Rotherham,
06 de Julho de 1760.
"Que,
naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e
estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no
mundo". (Efésios 2:12)
1. Talvez essas
palavras possam ser mais propriamente traduzidas, ateístas no mundo. Isso
parece ser uma expressão um pouco mais forte do que "sem Deus no
mundo", o qual soa quase negativo, e, não necessariamente, implica alguma
coisa mais, do que tendo nenhuma amizade ou comunicação com Deus. Ao contrário,
a palavra ateísta é, comumente, entendida como significando alguma coisa
positiva, -- ela não apenas contradiz qualquer comunicação com Ele, mas nega
sua verdadeira existência.
2. O caso desses
homens infelizes pode ser muito bem ilustrado por um incidente recente; a
verdade a qual não se pode, razoavelmente, duvidar, havendo tão grande número
de testemunhas: Dentro do coração de um velho carvalho, que fora cortado e
dividido ao meio, saiu um sapo enorme que se arrastou, com toda a velocidade
que pode, e foi embora. Agora, quanto tempo, nós podemos, provavelmente,
imaginar, que essa criatura tinha estado lá? Não é inverossímil que ele pudesse
ter permanecido em seu ninho por mais de cem anos. Não é improvável que foi,
aproximadamente, se não, completamente, contemporâneo do carvalho; de um modo
ou de outro, tendo sido enclausurado nele, no momento em que ele foi plantado.
Não é, entretanto, irracional supor que ele viveu essa estranha forma de vida,
pelo menos, um século. Nós dizemos, ele viveu; mas que modo de vida! Quão
apetecível! Quão cobiçável! Como Cowley diz:
Ó,
vida, mais preciosa e mais querida!
Ó,
vida que Epicuro gostaria de compartilhar!
Vamos gastar alguns
poucos pensamentos sobre esse caso tão incomum, e fazer algumas melhorias dele.
3. Esse pobre
animal tinha órgãos de sentido; ainda assim, ele não tinha qualquer sensação.
Ele tinha olhos, ainda assim, ele não tinha raio de luz que, alguma vez,
entrasse em sua morada escura. Do mesmo primeiro instante de sua existência lá,
ele foi encarcerado em sua impenetrável escuridão. Ele foi encarcerado do sol,
lua, e estrelas, e da beleza da face da natureza; de fato, de todo o mundo
visível, assim como se ele não tivesse existido.
4. Como o ar não
poderia penetrar no esconderijo de sua pele, consequentemente, não seria
possível a ele ouvir. Quaisquer que fossem seus órgãos, ele não poderia fazer
uso deles; vendo que nenhuma ondulação de ar poderia encontrar um caminho,
através das paredes que o cercavam. E não havia razão para acreditar que ele
tinha algum senso análogo de cheiro ou gosto. Numa criatura que não precisou de
comida alguma, esses não
teriam algum uso
possível. Nem havia lá algum meio, pelo qual, os objetos de cheiro e gosto
pudessem se aproximar dele. Deveria ser muito pouco, se possível, afinal, que
ele pudesse estar familiarizado, até mesmo, com o sentido geral, -- aquele do
sentir: Como ele sempre continuou, em uma postura invariável, em meio às partes
que o rodeavam, todos esses, sendo, imovelmente, fixados, poderiam trazer
nenhuma nova impressão até ele. De modo que, ele tinha apenas um sentimento de
hora em hora, e dia a dia, durante toda sua duração.
5. E como esse
pobre animal estava destituído de sensação, ele deveria ter sido, igualmente,
destituído de reflexão. Sua cabeça (de que espécie fosse), tendo nenhum
material de trabalho nela, nenhuma ideia de sensação de alguma forma, não
poderia produzir níveis de reflexão. Ele, escassamente, entretanto, poderia ter
alguma memória, ou alguma imaginação. Nem poderia ter algum poder locativo,
enquanto ele estivesse tão extremamente limitado por todos os lados. Mesmo que
ele tivesse, em si mesmo, algumas fontes de movimento, ainda assim, seria
impossível que aquele poder pudesse ser manifestado, porque a estreiteza de sua
caverna não iria permitir alguma mudança de lugar.
6. Quão exato
paralelo pode ser esboçado, entre essa criatura (dificilmente, pode ser chamada
de animal), e o homem que está "sem Deus no mundo!". Tal como está a
vasta maioria, mesmo daqueles que são chamados cristãos! Eu não quero dizer que
eles são ateístas, no senso comum da palavra. Eu não acredito que esses são tão
numerosos como muitos têm imaginado. Fazendo toda a inquisição e observação,
nesses mais de cinquenta anos, eu pude encontrar, a não ser, vinte que,
seriamente, descriam da existência de Deus; além disso, eu encontrei apenas
dois desses (para o melhor do meu julgamento), nas ilhas britânicas: ambos
vivendo em Londres, e que tinham tido essa convicção muitos anos. Mas diversos
aos depois, eles foram chamados para aparecer diante de Deus; tanto John S – e
John B -- estavam completamente convencidos que havia um Deus; e o que é mais
notável, eles foram, primeiro, convencidos de que Ele era um Deus poderoso e
misericordioso. Eu menciono esses dois relatos, para mostrar, não apenas que
existem os ateístas literais reais, no mundo; mas que, também, mesmo então, se
eles forem condescendentes para perguntar, eles podem encontrar "graça
para socorrê-los, em tempos de necessidade".
7. Mas eu não quero
dizer, tal como esses, quando eu falo daqueles que são ateístas ou "sem
Deus no mundo"; mas dos tais que são ateístas práticos; dos que não têm
Deus em todos os seus pensamentos; dos tais que não têm familiaridade alguma
com ele, nem têm qualquer companheirismo com ele; dos que não têm mais comunicação
com Deus, ou com o mundo invisível, do que esse animal tinha com o mundo
visível. Eu irei me esforçar para esboçar um paralelo, entre esses. E possa
Deus aplicar isso no coração deles!
8. Cada um desses
é, nessa exata situação, com respeito ao mundo invisível, como o sapo estava,
com respeito ao mundo visível. Aquela criatura tinha, indubitavelmente, uma
espécie de vida, tal como ele era. Certamente, tinha todas as partes internas e
externas, que são essenciais para a vida animal; e, sem dúvida, ele tinha humores
orgânicos, com os quais mantinha uma forma de circulação. Essa era uma vida, de
fato! E, exatamente, tal como é a vida daquele que é ateísta, do homem
"sem Deus no mundo". Que véu grosso há, entre ele e o mundo
invisível, que, com respeito a ele, é como se não existisse! Ele não tem a
menor
percepção dele; nem
a mais remota ideia. Ele não tem o menor sinal de Deus, do Sol intelectual; nem
a menor atração em direção a ele, ou desejo de ter algum conhecimento de seus
caminhos. Embora Sua luz seja dada a todas as terras, e Seu som em todas as
extremidades do mundo, ainda assim ele não ouve mais do que uma música fictícia
das esferas. Ele prova nada da santidade de Deus ou dos poderes do mundo a vir.
Ele não sente (como nossa igreja explica) o trabalho do Espírito Santo em seu
coração. Em uma palavra, ele não tem mais comunicação com o do mundo
espiritual, do que essa pobre criatura tinha do mundo natural, enquanto fechada
em sua clausura escura.
9. Mas, no momento
em que o Espírito do Todo Poderoso tocou o coração dele que ainda estava sem
Deus no mundo, isso quebrou a dureza de seu coração, e fez todas as coisas
novas. O Sol da retidão surgiu, e brilhou sobre sua alma, mostrando a ele a luz
da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Ele está em um mundo novo. Todas as
coisas, ao seu redor, tornaram-se novas, como se nunca antes tivessem entrado
em seu coração para serem concebidas. Ele vê, tão longe quanto seus olhos
recentemente abertos podem suportar, a luz, os céus abertos, ao redor dele,
brilhando, com suportes de bem-aventurança. Ele vê que ele tem "um
advogado com o Pai, Jesus Cristo, o justo"; e que ele tem "a redenção
no sangue Dele; a remissão de seus pecados". Ele vê "um caminho novo,
que está aberto na santidade, pelo sangue de Jesus"; e sua "luz
brilha mais e mais, para um dia perfeito".
10. Através do
mesmo toque gracioso, ele, que antes tinha orelhas, mas não ouvia, agora é
capaz de ouvir. Ele ouve a voz que se ergue dos mortos – a voz Dele que é a
"ressurreição e a vida". Ele não é mais surdo para seus convites e
comandos; para suas promessas ou ameaças; mas, agradecidamente, ouve cada
palavra que procede de sua boca, e governa, dessa forma, os seus pensamentos,
palavras e ações.
11. Ao mesmo tempo,
ele recebe outro sentido espiritual, a capacidade de discernir o bem e o mal.
Ele é capaz de provar, tanto quanto de ver, quão gracioso é o Senhor. Ele entra
na santidade, através do sangue de Jesus, e prova os poderes do mundo a vir.
Ele encontra o amor de Jesus, muito melhor do que o vinho; sim, mais doce do
que o mel, ou que o favo de mel. Ele sabe o que aquilo significa: "toda
tua vestimenta cheira mirra, aloés, e canela". Ele sente o amor de Deus
espalhado ao redor de seu coração pelo Espírito Santo que é dado a ele; ou,
como nossa igreja expressa, "sente o trabalho do Espírito de Deus em seu
coração". Nesse meio tempo, pode ser, facilmente, observado que a
substância de todas essas expressões figurativas está encerrada, nessa única
palavra, fé; tomada em seu mais terrível sentido; sendo desfrutada, mais ou
menos, por todo aquele que acredita no nome do Filho de Deus. Essa mudança, da
morte espiritual para a vida espiritual, é, propriamente, um novo nascimento;
todas as partículas, que são, admiravelmente, bem expressadas pelo Dr. Watts, em
um verso:
Renove
meus olhos, abra meus ouvidos,
E
forme minha alma, mais uma vez;
Dê-me
novas paixões, alegrias, e medos;
E
transforme a pedra em carne!
12. Mas, antes
dessa mudança universal, pode haver mudanças parciais no homem natural, que é,
frequentemente, enganado, por isso; não obstante, muitos digam: "Paz,
paz!", para suas almas, onde não há paz. Pode haver não apenas uma mudança
considerável na vida, de modo a deter o pecado aberto; sim, o pecado,
facilmente, constante; mas também uma mudança considerável de temperamentos,
convicção do pecado, desejos fortes, e resoluções boas. E aqui, nós não temos
necessidade de tomar grandes cuidados; não, por um lado, menosprezar o dia das
pequenas coisas; não, por outro, confundir quaisquer dessas mudanças parciais,
com aquela mudança inteira e geral, o novo nascimento; aquela mudança completa
da imagem do Adão terrestre, na imagem divina; da mente terrestre, sensual,
diabólica, para a mente que estava em Cristo.
13. Fixem,
entretanto em seus corações, que vocês podem ser mudados, em muitos outros
aspectos, contudo, em Jesus Cristo; ou seja, de acordo com a instituição
cristã, nada terá proveito, sem a mente total que estava em Cristo, capacitando
vocês a caminharem como Cristo caminhou. Nada é mais certo do que isso:
"Se algum homem está em Cristo", um verdadeiro crente nele, "ele
será uma nova criatura": as coisas velhas, "nele", passaram;
"todas as coisas se tornaram novas!".
14. Daí, nós
podemos, claramente, perceber a diferença ampla que há entre o Cristianismo e a
moralidade. De fato, nada pode ser mais certo do que aquele verdadeiro
Cristianismo não poder existir, sem a experiência interior e a prática da
justiça, misericórdia e verdade; e isso apenas é dado, na moralidade. Mas é
igualmente certo que toda moralidade, toda justiça, misericórdia e verdade, que
podem, possivelmente, existir, sem o Cristianismo, não traz proveito algum,
afinal; não têm valor algum aos olhos de Deus, para aqueles que estão sob a
dispensação cristã. Observe que eu, propositadamente, acrescentei "para
aqueles que estão sob a dispensação cristã", já que eu não tenho
autoridade, na Palavra de Deus, "para julgar aqueles que estão sem".
Nem eu concebo que algum homem vivente tem o direito de sentenciar todo o mundo
pagão e maometano, à condenação. É muito melhor deixá-los para ele que os fez,
que é o "Pai de todos os espíritos de toda a carne"; que é o Deus dos
pagãos, tanto quanto dos cristãos, e que tem nada do que ele tem feito. Mas,
entretanto, isso é nada para aqueles que nomeiam o nome de Cristo: -- todos
esses, estando sob a lei, a lei cristã, serão julgados, indubitavelmente,
assim, e, por consequência, a menos que estejam mudados, como estava o animal
acima mencionado; a menos que tenham sentidos, ideias, paixões, e temperamentos
novos, eles não poderão ser considerados cristãos. Assim sendo, por mais
justos, verdadeiros ou misericordiosos que eles possam ser, eles ainda serão
ateístas!
15. Talvez, deva
haver algumas pessoas bem intencionadas, que levam isso ainda mais longe; que
afirmem que qualquer que seja a mudança forjada nos homens, se em seus corações
ou vidas, ainda assim, se eles não têm a visão clara dessas doutrinas
principais, a queda do homem, justificação pela fé, e da reparação feita,
através da morte de Cristo, e de sua retidão transferida para eles, eles não
podem ter benefício algum pela morte Dele. Eu não ouso, de modo algum, afirmar
isso. Eu realmente não acredito nisso. Eu acredito na misericórdia de Deus com
respeito às vidas e temperamentos dos homens, mais do que por suas ideias. Eu
acredito que ele respeite a santidade do coração, mais do que a clareza da
mente; e, que, se o coração do homem está repleto (pela graça de Deus, e o
poder de Seu
Espírito), com o
amor humilde, gentil e paciente de Deus e homem, Deus não irá atirá-lo ao fogo
eterno, preparado para o diabo e seus anjos, porque suas ideias não são claras,
ou porque sua concepção está confusa. Sem santidade, eu reconheço, "nenhum
homem verá ao Senhor"; mas eu não ousaria acrescentar, "ou, sem ideias
claras".
16. Mas, retornando
ao texto. Deixe-me implorar a todos vocês que ainda estão "sem Deus no
mundo", para considerarem, com toda sua humanidade, benevolência e
virtude, que vocês ainda estão enclausurados, nas sombras escuras e infernais.
Meus queridos amigos! Vocês não veem a Deus. Vocês não veem o Sol da retidão.
Vocês não têm camaradagem com o Pai, ou com seu Filho, Jesus Cristo. Vocês
nunca ouviram a voz que ergue os mortos. Vocês não conhecem a voz de seu
Pastor. Vocês não receberam o Espírito Santo. Vocês não têm os sentidos
espirituais. Vocês têm apenas as suas antigas ideias, paixões, alegrias e
medos; vocês não são novas criaturas. Ó clamem a Deus, que ele possa despedaçar
o véu que ainda está sobre seus corações; e que não lhes dá a oportunidade de
lamentar: "Ó, escuridão, escuridão, escuridão, eu ainda devo dizer, em
meio à chama do Evangelho diário! Ó, que tu possas, nesse dia, ouvir minha voz,
que fala, como nunca antes um homem falou, dizendo: 'Levanta, brilha, porque a
tua luz é chegada, e a glória do Senhor se ergue sobre ti!'. Não é a voz dele
que clama alto: 'Olha, para mim, e tu serás salvo?'. Ele diz: 'Olha! Eu vim!'.
Assim também, Senhor Jesus! Venha depressa!".
*
Editado
por Jennifer Luhn, com correções por Ryan Danker e George Lyons, para o Wesley
Center for Applied Theology at Northwest Nazarene University.
©
Copyright 1999 by the Wesley Center for Applied Theology.
Fonte: regenerados.com.br
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