Texto base: “No qual
havia de todos os animais quadrúpedes e feras e répteis da terra, e aves
do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come.” - Atos 10:12,13 (AFC)
INTRODUÇÃO
Há diversas vertentes
que tomam como regra a abstenção de carnes e produtos que envolvem, no
seu processo de fabricação, o uso de animais. O veganismo e o
vegetarianismo talvez sejam as principais. Em suma, o vegetarianismo
pode ser adotado por algumas razões, como, por exemplo, a questão ética,
saúde ou religião; o veganismo, por sua vez, tem como cerne a questão
ética, de luta pela libertação e não exploração de animais.
Os vegetarianos rejeitam
todo tipo de carne (de vaca, porco, peixe, frango etc) e seus derivados
(presuntos, embutidos etc). Os Veganos, porém, não consomem nenhum
produto de origem animal. Esta vertente também não consome produtos que
são testados em animais, como são a maioria dos remédios e cosméticos em
geral.
Muitos cristãos têm
adotado a esses movimentos (o que não vejo problema). A questão,
contudo, é que grande parte deles têm se tornado militantes, e querem a
qualquer custo (ainda que seja contrário as Escrituras) fazer prosélitos
e angariar discípulos para estes movimentos.
Feita a introdução, qual
o posicionamento da Bíblia referente ao trato com os animais? Podemos
abatê-los para nos alimentarmos? Por que e para que Deus criou os
animais? Qual a relação entre os homens e os animais?
1. A RELAÇÃO COM OS ANIMAIS ANTES DO DILÚVIO
Muita coisa se perdeu
com o dilúvio; os registros paleontológicos (estudo dos fósseis) trazem
evidencias que tanto a flora (estudo das plantas), como a fauna (estudo
dos animais) pré-diluvianas, eram abundantes.
Com efeito, o homem só
passou a comer carne após o dilúvio, e não antes (Gn 1.29). Os vegetais,
entretanto, já não ofereceriam os nutrientes necessários para a
sobrevivência. A vida já não era a mesma como era antes do dilúvio.
Deus, então, permite ao homem que agora também se alimente, além dos
vegetais, dos animais:
“Todos os animais da
terra tremerão de medo diante de vocês: os animais selvagens, as aves do
céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes do mar; eles
estão entregues em suas mãos. Tudo o que vive e se move lhes servirá de
alimento. Assim como lhes dei os vegetais, AGORA lhes dou todas as
coisas”. – Gênesis 9.2-3 (NVI)
A Bíblia faz uma
distinção entre “animais domésticos”, “aves do céu” e “animais do campo”
(Gn 2.20). Antes que Deus houvera permitido o consumo de carne, os
animais já eram usados para sacrifícios; seja para a propiciação pelo
pecado ou por ofertas de gratidão (Gn 4.4). Antes do pecado, nenhum
animal fora sacrificado e nem abatido para servir de alimentação.
Com a queda do homem, a
primeira pessoa a sacrificar um animal foi o próprio Deus, quando fez
roupas de peles para Adão e Eva cobrirem sua nudez (Gn 3.21). Quem
ousaria dizer que Deus errou ao matar um animal qual Ele mesmo houvera
criado?
Quando o Senhor ordena a
Noé que entrasse na arca com a sua família, Ele também o orienta a
levar consigo um macho e uma fêmea de todas as espécies de aves, de
todas as espécies de animais e de todas as espécies de seres que se
arrastam pelo chão, para conservá-los vivos (Gn 6. 19,20), pois o
objetivo era preservar as espécies (Gn 7.2-4), e conservar aqueles que
seriam usados para o sacrifico após o dilúvio (Gn 8.20). Por conta deste
ato de Nóe, Deus não mais enviaria outro dilúvio sobre a terra (Gn
8.22,22).
2. A RELAÇÃO COM OS ANIMAIS APÓS O DILÚVIO
Após o dilúvio, houve
uma alteração no relacionamento do homem com os animais (Gn 9.2). Os
animais, por ordem do próprio Deus, passaram a fazer parte da
alimentação do homem (Gn 9.3). O que fica subtendido é que, o homem não
poderia usar os animais para satisfazer seus maus desígnios. Não é
admitido em hipótese alguma judiar, maltratar ou matar os animais
simplesmente por lazer e diversão. O uso dos animais deve ser conforme
as ordenanças do próprio Deus, da forma como Ele determinou que fosse.
C. S. Lewis, em seu
livro “O problema do sofrimento”, gasta um capítulo inteiro para falar
somente a respeito do sofrimento dos animais. Como alguém que tinham um
grande apreço pelos bichinhos (talvez por influência dos escritos de
Francisco de Assis, qual Lewis muito estimava), muito lúcido, ele diz:
“O homem foi designado
por Deus para que tivesse domínio sobre os animais, e tudo o que homem
faça a um animal ou é um exercício legitimo ou um abuso sacrílego de uma
autoridade concedida por direito Divino.” 1
Alguns veganos e
vegetarianos usam a Bíblia para fundamentar sua posição de que a
Escritura condena o abate de animais para consumo, com base em Gênesis
9.5.
Se estudarmos o texto
ainda que superficialmente veremos que significado da passagem se opõe
justamente a ideia de que o homem é quem deve ser punido caso ele mate
um animal.
“Eu acertarei as contas com cada ser humano e com cada animal que matar alguém.” – Gênesis 9.5 (NTLH)
Veja que a Bíblia
condena o derramamento de sangue do HOMEM, e não do animal. Ou seja, se
um homem matar (com dolo) outro homem, Deus lhe pedirá contas; se um
animal matar um homem, neste caso o animal deverá ser punido pelo seu
ato (Ex 21. 28-32).
As pessoas que possuem,
por exemplo, cachorros de grande porte (tipo Pitbull, Hot Valley Etc),
se porventura o animal atacar seu dono ou algum membro de sua família –
este cachorro, como acontece na maioria dos casos – é entregue a outra
pessoa ou instituição ou sacrificado (entendo que este último caso seja
um pouco mais cruel).
Portanto, o animal foi
criado para servir o homem, e não homem para servir o animal. Como foi
dito aqui, a Escritura não aborda possíveis punições ao homem caso ele
mate um animal, mas traz as punições caso um animal matasse o homem.
3. O ANIMAL COMO ALIMENTO
Em diversas partes, a
Bíblia afirma que os animais são dádivas de Deus entregue ao homem
também para o alimento (pois há também uma relação de afeto e carinho
entre o homem e animais [2 Sm 12.3; Pr 12.10]): A Bíblia não proíbe o
consumo de carne:
“Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus...” (Rm 14.6).
“Comam de tudo o que se vende no mercado...” (1 Co 10.25). [no mercado também se vende carne].
“Pois tudo o que Deus
criou é bom [grifo nosso: incluindo carne, conforme citado no verso
anterior; 1 Tm 4.3], e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação
de graças.” – 1 Tm 4.4
O primeiro Concílio da
igreja [e talvez o mais importante] aconteceu em Jerusalém, e tratou de
assuntos essenciais para que cristãos gentios e judeus pudessem viver em
harmônio. A questão central foi o consumo de carne vendidas em açougues
que se utilizavam dos restos dos sacrifícios aos ídolos para a venda e
comércio.
Este era o momento
crucial – se fosse pecado abater e comer os animais – de restringir o
consumo. Porém não foi o que aconteceu. Ficou acordado que a carne
deveria ser consumida, entretanto, sem o sangue. Também não podia ser
carne sufocada (quando o animal não é degolado ao ser abatido, mas
sufocado).
A preocupação dos
apóstolos não era com os animais que seriam usados, mas com os judeus
que se escandalizavam com as práticas dos gentios. Tudo era feito por
amor as pessoas, para que nenhuma barreira fosse erguida a fim de
atrapalhar a chegada do evangelho àqueles que pensavam deste modo (At
15. 19-22).
Portanto, tudo o que foi
criado por Deus – seja comida seja bebida – deve ser consumido para o
Louvor da Sua glória (1 Co 10.31).
CONCLUSÃO
Eu amo animais, e louvo a
Deus por sua sabedoria e criatividade pela diversidade com a qual Ele
os criara. A inteligência, os instintos, os afetos e etc. Às vezes,
esses bichinhos parecem gente. Risos... Deus fez tudo perfeito,
inclusive os animais. Por diversas vezes, enquanto escrevia este artigo,
nossa cachorrinha, Polly Plummer (nome dado a ela carinhosamente em
referência a menina Polly, das Crônicas de Nárnia, na história do “O
Sobrinho do Mago”), esteve aos meus pés fazendo-me companhia. Deus é
perfeito!
Sobre o amor que as pessoas têm por seus animais, a este respeito me solidarizo com o sentimento de C. S. Lewis:
“Nunca rirei de alguém
que esteja sofrendo por causa de um animal querido. Acho que Deus quer
que amemos mais a Ele, não que amemos menos as criaturas (até mesmo os
animais).” 2
De verdade, respeito às
pessoas que aderiram um estilo de vida: “... aquele que se abstém, para o
Senhor se abstém, e dá graças a Deus”(Rm 14.6).
No entanto, o meu
protesto é direcionado aquele que pensam estar moralmente acima dos
outros pelo simples fato de não consumirem carne:
“A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos.” – 1 Co 8.8
Como disse o filósofo Luiz Felipe Pondé,
isto são “modas de comportamentos”, criações de gente que, na maioria
das vezes, preservam os animais, entretanto, são a favor do aborto; não
querem ter filhos porque filho dá muito trabalho.
É interessante notar que
a natureza é a maior besta fera de todas. Por que estes ativistas não
vão para a selva a fim de adestrar os leões para que eles comam apenas
vegetais? Será que o problema está nos animais que se auto-devoram? O
que muita gente não sabe é que, muitos animais foram extintos não por
causa do homem, mas por causa da própria natureza.
De fato, a mãe natureza é
a maior besta fera de todas. Ninguém ensinou os animais que comer
outros bichos é certo; não se trata de ética, mas de instinto; a questão
não é moral, mas sobrevivência. (até porque se os animais não comessem
outros animais muitas das espécies existentes já estariam extintas
devido a desnutrição).
Pois bem.
Conta-se que, uma mulher
judaica atravessava uma fome muito severa junto com seus filhos. A
única coisa que ela tinha para alimentar ela e seus filhos era uma
galinha que vivia em seu quintal. Os judeus são austeros no critério
para sua alimentação. Antes de comer algo, principalmente carne, eles
fazem uma avaliação rigorosa (conforme listado no livro de levítico)
para saber se aquele alimento é casher, isto é, se é próprio ou não para
consumo.
A mulher, não tendo mais
alternativa, levou a galinha até o rabino, para verificar se tratava-se
de um alimento casher. O rabino verificou; olhou; analisou; olhou de
novo; sua esposa preocupada com aquela senhora, perguntou com muita
ansiedade ao seu marido se aquela galinha poderia servir de alimento
para aquela família. O rabino havia encontrado uma mancha no animal, o
que, no entanto, tornava a galinha impura para o consumo.
A esposa do rabino
corajosamente tomou a galinha das mãos do marido e a entregou à mulher. O
rabino ficou furioso com ela, e perguntou o por que ela havia feito
aquilo. Ela, por sua vez, respondeu:
– Você estava olhando a galinha; eu, porém, estava olhando a mulher e seus filhos.
Como disse o próprio
Jesus, o que tornar alguém impuro não é o que se come, mas o que se fala
e faz. Pois a maldade dos homens – isto é, os maus pensamentos, os
homicídios, os adultérios, asimoralidades, os roubos, as fofocas e
calúnias – se encontra no coração do ser humano, e não nos alimentos que
ele consome (Mt 15. 17-20).
Em Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.
Soli Deo Gloria!
Por Fabio Campos
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Citações:
1 LEWIS, C. S. O problema do Sofrimento. Editora Vida, 2009. São Paulo, SP; p. 155
2 LEWIS, C. S. Cartas a uma senhora americana. Editora Vida, 2006. São Paulo, SP; p. 75
Fonte: http://ministeriobbereia.blogspot.com
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