Católicos podem ser salvos? - O Peregrino

O Peregrino

Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade? Gálatas 4:16

test banner

Breaking

Post Top Ad

Minha Rádio

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Católicos podem ser salvos?

Essa é uma pergunta que recebo com certa frequência. Como neste blog – e principalmente no mais antigo, o Heresias Católicas – eu fui um dos primeiros protestantes aqui no Brasil que se atreveu a quebrar a hegemonia católica na internet ao rebater os ataques papistas à nossa fé, que por muito tempo ficaram sem resposta (o que me fez ser provavelmente o mais odiado por muitos deles, embora o Yago já deva ter roubado este honroso posto), alguns podem pensar que sou do tipo de radical que acha que católico nenhum pode ser salvo, ou que só existe salvação dentro da minha religião. Nada mais longe da verdade, uma vez que esse tipo de exclusivismo é uma das características mais marcantes de uma seita, como é o próprio caso da Igreja Romana que oficialmente decreta que fora da Igreja Católica não há salvação (e que lança anátemas sobre todos os outros).

Além disso, seria uma enorme prepotência de minha parte dar uma de “Deus” aqui e definir quem será salvo e quem não será, tarefa esta que só compete a Ele e a mais ninguém. Como eu sou um pobre miserável, você nunca me verá julgando a salvação pessoal de alguém, dizendo coisas como “os espíritas vão todos pro inferno”, “os católicos não podem ser salvos”, “muçulmanos são todos terroristas endemoniados” ou coisas do tipo. Eu posso discordar em quase tudo da teologia deles, mas também sei que salvação envolve muito mais que o aspecto teológico apenas: envolve santificação pessoal, a fé que a pessoa tem em Jesus, a sinceridade com que ela vive essa fé, os frutos que demonstram um arrependimento verdadeiro, a forma com que ela trata as pessoas à sua volta e até seus inimigos e detratores, o seu exemplo de conduta e de caráter, o grau de conhecimento ou ignorância que teve das verdades bíblicas, e assim por diante.

Neste pacote todo, a teologia com toda a certeza influencia, mas não determina decisivamente a salvação de alguém, como um juiz que bate um martelo decretando que se é católico já está automaticamente condenado ao inferno e nem precisa avaliar mais nada da vida pessoal do sujeito. Isso seria resumir toda a vida da pessoa apenas à sua confissão doutrinária, que é muito importante, mas não o único fator que conta. Neste momento você deve estar questionando: “Mas se é assim, então teologia não serve pra nada?”. Também não é por aí, o que basicamente tornaria todo o meu trabalho uma grande futilidade.

Para entendermos a função e a importância da religião, precisamos primeiramente compreender o que religião significa. A palavra “religião” vem do latim religare, que significa, literalmente, “religar”. Mas religar o que? O homem com Deus. O homem foi criado em comunhão plena com Deus, mas com a Queda o pecado entrou no mundo e rompeu essa comunhão direta. É para isso que existe a religião, a fim de reconectar o homem ao seu Criador. E como isso acontece? Não através de leis ou de fórmulas mágicas, mas por meio da fé no sacrifício vicário de Jesus em nosso favor, o Cordeiro de Deus que morreu justamente para nos religar a ele. Por isso, o nosso religare é Jesus.

Mas há um problema: nem todos aqueles que dizem crer em Cristo professam realmente a mesma fé. De fato, há igrejas cristãs tão destoantes entre si que fica muito difícil dizer que se trata de uma mesma coisa, como se partilhassem uma mesma essência. É aí que entram os sistemas religiosos. Embora a palavra “religião” hoje em dia carregue muitas vezes um peso negativo, sendo frequentemente usada como sinônimo de legalismo e farisaísmo, originalmente falando ela não tinha esse conceito. Nós podemos nos dizer cristãos pelo simples fato de crermos em Cristo e seguirmos seus ensinamentos, no que constitui o Cristianismo. Mas para seguir esses ensinamentos precisamos saber quais são eles. E é aí que surgem os falsos cristianismos, que são como o joio jogado em meio ao trigo, com o único objetivo de causar distração e confusão.

A verdadeira religião é a religião que nos religa ao Pai através de Cristo. As falsas são aquelas que vão tentar justamente impedir esse religare, ou seja, que o Inimigo colocará ali como pedras de tropeço que na verdade servem à finalidade oposta à verdadeira religião. Funcionam, portanto, como “anti-religiões”, embora se apresentem como uma. Se essas religiões abertamente dissessem que não querem religar o homem com Deus nenhum, elas não seriam religião, mas ateísmo puro. Então elas se passam como religiões, embora seu verdadeiro objetivo seja obstruir esse contato com Deus a todo e a qualquer custo.

Vemos um exemplo disso nas religiões que não creem em Cristo, ou que creem nele de uma forma bem diferente de nós cristãos. Para os judeus e muçulmanos, Jesus foi “um grande profeta”, mas não o Messias; para os espíritas foi “um grande espírito evoluído”, mas não o Messias; para os hindus é “uma das mais de 100 milhões de divindades” que existem, mas isso significa fundamentalmente nada, e assim por diante. São religiões que tiram de cena o sacrifício vicário de Cristo, ficando apenas com o seu “exemplo pessoal” ou os seus “ensinos morais”. Mas ao tirar o sacrifício, eles tiram o mais importante: aquilo que nos reconectou a Deus. São, neste sentido, “anti-religiões”, como expliquei anteriormente. Querem que o homem chegue a Deus, mas pelos meios errados, que é o mesmo que apontar a direção errada a quem está perdido na estrada.

Com o catolicismo é diferente. Eles creem no sacrifício vicário, que é o pressuposto básico para um sistema religioso ser considerado “cristão”, ainda que formalmente. Isso leva muitos a concluírem que, embora tenha muitos erros, o catolicismo romano ainda assim é “cristão” em um sentido autêntico do termo, negligenciando ou subestimando os seus muitos desvios. Mas a grande sacada do catolicismo e de outras falsas religiões pretensamente cristãs é que eles creem em Cristo, mas não como o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). Ou seja, ao invés de tirar Cristo do jogo, como as outras religiões fazem, eles descentralizam Cristo e o tornam mais um em meio a incontáveis outros mediadores e mediadoras, para que o homem não chegue a Deus nunca.

Um exemplo muito claro e pertinente sobre isso é o esquema católico de oração, ou melhor, as “rezas”. Há alguns meses eu publiquei este artigo sobre as ofensas do padre Paulo Ricardo proferidas em plena missa contra nós evangélicos, chamando-nos de “otários” por irmos direto a Deus em oração. Segundo ele, nós somos obrigados a passar pelos “santos” primeiro, ou senão estaremos sendo “orgulhosos”. Então eu mostrei dúzias de exemplos de personagens bíblicos dirigindo suas orações diretamente a Deus no Antigo e no Novo Testamento (ex: 1Sm 1:10; 2Rs 19:15; Is 38:2; 63:16; 1Cr 4:9-10; 2Cr 20:3; Dn 9:3-4; Mt 6:6; At 1:23-25; Ef 3:14-21, etc), contra zero casos de alguém preferindo orar a um “santo” morto para que este tal “santo” interceda no céu perante Deus.

Mais do que isso: mostrei que nós podemos ter plena confiança para entrar na presença de Deus, sem medo de estarmos sendo “orgulhosos” e sem sermos feitos de otários por causa disso:

“Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” (Hebreus 10:19-23)

O próprio apóstolo Paulo disse que por meio de Cristo “temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele” (Ef 3:11-12), que “há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (1Tm 2:5), e que “por meio dele [Jesus] tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito” (Ef 2:18). Jesus confirmou que Ele é o caminho – não “um dos” caminhos – e que ninguém vem ao Pai senão por ele (Jo 14:6), e também que “o que vocês pedirem em meu nome, eu farei” (Jo 14:14). Contra todos os textos bíblicos que se acumulam aos montões, padre Paulo repete um sofisma que usa em todas as suas “aulas” sobre isso: iguala Jesus ao sol e Maria à lua pra dizer que devemos ir a Maria ao invés de Cristo, pois nossos olhos doem quando olhamos ao sol! Não é brincadeira, leia você mesmo o que ele diz:

O nome de Maria, entre os múltiplos sentidos que se lhe podem atribuir, significa também stella maris, estrela do mar. Nossa Senhora, deste ponto de vista, é como um luzeiro para guiar os navegantes deste mundo, um guia para os náufragos que descendem de Adão e Eva. Não sabemos, de fato, para onde nos dirigir nem divisamos com clareza em que parte se encontra o porto da salvação, e por isso Jesus nos oferece sua Mãe. Cristo, é bem verdade, é aquele sol nascente que nos vem iluminar; seu esplendor, porém, pode ser tão intenso e ofuscante que nossos olhos, para poder enxergar à sua luz, necessitam olhar para aquela lua em que se refletem seus fulgores – necessita, numa palavra, olhar para a Virgem Maria.[1]

“Cristo é como o sol”, diz o padre, “mas o sol é forte demais para olhar pra ele, então vamos a Maria”. O objetivo aqui é simples: induzir o fiel católico a deixar Jesus de lado, a fim de se tornar devoto de Maria. Não é exagero quando dizemos que no catolicismo Jesus é um personagem secundário, jogado para escanteio. É a pura realidade. Por meio de artifícios humanos cada vez mais engenhosos e com uma fala mansa e bonitinha, todo o objetivo deles será levá-lo para longe de Cristo, mas para isso eles não vão simplesmente dizer “esqueça Cristo”, vão propor outra coisa “melhor” no lugar, usando os sofismas mais criativos e sofisticados para tanto, nem que seja necessário estuprar a lógica e passar um trator por cima da Bíblia.

Mas eles não se contentam em obstruir o contato direto do homem com Deus apenas por meio da oração. Também proíbem o contato direto pela confissão, obrigando-nos a passar pelos padres em vez de irmos direto a Deus. O professor Alessandro Lima, dono do “Veritatis”, o site apologético católico mais popular do Brasil, alega expressamente que é um grande erro crer que o pecado pode ser confessado diretamente a Deus. Não foi este o desejo do Nosso Senhor”[2]. Só há um probleminha com isso: assim como no caso da oração, os personagens bíblicos se confessavam diretamente a Deus o tempo todo.

O salmista já dizia: “Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri” (Sl 32:5); Esdras conclamava a nação a confessar os seus pecados ao Senhor (Ed 10:11), Jesus disse para vir a Ele (Mt 11:28), João escreveu que “ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (1Jo 1:1:9) e que “se alguém pecar temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1Jo 2:1), e assim por diante. Mais uma vez, a Igreja Romana terceiriza algo que pode ser feito diretamente a Deus, embora dessa vez o faça através dos padres, e não de gente morta.

As consequências desse ensino são igualmente desastrosas: há milhares de testemunhos de católicos que não se confessam por vergonha de abrir detalhes de sua vida íntima a um homem que mal conhecem – e cujas chances de ser um pedófilo não são tão baixas, convenhamos –, e para não precisar passar por esse terrível constrangimento ao qual a Igreja lhes submete preferem não confessar os pecados, nem a Deus (a quem a Igreja proíbe) e nem aos padres (aos quais tem uma compreensível vergonha). Resultado: acumulam um peso de culpa dentro de si que não é jamais “liberado”, tendo consequências trágicas na vida espiritual e até na natural.

Mas não é somente com padres e mortos que a Igreja busca obstruir o contato dos fieis com Deus: ela também faz isso através dos seus mecanismos. É por isso que a liturgia é tão enferrujada e enfadonha, e que as rezas são tão mecânicas e repetitivas. Não há “vida” ali, não há liberdade, não há algo que possamos chamar de real relacionamento pessoal com Deus. O que há é mecanicismo, tradicionalismo, superficialidade, artificialidade fabricada exclusivamente para se manter a estrutura de uma tradição cada vez mais defasada e maçante. Depois não adianta reclamar que as missas estão cada vez mais vazias ou cheias de idosos, ou que o número de não-praticantes é muito maior que o de praticantes: foram eles mesmos que pediram isso, quase que implorando.

Nunca vou me esquecer do dia em que tentei assistir uma missa do padre Reginaldo Manzotti com toda a boa vontade do mundo, mas fui obrigado a mudar de canal por forças maiores, após ele repetir o Ave-Maria pela 47ª vez consecutiva (não é exagero), enquanto estava prostrado aos pés de uma estátua gigante que apresentavam como se fosse a mãe de Jesus. Eu realmente não sei como alguém suporta esse tipo de coisa ou de que forma poderia tornar a coisa toda mais tediosa do que já é, embora isso seja justamente aquilo que eles entendem por “espiritualidade” (e olha que eu tive a sorte de não ter pego uma missa em latim, com o padre virado de costas pro povo, como nos “velhos e bons tempos”...).

E o objetivo por detrás de tornar toda a missa e as rezas tediosas no máximo nível possível é simples: levar o povo a um desinteresse cada vez maior em ir cultuar a Deus ou orar qualquer coisa que seja. É uma obstrução pelo próprio mecanismo da coisa. Eu poderia continuar aqui com o “magistério infalível” que proíbe o livre exame da Bíblia (para garantir o monopólio da interpretação, que é outra forma de obstrução, desta vez do conhecimento e da consciência individual) ou com o purgatório, que na prática leva muitos a pensarem que podem viver “mais ou menos” que entram no céu mesmo assim, nem que seja na “segunda chamada”, ou com muitas outras invenções do tipo com intuitos sempre de afetar o envolvimento do homem com Deus, mas vamos ficar apenas com estes três exemplos.

Eles já são o suficiente para nos mostrar que, embora oficialmente essa Igreja creia no sacrifício de Cristo, ela não entende que o véu já se rasgou e que já temos livre acesso ao Pai. Ela precisa ofuscar e descentralizar a pessoa de Cristo e terceirizar todas as principais formas de contato do homem com Deus, visando precisamente evitar esse religare, que não é do homem consigo mesmo ou com outros homens que já morreram, mas do homem com Deus. No fundo, não é muito diferente de uma religião explicitamente politeísta com um panteão de deuses e deusas, com a diferença de que esses postos são ocupados por “santos” com a mesma função (como você pode ver neste comparativo).

Isso significa que é impossível que um católico seja salvo? Não. Significa apenas que a Igreja que ele pensa ser “a única verdadeira” é na verdade uma instituição que tenta, que se esforça, que faz de tudo para evitar esse contato do homem com Deus, mas ela não pode impedir isso em absoluto, porque a salvação é pessoal. Eu conheço católicos que dizem não ser devotos de nenhum santo a não ser Cristo, e tenho certeza que muitos deles têm um relacionamento com Deus bem mais próximo do que diversos protestantes que não levam Deus a sério, mas esses católicos não fazem isso por causa da Igreja, mas apesar dela.

Se você é católico e se sentiu ofendido por eu dizer isso, eu lamento, mas devo lembrá-lo que isso é muito leve se comparado ao tratamento que a sua Igreja sempre deu a nós protestantes e a todos os outros que não fazem parte da «única Igreja de Cristo, fora da qual não há salvação». A crença unânime de toda a tradição católica até o recente Concílio Vaticano II é a de que não há possibilidade de salvação se não for católico romano, e nunca é tarde lembrar o que diz o “Catecismo Maior” de 1905, sob a forma de perguntas e respostas objetivas como essas:

153 – Então não pertencem à Igreja de Jesus Cristo as sociedades de pessoas batizadas que não reconhecem o Romano Pontífice por seu chefe?

Resposta – Todos os que não reconhecem o Romano Pontífice por seu chefe, não pertencem à Igreja de Jesus Cristo.

168 – Pode alguém salvar-se fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana?

Resposta – Não. Fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana, ninguém pode salvar-se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé, que era figura desta Igreja.

É bastante irônico que a instituição “cristã” que mais matou, queimou, perseguiu, torturou e oprimiu minorias religiosas na história seja justamente aquela mesma que se diz “a única verdadeira”, e que hoje nega ou renega o seu passado obscuro. 

Em suma, podemos dizer que as religiões não-cristãs são como um motorista que aponta o caminho errado a alguém perdido na estrada. O catolicismo, por outro lado, é como um motorista que aponta o caminho certo, mas que enche de obstáculos neste percurso para dificultar o acesso. E, finalmente, o verdadeiro Cristianismo é como o motorista que aponta o caminho certo, sem obstruir a passagem ao destino.

Mas nunca devemos nos esquecer que, mesmo em se tratando da melhor de todas as igrejas (seja ela qual for), não significa que todos ali serão salvos, porque denominação por si só não salva ninguém. Muitos vão se perder por não terem uma vida reta com Deus, a despeito de estarem em uma igreja saudável que pregue um evangelho mais autêntico, da mesma forma que já havia falsos crentes e desviados na Igreja primitiva, enquanto os apóstolos ainda viviam. Uma igreja saudável pode apontar o caminho certo, mas quem decide trilhá-lo ou não é você. Quem espera ser salvo carregado nas costas por uma igreja, espera tão mal quanto aqueles que escolheram uma igreja errada.
 
Fonte> lucasbanzoli.com

Nenhum comentário:


Campanha:

Leia um livro!

Ad Bottom