O Corpo Governante, mentores absolutos das crenças
e da vida das Testemunhas de Jeová, impõe aos seus seguidores, uma
interpretação de Atos 15.29 que tem implicações funestas, visto que proíbe aos
adeptos da religião não aceitarem transfusões de sangue. O que geralmente dizem
é que apenas as Testemunhas de Jeová respeitam a ‘santidade do sangue’
ordenada na Bíblia, por não aceitarem transfusão de sangue. Em 1983 a
liderança TJ chegou ao absurdo de escrever que receber transfusão de sangue é
um desrespeito pela morte do Senhor Jesus!!!
“a santidade do sangue do próprio Jesus é destacada
pela lei de Deus que proíbe qualquer outro uso do sangue. Disso se pode ver que
qualquer uso errado do sangue mostra grave desrespeito pela provisão de
salvação por Jeová feita mediante seu Filho.” (Unido na Adoração, p. 160).
No entanto, não foi sempre assim. Como é normal na práxis
da Liderança das Testemunhas de Jeová, novas crenças e mudanças doutrinárias
são bem comuns, à medida que os oráculos da Torre de Vigia, mudam ou possuem
uma ‘nova luz’. O problema, em especial, além do próprio peso divino que
qualquer interpretação do Corpo Governante possui na mentalidade e na
convivência da comunidade TJ, o que pesa ainda mais é quando tais crenças
custam vida e a esperança dessas pessoas.
A prática de transfusão de sangue, ou reposição do
liquido sanguíneo, existe desde há muito tempo. E embora tentativas mal
sucedidas desafiassem a medicina nos séculos passados, é dito que
“Em 1788, Pontick e Landois, obtiveram resultados
positivos realizando transfusões homólogas, chegando à conclusão de que
poderiam ser benéficas e salvar vidas. A primeira transfusão com sangue
humano é atribuída a James Blundell, em 1818, que após realizar com sucesso
experimentos em animais, transfundiu mulheres com hemorragias pós-parto.”
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Transfus%C3%A3o_de_sangue.
)
Portanto, quando os Estudantes da Bíblia surgiram
pelos idos de 1870-79, antigo nome das Testemunhas de Jeová, antes de 1931, já
era conhecido o recurso medicinal de reposição do liquido sanguíneo. Os
Estudantes da Bíblia praticavam isso normalmente, e até mesmo foi publicado
elogios à pratica de transfusões de sangue. Rejeitar transfusões de sangue não
era uma lei da Liderança TJ sobre seus seguidores. No início da década de 40,
esse quadro mudou.
"desde a década de 1940, as testemunhas
de Jeová têm recusado dar ou aceitar transfusões de sangue,
ao passo que antes disso não adotavam tal atitude." – (A
Sentinela de 15/02/73, p. 117).
Algo ocorreu na cabeça dos chefes das Testemunhas
de Jeová. A investida das publicações foi a divulgação dos perigos clínicos da
transfusão de sangue, com um marketing pesado. E especialmente a
interpretação bíblica nessa direção, foi massificada, de tal forma que passou
ser a verdade, desconhecida até a década de 40.
Segundo essa seita, ela foi ‘escolhida
espiritualmente em 1919’. Até os anos 1940 esse ‘pecado’ não era combatido pela
‘ÚNICA RELIGIÃO VERDADEIRA’. Considerando seu surgimento histórico, 61 anos de
silencio (desde a independência da revista A Sentinela em 1879). Considerando
sua escolha ‘espiritual’ em 1919, 21 anos de silêncio...
No entanto, havia um alivio. As Testemunhas
de Jeová eram deixadas em sua consciência se iria aceitar (ou doar) transfusão
de sangue, e se fosse o caso, morrer. Não havia uma expulsão do convívio dos
burgos da Torre de Vigia, se um dentre eles decidissem receber sangue. Veja
esse relato em uma A Sentinela, onde relata a experiência de uma pessoa
da suposta classe ‘ungida’, ou integrante dos 144 mil:
“Uma das testemunhas de Jeová, que afirma ser ela
do restante ungido, esteve recentemente, hospitalizada e aceitou
voluntariamente uma transfusão de sangue. Deve-lhe permitir que participe dos
emblemas do pão e do vinho na ocasião do Memorial? – R. J. Estados Unidos.
“Acreditamos que ela fez a coisa errada, contra a vontade de Deus. Todavia,
nunca se deu instrução às congregações no sentido de desassociarem os que
voluntariamente recebem transfusões de sangue ou os que as aprovam... Visto
que a pessoa não é desassociada por causa de ter recebido
voluntariamente uma transfusão de sangue ou por ter aprovado que um ente
querido seu aceitasse uma transfusão de sangue, não se tem o direito de
excluir essa irmã da celebração da Refeição Noturna do Senhor.” (A
Sentinela, 1959 p. 255).
Interessante...
Mais uma vez, porém, esse quadro também
mudou.
“Se, no futuro ele persistir em aceitar transfusões
de sangue ou em doar sangue [...] deve ser cortado por ser desassociado”
– (A Sentinela – 01/12/1961, p.736).
"a partir de 1961, quem quer que desconsiderasse esse requisito divino, aceitando transfusão de sangue, e manifestasse uma atitude impenitente seria desassociado da congregação das Testemunhas de Jeová." – (Proclamadores do Reino de Deus, p. 183).
Sendo irônico, diante desse quadro histórico,
as Testemunhas de Jeová não deveria incomodar ninguém a respeito desse
tema. Afinal, se seus Lideres Totalitários demoraram tanto para compreenderem
isso, outras religiões devem ser deixadas ao seu tempo...
O Texto de Atos
O texto bíblico, mal interpretado, que gera essa
celeuma toda, diz:
“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação,
das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá.” (At 15.29).
Em um primeiro momento, só o fato de não existir
transfusão de sangue na época bíblica, qualquer leitura nessa direção é uma
importação ao texto (eisegese), um anacronismo e totalmente subjetivo.
No máximo você pode apenas especular, mas nunca fechar uma doutrina de maneira
tão enfática e dogmática. Em segundo lugar, o abster-se de sangue no
texto está delineado em não se alimentar dele, como a Bíblia estabeleceu
anteriormente em textos como Gênesis (9.4) e Levítico (17.10). No
caso, comer e/ou beber o sangue. É isso que o texto está proibindo. A
transfusão de sangue não destrói o sangue de seu padrão e objetivo original, ao
passo que para alimentação sim. Transfusão de sangue em certo
sentido é um transplante de órgão. Até mesmo em uma publicação o Corpo
Governante reconhece, de forma bem mais enfática, que a transfusão de sangue é
um transplante:
“Quando os médicos realizam um transplante de
coração, do fígado, ou de outro órgão, o sistema imunológico do receptor pode
detectar a presença do tecido estranho, e rejeitá-lo. Todavia uma transfusão
é um transplante de tecido.” (Como pode o sangue salvar sua vida, p. 8).
Podemos fazer uma comparação - se a Bíblia
prescrevesse, dentro de contexto de alimento, ‘abstenhais-vos de coração’ –
concluiríamos de boi, ou de frango, etc, em hipótese alguma isso seria uma
proibição para o transplante de coração humano em nossos dias.
Sabemos que a militância do Corpo Governante contra
o sangue, é injustificável do ponto de vista hermenêutico, e do ponto do vista
da teologia bíblica. Não respeita nenhum dos postulados da interpretação
bíblica. Não possui obviamente nenhuma base exegética. Quando os argumentos
partem para o campo médico, aí é outra questão, e se há ou não pontos positivos
e/ou negativos, não nos interessam como doutrina cristã, a não ser que o
cristão tomará decisões tendo vista os recursos disponíveis e acessíveis, para
preservar sua saúde e vida, em obediência ao sexto mandamento (Ex 20.13; Mc
2.17; ITm 5.23).
*Nota: curiosamente, o capítulo onde se encontra esse
absurdo no livro Unidos na Adoração do único Deus Verdadeiro, não
apareceu quando esse livro foi revisado em 2002, com um novo título Adore o
único Deus Verdadeiro. Houve nessa revisão uma alteração também na
proibição do serviço militar alternativo, conforme constava no livro Unidos,
essa doutrina alterada em 1996.
Fonte: http://mcapologetico.blogspot.com.br/
Foto: Google
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