A chave para entendermos Romanos 9 é a intenção de Paulo, o que ele quer
mostrar? A resposta está nos versículos iniciais, 1-5. Ele está triste porque
Israel rejeitou Jesus Cristo. Este fato poderia levantar a questão de que a
promessa de Deus havia falhado (verso 6). Paulo evita este problema explicando
que a promessa foi feita aos descendentes espirituais de Abraão e não aos seus
descendentes físicos. Nem todos de Israel são filhos de Deus (verso 6-7). E
estes indivíduos, os descendentes espirituais, a quem as promessas foram
feitas, e que serão salvos, foram chamados soberanamente por Deus de entre a
nação de Israel. Paulo prova isto mostrando a escolha soberana de Isaque e de
Jacó. Eles foram escolhidos enquanto indivíduos, embora, certamente, esta
escolha venha a ter algum reflexo em seus descendentes (versos 8-13). O ponto
de Paulo é que somente os escolhidos de entre a nação de Israel é que creram (e
crerão) em Cristo. São indivíduos escolhidos de entre uma nação, para a
salvação. Desta forma, Paulo mostra que as promessas de Deus a Israel não
falharam, pois dentre a nação Deus sempre escolheu soberanamente, e não por
obras, aqueles israelitas individuais que viriam a crer em Jesus Cristo, como o
próprio Paulo.
Em resumo, seguem algumas razões pelas quais o argumento central de
Romanos 9 é eleição para a salvação e vida eterna, e que na elaboração da
argumentação, Paulo menciona Jacó e Esaú como indivíduos e não como nações,
embora os descendentes deles viriam a sofrer os reflexos desta escolha
individual.
(1) Toda a seção (Romanos 9-11) é sobre a segurança eterna de pessoas.
Eleição de nações não faria qualquer sentido contextual. Paulo disse aos
cristãos de Roma que nada poderia separá-los do amor de Deus (Rm 8:31-39). A
objeção que provocou a resposta de Paulo em romanos 9-11 foi esta: “Como
podemos ter certeza de que as promessas de Deus são seguras, visto que Israel,
a quem também promessas foram feitas, não creu no Messias?” A resposta de Paulo
é que apenas os indivíduos eleitos dentro de Israel é que estão seguros.
(2) A eleição de Jacó sobre Esaú (Romanos 9:10-13) pode ter implicações
nacionais, mas começa com dois indivíduos. Não podemos esquecer este fato.
(3) Jacó foi eleito e Esaú rejeitado antes que tivessem feito algo de bom
ou ruim. O texto está falando de indivíduos que podem fazer o bem e o mal. Não
fala de nações que sairiam deles e que fariam bem ou mal. O bem e o mal
referido é de pessoas, indivíduos, chamados Jacó e Esaú.
(4) Rom. 9:15 enfatiza a soberania de Deus na escolha de indivíduos. "Terei
misericórdia de quem eu tiver misericórdia." O pronome “quem” é
um singular masculino. Se Paulo estivesse falando de nações, poderia ter usado
um pronome plural.
(5) Rom 9:16 está claramente lidando com pessoas: “Assim, pois,
não depende de quem quer ou de quem corre”. “Quem quer” θέλοντος e “quem
corre” τρέχοντος são dois singulares masculinos. É difícil ver implicações
nacionais em tudo aqui. É sobre o desejo e esforço individual.
(6) Rom 9:18 fala do endurecimento de Faraó, um indivíduo. Não está
tratando do endurecimento do Egito, mas da pessoa de seu rei, Faraó. Após falar
do endurecimento, Paulo resume o que ele está tentando dizer usando pronomes
singulares masculinos: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também
endurece a quem lhe apraz”. Se Paulo estava falando de eleição e
endurecimento de nações, ao terminar o exemplo pessoal e individual de Faraó
ele deveria ter dito que ele endurece e tem misericórdia das nações que quer.
(7) A objeção em Rom. 9:14, “Que diremos, pois? Há injustiça da parte
de Deus?” - faz pouco sentido se Paulo estivesse falando sobre a eleição
corporativa ou nacional. A acusação de injustiça poderia facilmente ser
respondida se Paulo estivesse dizendo que a eleição de Deus é apenas em relação
às nações e não tem a intenção salvadora.
(8) Da mesma forma, a objeção em Rom. 9:19 fica totalmente sem sentido se
Paulo não estiver falando de eleição individual. “Algum de vocês vai me
dizer: “Se é assim, como é que Deus pode encontrar culpa nas pessoas? Quem pode
ir contra a vontade de Deus?” (NTLH). A questão que o opositor de Paulo
está levantando é que Deus parece injusto com indivíduos, ao endurecer alguns e
ter misericórdias de outro como lhe apraz, e não com nações.
(9) Em Rom 9:14-29 temos uma “diatribe”, um recurso de retórica em
que o escritor responde os questionamentos de um opositor imaginário. Os
questionamentos estão em Rm 9:14 e Rom 9:19. É um artifício muito bom, mas
somente se o autor está entendendo corretamente o opositor. Todos os dois
questionamentos do opositor (9:14 e 9:19) tem a ver com a injustiça de escolher
uns e deixar outros. Paulo poderia ter corrigido este equívoco e dito, “não
estou falando de pessoas, mas de nações”. Contudo, ele aceita como legítima a
objeção e responde em termos da eleição de indivíduos.
(10) Em Rom 9:24 Paulo diz que Deus chamou os “vasos de misericórdia”,
que Ele preparou para glória “de antemão” (são os eleitos mencionados no
capítulo todo) “não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios”.
É difícil ver eleição nacional aqui, pois Deus chamou estas pessoas
"dentre" todas as nações, ἐξ Ἰουδαίων (de entre os judeus) e
também ἐξ ἐθνῶν (de entre os gentios).
Os vasos de misericórdia, que são a descendência espiritual de Abraão, em quem
se cumprem as promessas, são chamados por Deus de entre na nação de Israel e de
entre as nações gentílicas.
(11) Em Romanos 11:1-10, quando Paulo volta a falar da eleição de
israelitas individuais de entre Israel étnico, fica claro que os eleitos são
pessoas de entre a nação de Israel, os sete mil que não dobraram o joelho a
Baal (Rm 11.4), aos quais Paulo se refere como “a eleição da graça”
(Rm 11.5). Isso nos diz duas coisas: 1) eles são sete mil indivíduos que Deus
tem mantido crentes dentro da nação de Israel, e não uma nova nação. 2) Esses
indivíduos são mantidos por Deus na fé no Deus verdadeiro, não se curvando
diante de Baal (ou seja, eles permaneceram fiéis a Deus). Ou seja, a eleição mencionada
por Paulo é de indivíduos para a salvação.
Para você não pensar que estes argumentos são meus, consulte estes
comentaristas que seguem esta mesma linha de raciocínio:
Jamieson, Robert, A. R. Fausset, and David Brown. Commentary Critical and
Explanatory on the Whole Bible. Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.,
1997.
Lange, John Peter, Philip Schaff, F. R. Fay, J. F. Hurst, and M. B.
Riddle. A Commentary on the Holy Scriptures: Romans. Bellingham, WA: Logos
Bible Software, 2008.
Boa, Kenneth, and William Kruidenier. Romans. Vol. 6. Holman New
Testament Commentary. Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2000.
Henry, Matthew. Matthew Henry’s Commentary on the Whole Bible: Complete
and Unabridged in One Volume. Peabody: Hendrickson, 1994.
Carson, D. A., R. T. France, J. A. Motyer, and G. J. Wenham, eds. New
Bible Commentary: 21st Century Edition. 4th ed. Leicester, England; Downers
Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1994.
Spence-Jones, H. D. M., ed. The Pulpit Commentary: Romans. The Pulpit
Commentary. London; New York: Funk & Wagnalls Company, 1909.
Wuest, Kenneth S. Wuest’s Word Studies from the Greek New Testament: For
the English Reader. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
Fonte: http://bereianos.blogspot.com.br/2014/01/comentario-sobre-romanos-9-eleicao-e-de.html
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