“Deus é Espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4.24)
O
pensamento moderno tem feito grande esforço para validar qualquer tipo de
expressão religiosa, para nivelar como iguais todas as formas de
espiritualidade existentes. Jesus, em seu diálogo com a samaritana descreveu
dois elementos essenciais em uma adoração válida – espiritualidade e verdade.
A
exemplo dos profetas do Antigo Testamento, um culto meramente exterior é
rejeitado. Sem buscar uma opinião única do que seja “adorar em espírito” e
respeitando os diferentes entendimentos não fica nenhuma dúvida de que um
serviço aceitável a Deus requer uma atitude interior, uma expressão íntima que
vai além de formas e ritos. Isaías (1.11,12; 29.13), Amós (5.21-23) e mesmo
Davi (Sl 51.16,17) haviam expressado a importância de algo mais do que a
obediência externa.
Todavia
a afirmação de Jesus não inclui apenas a espiritualidade, pretensa ou real, mas
também a verdade. Isto significa que uma adoração, para ser autêntica deve
corresponder a certos fatos, deve preencher certos requisitos que correspondam
com a realidade. Religiosidade ou mesmo o termo atualmente em voga
“espiritualidade”, não significam uma adoração real e verdadeira.
Muito
do vácuo do materialismo do século XIX foi preenchido por uma espiritualidade
não bíblica, impregnada de elementos budistas e hindus, muitas vezes
anti-cristã, quando marginaliza a cultura judaico-cristã ocidental.
Todavia,
existem diferenças capitais entre o “propósito transcendental” que as
Escrituras judaico cristãs exemplificam na prática, e o despertamento religioso
e o conceito de Deus do misticismo oriental e Nova Era. (Conhecendo a Nova Era,
Russel Chandler, Bom Pastor, p. 373)
Earle
E. Cairnes, em sua obra “Cristianismo Através dos Séculos”, faz uma boa
descrição em um parágrafo sobre a espiritualidade, descrevendo os tipos de
misticismo correntes na História da Igreja e além, comparando-o com a
espiritualidade bíblica:
Pode-se
dizer que há três tipos de misticismo. Há um tipo epistemológico de misticismo
em que a ênfase é colocada sobre a forma como o homem conhece a Deus. Aqueles
que aceitam este tipo de misticismo entendem que todo conhecimento que temos de
Deus é imediato e vem a nós diretamente pela intuição ou pela iluminação
espiritual. A razão e em alguns casos, até mesmo a Bíblia subordinam-se à luz
interior. Os grandes místicos medievais, os quietistas católicos do século XVII
e os quacres tiveram esta mesma compreensão. Outros seguem um tipo
metafísico de misticismo, em que o espírito do homem é visto como sendo
absorvido misticamente num ser divino através de várias experiências
sucessivas. Após a extinção de sua personalidade pela morte, o espírito do
homem integra-se ao espírito divino. Os neoplatonistas, alguns místicos mais
extremados da Idade Média e os budistas (também os hinduístas – acréscimo do
autor) adotaram este tipo de misticismo, Ao contrário, a Bíblia propõe um
misticismo ético e espiritual, no qual o indivíduo se relaciona com Deus
através de sua identificação com Cristo e a atuação do Espírito
Santo.(Cristianismo Através dos Séculos, Earle E. Cairns, Edições Vida Nova,
1954, p.81)
Espiritualidade sem Jesus
Quem
tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. (1
Jo 5.12)
Qualquer
espiritualidade que exclua Jesus é vã. Ninguém chega ao Pai se não for por Ele
(João 14.6). Quando a Bíblia fala em buscar a Deus, não está se referindo a um
conceito vago dentro do qual se encaixa qualquer conceito da divindade. Está
falando do Deus das Escrituras, que se revelou na história de Israel e por fim
em Cristo, Deus Filho encarnado. Adorar a Deus, servir a Deus, crer em Deus, só
pode ser aceito dentro desta visão específica. E este Deus só é atingível
através de Jesus Cristo. Um Deus que seja uma mera força cósmica ou algo
parecido não é o nosso alvo.
Depois
de 2.000 anos de cristianismo, se faz necessário também especificar quem é
Jesus. Novamente não estamos falando de um Cristo indefinido, dentro do qual
cabem qualquer figura com qualquer atributo ao qual se resolva dar este nome.
Falamos do Jesus Cristo do Novo Testamento. A espiritualidade da Nova Era fala
em “consciência crística”, no avatar Jesus e por fim separa Jesus de Cristo, ou
seja, Jesus teria sido o homem que recebeu o Cristo, à semelhança do
gnosticismo primitivo. Nenhuma espiritualidade nesta base pode ser aceita.
“Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus
Cristo veio em carne é de Deus e todo espírito que não confessa que Jesus
Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do
qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo” (1 Jo 4.2,3).
Mesmo
o judaísmo, por mais pontos semelhantes que possua com o cristianismo, teve sua
espiritualidade rejeitada ao rejeitar seu Messias. Toda sua expressão religiosa
se assemelha a uma linda torre inacabada, que não atingiu o topo almejado por
se recusar a receber o que era lhe oferecido. “Irmãos, o bom desejo do meu
coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. Porque lhes dou
testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não
conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça,
não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo para justiça
de todo aquele que crê.” (Rm 10.1-4)
Espiritualidade sem conhecimento real de Deus
Não
se deve pensar que porque alguém tem a palavra “Deus” em seus lábios e para ele
edifica um altar, verdadeiramente o conhece. Conhecimento religioso não é
sinônimo de conhecimento de Deus. Jesus disse à samaritana “Vós adorais o que
não conheceis” (Jo 4.22) e Paulo declarou aos atenienses “Esse, pois, que vós
honrais não o conhecendo é o que eu vos anuncio” (At 17.23)
Rituais
e rótulos não garantem um conhecimento de Deus. Deus é um Deus que se revela,
que se mostra. Ele se revelou à Abraão, a Moisés e a muitos outros no decorrer
da História. Essa revelação foi registrada por inspiração divina nas Sagradas
Escrituras. Se alguém quer conhecer a Deus deve aceitar a revelação que ele fez
de si mesmo. Do contrário, o que restam são meras conjunturas humanas ou
enganos diabólicos.
Helena
Blavatsky, fundadora do movimento teosófico e tida por muitos como a mãe da
Nova Era, ao ser questionada sobre se ela acreditava em Deus, respondeu:
“Refutamos
a ideia de um Deus pessoal, extracósmico e antropomórfico que é apenas a sombra
gigante do homem e não do homem em seu melhor aspecto… Acreditamos em um
princípio divino universal, a raiz de tudo, de onde tudo procede e para onde
tudo será absorvido no final do grande ciclo do Ser” (A Sabedoria Tradicional,
Helena Blavatksy, Editora Hemus, 4ª edição, 1982 p. 62)
De
onde vem seu conceito de Deus? Foi Ele quem disso isso de si mesmo? Ou não
passam de especulações de sua própria mente ou da mente de outros que ela
aceitou como verdade? Spinoza, filósofo judeu que fora banido da sinagoga,
escreveu em uma de suas cartas: “Tenho uma concepção de Deus e da natureza
totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes…” E ainda
afirmou que “… os processos mentais e os processos moleculares que constituem a
dupla história do mundo – estes, e suas causas e suas leis, são Deus” (História
da Filosofia, Will Durant, Nova Cultural, 1991, p 177)
Ter
uma concepção de Deus não é o mesmo que conhecer Deus. Isto sim é o que se pode
falar de “um deus criado à nossa imagem e nossa semelhança”. Se rejeito o Deus
que criou os céus e a terra, o Deus das Escrituras e o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, então estou adorando minhas próprias concepções, estou
adorando uma mentira e o originador deste engano.
“O
Deus dos cristãos bíblicos não é alguma força da natureza, nem um estado
mental, nem uma névoa espiritual ou bola de energia solta no universo, nem um
estado de perfeição ou unidade a ser obtida por qualquer esforço de disciplina
pessoal. Deus não se acha em alguma coisa. Deus é uma pessoa. Deus é uma
personalidade. Deus tem emoções. Deus tem desejos, percepções, vontade, e até
mesmo necessidade ( Pilgrim’s Guide to the New Age, Batavia, Lion Publishing
Corp, p 214 Alice e Stephen Lawhead).
Foco errado
Então,
disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus,
adorarás e só a ele servirás (Mt 4.10)
Cabe
dizer ainda que muito da espiritualidade moderna, além de conceber um Deus ao
seu gosto e adora-lo, muitas vezes se desvia para adorações secundárias, de
supostos intermediários ou de si mesmo. Não é à toa que um dos gurus orientais
que fez grande sucesso nos EUA, Swami Muktananda, declarou “Deus habita em ti
como tu: adora a ti mesmo” (Compreendendo a Nova Era, Russel Chandler,
Bom Pastor, 1993).
Uma
oração da Nova Era assim se expressa.
Eu
me contato neste instante com minha divina presença Eu Sou / Pela presença de
Deus em mim e pelo poder magnético do Fogo Sagrado…. Ajudado e orientado pelos
Bem-Amados Mestres e Mestras Iluminados, pelos bem amados Arcanjos, Anjos,
Elohins e … seres intergaláticos. A Deus Pai e Mãe, uno e único: eu quero
querer tua vontade” (Além do que se vê, Cláudio R. B. Ferreira e Wagner V.
Costa, Madras Editora, 2003)
Nem
toda poesia, estética e sentimento podem validar uma tal adoração que nada mais
é do que um politeísmo real que inclui uma concepção hindu de Deus. O foco
definitivamente aqui não é o Deus Criador, mas um misto de eu, entidades
espirituais e um deus panteístico.
Relativismo
Essa
pseudo espiritualidade moderna se espalha porque aceita tudo. Não possui
critérios de verdade, para distinguir o verdadeiro do falso, nem se preocupa
com isto. O que uma pessoa percebe, concebe e aceita, pode ser aceito como
verdade, mesmo que conflite com a percepção de outra pessoa (Conhecendo, 365).
Não há lugar para absolutos. Esta é uma forma de nivelar por baixo qualquer
expressão religiosa, desde a bruxaria dos xamãs até um culto evangélico. Tudo é
espiritualidade, tudo é divino.
Mas
Deus é absoluto em sua natureza “porque eu, o SENHOR, não mudo” (Ml 3.6). Não é
uma névoa flutuadora, mutável como o pensamento, mas a realidade primeira e
última “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação.( Tg 1.17).
As
Escrituras ensinam que as coisas possuem uma realidade inerente e absoluta, que
não será modificada apenas por simples ideias, palavras ou concepções “Se o pé
disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E, se
a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; não será por isso do
corpo?” (1 Co 12.15,16)
Esta
falsa concepção de Deus e da realidade leva a Nova Era a expressar uma ética
completamente relativista, onde o certo e o errado dependem apenas do
indivíduo. Mas o bem é bem e o mal é mal independente do que alguém possa
afirmar. Chamar o mal de bem e o bem de mal é reprovável aos olhos de Deus (Is
5.20)
Meditação
Por
último, ao abordar essa questão de verdadeira e falsa espiritualidade, cabe
falar de meditação. A palavra e a prática ganharam popularidade. Todavia, a
meditação bíblica e a meditação proposta pela espiritualidade da Nova Era são
distintas.
Assim
escreveram dois estudiosos dos movimentos religiosos modernos.
A
fim de alcançar a “unidade no vazio”, os místicos do ocultismo, na verdade
dizem repisar os passos de Deus “despedaçando a sua criação tijolo por tijolo,
a fim de primeiramente descobrir, e então evaporar-se em seus alicerces”,
conforme comentou o perito em nova religiões Brooks Alexander. E ao fazer isto,
o místico mergulha na “dissolução da identidade e da individualidade” (A
Generation o Wizards: Shamanism and Conctemporary Culture”. 1984 p. 16)
A
meditação bíblica todavia contrasta com esta proposta esotérica, e ainda que
homônimas com certeza elas não são sinônimas:
1) Enquanto na meditação da Nova Era busca um estado
de vazio, na bíblica a mente participa:
Salmos
49:3 A minha boca falará da sabedoria; e a meditação do meu coração será
de entendimento.
Isaias
26.3 Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele
confia em ti.
2) Uma busca o nada, o nirvana, o vazio. A outra tem
nos feitos de Deus sua base:
Salmos
143:5 Lembro-me dos dias antigos; considero todos os teus feitos; medito
na obra das tuas mãos.
3) Uma está centrada no eu, no ego do homem decaído.
A outra na Palavra de Deus e ao invés de uma completa indiferença, uma
expressão de amor:
Salmos
119:97 Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia!
Salmos
119:148 Os meus olhos anteciparam-me às vigílias da noite, para meditar
na tua palavra
Perigos da falsa adoração
Ninguém
confunda religião com adoração verdadeira. As modernas tendências de ecumenismo
e sincretismo nada mais são do que um assassinato da verdade e um engano
diabólico que tem gerado uma espiritualidade no máximo estética, sem nenhum
poder salvífico. Paulo teve que pregar o Evangelho em uma sociedade
profundamente pagã e por isto advertiu solenemente seus adversários:
Mas
que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma
coisa? Antes, digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam
aos demônios e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os
demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não
podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou
irritaremos o Senhor? Somos nós mais fortes do que ele? (1 Co 10.19-22).
Por: Por Eguinaldo Hélio de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário