"Visto
não haver outro caminho de salvação a não ser o revelado no Evangelho e visto
que, conforme o usual método de graça divinamente estabelecido, a fé vem pelo
ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua Igreja para ir
por todo o mundo e ensinar a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm
por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem
estabelecidas e contribuir, por meio de suas orações e ofertas e por seus
esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por todo o mundo. Jo 14:6; At.4:12; Rom 10:17; Mt 28:19,20; ICor 4:2; II Cor
9:6,7,10." [CFW - XXXV, IV]
A necessidade de uma evangelização fundamentada na
soberania de Deus é urgente nos nossos dias, a grande comissão (Mt 28.18-20)
foi distorcida no que chamamos hoje de "evangelismo ritualístico", o
reduzimos e corrompemos seu verdadeiro significado. Podemos hoje questionar a
igreja com essa pergunta: Qual a parte do IDE você, cristão, não entendeu? O
significado da palavra corrupção usado no título, se refere ao ato de
degenerar, afastar de uma conduta reta ou possuir uma variante. O que vemos
hoje é uma intrigante subtração dos métodos e dos conceitos sobre o que
significa evangelismo bíblico. Devemos voltar as Escrituras, a teologia
bíblica, redefinindo outra vez o sentido, o conceito da grande comissão e suas
perspectivas bíblicas. "Missões" não é o alvo final da igreja, porque
o propósito final da igreja não é o homem. O alvo final da igreja é a adoração
a Deus, isso sim é o nosso propósito final, ou seja, torne Deus conhecido para
que os homens possam adorá-Lo. (Sl 117.1) Missões não significa enviar
missionários, significa levar a verdade de Deus, as boas novas, através de
homens e mulheres pecadores regenerados que entende o sentido bíblico dessa
grande comissão.
Reduzir o método de evangelismo em quatro leis
espirituais ou formas de abordagens para declaramos alguém salvo diante de Deus
é o maior estrago que a igreja tem feito nos últimos tempos. Chegar para alguém
e "perguntar se ele é um pecador", "se ele quer ir para o
céu", "se ele deseja fazer uma oração de cinco minutos" e depois
confirmar se essa "oração foi feita com sinceridade" para declarar a
salvação dessa pessoa é uma grande heresia. Mas você pode questionar dizendo
que a própria Escrituras afirma que devemos somente receber a Cristo. De fato,
precisamos entender o que significa receber a Cristo. A mensagem deve ser, "arrependei-vos
e credes no Evangelho" (Mc 1.15), receber a Cristo pela fé
através da sua irresistível Graça. (Ef 2.8) Esse método medíocre, leva a igreja
de Cristo a viver confirmando "salvação" daqueles que simplesmente
levantam a mão no meio do culto ou dizem que um dia já fizeram uma
"oraçãozinha" pedindo para Jesus entrar no seu coração.
Definitivamente, concordo com um pregador reformado que diz: Choremos pelas
almas enganadas! Não é por esse tipo de evangelização que Deus manifesta a
Sua graça e sim apesar dessa evangelização.
É nítido que boa parte desse movimento
evangelístico moderno, ainda que a graça de Deus seja mencionada, não quer
dizer que foi compreendida. Sustentam a ideia herética de que pela graça, todos
os homens tem a habilidade de escolher acreditar e aceitar o evangelho.
Precisamos como igreja quebrar alguns paradigmas, corrigir alguns falsos
ensinos que corrompem inteiramente as doutrinas da graça. Contemplamos
acréscimos, adições às Escrituras, a igreja foi envolvida numa esfera
pragmática, "é verdade que não está na Bíblia, mas funciona", levando
a igreja a uma prática evangelística não bíblica porém "válida" -
dizem eles. O que temos hoje é um método influenciado por ideias pelagianas ou
semipelagianas. Corrompendo sim o método, afirmando ser a graça apenas uma
ajuda externa de Deus, um tipo de ação que persuade o homem pela razão,
fazendo-o escolher através do seu livre arbítrio o que deve fazer ou não.
Fazendo o homem um ser independente, afirmando a ideia que a fé não é um dom, e
sim, uma obra meritória para levá-las à salvação. Podendo assim o homem fazer
uma escolha por Cristo, dependendo apenas de sua própria vontade.
Infelizmente é perceptível que muito dos nossos
métodos de evangelização provém dessa fraude, calcada em cima de princípios que
reconhece o pecado original como simplesmente uma enfermidade moral. Defendendo
com isso que o homem é aquele que dá o primeiro passo em direção a Deus.
Notemos o sistema de apelo por decisões iniciado por Charles Finney, levando o
homem a tomar uma decisão através de um convite, "pelagiando" assim o
efeito da sua conversão. Esse semipelagianismo defendido por Armínio, trouxe em
sua totalidade uma influência em quase tudo o que vemos hoje na área da
evangelização. Essa visão é completamente incompatível com o pensamento
reformado, a visão bíblica sobre a evangelização fundamentada na soberania de
Deus. Muitos sem nunca nem ler sobre a teologia reformada, de forma brutal
acusam os reformadores de estar alheio a evangelização.
E quem disse que a doutrina da eleição não leva a
evangelização? Precisamos entender que a grande comissão na perspectiva dos
Evangelhos e do livro de Atos esta completamente arraigada na soberania de
Deus. Sendo assim, de forma soberana ligada aos meios da graça. A eleição não é
uma motivação a passividade e sim para atividade. O próprio Calvino, que até
hoje é rotulando avesso à evangelização (conheça a sua história) declarou que a
evangelização não era opcional, era parte de ser do ser cristão. Não somos
responsáveis pelos resultados da nossa evangelização, e sim, pela fidelidade da
mensagem e pelos métodos que usamos. O crescimento vem de Deus conforme 1Co
3.6-8. Podemos exemplificar o que foi escrito na lápide do missionário David
Livingstone: "Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me
convém conduzi-las". Um missionário que se dispôs ir a África, em
constante busca pelas ovelhas do Senhor. Precisamos de homens e mulheres,
cristãos, que possam defender as antigas doutrinas da graça, um evangelho
centralizado na soberania de Deus, o autor e consumador da nossa fé e da nossa
salvação. (Hb 12.2)
A evangelização bíblica que precisamos voltar a
saborear é aquela que procura a conversão de pecadores juntamente com o
discipulado daqueles que já nasceram de novo. Vejamos como diz o livro A Tocha
dos Puritanos de Joel Beek, "A tocha da evangelização foi acesa
originalmente, no Velho Testamento. Acesa pelo próprio Deus na primeira
promessa messiânica que Ele deu a Adão e Eva, lá no Éden." (Gn 3.15) A
evangelização bíblica está fundamenta na soberania divina, dessa forma Deus
demonstra que tem os meios para levar avante este projeto evangelístico.
Escolhendo João Batista para transpor a tocha da evangelização à era do Novo
Testamento, quando Jesus ressurge dos mortos, comissionando seus discípulos
para um grande desafio que assegura seu sucesso. (Mt 28.18) Note que os meios
que Deus usa na ação da Sua soberania são homens pecadores como nós. Nossa
motivação consiste no mandamento do mestre. p. 14,15.
A soberania de Deus no ato de eleger não permite ao
evangelista reformado ficar inerte a isso, contudo como Calvino que nunca foi
contra a evangelização, entendia que essa evangelização não deveria ser da
forma errada. Entendendo que devemos ir, cumprindo essa ordem para que o
propósito final seja satisfeito, no caso, "fazer discípulos de todas as
nações", por meio do ensino e batismo (Mt 28.19-20), precisamos
encarar a realidade da grande questão: como devemos ir? A grande comissão foi
ordenada para discípulos, portanto, só discípulos irão cumprir. Devemos ir não
por uma motivação emocional ou ardor passageiro, não isentando o conhecimento
teológico, o nosso sentido de urgência deve preceder um encontro como o do
próprio Isaías (Is 6), como diz São Francisco de Assis: "Pregue o
Evangelho e se possível use as palavras". É impossível uma
evangelização sem teologia, creio que temos uma missão de evangelizar para
evangelizarmos com a missão de ensinar tudo o que Jesus ordenou para que seja
obedecido. (Mt 28.20) "Todo cristão ou é um missionário ou um
impostor" Charles H. Spurgeon.
Voltemos ao Evangelho, às Escrituras, Soli Deo
Glória.
Morgana Mendonça dos Santos, Recifense, Cristã
Reformada, Missionaria, pecadora remida pela Graça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário