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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Série Credo Apostólico - Parte 8: A Santa Igreja Universal

INTRODUÇÃO

“Creio... Na santa Igreja universal, a comunhão dos santos”.

Depois de firmar o credo na Trindade, o símbolo de fé passa então a falar da obra do Deus triúno, começando por afirmar a crença de que a Igreja é universal, palavra que passamos a usar para substituir o termo “católica”. Mas, embora muitos evangélicos torçam o nariz para a palavra, devemos reafirmar o conceito de catolicidade, algo que os próprios reformadores reafirmaram. Assim sendo, o que devemos ter em mente quando dizemos crer na Igreja católica ou universal?

O conceito de catolicidade evoca a união da igreja que transcende o tempo e a geografia. Esta Igreja por quem Cristo morreu é composta de pessoas de todos os tempos e vindas de muitos lugares distintos, vinculadas uns aos outros pelo sangue de Jesus. Nesta massa de gerações e culturas diferentes, por uma ação sobrenatural do Espírito, existe unidade, que devemos nos esforçar para preservar, como nos diz o texto sagrado:

Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos”. - Efésios 4:3-6

Outro aspecto da catolicidade - ou universalidade – da Igreja é que a sua membresia é diversificada no que diz respeito a idade, gênero e posição socioeconômica, mesmo assim, o Espírito de Cristo produz unidade na diversidade, operando em nós a fé salvífica depositada no Filho de Deus. “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28). Portanto, é de extrema importância pôr em prática este postulado do Credo, pois, a Igreja é o povo de Deus, comprado e remido por Cristo, que se ajunta solenemente em adoração ao seu SENHOR. É neste ajuntamento que Deus se manifesta, e por meio dele opera neste mundo caído.

DESIGREJADO, ISSO PODE?

Existe um movimento que está crescendo nos últimos anos. São os desigrejados, ou os “sem-igreja”. Estes saíram da Igreja por focarem nos problemas institucionais, por terem sido machucados em alguma congregação e até mesmo por nutrir uma visão romântica (e deturpada) da igreja primitiva. Eles parecem não se dar conta de que uma igreja como a que havia em Corinto também faz parte deste período, e nem por isso estava isenta de problemas.

Não devemos deixar de congregar (Hb 10:25). Como disse o teólogo Michael Horton: “A igreja não é apenas para onde vão os discípulos; é o lugar onde são feitos os discípulos”. É na convivência com pessoas diferentes – e algumas delas até não cristãs, embora pareçam ser (lembre-se da parábola do joio e do trigo), que exercitamos a ética do reino: amando o próximo, servindo-o com nossos dons, perdoando quando somos ofendidos e confessando nossos pecados uns aos outros, na disposição de sermos mentoriados. Também é na igreja que recebemos os sacramentos (batismo e ceia) e a partir deles somos identificados como o povo da aliança, desfrutando da fidelidade do Senhor, estando debaixo de suas bênçãos pactuais.

E AS DENOMINAÇÕES?

Dando uma volta a pé ou de carro pela avenida de qualquer cidade grande no Brasil, veremos mais de uma igreja, algumas quase coladas umas às outras. E cada uma portando um nome diferente. A pergunta é: o denominacionalismo não fere a catolicidade da Igreja?

Em algum sentido, as muitas denominações demonstram mais divisão do que união, e isso deve ser lamentado. Pois, as explosões de novas igrejas surgiram de questões que são secundárias (isso entre os séculos XVII e XIX), e o espírito sectário fez com que o caminho mais fácil, queé a divisão ao invés da reconciliação, promovesse esta enxurrada de igrejas distintas. Mas não advoguemos o fim das denominações. Ao invés disso, vejamos como pode ser possível manter a unidade em meio desta miscelânea de igrejas que pensam diferente em algumas questões.

VISÍVEL E INVISÍVEL

A Igreja católica, que é una, geralmente é chamada de igreja invisível. Este termo reflete a questão de que somente Deus conhece aqueles que são seus e os mantém perseverantes até o dia final. Desta igreja há gente de toda língua, tribo e nação (Ap 5.9), todos arrebanhados por Cristo, ligados uns aos outros como membros de um só corpo. Veremos esta igreja, tal como ela é, apenas no Reino dos Céus, após a volta de Cristo que vem para julgar as nações, mas também buscar a sua amada igreja para estar com ele na eternidade.

Já o que chamamos de igreja visível é esta que vemos atuando na terra. As congregações locais e as várias denominações contêm pessoas que são verdadeiramente cristãs e outras não. Lembremos da advertência de Jesus ao dizer que "Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus” (Mt 7:21). Na parábola do trigo e do joio, ambos crescem juntos e serão separados apenas na colheita. Quando Jesus explica a parábola, vemos que a colheita refere-se ao dia do juízo final, assim, só neste evento que serão separados os verdadeiros dos falsos membros da Igreja.

Na presente era, a igreja será imperfeita e as pessoas vão se deparar com pessoas dentro dela que nem regeneradas são. E até mesmo os cristãos, ainda em processo de santificação irão falhar nas relações interpessoais. Mas lembremos que o laço que nos une vem do SENHOR. Por isso podemos superar as nossas diferenças e, mesmo com nossas particularidades, alcançamos a unidade por estarmos debaixo do mesmo pacto.

Engraçado é que olhando para a história, vemos que todo o grupo que se levantou contra as denominações acabou criando uma nova, logo, não é a abolição do denominacionalismo que vai nos garantir unidade, mas podemos nos aproximarmos cientes de que aquilo que nos une é maior do que o que nos separa. Batistas, Presbiterianos, Anglicanos, Congregacionais, Livres e outros podem somar esforços para promover os valores cristãos que são inegociáveis, evitando que questões secundárias sirvam de empecilho para trabalharmos juntos na promoção do Reino.

BASTA DE IGREJAS SEGMENTADAS

Outra frente de batalha para manter firme a catolicidade da Igreja de Cristo é evitar segmenta-la. Recentemente, influenciados pelo modelo de mercado, muitos líderes acabam desmembrando suas igrejas, focalizando determinados nichos para tentar alavancar o número de membros. Com isso surgiram diversas igrejas que focalizam os jovens e fazem com que a sua agenda gravite em torno de muito entretenimento para seduzir o seu público alvo. Outros segmentam o que já está segmentado, e daí temos a igreja dos surfistas, dos skatistas, dos universitários, dos tatuados, dos solteiros e etc.

A Igreja é a composição de velhos e novos, ricos e pobres, homens e mulheres, com tantas diferenças que se não fosse obra divina, seria impossível de se conviver. Todavia, é assim que Deus quer que nos ajuntemos para adorá-lo. Basta de igrejas segmentadas, sejamos unidos em meio as nossas peculiaridades.

UM POVO SANTO

Um dos papéis distintivos da Igreja nesse mundo é que ela remete a santidade de Deus. A Igreja é santa e esta santidade não é propriamente nossa. Assim como a luz que faz a lua brilhar vem do sol, somos santos porque o Deus que nos arregimentou é santo. Pedro nos diz, em carta:

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. - 1 Pedro 2:9

Portanto, é necessário nos portarmos de maneira digna, como requer a nossa vocação para a santidade. A Igreja precisa manter a distinção do mundo e deve perseverar para manter-se pura em meio a uma geração corrompida. A santidade aqui não significa perfeição, ela é gradativa, embora, posicionalmente, já somos santos em Cristo, pois Ele nos santificou quando nos lavou com seu sangue na cruz.

Deus em sua infinita sabedoria, fez da Igreja o local ideal para o desenvolvimento de nossa santificação. Os meios de graça, que são a pregação da Palavra mais a administração dos sacramentos, nos santificam. E na administração destes meios, o nosso Sumo Pastor separou co-pastores para servir as suas ovelhas diligentemente. É dever destes pastores inculcar nos fiéis, pela pregação e pelo exemplo, o estilo de vida santificado. Daí a importância de fazer parte de uma igreja local, se submetendo a liderança que o próprio SENHOR instituiu para dar conta da disciplina na Igreja.

CONCLUSÃO

A Igreja é o Israel de Deus, seu povo santo, que não é mais uma etnia, como na antiga aliança. As fronteiras foram enlanguescidas e não há mais a distinção entre judeus e gentios, pois dos dois povos o Senhor fez um só rebanho (Ef 2.14).

Por sermos povo, não caiamos na tentação da individualidade. A igreja é como se fosse o ecossistema de Deus. É preciso uma relação de interdependência, de modo que todo cristão individualmente precisa estar inserido numa igreja local para desenvolver a sua fé. Assim como determinados seres não se reproduziriam se não houvesse os elementos que compõem o seu ecossistema, não há desenvolvimento de fé no cristão que se exclui - por vontade própria - do ajuntamento dos santos.

O reformador João Calvino costumava dizer que a Igreja é a mãe de todos os crentes, visto que pela Palavra de Deus, ela nos conduz ao novo nascimento, nos educando e nutrindo, através no ministério pastoral ordinário. A Igreja é a coluna da verdade (1 Tm 3.15), pois por meio de seu trabalho evangelístico no mundo, chegamos a conhecer a Cristo, verdadeiro Deus e salvador dos que nele depositam sua fé.

Soli Deo Gloria



Autor: Pr. Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos

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