“Portanto, vede diligentemente como andais, não
como néscios, mas como sábios, usando bem cada oportunidade, porquanto os
dias são maus. Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a
vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, no qual há
devassidão, mas
enchei-vos do Espírito” (Ef.5.15-18)
As escrituras são claras quanto as demandas morais
esperadas do cristão: Ele deve manter um padrão exemplar entre os não cristãos
(1Pe.2.15ss), em obediência aos mandamentos de Cristo (1Jo.2.3ss) e aos
mandamentos da lei (Rm.8.4) na demonstração de amor a Deus (Mt.22.37; Mc.12.30)
e aos outros (Rm.13.8; Gl.5.14).
Entretanto, é importante afirmar que Deus não espera que o homem por sua força
atinja tal padrão. O ser humano caído e resgatado pela Graça pode somente pela
Graça alcançar as exigências divinas do cristianismo. Por isso mesmo é que o
próprio Deus providencia o Espírito Santo como agente divino no homem para
habilitá-lo a cumprir as exigências da lei:
Porque, aquilo que a Lei fora incapaz de fazer,
por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à
semelhança do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado
na carne, a fim de
que as justas exigências da Lei fossem plenamente satisfeitas em nós,
que não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm.8.3-4)
Em outras palavras, o cristão é habilitado
satisfazer plenamente as exigências Divinas quando vive em conformidade com o
Espírito Santo. Ou seja, a
identidade do cristão com Cristo é intrinsecamente dependente do grau de
dependência do cristão ao Espírito Santo. O cristão dependente do
Espírito Santo manifestará os frutos que somente o Espírito Santo pode produzir
(Gl.5.22-23) e será, portanto, habilitado por Ele a manifestar os princípios
morais da experiência cristã esperada por Deus: Isso o tornará mais parecido
com Cristo. O cristianismo não é uma forma moralismo legalista como se o
ascetismo auto-causado fosse de algum proveito.
O
CRISTIANISMO É UM RELACIONAMENTO COM DEUS, POR MEIO DE CRISTO E SEU ESPÍRITO. É
APENAS NA EXPERIÊNCIA TRINITÁRIA (EF.1.3-14) QUE SE PODE DESFRUTAR DA PLENITUDE
DIVINA (EF.3.16-19) NA EXPERIÊNCIA HUMANA (2PE.1.3-4).
Se
nossa definição está correta, então a maturidade Cristã é apenas possível por
meio da ação do Espírito Santo. Por isso, nesse post gostaria de (1) apresentar
evidências bíblicas para a agência divina do Espírito Santo no cristão, (2)
demonstrar o sentido e o resultado da plenitude do Espírito Santo e por fim (3)
apresentar o Espírito Santo como O instrumento para a Plenitude da Divindade no
cristão.
1. Evidências Bíblicas da Agência Divina do
Espírito Santo
Antes
de comentarmos sobre o assunto, uma nota sobre o sentido do termo agência é
necessária. Com esse termo não estamos enfatizando o fato de que o Espírito
Santo é o agente que
realiza a ação, mas o instrumento pelo
qual a ação é realizada. Entretanto, o fato de ser o instrumento da ação não
significa que Ele o é de forma passiva. Pelo contrário, Ele é o ente intermediário
pelo qual a ação é realizada, não como um meio impessoal, mas como ente divino.
A. Salvação
Em primeiro lugar, o Espírito
Santo está diretamente relacionado à Obra Divina da aplicação da Salvação.
Enquanto o decreto salvífico encontra seu agente no Deus Pai (Ef.1.4-5), o
execução no Filho (Ef.1.6) a aplicação da salvação é perfeita pelo Espírito
Santo. É Ele quem convence o
homem do pecado, da justiça e do Juízo (Jo.16.8-11),
que opera a regeneração no
homem (Tt.3.5; cf. Rm.2.29
– περιτομὴ καρδίας ἐν
πνεύματι descreve o
meio pelo qual a circuncisão do coração
é realizada) e então possibilita a fé (1Co
2.4; 2Co.4.6). Ele é recebido pelo
homem por meio da fé (At.8.15, 17; 10.47; 19.2) como o ente que procede de Deus (1Co.2.12)
após a pregação do evangelho (Gl.3.2), e passa a habitar no
homem (Rm.8.9; 1Co.6.19) e a conviver com
ele (Jo.14.16-17). Por meio do
Espírito Santo o homem é batizado(Mt.3.11;
Mc.1.8; Lc.3.16; Jo.1.33; At.1.33; 11.16; cf. αὐτὸς ὑμᾶς βαπτίσει ἐν
πνεύματι– o Espírito
não é o conteúdo
do Batismo, mas o meio pelo qual o batismo é realizado) no
momento de sua conversão (At.1.15; cf. 10.44-48;
11.15-18) em uma experiência una e indivisível (Ef.4.5; 1Co.12.13 – ἐβαπτίσθημεν indica uma ação
não repetível). No
salvo, o Espírito se torna a garantia (2Co.1.22;
Ef.1.13; 4.30) da salvação futura (Rm.8.29-30).
B. Experiência da Salvação
C. Santificação
Em terceiro lugar, o Espírito
Santo é o ente divino
por meio de quem a Santificaçãopode
ser alcançada. A vida cristã e espiritual é completamente dependente da ação do
Espírito como o ente instrumental
da santificação, pois somente pela ação intermediária do Espírito Santo é que o
cristão pode mortificar
a carnalidade (Rm.8.13). O Espírito é o ente divino
que estabelece
o meio pelo qual a vida cristã pode ser vivida em sua plenitude (Gl.5.16).
É Ele quem guia o
cristão à santidade (Rm.8.14; Gl.5.17-8) por que Ele é também o modelo da santidade divina (Gl.5.25),
em conjunto com o Pai (1Pe.1.16; Lv.11.44-45)
e com o Filho (1Jo.2.6; cf. Jo.13.15). Isso não isenta o homem de sua
insistente e repetida luta contra os desejos da carne (1Co.9.27; Gl.5.24;
Ef.4.22ss; Cl.3.5ss; Tt.2.12ss; 1Pe.2.11s), mas que tal empenho deve ser
realizado debaixo da ativa
dependência do Espírito Santo, como Aquele que oferece vida(Jo.6.63;
Rm.8.2, 10; 2Co.3.6; 1Pe.4.6) e vida
eterna durante sua experiência nesta terra (Gl.8.6). O
cristão pode apenas satisfazer
as exigências da lei se viver em conformidade com o
Espírito Santo (Rm.8.4), pois apenas o Espírito Santo pode produzir em sua vida
os elementos
morais do evangelho (Gl.5.22-23).
D. Ministério
Em quarto lugar, o Espírito
Santo é o ente divino
por meio de que o Ministério Cristãoé
possível. Os dons ministeriais
são soberanamente
administrados pelo Espírito (1Co 12.11), de modo que a variedade ministerial é,
em última análise, responsabilidade do Espírito Santo (1Co.12.8-10). Nesse
sentido o Espírito é co-agente
com Cristo (Ef.4.11), e portanto partilha com Ele que o objetivo dos dons é
o aperfeiçoamento dos santos para o serviço ministerial (v.12). É Ele quem
possibilita o serviço
agradável a Deus (Fp.3.3), por que é Ele quem santifica as ações ministeriais
humanas (Rm.16.16)
e capacita o
homem a agir em conformidade com a santidade do evangelho (Rm.15.19). É o Espírito Santo quem garante
a ortodoxia no ensino cristão,
por que Ele é o ente divino
responsável pela inspiração
do AT (1Pe.1.10-11; Mt.22.43;
At.4.25; 2Pe.1.20-21; cf.2Tm3.16
– θεόπνευστος como indicativo da ação conjunta do Pai e do Espírito
Santo), pela garantia
da veracidade dos ensinos de Cristo tal como ensinado pelos
Apóstolos (Lc.12.12; At.1.2;
Jd.1.17; Jo.14.26; 16.13) e pela
direção dos apóstolos e profetas neotestamentários na produção dos escritos do
NT (1Pe.1.12; Ef.3.5; cf. 2.20).
A própria divindade
de Cristo só pode ser reconhecida por meio da ação divina do
Espírito de Deus (Mat.16.16; 1Co.12.3;
1Jo.4.2-3; Jo.15.26). Em outras
palavras, a garantia
da ortodoxia cristã é em última analise dependente da ação do
Espírito Santo (1Co.2.13).
Por fim, o Espírito Santo é quem pode
“encher” o cristão, assunto que analisamos com detalhes abaixo.
2. A natureza e o resultado da Plenitude do
Espírito Santo
A. Natureza da Plenitude do Espírito Santo
Deve
se notar também, que a experiência dos cristãos com o Espírito Santo foi
apresentada de modo mais abrangente, sem em nenhum momento distorcer a imagem
apresentada do nosso Senhor. Em conformidade com a experiência de Cristo, os
cristão também experimentaram a plenitude
do Espírito Santo. Diferente das descrições do batismo performado
por Cristo, no qual Ele mesmo batizaria os cristãos por meio do Espírito (ἐν πνεύματι), as descrições da plenitude do Espírito, seja em
Cristo ou nos discípulos, o Espírito Santo é descrito como o conteúdo de
tal enchimento (πλήρης
πνεύματος – cf. Lc.4.1;
At.6.3, 5; 7.55; 11.24; ἐπληροῦντο
[…] πνεύματος – At.13.52).
O
Espírito Santo é o ente divino
que habita no cristão e nele está em todo o tempo. Após a conversão, no qual o
Espírito Santo é recebido (At.1.8; 10.44) e nele permanece, e por isso mesmo é
que como ente
divino pode ser entristecido (Ef.4.30). Entretanto, a
plena experiência da presença do Espírito Santo é dependente do grau de
conformidade moral/espiritual do cristão para com Deus na manifestação da
dependência ativa do Espírito Santo. Isso explica por que existem cristãos
cheios do Espírito Santo em contraste com aqueles que não estão. Dessa forma,
a plenitude do
Espírito não é uma bênção recorrente ou posterior à salvação,
mas a extensão prática e experiencial da benção da salvação. Nesse sentido,
estamos afirmando que a natureza
da plenitude do Espírito Santo é a experiência de dependência
dEle na luta contra o pecado e a favor do Reino de Deus. Isso pode ser melhor
percebido na apresentação dos resultados da plenitude do Espírito Santo.
Os resultados da
plenitude do Espírito Santo nas escrituras são claros e almejáveis. O cristão que
hoje vive na dependência do Espírito Santo poderá perceber em sua vida uma
variedade de manifestações espirituais, tais como as listadas abaixo.
1. IMERSÃO NO MINISTÉRIO
(1) Estevão: De acordo
com o texto, esses homens também tinha um bom testemunho daqueles
que não faziam parte da comunidade (cf. 1Tim.3.7)
e também eram reconhecidos como homens cheios de sabedoria. A sensatez
intelectual não era um empecilho para a abundante espiritualidade, na verdade
ela era paralela e confluente. Entre os escolhidos pela igreja primitiva,
encontrava-se Estevão, que é descrito como cheio de fé e do Espírito (At.6.5
– πλήρης πίστεως καὶ πνεύματος ἁγίου), cheio de graça e poder (At.6.8
–πλήρης χάριτος καὶ δυνάμεως), que era habilitado
pelo Espírito Santo para realizar sinais e prodígios e ensinar a verdade de
tal forma que seus opositores não o podiam responder (At.6.10), por que
ensinava em conformidade com o Espírito de Deus. Tamanha foi sua fidelidade a
Deus e ao evangelho de Cristo, que cheio
do Espírito Santo Estevão foi morto por seus opositores (At.7.55).
(2) Barnabé: Outro
homem chamado nas escrituras de cheio
do Espírito Santo foi Barnabé. Por causa da perseguição em
Jerusalém, os cristãos foram dispersos pelo mundo antigo (At.8.1) e eles
pregavam o evangelho por onde passavam (At.8.4). O evangelho, por fim, chegou a
Fenícia, Chipre, Cirene e Antioquia (At.11.19-20)
e Barnabé foi comissionado
pela igreja de Jerusalém para verificar a situação do
evangelho, e ao tomar conhecimento dos acontecimentos, muito se alegrou com os
irmãos. Isso aconteceu por que Barnabé era um homem cheio do Espírito Santo e de
fe (At.11.24). Por isso,
dizemos que um homem cheio do Espírito Santo se alegra com a expansão da
igreja de Cristo. Posteriormente, ele mesmo fora selecionado
pelo Espírito para tornar-se missionário, por que homens cheios do Espírito
Santo proclamam
o evangelho. Um homem cheio do Espírito Santo, como Barnabé, é
capaz de vender suas propriedades para auxiliar os necessitados na igreja
(At.4.37).
Em segundo lugar, um homem
cheio do Espírito Santo prega
ousadamente o evangelho. Essa é uma recorrente afirmação do
livro de Atos: Pedro cheio do Espírito Santo ousou
apresentar o evangelho diante da liderança de Israel que o tinha prendido
(At.4.8). A igreja
de Jerusalém, depois de enfrentar mais uma perseguição, orou
pedindo a Deus que pregassem o evangelho ousadamente (At.4.29), e depois de
ficarem cheios dos
Espírito Santo, anunciavam a palavra com toda intrepidez (At.4.31). Paulo também
se enquadra nessa categoria (At.9.15, 17, 20).
3. CONFRONTAÇÃO DO
ERRO
Em terceiro lugar, um homem
cheio do Espírito Santo confronta
o errodestemidamente. Durante o ministério de Paulo e Barnabé,
eles tiveram o privilégio de anunciar o evangelho ao proconsul de Pafos,
chamado Sergio Paulo. Este estava acompanhado de um homem chamado Barjesus,
mágico falso profeta, também conhecido como Elimas o mágico, que atrapalhava o
ministério dos apóstolos. Então, cheio
do Espírito Santo, Paulo fixando os olhos nele o advertiu dizendo:
“Filho do diabo,
cheio de todo o engando e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não
cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor?” (At.13.9-10). João Batista, o profeta cheio do
Espírito desde o ventre materno acabou morrendo por suas ferrenhas exortações
da imoralidade da liderança de Israel (Mt.14.1-12;
Mc.6.14-29; Lc.9.7-9).
4. PROFECIA E LOUVOR
Em quarto lugar, um homem
cheio do Espírito Santo profetiza
em louvor ao Senhor. Ainda que em situações distintas, foi
exatamente isso o que aconteceu com Isabel (Lc.1.41ss) e Zacarias (v.67). Ambos
cheios do Espírito Santo reconheceram o soberano trabalho de Deus ao enviar
Cristo e seu predecessor João Batista. A profecia mencionada nesses texto em
nada se assemelha com a previsão do futuro, pois é na verdade uma reflexão
piedosa do passado que produz exultação pelos eventos do presente e permite
avaliar o futuro. Ambos olhara para a Graça Divina apresentada na história e
sendo finalmente concretizada nos seus dias e como resultado de tal reconhecimento,
ambos manifestaram seu louvor ao Senhor. João Batista, que dentre os nascidos
de mulher é o maior na opinião de Cristo (Lc.7.28), é chamado de Profeta e
é considerado cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lc.1.15).
5. A QUESTÃO DO “FALAR
EM OUTRAS LÍNGUAS”
Por fim, um homem cheio do Espírito
Santo pode falar em línguas.
Nas escrituras encontramos apenas uma descrição de homens e mulheres cheios do
Espírito Santo manifestando sua presença por meio de línguas (At.2.4).
Entretanto, em duas outras ocasiões um fenômeno similar acontece, no qual ao
receberem o Espírito Santo, os cristãos passaram a falar em línguas (At.10.46; 19.6). Quatro detalhes devem ser,
entretanto, notados:
(1) As línguas faladas eram idiomas
conhecidos: A comunidade cristã quando recebeu o Espírito Santo em
Atos 2 passou a falar em outras línguas em conformidade com a ação do Espírito
Santo. Ao que o texto parece indicar, falar em línguas foi o resultado do
recebimento do Espírito Santo. Entretanto, eles falavam outros idiomas
conhecidos (ἑτέραις γλώσσαις) que eram
entendidos pelos ouvintes de todo o mundo (At.2.6, 8, 11) que estavam em
Jerusalém para a Festa de Pentecostes (At.9-10).
(2) As línguas faladas tinha como
propósito proclamar as grandezas de Deus de modo inteligível: Os
cristãos que saíram falando em línguas, o fizeram de modo tão inteligível que
as pessoas reconheciam que seu próprio idioma (At.2.6) os cristãos estavam
anunciando as grandezas de Deus (At.2.11). Deus usou desse evento sobrenatural
para anunciar a mensagem de Cristo para pessoas do mundo inteiro que estavam em
Jerusalém. Em Atos 10.44, pela primeira vez um gentio de nascimento recebia o
Espírito Santo. Isso, apesar de anunciado por Cristo, era inesperado pelos
judeus (v.45), que passaram a entender o acontecido pelo fato de falarem em
outros idiomas aqueles que haviam ouvido a proclamação do evangelho (v.46). De
modo interessante, eles engrandeciam a Deus. Similarmente, em At.19.6encontramos discípulos de João recebendo
o Espírito Santo, falando em outros idiomas e profetizando. Em outras palavras,
a manifestação da habilidade de falar em outros idiomas serviu como confirmação
do avanço do evangelho no mundo antigo.
(3) As línguas parecem ter sido um
fenômeno extraordinário e não recorrente na experiência da igreja primitiva:
Apesar de os primeiros cristãos falarem em outros idiomas ao receberem o
Espírito Santo, o mesmo não aconteceu três mil que se converteram no mesmo dia
(At.2.41), ou que se converteram com a pregação de Pedro dias depois (At.4.4),
ou na ação evangelistica da igreja (At.4.31). O mesmo não aconteceu com a
pregação de Filipe em At.8, nem em todas as outras pregações de Paulo no
decorrer do livro. Apenas em três ocasiões tal fenômeno acompanhou a chegada do
Espírito Santo. Não se pode, entretanto, afirmar que as línguas aqui eram
resultado de uma segunda
benção por que em todas elas, encontramos a primeira
experiência dos cristãos. Ou seja, temos que admitir que falar em outros
idiomas não é a característica comum do homem cheio do Espírito Santo, até por
que outros homens cheios do Espírito Santo não falaram em outros idiomas.
Tendo
pois observado a natureza e o resultado da Plenitude do Espírito Santo podemos
concluir que a maturidade cristã à estatura de Cristo é possível apenas pela
instrumentalidade do Espírito Santo. A Plenitude
do Espírito como extensão prática e experiencial da
salvação é então manifesta na na luta contra o pecado e a favor da
expansão do Reino de Deus.
3. A instrumentalidade do Espírito Santo na
Plenitude da Divindade
Uma
vez que estabelecemos que o Espírito Santo como ente divino é
o agente intermediário na
aplicação da salvação, no desenvolvimento da santidade e ministério cristão, e
que é Ele quem enche o
cristão e o torna maduro no que se refere à sua luta contra o pecado e pleno no
exercício do ministério, devemos finalmente nos perguntar como alcançar tal
bênção. Nesse momento, temos que atentar para o verso citado no início desse
post:
“Portanto,
vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, usando
bem cada oportunidade, porquanto os dias são maus. Por isso, não sejais
insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não vos
embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do
Espírito [ἀλλὰ πληροῦσθε ἐν πνεύματι]” (Ef.5.15-18)
No
que se refere a esse texto e os versos subsequentes, três observações são
necessárias.
Em primeiro lugar, a voz do
verbo encher nesse
verso foi traduzido de modo equivocado. πληροῦσθε é
um imperativo passivo e portanto melhor traduzido pela expressão: Deixem-se encher.
Nesse caso, a ênfase é completamente diferente da proposta pela tradução
oferecida na citação. Ou seja, nossa participação não se encontra na
realização de algum bem espiritual, mas na permissão para a abundância da
manifestação do Espírito em nossas vidas. É nesse sentido que definimos a
expressão dependência
ativa. Não se trata de passiva expectativa de intervenção divina,
mas na ativa dependência da manifestação do Espírito e suas virtudes em nossa
vida.
Em segundo lugar, nesse caso,
o conteúdo do enchimento não
é o espírito. ἐν
πνεύματι é
meio pelo qual a plenitude pode ser alcançada e não
o conteúdo do enchimento. Isso altera
significativamente o sentido do verso supra-citado. Ao invés de lermos enchei-vos do Espírito,
deveríamos ler deixem-se
encher através do Espírito. Nesse caso, algumas definições são
necessárias:
(1) Jesus Cristo é o alvo da
plenitude divina: Paulo apresenta a Jesus Cristo como a medida
da plenitude divina (Ef.4.13 – εἰς
μέτρον ἡλικίας τοῦ πληρώματος τοῦ Χριστοῦ) e o homem perfeito (ἄνδρα τέλειον). Isso é apenas possível
pelo fato de que, em Cristo, de acordo com a vontade do Pai, residisse toda a
plenitude (Cl.1.19 – πᾶν τὸ πλήρωμα κατοικῆσαι). O pleonasmo toda plenitude é melhor explicado à
frente, quando Paulo qualifica a totalidade da plenitude como sendo a
totalidade plenitude de Deus (Cl.2.9 – πᾶν τὸ πλήρωμα τῆς
θεότητος). Em outras
palavras, o cristão cheio do Espírito
Santo será mais parecido com Cristo, pois esse é
o alvo da vida cristã.
(2) Deus Pai é a fonte da plenitude
divina: Quando Paulo afirma que em Cristo reside a totalidade
da plenitude da divindade (τῆς
θεότητος), o sentido
expresso pode ser tanto a plenitude que pertence a Deus ou que procede de Deus.
Em qualquer caso, a origem da plenitude é o próprio Pai. O cristão tem acesso
ao mesmo benefício, e por meio do conhecimento do amor de Cristo, que está além
das capacidades intelectuais das faculdades humanas, o cristão pode se tornar
pleno da plenitude de Deus (Ef.3.19 – πληρωθῆτε εἰς πᾶν τὸ πλήρωμα τοῦ Θεοῦ). Novamente, fica claro que a plenitude ou
pertence ou procede de Deus (τοῦ Θεοῦ).
(3) O Espírito é quem realiza a
mediação da plenitude divina no cristão com o objetivo de torná-lo semelhante a
Cristo: Ao que tudo parece indicar, quando Paulo afirma “deixem-se encher por meio do
Espírito” intenciona dizer que o cristão deve permitir a ação do
Espírito Santo em torná-lo pleno da divindade para que então ele cresça em sua
identidade com Cristo. Em outras palavras, O Pai é a fonte, o Filho o alvo e o
Espírito o instrumento para a plenitude divina na experiência cristã.
Em terceiro lugar, os verbos
subsequentes à ordem “deixem-se encher [da plenitude divina] por meio do
Espírito Santo” não descrevem o modo pelo qual um cristão atinge à plenitude,
como normalmente se entende o texto. Na verdade, Paulo expressa os resultados
da plenitude da divindade. Ou seja, a plenitude da divindade é manifesta de
quatro modos:
(1) Na alteração do modo de
comunicação: Paulo nos ensina que a pessoa cheia da plenitude de
Deus manifesta o caráter de Deus através do modo como se comunica. Sua
linguagem é de tal forma influenciada pelas escrituras que sua fala é marcada
por salmos, hinos e cânticos espirituais (v.19a).
(2) Na alteração do modo de pensar:
Paulo também afirma que o cristão cheio da plenitude divina medita
interiormente (τῇ καρδίᾳ –
sentido locativo) nas escrituras de modo a buscar
glorificar ao Senhor (v.19b).
(3) Na manifestação da gratidão:
O cristão cheio da plenitude da divindade é grato a Deus independente das
situações (v.20). Veja o exemplo já mencionado de Estevão, que era capaz de
oferecer perdão aos que o assassinavam pouco antes de morrer.
(4) Na rejeição do orgulho e
egoísmo: Quando Paulo usa a expressão “sujeitando-vos uns aos outros” ele
intenciona afirmar que no corpo de Cristo não se deve agir com partidarismo ou
preferências egocêntricas (cf. Fp.2.1-4).
O cristão cheio da plenitude divina sabe evitar seu próprio egoísmo pelo benefício
do corpo de Cristo.
Conclusão
Diante
das evidências encontradas nas escrituras, podemos afirmar seguros que a Plenitude da Divindade é
um alvo para o cristão. Entretanto, tal experiência não é subsequente à
salvação, como se fosse uma segunda bênção, mas na verdade é a extensão da
bênção da salvação manifesta na dependência do Espírito Santo. Também se pode
afirmar que a Plenitude
da Divindade não é uma experiência mística, mas uma
experiência relacional com a divindade por meio do Espírito Santo. É a
descrição da intimidade do relacionamento cristão. Também concluímos que a
fonte para tal experiência é o próprio Pai, o alvo o Filho sendo o Espírito
Santo o meio pelo qual podemos desfrutar da ação divina em nós. Também
concluímos que a experiência da Plenitude
da Divindade leva o cristão ao ministério da expansão do Reino
de Deus, à luta contra o pecado e a uma vida mais parecida com a Jesus Cristo.
Os resultados da Plenitude
da Divindade sempre são coerentes com o caráter moral e social
da Divindade e portanto, sempre benéficos para o Corpo de Cristo. Homens e
mulheres cheios do Espírito Santo são, portanto, cristãos maduros no seu
relacionamento com Deus com os outros e manifestam o caráter de Deus em suas
ações. São homens e mulheres comuns que experimentam o extraordinário poder de
Deus através do Espírito Santo nessa vida. São pessoas como nós, mas que
resolveram levar a vida com Deus à sério.
Soli
Deo Gloria!
Fonte: www.napec.org
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