Tornou-se comum entre os
crentes frases do tipo: “Não olhe para mim, olhe para Jesus”. Mas
seria ela e suas corruptelas uma verdade? Digamos que… parcialmente,
pois contém apenas uma fração da verdade.
Devemos olhar sempre
para o nosso Senhor, pois é Ele quem nos dirigirá, revelando-nos,
segundo a Escritura, a Sua vontade [para nós e nossos semelhantes] como
Aquele que é o autor e consumador da nossa fé [Hb 12.2]. Contudo, isso
não quer dizer que não devamos olhar para os homens, nem aprender com
seus exemplos, seja imitando o que fazem de bom, e rejeitando
prontamente seus erros, não incorrendo neles, tudo segundo e sob a luz
das Escrituras Sagradas.
Muitos se utilizam
daquela frase com o nítido intuito de justificar seus erros; alguns até
mesmo para encobri-los, quando devíamos seguir o exemplo de Paulo:
“Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” [1Co 4.16].
Estaria o apóstolo tão
cheio de si mesmo que proclamaria uma blasfêmia? Comparar-se a Cristo?
Estaria envolvido pela vaidade e o orgulho a ponto de afirmar a
necessidade dos coríntios serem como ele? Qual o fundamento de Paulo
para tal afirmação? Não estaria o homem louco e dominado pela
auto-exaltação?
Vejamos algumas características do apóstolo:
1) Paulo estava crucificado com Cristo [Rm 6.6, Gl 2.20a].
2) Paulo tinha a mente de Cristo [1Co 2.16].
3) Paulo tinha o Espírito de Cristo [Rm 8.9].
4) Paulo era imitador de Cristo [1Co 11.1].
No mundo atual, todos se
querem originais, mas são exatamente os que se dizem originais que
descambam para as esparrelas do diabo, os velhos ardis com que sempre os
pegou; na pretensão de serem, digamos, únicos, singulares, acabam por
repetir vulgarmente o que tornou satanás em pai da mentira e homicida
desde o princípio, o qual “não se firmou na verdade, porque não há
verdade nele” [Jo 8.44].
A mesma originalidade
que fez Adão e Eva cairem; Caim matar seu irmão Abel; os homens
contruírem a Torre de Babel; desprezarem os alertas de Nóe quanto ao
julgamento divino; matar os profetas que proclamavam a Palavra de Deus;
convencer Davi a assassinar covardemente um soldado a fim de adulterar
com sua esposa; a crucificar Cristo; perseguir a igreja e matar os
santos; implementar heresias, corrupções e formatar os antievangelhos
com o nítido objetivo de dispersar o rebanho do Senhor, como se fosse
possível espalhar aquilo que Cristo juntou pelo poder do Seu sangue na
cruz [At 20.29].
Paulo não se
envergonhava de ser como Cristo, pelo contrário, ele desejava
ardentemente sê-lo, “esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e
avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”[Fl 3.13-14]. E o
alvo era viver para e pelo Evangelho, o qual chamou apropriadamente de
“meu evangelho” [Rm 2.16].
Novamente, parece que o
apóstolo está envolto em soberba e arrogância, buscando uma
autopromoção, porém, creio que para cada um de nós, os crucificados com
Cristo, o Evangelho é nosso também, pois por ele fomos salvos, vivemos e
seremos glorificados eternamente.
Antes de jactar-se em si
mesmo, Paulo estava a glorificar Cristo, arraigado ao desejo de se
parecer e ser semelhante ao seu Senhor. Ao invés de orgulho e vaidade,
temos submissão e obediência, ao ponto de o termo “imitador”, algo tão
desprezível em nossos dias, ser apontado por Paulo como uma virtude, uma
qualidade dos que estão em Cristo, e são guiados por Ele.
Então, quando o apóstolo
exorta a igreja a imitá-lo, o faz pelo privilégio de pertencer a Deus,
mas não somente por isso, mas porque vivia não mais ele, mas Cristo
nele; e a vida vivida na carne, vivia-a pela fé do Filho de Deus, o qual
o amou, e se entregou a si mesmo por ele [Gl 2.20b]. O apóstolo tinha o
legítimo direito de admoestar os crentes a serem seus imitadores, assim
como ele era de Deus, pelo amor com que Cristo o amou em oferta e
sacríficio a Deus [Ef 5.1-2].
E nós? Podemos pedir
para que os irmãos nos imitem assim como imitamos Cristo? Ou nossa
consciência nos diz para eles não fazerem isso? Por quê? Não será que
nos esquecemos de seguir o exemplo de Paulo e imitar o Senhor? Ou
estamos preocupados demais em imitarmos a nós mesmos, em nossas
mentiras, orgulhos, vaidades, pretensões e objetivos nitidamente
antibíblicos?
Se Paulo não vivesse a
verdade seria facilmente confrontado. Não teria a autoridade apostólica
reconhecida. Nem teria suas epístolas citadas por Pedro como parte das
Escrituras. Se Paulo tivesse uma falsa vida cristã seria rejeitado pela
igreja, a mesma igreja que o acolheu e reconheceu a regeneração operada
pelo Espírito Santo naquele que antes a perseguia.
Na verdade, quando
alguém afirma: “Não olhe para mim, olhe para Cristo”, está rejeitando em
seu coração o próprio Evangelho; está se colocando vergonhosamente como
alguém que não precisa seguir exemplos, e nem mesmo pode ser um; que se
considera autosuficiente em si mesmo, e pode recusar qualquer conselho,
exortação ou ensinamento, pois não se deve olhar para mais ninguém; e
nisso, muitos acabam erroneamente por segui-lo… Contudo, Deus é um
desconhecido para essa espécie de crente, o que nos levará inevitalmente
à seguinte pergunta: como esse “super-homem” pode olhar exclusivamente
para o Senhor, conhece-lO e a Sua vontade, se não se enquadra nas
características de Paulo?
Ele:
1) Não está crucificado com Cristo.
2) Não tem a mente de Cristo.
3) Não tem o Espírito de Cristo.
4) Não é um imitador de Cristo.
É possível?
Como está escrito:
“haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos,
blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos… Tendo
aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te”
[2Tm 3.1-2,5].
Assim se constrói uma
mentira, a de que não devemos seguir os homens, nem ouvi-los, nem
lê-los, nem espelharmos naquilo que de bíblico fazem. Ao contrário dos
irmãos de Beréia que ouviam Paulo atentamente, mas confirmavam se tudo o
que dizia estava nas Escrituras, a maioria está mais preocupada em
viver uma vida à margem da Bíblia. Como bandoleiros e usurpadores da
palavra; como se o testemunho cristão fosse algo irrelevante,
descartável, inalcansável. E, nisso, tentam fazer de Deus mentiroso,
para a própria condenação.
É uma via de mão-dupla:
1) Não se segue
ninguém, porque assim pode-se viver a vida que quiser, à revelia da
Escritura, sem que nada ou alguém o leve a imitar Cristo;
2) E não se corre o
risco de ser imitado, e assim não é necessário aprimorar-se na palavra e
no conhecimento de Deus. Pode-se ser o que sempre foi sem medo de ser
importunado.
Sendo ainda possível:
1) Se considerarem em
tão grande conta no seu orgulho que desprezam a igreja. Dizem: “Ela não
é perfeita… ninguém é perfeito… então, por que devo olhar para os
homens?“
Esquecem-se de que a
igreja julgará o mundo juntamente com o Senhor, e de que, se não
olharmos para ela, com seus erros e acertos, sendo capazes de apreender o
bem e rejeitar o mal, não haverá purificação, porque Deus utilizará
exatamente os meios humanos para torná-la santa e perfeita. De tal
maneira que a multiforme sabedoria divina seja agora conhecida dos
principados e potestades nos céus, através da igreja, “segundo o eterno
propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” [Ef. 3.10-11].
A falácia do não seguir
os homens está em acordo com o individualismo, o egoísmo e o humanismo
que têm permeado a igreja nos últimos tempos. Já imaginou se os
discípulos do Senhor tivessem esse pensamento, visto ser Jesus homem
(sem se esquecer da sua deidade)? Já imaginou se os discípulos, pelo
fato dEle ser também humano, desprezassem seus ensinamentos e
mandamentos? E como a igreja se iniciaria, progrediria, sendo pastoreada
por homens simples e incultos como Pedro, Tiago e João? Mas, que tinham
a sabedoria que vinha do céu? Haveria uma Igreja de Cristo? Haveria
proclamação do Evangelho? Haveria salvação? Santificação? E Cristo teria
um corpo? E o Noivo, a Noiva?
O Evangelho foi pregado
por homens divinamente inspirados e guiados. Hoje, o Evangelho progride
por homens igualmente inspirados e guiados pelo Espírito Santo. Assim
como devemos orar e clamar a Deus para que Ele nos capacite e aperfeiçoe
ao ponto em que outros sentirão o desejo de nos imitar. Não para a
nossa glória pessoal, mas para a glória de Deus, que a cada dia nos faz
mais semelhantes ao Seu Filho Amado, Jesus Cristo. Se você não crê
nisto, a sua fé está posta em outro deus, não no Deus Vivo e
Todo-Poderoso.
Não seguir os homens
naquilo em que são bíblicos, fará seguir os que não são bíblicos. E esta
não é a vontade de Deus, mas somente outra forma do maligno
aprisioná-lo.
Por Jorge Fernandes Isah
Nota: Autofilia = estima exagerada por si próprio; egolatria (Do gr. autós, «próprio» +philía, «amor; amizade»)
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário