por
Pastor John Piper
29 de Dezembro de 2004
“As ondas de morte me cercaram; as torrentes de destruição me atemorizaram...Quanto a Deus, o Seu caminho é perfeito” (2 Samuel 22:5, 31).
Depois de perder seus dez filhos por causa de um “desastre natural” (Jó 1:19), Jó disse, “O Senhor deu, e o Senhor tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21). No final do livro, o escritor inspirado confirma o entendimento de Jó do que aconteceu. Ele diz que os irmãos e irmãs de Jó “o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia enviado”. Isto tem várias implicações cruciais para nós, à medida que pensamos sobre a calamidade no Oceano Índico.
1. Satanás não é a causa última, Deus é.
Satanás teve uma parte na miséria de Jó, mas não a parte decisiva. Deus deu à Satanás permissão para afligir Jó (Jó 1:12; 2:10). Mas Jó e o escritor deste livro tratam Deus como a causa última e decisiva. Quando Satanás aflige Jó com feridas, Jó diz à sua esposa, “Receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal?” (Jó 2:10), e o escritor chama estas feridas satânicas de “o mal que o Senhor lhe havia enviado” (Jó 42:11). Assim, Satanás é real. Satanás traz miséria. Mas, Satanás não é a causa última e decisiva. Ele está amarrado. Ele não vai além do que Deus decididamente permite.
2. Mesmo se Satanás tivesse causado o maremoto no Oceano Índico, no dia após o Natal, ele não foi a causa decisiva de mais de 60.000 mortos; Deus foi.
Deus reivindica o poder sobre os tsunamis em Jó 38:8, quando Ele pergunta retoricamente a Jó: “Quem encerrou o mar com portas, quando este rompeu e saiu da madre... e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se parará o orgulho das tuas ondas?”. Salmos 89:8-9 diz, “Ó Senhor.... Tu dominas o ímpeto do mar; quando as suas ondas se levantam, tu as fazes aquietar”. E o próprio Jesus tem hoje, o mesmo controle que Ele teve sobre as ameaças mortíferas das ondas: “E...repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança” (Lucas 8:24). Em outras palavras, mesmo se Satanás tivesse causado o maremoto, Deus poderia ter parado as ondas.
3. As calamidades destrutivas deste mundo são um misto de julgamento e misericórdia.
Seus propósitos não são simples. Jó era um homem piedoso e suas misérias não eram uma punição de Deus (Jó 1:1,8). O desígnio delas era purificação, não punição (Jó 42:6). Mas nós não conhecemos a condição espiritual dos filhos de Jó. Jó certamente estava preocupado com eles (Jó 1:5). Deus pode ter tirado as suas vidas em julgamento. Se isto for verdade, então, a mesma calamidade prova ser, no fim, misericórdia para Jó e julgamento para os seus filhos. Esta é a verdade de todas as calamidades. Elas são um misto de julgamento e misericórdia. Elas são tanto punição como purificação. O sofrimento, e até mesmo a morte, pode ser um ou outro.
A ilustração mais clara disto é a morte de Jesus. Ela foi tanto julgamento como misericórdia. Ela foi julgamento sobre Jesus, porque Ele suportou os nossos pecados (não os Seus), e ela foi misericórdia para conosco, os que cremos que Ele suportou a nossa punição (Gálatas 3:13; 1 Pedro 2:24) e que Ele é a nossa justiça (2 Coríntios 5:21). Outro exemplo é a maldição que repousa sobre esta terra caída. Aqueles que não crêem em Cristo, experimentam-na como julgamento, mas os crentes experimentam-na como uma misericordiosa, embora dolorosa, preparação para a glória. “A criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, em esperança” (Romanos 8:20). Esta é a sujeição de Deus. Este é o porquê há tsunamis.
Quem, deste mundo caído, sofre os desastres naturais? Todos nós, incluindo os cristãos: “Não somente a criação, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Romanos 8:23). Para aqueles que se lançam sobre a misericórdia de Cristo, estas aflições estão “produzindo em nós um peso eterno de glória acima de qualquer comparação” (2 Coríntios 4:17). E quando a morte chega, ela é uma porta para o Paraíso. Mas, para aqueles que não apreciam a Cristo, sofrimento e morte são julgamentos de Deus. “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pedro 4:17).
Para as crianças que são muito novas para processar cognitivamente a revelação de Deus na natureza ou na Escritura, a morte não é a palavra final de julgamento. O compromisso de Deus, de mostrar Sua justiça publicamente, significa que Ele não condenará finalmente os pecadores que não puderam interpretar fisicamente a revelação natural ou especial (Romanos 1:20). Há uma diferença entre supressão da revelação que alguém pode compreender mentalmente (Romanos 1:18), e não ter um cérebro suficiente para compreendê-la de forma alguma. Portanto, quando as pequenas crianças sofrem e morrem, não podemos assumir que elas estão sendo punidas ou julgadas. Não importa quão horrível seja o sofrimento ou a morte, Deus pode voltá-lo para o bem maior delas.
4. O coração que Cristo dá ao Seu povo sente compaixão por aqueles que sofrem, não importa qual seja a fé deles.
Quando a Bíblia diz, “Chorai com os que choram” (Romanos 12:15), ela não adiciona, “a menos que Deus tenha causado o choro”. Os consoladores de Jó teriam feito melhor se tivessem chorado com Jó, do que falado muito. Isto não muda quando descobrimos que os sofrimentos de Jó vinham, no final das contas, de Deus. Não, é certo chorar com os que choram. Dor é dor, não importa quem a cause. Todos nós somos pecadores. A empatia flui não das causas da dor, mas da companhia da dor. E todos nós estamos juntos nisto.
Finalmente, Cristo nos chama a mostrar misericórdia àqueles que sofrem, mesmo se eles não a merecem.
Este é o significado de misericórdia – ajuda não merecida. “Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam”. Portanto, ore ardentemente por Scott Purser e por sua equipe, à medida que eles investigam a melhor maneira que a Global Diaconate [Diaconato Global]1 pode misericordiosamente responder com o amor de Deus às calamidades ao redor do Oceano Índico.
Nas misericordiosas mãos do Deus Todo-Poderoso,
Pastor John
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[1] Nota do tradutor: O Global Diaconate é um grupo de pessoas chamadas e qualificadas, apontadas pela Igreja Batista Belém [em Mineápolis, pastoreada pelo Pastor John Piper], colocadas em lugares significantes, para ministrar misericórdia entre os mais pobres e aqueles que estão sofrendo. Entre centenas de outros problemas nos quais o Global Diaconate está engajado, podemos citar a Prostituição Infantil em Bangcoc (capital da Tailândia), AIDS e órfãos aidéticos na região africana situada ao sul do Deserto do Saara, fome no Sudão, projetos de orfanatos em Camarões, etc.
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Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 29 de Dezembro de 2004.
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