“Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa
alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos
contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em
muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na
ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns,
nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas
dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça,
a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão” 1Tm 6.7-11.
O apóstolo Paulo alerta seu filho na fé Timóteo
que há um perigo que nos rodeia que devemos tomar redobrado cuidado, esse
perigo é a ganância. Que é o desejo de ficar rico sem qualquer escrúpulo.
Paulo
na verdade está repetindo, em outras palavras, o que o Senhor Jesus disse no
Sermão do Monte, quando alertou aos seus discípulos que não podemos servir a
dois senhores:
“Ninguém pode
servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou
se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24).
O
termo riqueza ou mamom é usado para descrever a cobiça que domina o coração de uma
pessoa. A palavra mamom é uma transliteração da palavra hebraica “Mamom” (מָמוֹן), que significa literalmente “dinheiro”.
Nas palavras tanto de Jesus como nas de Paulo o desejo de ficar rico leva a ganância
ou avareza, e dessa forma quem é dominado por
esse desejo acaba se afastando de Deus que é o provedor de todas as coisas e
passa a confiar em Mamom como o único provedor em sua vida. Esse demônio é
descrito como devorador de almas, e um dos sete príncipes do Inferno. Sua
aparência é normalmente relacionada a um nobre de aparência deformada, que
carrega um grande saco de moedas de ouro, e “suborna” os humanos para obter
suas almas. Em outros casos é visto com uma espécie de pássaro negro
(semelhante ao Abutre), porém com dentes capazes de estraçalhar as almas
humanas que comprara [1].
Independentemente
de sua aparência esse demônio tem seduzido muitas pessoas e a Bíblia nos alerta
do perigo que é se deixar seduzir por ele. O primeiro perigo que a Bíblia nos
alerta é que podermos nos
tornar uma pessoa ambígua, ou seja, ficamos divididos entre
dois senhores. No caso em questão a pessoa deixa de adorar a Deus pelo que Ele
é e passa a servir a Mamom pelo o que ele pode vir a dar. Com isso, a pessoa
que está dividida, na verdade está longe de Deus e está totalmente servindo a
Satanás, pois o próprio Jesus deixou bem claro que não podemos servir a dois
senhores e o Senhor não se deixa escarnecer. Veja o que ele disse aquele homem
que queria servi-lo, mas que para isso ele deveria vender tudo que tinha e
distribuir com os pobres, depois segui-Lo. Jesus não tinha nada contra o que
ele possuía, mas da forma idolátrica que ele possuía os seus bens. A sua
confiança e a sua religião estavam firmadas no que ele possuía e não em Deus
que ele dizia servir (Mt 19.16-22). É bom lembrar que predominava entre os
judeus daqueles dias a ideia de que as riquezas eram um sinal do favor de Deus,
e que a pobreza era um sinal de falta de fé. Jesus então está mostrando para os
discípulos que quem confia nas riquezas e não em Deus não entrará no Reino de
Deus. Para isso Jesus ilustra a Sua palavra falando que é mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha (agulha de costura), do que entrar um rico no
Reino de Deus:
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade
vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo
que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um
rico no reino de Deus” (Mt 19.23,24).
A
Bíblia nos mostra que essa busca insaciável e avarenta pelas riquezas é idolatria,
a qual é demoníaca (cf. 1Co 10.19,20; Cl 3.5), e há muitos cristãos caindo
nessa ilusão.
Segundo perigo que a Bíblia
nos alerta é que quem é dominado por esse desejo é levado a ruína e a perdição (1Tm
6. 9).
Observe
como essa ruína e
perdição ocorrem. Em
primeiro lugar Paulo diz que essa cobiça é uma tentação, ou
seja, procede de Satanás, pois Deus não tenta ninguém e nem pode ser tentado: “Ninguém, ao ser tentado, diga:
Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém
tenta” (Tg 1.13). Deus prova os seus servos e provação é diferente
de tentação (cf. Gn 22).
Em segundo lugar, Paulo nos
diz que isso é uma cilada,
uma armadilha para derrubar os incautos. Essa tentação leva a
uma cilada que leva a
muitas concupiscências insensatas e perniciosas, ou seja, o
senso moral fica totalmente ofuscado como resultado da paixão que o domina [2].
A pessoa passa a agir de forma impensada, pois é dominada por um desejo
incontrolável, tal pessoa perde o senso, ou seja, é dominado por uma
concupiscência insensata
(sem senso, que perdeu a razão). Outro detalhe que Paulo nos chama
a atenção é que essa concupiscência é perniciosa.
Esse termo quer dizer que é algo prejudicial, nocivo, ruinoso;
perigoso. É como se a pessoa estivesse com uma febre muito grave, acompanhada
de delírios, e amiúde mortal.
Em terceiro lugar, Paulo fala que
tal desejo leva a pessoa à morte; morte essa que pode ser tanto espiritual
quanto física, pois a pessoa é afogada
na
ruína e perdição. Paulo está dizendo que tal pessoa está em total
decadência e desgraça. Esse é o preço pago pela ganância. Um exemplo
disso é o Mister Colibri, onde milhares de pessoas pensam que irão ficar ricas
ou até mesmo milionárias da noite para o dia ganhando cerca de 240% de lucro ao
mês. Isso não existe, mas tem pessoas cegas pela ganância que não conseguem ver
isso.
A dona
de casa Ivonete Mendes, de Itatiba, interior de São Paulo, é associada do
Mister Colibri há quatro meses. Além dela, a irmã, a mãe e dois sobrinhos
também aderiram ao site. Ivonete investiu R$ 5.000 e recebe cerca de R$ 1.300
por mês. Sua irmã já investiu R$ 15 mil e ganha mais de R$ 2.000 por mês. “É
uma empresa maravilhosa, só preciso assistir a um minuto e meio de propaganda”,
comemora.
Para
conseguir esse lucro, ela precisa vender seu dinheiro virtual, os LPs, a outros
associados, geralmente os que são mais novos no esquema. “Quando preciso de
dinheiro rápido, vendo cada LP por R$ 1,70, mas já cheguei a vender por R$ 2”.
O
problema é que quando houver mais vendedores que compradores, o LP vai se
desvalorizar, até que os associados percebam que ele não tem valor nenhum. “É
uma temeridade pessoas darem dinheiro para algo que não tem nenhuma
regulamentação e nem garantia legal”, diz o professor de gestão empresarial da
faculdade IBS/FGV, Pedro Leão Bispo.
“Captar
dinheiro sem oferecer nenhum produto ou serviço é crime contra a economia
popular”, esclarece o advogado especialista em direito criminal Fernando
Khaddour. “Não conheço a Mister Colibri e não posso falar sobre a empresa, mas
cabem investigações do Ministério Público ou da Polícia Federal para que sejam
esclarecidas as formas de operação da empresa”. (PG) [3].
Esse amor às riquezas levam as pessoas a
aprofundar raízes em todo tipo de males:
Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os
males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram
com muitas dores.
Primeiramente,
se desviam da fé, ou seja, a pessoa se apostata da fé deixando de servir a Deus
para servir os seus próprios interesses, pois passa a amar o dinheiro mais que
a Deus. E segunda coisa que ocorre por se apostar da fé é que a própria pessoa
se fere ou se transpassa com muitas dores. As consequências são as piores
possíveis na vida do ganancioso. A ganância cega e leva a pessoa a amar a si mesmo
(egoísmo) e passar por cima de tudo e de todos.
A MAIOR RIQUEZA É O SENHOR EM NOSSAS VIDAS
“Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa
alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos
contentes. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a
justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”
Depois
de Paulo alertar dos perigos da riqueza, ou melhor, do amor ao dinheiro, ele
mostra a Timóteo o que é prioridade na vida.
Em primeiro lugar, que na vida nada trazemos e
nada levaremos dela. Em outras palavras Paulo está nos dizendo que
tudo que alcançarmos nessa terra é lucro, mas ao mesmo tempo é fugas e
passageiro. Observe o que ele disse: “Porque
nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”. O termo
contente que dizer que temos satisfação em tudo, que estamos satisfeito com que
o Senhor tem nos dado. É isso que Paulo nos fala em Filipenses 4. 10-13:
“Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque,
agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já
tínheis antes, mas vos faltava oportunidade.
Digo isto, não por causa da pobreza, porque
aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.Tanto sei estar humilhado
como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho
experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de
escassez; tudo posso naquele que me fortalece”.
Segunda coisa que Paulo nos mostra é devemos fugir
dessa tentação, pois ela pode ser maior que nossa resistência e não
conseguiremos resisti-la: “Tu, porém, ó homem de Deus, foge
destas coisas”. Com
o pecado não se brinca, pelo contrário se foge-se dele.
Terceira coisa que Paulo lembra a Timóteo é que
existem riquezas maiores a serem perseguidas. “Antes, segue a
justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”. Essas sim são
riquezas que devemos buscar constantemente para sermos ricos aos olhos de Deus
e também diante dos homens. Pois essas riquezas espirituais moldam e revelam o
nosso caráter e nos faz testemunhas fiéis diante dos homens e diante de Deus.
Quero
concluir dizendo que a ganância é o maior mal que entrou em nossas igrejas com
o nome de Evangelho da Prosperidade. Esse espírito que na verdade é o espírito
de mamom tem estado em muitas igrejas, algumas vezes disfarçadamente e outras
descaradamente.
Que
o Senhor nos de sabedoria e discernimento espiritual para não cairmos nessa
tentação.
Que
o Senhor nos ajude!
Fonte:
[2] Kelly, J.N.D. I e II Timóteo e Tito,
Introdução e Comentário. Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP.
Reimpressão 1986: p. 130
[3] Grossi, Pedro, Jornal O Tempo – Belo Horizonte (08/06/2012)
Fonte: www.napec.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário