Que "existe" existe (o bonitão aí da foto é uma prova disso), mas a discussão aqui é: eles são apóstolos de verdade ou só de mentirinha?
Essa é uma discussão polêmica que tem agitado a Igreja contemporânea, e como eu não sou de ficar em cima do muro, já vou logo antecipando a minha resposta: sim e não. Mas antes que você venha comentar no artigo em repúdio por eu ter respondido que sim ou por ter dito que não (ou por ter dito que sim e que não), deixe-me explicar em que sentido existem apóstolos e em que sentido não existem apóstolos nos dias de hoje. Talvez isso escape a uma leitura superficial à primeira vista, mas no Novo Testamento há dois tipos de apóstolos: os apóstolos stricto sensu e os apóstolos lato sensu, por assim dizer. Para ser considerado um apóstolo no sentido “estrito”, havia as seguintes condições:
Essa é uma discussão polêmica que tem agitado a Igreja contemporânea, e como eu não sou de ficar em cima do muro, já vou logo antecipando a minha resposta: sim e não. Mas antes que você venha comentar no artigo em repúdio por eu ter respondido que sim ou por ter dito que não (ou por ter dito que sim e que não), deixe-me explicar em que sentido existem apóstolos e em que sentido não existem apóstolos nos dias de hoje. Talvez isso escape a uma leitura superficial à primeira vista, mas no Novo Testamento há dois tipos de apóstolos: os apóstolos stricto sensu e os apóstolos lato sensu, por assim dizer. Para ser considerado um apóstolo no sentido “estrito”, havia as seguintes condições:
“’Porque’,
prosseguiu Pedro, ‘está escrito no Livro de Salmos: Fique deserto o seu lugar,
e não haja ninguém que nele habite; e ainda: Que outro ocupe o seu lugar. Portanto,
é necessário que escolhamos um dos homens que estiveram conosco durante todo o
tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, desde o batismo de João até o dia
em que Jesus foi elevado dentre nós às alturas. É preciso que um deles seja
conosco testemunha de sua ressurreição’” (Atos 1:20-22)
Neste sentido estrito, é lógico que não pode haver apóstolos
modernos, porque ninguém de nossos dias esteve com o Senhor Jesus durante o seu
ministério terreno, o viu sendo elevado às alturas ou foi testemunha ocular da
sua ressurreição. Neste sentido, portanto, só havia doze apóstolos
(considerando Matias no lugar de Judas). Mas dê uma olhada nos versículos
abaixo:
“Ouvindo
isso, os apóstolos Barnabé e Paulo
rasgaram as roupas e correram para o meio da multidão, gritando...” (Atos
14:14)
“Saudai
a Andrônico e a Júnias, meus
parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em
Cristo” (Romanos 16:7)
“Não
vi nenhum dos outros apóstolos, a não
ser Tiago, irmão do Senhor” (Gálatas 1:19)
Nestes textos vemos cinco
personagens bíblicos (Paulo, Barnabé, Andrônico, Júnias e Tiago, o irmão de
Jesus) sendo chamados de “apóstolos”, apesar de não fazerem parte do grupo dos
doze. Como explicar isso? As coisas ficam um pouco mais claras quando
consideramos o significado da palavra “apóstolo”. Ela vem do grego apostoloV (transliterado como “apostolos”, igual ao português, só que sem o
acento), que é o mesmo que “enviado”. Por isso a palavra grega para “enviar”
vem da mesma raiz (apostellw, transliterado como apostello, com o mesmo significado). Um
exemplo é Atos 8:14, que diz que “os apóstolos (apóstolos) em Jerusalém, ouvindo que
Samaria havia aceitado a palavra de Deus, enviaram (apostello) para lá Pedro e João” .
Um leitor da Bíblia em português
dificilmente suspeitaria da existência de alguma relação entre a expressão «os
apóstolos» e «enviaram», mas um leitor do grego original conseguia imediatamente
captar a semelhança, da mesma forma que associaríamos caso em português
lêssemos “apostolaram” em vez de “enviaram” (só que “apostolaram” é uma palavra
que eu inventei e que não existe em nosso idioma, o que distancia um termo do
outro, embora no grego sejam da mesma família). Jesus tinha apenas doze
discípulos aos quais ele discipulava pessoalmente e que eram chamados de “apóstolos”
stricto senso, mas ele também tinha
pelo menos outros setenta e dois enviados
para pregar o evangelho a outras regiões:
“Depois
disso o Senhor designou outros setenta e dois e os enviou dois a dois, adiante dele, a todas as cidades e lugares
para onde ele estava prestes a ir” (Lucas 10:1)
Não à toa, na tradição ortodoxa
todos esses 72 são chamados de “apóstolos” (eu falo mais sobre isso neste
artigo), embora não fizessem parte do círculo mais íntimo de Cristo. Eles
eram “apóstolos” porque eram apostello, isto
é, porque eram “enviados” para pregar o evangelho. É um sentido diferente do
apostolado dos doze, que não admitia um número maior que 12 e que não teve
sucessão após a morte dos doze, mas ainda assim é um sentido legítimo. O problema
– se é que dá pra chamar de “problema” – é que a Igreja moderna convencionou
chamar esse tipo de gente por outro nome: o de missionários.
A primeira vez que eu ouvi
alguém me dizer que a palavra “missionário” não consta em parte nenhuma da
Bíblia (nem no NT, que eu já havia lido mais de setenta vezes) eu literalmente não
acreditei. Tive que recorrer a um buscador online de palavras bíblicas para
confirmar essa “assustadora” realidade: não existe um “missionário” mesmo! Mas
o fato de inexistir a palavra missionário
nem de longe significa que o conceito não
existe na Bíblia. Ele existe, mas existe por outro nome, que é justamente o “apóstolo”
nesse sentido mais amplo (de todos os que são enviados para pregar o
evangelho). Ou seja, não há mais
apóstolos hoje no sentido de cargo
eclesiástico como os doze originais eram, mas podemos legitimamente chamar
de apóstolo qualquer missionário (ainda mais legitimamente do que podemos
chamar de “missionário”, já que este termo em si não está na Bíblia, mas o
outro sim).
Na prática, isso pode significar
que os missionários da JOCUM poderiam se intitular apóstolos no mesmo lato sensu já explicado, e que alguém
que o usa stricto sensu para se
colocar como superior aos outros eclesiasticamente (como o nosso amado “apóstolo”
Valdemiro) deveria pensar em usar um termo mais humilde – embora eu reconheça
que se autointitular “apóstolo” em vez de um simples “pastor” confira um status maior
(tanto maior como
impróprio, na medida em que ele não o aplica aos missionários da sua
igreja, mas apenas a si próprio). Por isso, da próxima vez que alguém te
perguntar se existem
apóstolos hoje em dia, você já pode despreocupadamente responder “sim e
não”, deixando
essa pessoa ainda mais confusa em um primeiro momento, mas por uma boa
causa.
Fonte: lucasbanzoli.com
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