Há
o falso ensino de que tudo o que o crente pedir a Deus receberá, como um
direito adquirido de se exigir tudo aquilo que considera lhe pertencer. Essa
talvez seja apenas uma de muitas distorções que se tem difundido atualmente
entre os cristãos. Mas a capacidade mais nefasta e maligna dessa afirmação é a
de inverter a relação que o Criador tem com suas criaturas, tornando-a danosa,
ímpia, imoral; porque torna o Criador em um mero serviçal, e suas criaturas em
senhores mimados, cujos desejos devem ser atendidos prontamente; enquanto a
Bíblia, incontestavelmente, assegura que, se estamos vivos, estamos pelas
misericórdias de Deus, as quais são as causas de não sermos consumidos,“porque
as suas misericórdias não têm fim” [Lm 3.22].
Um dos versículos mais usados para respaldar essa infâmia é: “Pedi,
e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele
que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á” [Mt
7.7-8].
Entre
muitas formas viciosas de interpretação desses versos, pergunto: Quem é capaz
de pedir corretamente? E quem é capaz de buscar?
Paulo
nos diz que não há um justo sequer, ninguém que entenda e busque a Deus [Rm
3.10—12]. E Tiago diz que pedimos e não recebemos, porque pedimos mal,
para gastarmos em nossos deleites [Tg 4.3]. O fato é
que desconhecemos até mesmo o que rogar, visto ser necessário o Espírito Santo
interceder por nós com gemidos inexprimíveis, “porque não sabemos o que
havemos de pedir como convém” [Rm 8.26]. Portanto, estaria
Deus concedendo aos homens, tal qual o gênio das mil e uma noites,
a realização de todos os desejos para quem tiver a posse da
lâmpada? Até mesmo Aladim teve de se contentar com três desejos, em algumas
versões do famoso conto persa, ou três condições para os desejos, em outras
versões; o que tornava os seus pedidos impossíveis de se obter. Mas no
pensamento carnal dos crentes modernos não há limites para Deus realizar os
deleites do homem. Ou seja, nas mentes corrompidas e perversas não há limites
para satisfazer aquilo que Deus combate e abomina.
Seria
esse o Seu querer? De nos servir indistintamente? Ou, como João diz,
teremos nossas petições alcançadas se pedirmos segundo a Sua vontade? [1Jo
5.14-15].
Em
nenhuma parte da Escritura vemos Deus agindo como o gênio da lâmpada, ou como
um realizador de desejos, em prontidão para nos satisfazer. Pelo contrário, a
Bíblia claramente afirma que Deus cumprirá tudo em nossa vida segundo o Seu
propósito eterno, exclusivamente conforme o conselho da Sua vontade [Jó
42.2, Is 14.26-27, Ef 1.1, 2Tm 1.9]. Em outras palavras, Deus não satisfará
os nossos anseios se eles não forem os Seus anseios também.
Quer
dizer que Deus nos iludiu com a falsa promessa de dar aquilo que pedimos? Não!
Porém, há condições. Ele atenderá aos pedidos:
1)
Daqueles que são Seus filhos; aqueles que foram propiciados, tiveram seus
pecados expiados e lavados no sangue de Cristo; nasceram de novo e são templos
do Espírito Santo. Não há aqui nenhuma possibilidade para os réprobos,
para os filhos da ira, os que servem a satanás.
2)
Aos que estão no Senhor Jesus; porque “se alguém não estiver em mim,
será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e
ardem” [Jo 15.6].
3)
Aos que têm as palavras de Cristo em seus corações; porque sem Ele, nada se
pode fazer [Jo 15.5].
O
princípio é claramente definido na palavra: “Se vós estiverdes em mim,
e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos
será feito” [Jo 15.7].
Ora,
se a Bíblia é a expressão da vontade divina, e os nossos pedidos serão
atendidos em tudo que quisermos se, e somente se, Suas palavras estiverem em
nós, então o Senhor estará a cumprir não apenas a nossa vontade, mas,
sobretudo, a Sua santa vontade. A preeminência é de Deus, não nossa. A
vontade dEle é prevalecente sobre a nossa, não o contrário. A nossa vontade tem
de se sujeitar, de se render à vontade de Deus, porque, ainda que seja nossa, a
vontade é dEle. Ao estarmos saturados, dominados e cheios da palavra de Deus,
estaremos diretamente sob o Seu controle, e as nossas emoções, intelecto e
vontade estarão sob o poder do Espírito, que nos direcionará a ansiar, a querer
a vontade de Deus expressa na Sua palavra.
Somente
aqueles que desejam realizar a Sua vontade terão os pedidos realizados; pois
Deus não fará nada daquilo que não esteja em conformidade com a Sua
determinação ou ordem estabelecida antes da fundação do mundo; e, para que os
nossos desejos sejam legítimos, é necessário que sejam santos, subjugados aos
dois mandamentos máximos:
1) “Amarás,
pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo
o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” [Mc
12.30].
2)
“O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” [Mt
22.39].
Resumindo: “Qualquer
coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus
mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista”[1Jo. 3.22]. Porque
aquele que guarda a Sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente
aperfeiçoado; “nisto conhecemos que estamos nele” [1Jo 2.5],
porque não fomos nós que o escolhemos, mas Ele a nós [Jo 15.16].
Em
todo o universo estará salvaguardada apenas e tão somente a vontade de Deus.
Cabe-nos render e desejá-la, no íntimo, que se realize também por nossa
vontade.
Fonte: www.npec.org
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