do Novo Testamento, de A.T. Robertson, diz:
Porque eu vim de Deus (ego gar ek tou theo exelthon). Segundo aoristo ativo indicativo
de exercomai, evento histórico definido (a Encarnação). Veja Jo.4:30
para exhlyon ek. Em Jo. 13:3 e 16:30 é dito que Jesus veio de (apo)
Deus. A distinção não será pressionada. Note a consciência definida de
pré-existência com Deus como em Jo.17:5.
Em todos os momentos vemos que Jesus fazia tudo em
uníssono com o Pai, não que era inferior a Ele. Jesus veio de Deus,
portanto, tinha a mesma natureza que Ele. Não foi criado, mas era co-existente
com Deus. A palavra grega para vim, em grego, é exelthon, que significa
aqui seu exeleuxis divino, ou origem do Pai, por comunicação com a
essência divina, assim como a união do divino logos com a
natureza humana. Cristo não veio de Si mesmo, como os falsos profetas
(Jr. 23.21). Cristo não era só um humano pregador, mas Deus feito carne no meio
de nós.
O mesmo capítulo de João dá provas inequívocas da
divindade de Jesus (veja JO 8,28). A título de resolver o assunto, vemos JO
8,58.
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu
vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU”
Allan Kardec nem passou perto deste versículo.
Neste ponto temos que reconhecer que as Testemunhas de Jeová, mesmo sendo
subordicionalistas, tentaram estudar outros versículos além dos citados por
Kardec, mesmo interpretando (e distorcendo na sua Tradução do Novo Mundo) este
versículo-chave. O que ele quer dizer?
Quer dizer que Jesus estava evocando o mesmo título
que Deus anunciou em Ex. 3.14. Lá Deus disse que “EU SOU O QUE SOU”. Não era um
nome, mas uma afirmação do que Deus é. Jesus afirmou isto para si, portanto,
Jesus é Deus. Cristo estava querendo dizer que “Abraão veio à existência”,
enquanto “Eu Sou” ou seja, “Eu existo de eternidade a eternidade”. Lembre-se
que estas são palavras de Cristo, não de seus discípulos.
Vejamos um outro versículo citado por Kardec (LC
9,48):
“Quem receber esta criança em meu nome a mim me
recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele
que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande”
Entendendo literalmente o versículo e isolando-o
fica fácil pensar que Jesus e Deus eram duas pessoas separadas e com nada em
comum em natureza a não ser objetivo. Mas vamos ver de perto. Os espíritas,
como as TJ, discordam da Encarnação, onde Deus se fez homem para nos salvar.
Jesus é Jeová, não três deuses, mas UM Deus em TRÊS pessoas (o Espírito Santo
procede do Pai e do Filho). Allan Kardec aparentemente não entende a relação
DEUS PAI e DEUS FILHO aqui e deduz: Jesus deve ser subordinado ao Pai. Mas isto
leva a estranhas conclusões.
O dogma da divindade de Jesus se baseou na
igualdade absoluta entre a sua pessoa e Deus, pois que ele próprio é Deus. É
este um artigo de fé. Ora, estas palavras, que Jesus tantas vezes repetiu : Aquele
que me enviou, não só comprovam uma dualidade de pessoas, mas também, como
já o dissemos, excluem a igualdade absoluta entre elas, porquanto aquele que é
enviado necessariamente está subordinado ao que envìa. Com o obedecer,
aquele pratica um ato de submissão. Um embaixador, falando do seu
soberano, dirá : Meu senhor, aquele que me envia; mas, se quem vem é o
soberano em pessoa, falará em seu próprio nome e não dirá: Aquele que me
enviou, visto que ele não pode enviar-se a si mesmo. Jesus o disse em termos
categóricos : Não vim de mim mesmo; foi ele quem me enviou.
Estas palavras: Aquele que me despreza, despreza
aquele que me enviou, não implicam absolutamente a igualdade, nem, ainda menos,
a identidade. Em todos os tempos, o insulto a um embaixador foi considerado
como feito ao próprio soberano. Os apóstolos tinham a palavra de Jesus, como este
a de Deus.
Allan Kardec discorre sobre estes versículos dando
a ideia de que Jesus e Deus são independentes e que Jesus não era divino. Agora
vejamos mais alguns versículos que Kardec usa para “provar” o
subornadicionalismo de Jesus. Vejam LC 22,28-30:
“Vós sois os que tendes permanecido comigo nas
minhas tentações. Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo
confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis
em tronos para julgar as doze tribos de Israel”
Toda a “teologia” de Kardec aqui se resume num só
versículo: JO 14,28:
“Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto
de vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois
o Pai é maior do que eu“
Este é o versículo preferido dos
subordinacionalistas para distinguir entre Jesus e Deus. Mas estaria aqui Jesus
sendo excluído da divindade? Que estranho, pois em Jo.10.30 Jesus disse que Ele
e o Pai eram um? Como se explica isso? Num parece dizer que Jesus era
diferente, noutro que eram iguais? Kardec não discute estes versículos-chaves,
só aqueles que, para ele, dizem “o Pai é um e eu sou outro”! O Comentário
Jamieson, Fausset e Brown dizem sobre JO 14,28:
“pois o Pai é maior do que eu”—
Esta fórmula, que os arianos e socinianos citam como evidência triunfante
contra a Divindade de Cristo, não tem nenhum sentido inteligível em seus
princípios. Havia um santo homem em seu leito de morte vendo seus amigos
chorando por perdê-lo, dizer: “deveis se alegrarem por chorar por mim e estão
certos fazendo isso, se realmente me amam”. Isto seria muito natural. Mas se
eles lhe perguntassem por que a alegria de sua partida era mais conveniente do
que eles sentirem tristeza eles não ficariam surpresos, senão horrorizados, em
ouvi-lo responder “por que meu Pai é maior do que eu”? Esta estranha resposta
de Cristo, então, não pressupõe que este ensinamento faria com que os
discípulos dificilmente entendessem como Jesus poderia ganhar alguma coisa
partindo ao Pai, tendo Jesus que explicar que era neste sentido que Ele poderia
ganhar alguma coisa? Assim, esta surpreendente explicação parece tentar
corrigir os equívocos que poderiam surgir de Sua igualdade com o Pai – como se
neste caso uma Pessoa Exaltada fosse incapaz de qualquer ascensão através de
transição desta cena escura para um céu sem nuvens ou mesmo ao seio do Pai — e
lhes assegurando que este não era o caso, lhes fazendo esquecer de sua própria
dor por dizer que Ele (Jesus) estava próximo de sua alegria.
Em outras palavras, Jesus não estava falando de Sua
natureza com relação ao Pai, mas de Sua condição. Ele disse que
atualmente (quando estava vivendo aqui) era um Servo, numa situação humilhante
(passando tentações, etc.). Mas, ao partir, teria a condição que tinha com o
Pai (aí, sim, igualdade). Mas é essa a conclusão que Kardec, as TJ, os arianos
e outros chegam? Não. Tomam o versículo só ao pé-da-letra, sem ver o contexto e
deduzem: realmente, o Pai é maior que Jesus.
Mas que interessante que Jesus dizia ter atributos
que só Deus possui. Veja MT 23,34:
“Por isso, eis que EU vos envio
profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros
açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade”
O “EU” em grego é bem enfático. E quem é que
enviava profetas e sábios no Antigo Testamento? Deus.
Agora, Kardec parte para realmente diferenciar o
Pai do Filho hierarquicamente. Usa Mt 20,23:
“Então, lhes disse: Bebereis o meu cálice; mas o
assentar-se à minha direita e à minha esquerda não me compete concedê-lo; é,
porém, para aqueles a quem está preparado por meu Pai“
O Comentário Poole diz:
“Este texto tem sido muito usado para negar a
divindade de Cristo
e Sua igualdade para com o Pai, como se servisse a seu
propósito, porque Cristo aqui nega Seu poder para dispor do reino do céu; mas
em outros versículos, ele afirma o contrário: Jo. 10:28 17:2. Cristo aqui não
fala do que estava em Seu poder, mas do que era seu ofício como Mediador;
assim, Seu trabalho era encorajar Seus discípulos para que lutassem com bravura
na fé, não dar as coroas a eles. Ou então ele falou como homem, como em Jo.
14:28. Aqui Cristo não nega que isto estava em Seu poder mas só que estava em
Seu poder dar esta preferência a qualquer um exceto para aqueles a quem
o Pai tinha preparado. Note, o grego é ouk estin emon dounai alla oiv htoimastai,
quer dizer, não é meu trabalho dar, exceto para aqueles a quem está preparado.
Tudo isso já estava ordenado e determinado por Deus, e só ele poderia dispor do
reino de Deus segundo a deliberação eterna. Alla (que seria traduzido
por “exceto”) tem aqui aqui a força de ie mh (senão) como em Mc. 9:8 2Co
2:5. Para mostrar a ordem da ação da Trindade, atos de poder e providência são
dirigidos ao Pai apesar de que em outras escrituras parece que o Filho neles
coopera com o Pai.
É, o mesmo versículo usado por outros que não
funcionou. Depois Kardec termina o trecho dizendo: “Ele confirma esta
interpretação e reconhece a sua inferioridade com relação a Deus, em termos
que não deixam lugar a dúvidas”. Ele, sem nem perceber os versículos em volta,
a teologia, a exegese e hermenêutica, chegou a uma conclusão simples de pouca
análise.
Depois, menciona o versículo de Jo.14.28, que analisamos acima. Agora ele cita Lc.18.18,19:
“Certo homem de posição perguntou-lhe: Bom Mestre,
que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas
bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus.“
Aí Kardec parte da dedução que Jesus não era igual
a Deus e afirmava ser inferior a Deus, inclusive em aspectos de poder e
qualidades morais. Deve-se dizer aqui que a maioria das seitas americanas ou de
outras línguas, normalmente usavam a Bíblia King James em sua análise (é a
Bíblia Trinitariana brasileira, que é uma boa tradução, mas tem as mesmas
falhas de tradução da King James). Por isso, muitas coisas podem deixar de ser
completamente explicadas, como o caso de Mt. 20.23 acima, com a inclusão, em
inglês, das palavras “it shall be given to them” em itálico. O Comentário
Clarke diz o seguinte sobre Lucas:
Esta passagem, como esteve nas edições comuns, foi
considerada por alguns escritores como uma inequívoca prova contra a Divindade
de Cristo. Uma pessoa muito instruída, numa nota deste versículo, assim
conclui: “Então, nosso Salvador não pode ser DEUS: e a noção de, eu não sei do
que, uma Trindade na unidade, TRÊS deuses em UM, é aqui provado além de toda
controvérsia, pela afirmação de JESUS, O próprio CRISTO, ser ERRÔNEA e
IMPOSSÍVEL”. Não é bem assim. Um dos os maiores críticos da Europa, falando imparcialmente sobre a divindade de
Cristo, admitiu as leituras acima em seu texto, acumulando uma evidência que ele
julgou incriticável. Se elas são as verdadeiras leituras, eles destroem a
doutrina inteira construída neste texto; e realmente o máximo que os inimigos
da doutrina trinitária podem esperar agora dos formidáveis oponentes sobre este
texto, é deixar o assunto engavetado.
Clarke nos mostra que neste versículo Jesus não
nega Sua divindade. Jesus quis dizer que só Deus seria “bom”? Impossível, pois
assim Ele contradiria Suas próprias palavras em Mt. 25.21: “Disse-lhe o senhor:
Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te
colocarei; entra no gozo do teu senhor”. E o “bom” aqui é o mesmo de Lucas, em
grego (agathos, que significa “de boa constituição ou natureza” e
“excelente”). De fato, este versículo, em vez de favorecer o espiritismo, na
verdade o confunde.
Desde que ele nada diz de si mesmo; que a
doutrina que prega não é sua, que ela lhe veio de Deus, que lhe ordenou viesse
dá-la a conhecer; que nâo faz senão o que Deus lhe deu o poder de fazer;
que a verdade que ensina ele a aprendeu de Deus, a cuja vontade se acha
sujeito, é que ele não é Deus, mas, apenas, seu enviado, seu messias e
seu subordinado.
Aqui Kardec expõe todo seu socianismo (doutrina
herética de Socino – séc. XVI – que negava a Trindade e a divindade de Cristo).
Fora-lhe impossível recusar, de maneira mais
positiva, qualquer assimilação sua a Deus, nem determinar o seu papel principal
em termos mais precisos. Não há nos trechos acima pensamentos ocultos sob o véu
da alegoria, que só à força de interpretações se possam descobrir. São
pensamentos expressos em seu sentido próprio, sem ambiguidade.
Claro, só sob as interpretações espiritas é que
Jesus não é Deus mesmo, com seus filtros. Já mostrei textos que Jesus mesmo
falou e que Kardec não citou. Só faltava ele dizer que não valia porque Jesus
“estava tendo uma opinião errada sobre si mesmo”!
Se objetarem que Deus, por não ter querido dar-se a
conhecer na pessoa de Jesus, provocou uma ilusão acerca da sua individualidade,
poder-se-ia perguntar em que se funda semelhante opinião, quem tem autoridade
para lhe sondar o funda do pensamento e para lhe dar às palavras um sentido
contrário ao que elas exprimem. Pois que, em vida de Jesus, ninguém o
considerava como sendo Deus; que todos, ao contrário, o consideravam um
messias, se ele não quisesse que o conhecessem qual era, bastar-lhe-ia nada
dizer. Das suas afirmações espontâneas, deve-se concluir que ele não era Deus,
ou que, se o era, voluntariamente e sem utilidade, fez uma afirmação falsa.
Interessante, sr. Allan Kardec, como passa ao largo
de Jo.8.58, em que Jesus disse que era o mesmo Deus de Ex.3.14.
É de notar-se que S. João, o Evangelista sobre cuja
autoridade mais busearam apoiar-se os instituidores do dogma da divindade do
Cristo, é precisamente o que oferece os mais numerosos e mais positivos
argumentos em contrário. É do que pode convencer-se qualquer pessoa, lendo as
passagens seguintes, que nada acrescentam, é certo, às provas já citadas, mas
as corroboram porque de tais passagens ressalta evidente a dualidade e a
desigualdade das duas entidades:
É a velha tática das seitas: roubam o conhecimento
bíblico como se fora deles próprios. Expliquei para um amigo meu espírita que
só o cristianismo ortodoxo podia interpretar corretamente o texto bíblico, pois
as seitas fazem uma “pré-seleção” de versículos que parecem ir ao encontro do
que querem. Kardec ignora totalmente o contexto Encarnação, missão,
messianidade e natureza de Cristo, só interpretando os versículos literalmente.
Kardec só fala de versículos onde Jesus menciona que o Pai é maior do que ele e
que o enviou, sem se preocupar com o contexto e a missão de Jesus (afinal, sr.
Kardec, quem era o “Emanuel”?). Mas vamos discutir só um versículo dessa série
do Kardec, Jo. 17.3:
“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o
único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste“
Notem que quando um versículo não se acomoda com o
que Kardec diz, ele simplesmente diz “era só opinião pessoal de João” (sic).
Interessante de demonstrar a divindade de Cristo para os espíritas é que eles
só aceitam o que Jesus falou. As TJ aceitam outros textos da Bíblia, apesar de
alguns distorcidos na TNM. Bem, Jesus disse que “veio do Pai” em Jo.16.28,
tinha a mesma natureza Dele (estamos vendo a 2a. Pessoa da Trindade aqui?). Em
Jo.17.3 estaria Jesus retirando a Si mesmo da divindade? Kardec, conhecendo ou
não grego, não sabe que exelthon (que se traduz por “venho”) dá o
sentido de Encarnação. Kardec confunde a todo momento a Pessoa de Cristo como
Mediador, inserindo que Ele só fosse um homem. A Trindade não são três deuses
mas três Pessoas num Deus. Jesus tinha a dupla natureza: humana e divina, que
os espíritas confundem. “A mesma justaposição aqui de Jesus Cristo com o Pai
é uma prova, por implicação, da Divindade de nosso Senhor. O conhecimento
de Deus e uma criatura não pode ser a vida eterna e esta ligação de um com o
outro seria inconcebível” [ALFORD].
Então, como um “grito” final contra a divindade de
Jesus na Sua morte, Kardec, em Lc. 23.46:
“Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas
mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou”
Na tradução que Kardec usou diz “meu ser”. Não sei
que tradução Kardec usou, mas está errada. No original diz pneuma, em
grego “espírito”. Bem, aqui, lógico, ele quer diferenciar de novo o Pai do
Filho, se esquecendo da Encarnação e da mediação do FIlho. Jesus aqui não
entrega o Espírito Santo, Sua divindade, mas Sua alma humana (afinal
Jesus era Deus e homem).
Depois Kardec dá alguns versículos que ele mesmo
admite que dão ideia da identificação de Deus com Jesus, mas diz com a fraca
explicação que eles não podem contradizer todos estes versículos que vimos até
agora e que se explicam por si mesmos. Vejamos (Jo.8.25):
“Então, lhe perguntaram: Quem és tu? Respondeu-lhes
Jesus: Que é que desde o princípio vos tenho dito?“
Allan Kardec escolheu uma passagem que tem um texto
muito difícil, traduzido de diversas formas nas Bíblias. A Bíblia que sigo aqui
é a Almeida Atualizada. Mas Kardec parece seguir a King James. A de Kardec diz:
“Eu sou o princípio de todas as coisas”, que é a tradução da Vulgata, que é
gramaticamente insustentável. De qualquer forma o texto não favorece a posição
de Kardec, ainda mais que ele o entende literalmente, sem se preocupar com a
teologia. Se Kardec tivesse ido 2 versículos mais à frente, saberia que Jesus
diria uma importante frase “EU SOU” ou mesmo no v. 24. Ele afirma ser o Ser
divino de Dt. 32.39.
E Kardec cria sua própria teologia:
Palavras de Jesus depois de sua morte
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28,18)
Tudo, pois, nas palavras de Jesus, quer as que ele
disse em vida, quer as de depois de sua morte, acusa uma dualidade de entidades
perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento da sua inferioridade
e da sua subordinação em face do Ente supremo. Pela sua insistência em
afirmá-lo espontaneamente, sem a isso ser constrangido ou provocado por quem
quer que fosse, parece ter querido protestar de antemão contra o papel que,
segundo a sua previsão, lhe seria atribuído. Se houvesse guardado silêncio
sobre a sua personalidade, o campo teria ficado aberto a todas as suposições,
como a todos os sistemas. A precisão, porém, da sua linguagem afasta todas as
incertezas.
Que autoridade maior se pode pretender, do que a
das suas próprias palavras? Quando ele diz categoricamente: eu sou ou não sou
isto ou aquilo, quem ousaria arrogar-se o direito de desmenti-lo, embora para
colocá-lo mais alto do que ele a si mesmo se coloca? Quem pode racionalmente
pretender estar mais esclarecido do que ele sobre a sua própria natureza? Que
interpretações podem prevalecer contra afirmações tão formais e multiplicadas
como estas:
Pois é. Aparte dos versículos explicados acima,
Kardec lita vários que, para ele, mostram o Pai e o Filho separados como duas
entidades distintas. O desconhecimento de teologia aqui é muito grande e não é
necessário eu explicar tudo de novo acima. Mas Kardec confunde as duas
naturezas de Cristo, a mediação e o caráter sacrificatório de Cristo.
Depois, no item V – Dupla natureza de Jesus, ele
parte para suas velhas conclusões de que Jesus e Deus são independentes e logo,
Jesus não pode ser Deus. É muita linha dita ali e ele só repete as mesmas
coisas que tinha dito antes.
Enfim, se, apesar de todas estas considerações,
ainda se pudesse supor que, quando vivo, ele ignorava a sua verdadeira
natureza, outro tanto já não se pode admitir se desse, depois da sua
ressurreição, visto que, quando aparece a seus discípulos, já não é o homem
quem fala, é o Espírito desprendido da matéria, que já havia de ter recobrado a
plenitude de suas faculdades espirituais e a consciência do seu estado normal,
da sua identificação com a divindade. Entretanto, foi então que disse : Subo
para meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus!
A subordinação de Jesus é ainda indicada pela sua
qualidade mesma de mediador, que implica a existência de uma pessoa distinta. É
ele quem intercede junto a seu Pai; quem se oferece em sacrifício para remissão
dos pecadores. Ora, se ele é o próprio Deus, ou se fosse em tudo igual a este,
não precisaria interceder, porquanto ninguém intercede junto a si mesmo.
Mostrando um grande desconhecimento da natureza de
Cristo e Sua mediação, Kardec confunde de maneira magistral as duas naturezas.
As Notas da Bíblia de Genebra de 1599 diz:
“Ele chama Deus seu Pai porque Ele é naturalmente seu Pai na Divindade e ele diz ‘vosso Pai’ porque é nosso Pai pela graça através da adoção dos filhos de Deus: quer dizer, tomando-nos por sua livre graça sermos seus filhos (Epifânio)”. Cristo nunca falou nos evangelhos, durante Sua vida (salvo na cruz), de Deus como Seu Deus, mas sempre como Pai. Agora, na ressurreição, Ele declara o nome de Deus a seus irmãos e emprega os dois títulos. Note-se a confusão de Kardec em reconhecer a obra salvífica de Cristo, pois este ainda não tinha “subido” ao Pai.
O Expositor Bíblico de John Gill: “Deus era seu Pai, não por criação, como ele é dos anjos e as almas de homens, e é chamado Pai dos espíritos; nem por adoção, como é aos santos; nem com respeito à encarnação de Cristo, pois, como homem, ele não teve pai; ou com respeito a seu ofício como Mediador, pois como tal ele era um servo, e não um Filho; mas ele era por natureza seu Pai, ou com respeito à pessoa divina, sendo gerado dele, sendo seu próprio Filho, e ele seu próprio Pai; que exibem a filiação natural e eterna de Cristo, e sua igualdade com ele, e sua distinção: e Deus era o Pai dos discípulos por adoção, em virtude da aliança da graça feita com Cristo, e pela relação espiritual para com ele, como o Filho natural e eterno de Deus. Deus o Pai é o Deus de Cristo como homem, quem preparou, formou, ungiu, apoiou, e glorificou Sua natureza humana; e em nesta natureza, ele orou a Ele como Seu Deus, crendo nele, amando e obedecendo-lhe como tal; portanto o judeu R. Isaac Chizzuk Emuna, muito deduz injustamente que ele não é Deus, porque o Deus de Israel era seu Deus“.
Allan Kardec não entendeu de novo as duas naturezas
de Cristo.
VI- Opinião dos Apóstolos Até aqui, apoiamo-nos exclusivamente nas palavras do Cristo, como único
elemento peremptório de convicção, porque, fora daí, somente há opiniões
pessoais.
De todas essas opiniões, a de maior valor são,
incontestavelmente, as dos apóstolos, uma vez que estes o assistiram em
sua missão e uma vez também que, se ele lhes houvesse dado instruções secretas,
respeito à sua natureza, alguns traços dessas instruções se descobririam nos
escritos deles. Tendo vivido na sua intimidade, melhor do que ninguém haviam
eles de conhecê-lo. Vejamos, pois, de que maneira o consideraram.
Bem, aqui Allan Kardec assina seu atestado de
confiabilidade nos apóstolos. Pois bem, vamos ver uns versículos citados por
Kardec (At.2.22):
“Varões israelitas, atendei a estas palavras:
Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres,
prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre
vós, como vós mesmos sabeis”
Bem, o Expositor de John Gill: “ele
verdadeiramente e realmente era um homem que na Encarnação assumiu um
verdadeiro corpo e uma alma; mas ele não era um mero homem, e muito menos um
homem comum: ele era o famoso filho do homem falado pelas Escrituras; o
homem da mão direita de Deus, companheiro, um grande e maravilhoso homem:
“aprovado por Deus”; ou mostrado, declarado, e demonstrado por ele, ser enviado
na natureza humana, ser o verdadeiro Messias e Salvador do mundo que era o
escolhido de Deus, amado e honrado por ele, quem ele selou, e deu testemunho; e
que não reservadamente, mas abertamente e publicamente”.
Sr. Allan Kardec, realmente fica difícil, se não
entender que Jesus tinha duas naturezas, a divina e humana, dialogar estes
versículos. Pegando só aquilo que diz respeito a natureza humana de Cristo fica
fácil pensar que era só um homem. Mas ainda ficou no ar Jo. 8.58. Agora vejamos
At.3.22:
“Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará
dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo
quanto vos disser”
Aqui no grego original não quer dizer que Jesus
seria em tudo igual a Moisés. Diz que Deus suscitaria um profeta como fez
com Moisés. Claro que Allan Kardec não vai passar perto de versículos como
Jo.8.58 e Jo.20.28, onde Tomé (testemunha ocular) chama Jesus de “meu Deus”. Se
Jesus não fosse Deus também, Ele não aceitaria este título.
Para “alguém que nunca afirmou ser Deus”, Jesus fez
algumas declarações bem arrogantes. Por exemplo, em resposta para Tomé, disse
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (Jo.
14:6) Desta afirmação, gostaríamos de saber por que inguém pode ir a Deus
diretamente. Talvez Jesus estava realmente dizendo que Ele era Deus? Aliás, em
IJo. 5.20 lemos que João diz que Jesus é “o verdadeiro Deus e a vida eterna”.
Mas que interessante, sr. Allan Kardec. O que diria de At.3.15: “Dessarte,
matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os
mortos, do que nós somos testemunhas”. Autor da vida?
Agora, no item VII “Predição dos profetas, com
relação a Jesus”, Kardec cai na maior rede que se poderia armar. Tentando
desaprovar a divindade de Cristo, cita Is.42.1:
“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o
meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e
ele promulgará o direito para os gentios”
É a mesma história. Kardec isola versículos do seu
gosto e deixa os outros de lado. Não analisa o que tem que ser analisado. Da
palavra “servo” Kardec tira toda sua pseudo-teologia subordicionalista e parte
para dizer que Jesus e Deus são diferentes. Sim, são diferentes em Pessoas mas
não como Deus. Interessante que ele, apesar de ter citado Is. 9.6, não teve
capacidade para explicar porque Jesus se chamaria “Deus forte”.
Sr. Allan, gostaria que me explicasse Jr.23. 5-6.
Pode o espiritismo explicar isso? Ou só vale o dito “o que minha rede pesca
isso eu pego”?
“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei
a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará
o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará
seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa“.
O título, “Senhor, Justiça Nossa” indica que o
Messias é Deus. A palavra hebraica traduzida para SENHOR é yhvh (Yahweh),
que é o nome pessoal de Deus.
Agora o item VIII – “O Verbo se fez carne”. Cita
Jo.1.1:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus”. Allan Kardec cita até o versículo 14.
Esta passagem dos Evangelhos é a única que, a
primeira vista, parece encerrar implicitamente uma ideia de identificação entre
Deus e a pessoa de Jesus; é também a que serviu de base, mais tarde, à
controvérsia a tal respeito. A questão da divindade de Jesus surgiu gradativamente;
nasceu das discussões levantadas a propósito das interpretações que alguns
deram às palavras Verbo e Filho. Só no quarto século uma parte da
Igreja a adotou, em princípio. Semelhante dogma resultou, pois, de decisão dos
homens e não de uma revelação divina.
É de notar-se, antes de tudo, que as palavras acima
citadas são de João e não de Jesus e que,
ainda quando se admita que não tenham sido alteradas, elas não exprimem, na
realidade, mais que uma opinião pessoal, uma indução, em que se depara com
o misticismo habitual da sua linguagem; não poderiam, pois, prevalecer contra
as reiteradas afirmações do próprio Jesus.
Mesmo, porém, aceitando-as tais quais são, elas não
resolvem de modo algum a questão no sentido da divindade, porquanto se
aplicariam igualmente a Jesus, criatura de Deus.
Allan Kardec, sem nenhuma autoridade bíblica, tenta
interpretar os versículos a seu bel-prazer, tentando tirar o que não lhe agrada,
como Joseph Smith fez com sua “tradução” da Bíblia. Usando de uma explicação
marreta e sem sentido, explica sem base que a doutrina só foi aceita no séc.
IV! E veja só: diz que as palavras são de João e não são de Jesus, o que
significa que era só opinião dele. Mais absurdo, impossível. Negação total da
inspiração bíblica. Engana-se, Kardec, pois as palavras de João, como o senhor
bem aceitou antes, são tão inspiradas quanto as de Jesus pois vem do mesmo
Espírito Santo. Quem o senhor pensa que é para dizer o que é ou não é
inspirado?
Com efeito, o Verbo é Deus, porque é a
palavra de Deus. Tendo recebido diretamente de Deus a palavra, com a missão de
a revelar aos homens, ele a assimilou. A palavra divina, de que se penetrara,
encarnou nele; ele a trouxe consigo ao nascer e assim é que João pode com razão
dizer: O Verbo foi feito carne e habitou entre nós. Jesus podia, pois,
ter sido encarregado de transmitir a palavra de Deus, sem ser o próprio Deus,
como um embaixador transmite as palavras do seu soberano, sem ser o soberano.
Segundo o dogma da divindade, é Deus quem fala; na outra hipótese, ele fala
pela boca do seu enviado, o que nada tira à autoridade das suas palavras.
Bom, claramente tenta, de qualquer jeito, tirar
Cristo de Sua divindade. E faz isso de maneira mirabolante. Para Kardec, Jesus
não é o Verbo, mas só um copo onde foi derramado o Verbo, só um portador. Mas é
isso o que diz o sentido do texto? O Verbo não era uma emanação de Deus, mas
Deus mesmo sendo manifesto. Em nenhum momento vemos que Jesus foi só um
carteiro entregando “o Verbo“. Interessante que Kardec se envereda
comentando este versículo mas deixa os outros. As seitas fazem isso: tentam de
toda forma distorcer os ensinos. As TJs, pelo menos, foram “coerentes” em
alterar este versículo dizendo que Jesus era só “um deus” (pequenininho) para
separá-lo da Divindade, visto que não conseguiam explicar Jo.1.1 como está nas
nossas bíblias. Mas Allan Kardec, não tendo a mesma criatividade TJ, tentou
explicar, sem sucesso o versículo.
IX – O Filho de Deus e o Filho do homem
O título de Filho de Deus, longe de implicar
igualdade, é, muito ao contrário, indício de uma submissão. Ora, ninguém é
submetido a si mesmo, mas a alguém.
Para que Jesus fosse, em absoluto, igual a Deus,
fora preciso que ele existisse, como Deus, de toda a eternidade, isto é, que
fosse incriado. Ora, o dogma diz que Deus o gerou desde toda a
eternidade; mas quem diz gerou diz criou. Fosse ou não desde
toda a eternidade, ele não deixa por isso de ser uma criatura e de estar, como
tal, subordinada ao seu Criador. É a ideia que implicitamente se contém no
termo Filho.
Nasceu Jesus no tempo? Ou, por outra: houve um
tempo, na eternidade passada, em que ele não existia? ou é ele co-eterno com o
Pai? Tais as sutilezas sobre que disputaram durante séculos. Em que autoridade
se apóia a doutrina da co-eternidade, que passou ao estado de dogma? Na opinião
dos homens que a engendraram. Mas, esses homens em que autoridade fundaram semelhante opinião? Não foi na de Jesus, pois que este se declara subordinado;
não foi na dos profetas que o anunciam como o enviado e o servo de Deus. Em que
documentos desconhecidos, mais autênticos do que os Evangelhos, encontraram
eles tal doutrina? Parece que só na. consciência e na superioridade de suas
próprias luzes.
Deixemos, pois, essas discussões vãs, que a nada
conduzem e cuja própria solução, fosse esta possível, não tornaria melhores os
homens.
Depois de muito comentário rotativo, Kardec não
notou Jo.8.58 (EU SOU). Kardec faz confusão com a palavra “gerar” como dando a
ideia de Jesus ter sido criado (TJ e outras). Vamos usar Sl. 2.7 (“Tu és meu
Filho, hoje te gerei”). O Comentário JFB diz: “é um reconhecimento solene desta
relação. A interpretação desta passagem para descrever a inauguração de Cristo
como Rei Mediador, de maneira nenhuma impugna Sua natureza divina. Em
At. 13:33, a citação de Paulo não implica uma aplicação desta passagem para a
ressurreição; pois “ressuscitando” em At.13:32 é usado como em At. 2:30 3:22,
etc., para denotá-Lo sendo trazido como ser humano; e não o de ressurreição que
só tem quando, como em At. 2:34, fala de Sua morte (Rm. 1:4). Essa passagem diz
que Ele falou sobre Sua natureza ser o Filho de Deus, pela ressurreição, e só
ensina que aquele evento manifestou uma verdade que já existe. Um
reconhecimento semelhante de Sua filiação é vista em Hb. 5:5, por este fim, e
por outros em Mt. 3:17 17:5″.
Veja At. 13.33. “Gerar”, aqui não significa que
Jesus é criado, mas que Deus o livrou da morte pela ressurreição. Deus “gerou”
a Jesus, ou a Segunda Pessoa, na Encarnação, quando se manifestou carne.
O resto do capítulo Allan só discorre sobre as
velhas histórias de debates sobre a natureza de Cristo e tal, dizendo que o que
mais importa foram seus ensinamentos, não se Ele foi Deus ou não. Mostrando sua
imparcialidade e talvez, incapacidade de entender o texto bíblico, Kardec
termina de forma abstrata um texto que ele começou.
Por: Emerson
de Oliveira
Imagem: Google


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