Quem nunca ouviu falar que Jesus é a rosa de Sarom?
Muitas pessoas escrevem livros baseados nessa afirmação. Mas será que se pode
afirmar isso com base no livro de Cantares? Ou será que em outros textos
bíblicos temos a afirmação desse título dado a Jesus? Não se pode interpretar o
livro de cantares sem saber do que se trata o livro.
Que mensagem o livro tem? Para que foi escrito?
Salomão provavelmente escreveu esse cântico durante a primeira parte de seu
reinado. Isso colocaria a data de composição por volta de 965 a.C. O livro é um
poema lírico escrito para exaltar as virtudes do amor entre um marido e sua
esposa. Esse livro apresenta a filosofia ou a maneira de viver do povo hebreu e
de outros povos do Oriente Próximo.
Cantares celebra a dignidade e a pureza do amor
humano. É uma série de poemas de amor, talvez usados num antigo casamento ou noivado.
O livro nos encoraja a desfrutar nossa sexualidade corretamente. Ele apresenta
o casamento como um plano de Deus. Um homem e uma mulher devem viver juntos
dentro do contexto do casamento, amando um ao outro espiritualmente,
emocionalmente e fisicamente.
Veja os ensinos básicos sobre amor e sexualidade
que são apresentados em Cantares:
1) - O sexo é uma dádiva do Senhor que o criou; 2)
- O envolvimento sexual deve ocorrer com maturidade e responsabilidade; 3) - A
virgindade deve ser preservada até o casamento; 4) - O amor deve ser expresso;
5) - À semelhança de uma planta, o amor deve ser cultivado e regado; 6) - O
amor verdadeiro inclui sexo, mas vai além dele; 7) - O amor, como Deus, é
eterno.
O casamento foi por Deus instituído (Gn 2.24), porque
não um livro que instrua esse casal no amor? Seria isso errado? Claro que não!
O pecado faz com que o homem fique sem norte quando se fala de amor. Então,
Deus preparou um livro inteiro para explicar o amor entre um homem e uma
mulher!
Alguns intérpretes da Bíblia vêem em Cantares de
Salomão uma exata representação simbólica de Cristo e Sua igreja. Embora haja
texto muito convincente (ex: Cantares 4.7; Ef 5.27), não consigo ver dessa
forma. O que Cantares nos apresenta, de fato, é o amor dentro do casamento, que
o próprio Deus estabeleceu.
Vejamos as interpretações principais que surgiram:
1 - A alegorização judaica. O método alegórico é o
mais antigo de todos. Segundo esta posição o livro estaria descrevendo em
linguagem figurada a relação entre Yahweh e Israel.
2 - A alegorização da Igreja Primitiva. Seguindo o
método alegórico a Igreja Primitiva (Orígenes e Hipólito) interpretou o livro
como sendo uma descrição do amor de Cristo e a Igreja (ainda usada pela Igreja
Católica Romana).
3 - O uso da alegorização no período moderno por
alguns protestantes. Os dois heruditos em Antigo Testamento Hengstenberg (teólogo
alemão 1802 à 1869) e Carl F.Keil (1807-1888) aplicam a interpretação alegórica
neste livro.
Mas o livro não é uma alegoria. Ele não tem nada a
ver com o amor de Deus por Israel ou o amor de Cristo pela Igreja – essas duas
abordagens na verdade permitem que o leitor ignore o livro em si! O casamento
deve ser construído sobre o Shalom de Yahweh.
Assim sendo, como podemos interpretar Cantares 2.1? Bom, primeiro vamos ver quem está falando: “Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.” O contexto deste verso começa no capítulo 1. É um diálogo entre um marido (o rei) e sua esposa (a Sulamita). O livro se divide em três seções: o namoro (1.1–3.5), o casamento (3.6–5.1) e a maturação do casamento (5.2–8.14).
A flor mencionada não é a flor atual, mas pode ser
o açafrão ou narciso. Em Isaías possivelmente temos a citação a essa rosa: “O
deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso.
Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará; deu-se-lhes a glória
do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Sarom; eles verão a glória do SENHOR, o
esplendor do nosso Deus.” (Is 35.1-2). Sarom (ou Sharom- significa
“Planície”) é a planície entre o Mar Mediterrâneo a oeste e as colinas de
Samaria. Ela se estende a partir de Haifa e do Monte Carmelo, no norte do Rio
Yarkon no sul, na orla da cidade atual de Tel Aviv. Nos dias de Salomão era
lugar de grande fertilidade.
O lírio entre os espinhos (Ct 2.3). Fala o esposo.
Na sua humildade a esposa se considera apenas como um belo, mas humilde
açafrão; ela se considera um lírio entre os espinhos. Assim como o lírio se
sobressai entre os espinhos, assim ela se sobressai entre as outras virgens.
Jesus não é a rosa de Sarom! Vejamos alguns
motivos:
Não se pode interpretar como alegorias textos que
não são alegóricos. Cantares é Literatura de Sabedoria – gênero que apresenta a
filosofia ou a maneira de viver do povo hebreu.
Em nenhum versículo do Novo Testamento Jesus se
declarou como a Rosa de Sarom. Nem mesmo nenhum dos apóstolos disse isso. Paulo
faz uma analogia: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Mas isso não significa
que esteja fazendo referência a Cantares 2.1.
Acredito que a dificuldade em aceitar a interpretação
de que Cantares fala de amor verdadeiro e de sexo, é por causa da banalização
do Sexo pelo homem pecador. Alguns podem pensar “imagina, Deus não fala de
sexo!” Conta-se histórias de casais crentes que após fazerem sexo, oravam e
pediam perdão a Deus pelo o que tinham feito. Um professor de Teologia disse-me
algo um dia que nunca saiu da minha cabeça: “quando estou fazendo sexo com
minha amada esposa, Deus é glorificado”. Parecia estranho, mas Deus estabeleceu
o casamento para isso também: “Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com
a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus
seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias.” (Pv
5.18-19). Deus estabeleceu o Sexo quando estabeleceu o casamento (cf Gn 2.24).
Portanto, o sexo estabelecido por Deus no casamento é bênção, e porque não a
existência de um livro que celebre as delícias do sexo planejado por Deus? Sexo
não é para procriação somente, é para ser desfrutado pelo casal que Deus uniu.
Temos vários títulos para o nosso Senhor Jesus, ele
é a “Brilhante Estrela da manhã e a Raiz de Davi” (Ap. 22.16), pois
ele declarou isso; o “Alfa e o Ômega” (Ap 1.8), “Emanuel” (Is
7.14; Mt 1.23); “O Cordeiro de Deus” (João 1.29; cf Is 53.7) e outros
títulos. Mas não temos “Sarom”. Pois é uma expressão de amor entre um homem e
mulher que se ama e que se entrega sexualmente um para o outro.
Fonte: Bereianos
2 comentários:
Muito bom. Concordo.
Gostei de seu blog.
Deus abençoe.
Concordo planamente, Jesus nao é a rosa de Sarom, venho ensinando isso a anos...
Postar um comentário