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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Imagens de Cristo são contrárias à lei, mesmo se não forem usadas na adoração

DÉCIMA PERGUNTA

Se é proibido, pelo segundo mandamento, não só o culto, mas também a fabricação e o uso de imagens religiosas em lugares sagrados. Afirmamos isso contra os luteranos.

I. Na questão precedente tratamos do culto às imagens. Resta inquirir mais concernente a seu usose pelo preceito sobre imagens, além da adoração, se proíbe também o fabricá-las. Aqui entramos em colisão não só com os papistas, mas também com os luteranos que (embora se oponham ao culto às imagens e o condenem como ilícito e supersticioso) empenham-se em defender a fabricação de imagens (eikonopoiian) e seu uso em lugares sagrados como legítimos (se não para culto, pelo menos para a história e como lembranças de eventos).

ESTABELECIMENTO DA QUESTÃO

II. A questão não é se todas as imagens, não importa de que tipo sejam (mesmo para uso civil e econômico) são proibidas por Deus (como se a arte plástica [plastike] e todos os quadros, bem como estátuas, fossem condenados). Embora esta fosse a opinião de alguns dentre os antigos, tanto judeus quanto cristãos (como transparece de muitas passagens de Clemente de Alexandria, Tertuliano e outros que criam que todo e qualquer uso de imagens deve ser absolutamente interditado a fim de afastar os cristãos de mais facilmente ingressarem na terrível idolomania dos gentios), contudo, que esta é uma falsa opinião até mesmo a estrutura do tabernáculo e do templo pode ensinar sem outra fonte (no qual várias figuras de querubins, bois e outras coisas foram engenhosamente elaboradas por hábeis artistas sob a diretriz divina). E assim não condenamos representações históricas de eventos ou de grandes homens, sejam simbólicas (pelas quais suas virtudes e vícios são representados) ou políticas (impressas em moedas). Aqui, porém, tratamos de imagens sagradas e religiosas, as quais supõe-se que contribuem com algo para incentivo ao sentimento religioso.

III. A questão não é se é lícito representar criaturas e exibir com o pincel eventos históricos (seja por amor a ornamentos, seja por deleite, seja inclusive para instrução e para o despertamento da memória [mnemosynon] quanto a eventos pretéritos), porquanto nenhum de nós nega tal fato. Antes, a questão é se é lícito representar Deus mesmo e as pessoas da Trindade por qualquer imagem; se não por uma similitude imediata e própria para exibir uma imagem perfeita da natureza de Deus (o que os papistas reconhecem que não se pode fazer), pelo menos por analogia ou significações metafóricas e místicas. Isto os adversários afirmam; nós negamos.

IV. Finalmente, a questão não é se é lícito ter em nossas casas representações de homens santos para a memória de sua piedade e um exemplo para imitação. Antes, a questão é se é correto estabelecê-las em lugares sagrados; por exemplo, em templos e oratórios, não para culto e veneração, mas para impressionar fortemente os crentes e incitar seus afetos pela evocação de coisas passadas (o que os luteranos defendem com o Concílio de Frankfurt; nós, porém, negamos).

PROVA DE QUE O USO DE IMAGENS É ILÍCITO.

1. COM BASE NO SEGUNDO MANDAMENTO (ÊX 20)

V. As razões são: primeiro, Deus expressamente proíbe isto no segundo mandamento, onde duas coisas são proibidastanto a fabricação de imagens para culto quanto a adoração delas. Tampouco se pode replicar (a) que tais imagens têm uma significação pela qual os homens se empenham em expressar a essência de Deus; não obstante, não aquelas pelas quais ou Deus ou os santos estão ou são representados na aparência. A falsidade é evidente com base nistoque não havia necessidade de se proibir isto, porque ninguém é tão simples e insano ao ponto de desejar representar a essência natural de Deus por meio de algum símbolo externo e corporal. Se falarmos acurada e filosoficamente, nem mesmo a menor essência da criatura pode ser representada, mas apenas os delineamentos externos. (b) Tampouco se pode replicar dizendo que se refere somente a imagens de deuses falsos. Moisés mesmo explicou claramente que não se deve representar Deus (Dt 4.12); sim, mesmo o próprio Deus (o melhor intérprete de sua própria lei) notifica isto (Is 40.18). Daí os israelitas, representando Deus pela imagem de um bezerro, foram severamente repreendidos e duramente punidos (Êx 32). Reis piedosos dos judeus, não menos que os reis pagãos, removeram os ídolos, sendo que Deus estabelecera ambos os mandamentos a seu povo: que demolissem os altares dos cananeus e quebrassem as estátuas; e não fizessem para si deuses fundidos (Êx 34.13,17).

2. COM BASE NA NATUREZA DE DEUS

VI. Segundo, Deus, sendo ilimitado (apeiros) e invisível (aoratos), não pode ser representado por nenhuma imagem: “Com quem comparareis a Deus? Ou, que coisa semelhante” (ou “imagem”, como diz a Vulgata) “confrontareis com ele?” (Is 40.18). Paulo se refere a isto em Atos 17.29: “Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem”. Daí Deus, ao promulgar a lei, quis exibir não sua própria semelhança, para que o povo entendesse que devem abster-se de toda imagem dele como algo ilícito; sim, até mesmo impossível: “Guardai, pois, cuidadosamente, vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o SENHOR, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher” (Dt 4.15,16). Isto o apóstolo condena nos gentios “que mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis” (Rm 1.23). Aliás, isto não era algo desconhecido de vários gentios, os quais julgavam ilícito desejar representar a deidade por meio de uma imagem. Plutarco: “Entretanto, ele (Numa)[i] proíbe qualquer imagem de Deus, semelhante ao homem ou a algum animal; nem houve antes entre eles alguma representação esculpida ou entalhada de Deus. De fato, durante todos aqueles 160 anos precedentes, eles continuamente edificavam templos e erigiam edifícios sagrados ou santuários; contudo não faziam nenhuma representação corpórea, julgando que não era santo assemelhar coisas melhores às piores, e que Deus não podia ser compreendido por nós de nenhuma outra maneira senão unicamente pela mente” (Plutarch’s Lives: Numa 8.7–8 [Loeb, 1:334,335]). Assim Antiphanes: “Deus não é discernido por uma imagem, nem é visto pelos olhos, a ninguém se assemelha, por isso ninguém pode conhecê-lo por meio de uma imagem” (De Deo+). E Heródoto: “Os persas não tinham imagens nem altares, e criam que aqueles que os fazem são insanos, porque não creem (como os gregos) que Deus é produto dos homens” (Herodotus, 1.131 [Loeb, 1:170,171]).

3. PORQUE ELE ESTÁ RELACIONADO COM O PERIGO DA IDOLATRIA

VII. Terceiro, que se deve manter distante dos lugares sagrados o que não pertence ao culto de Deus e está relacionado ao perigo da idolatria. Ora, imagens em lugares sagrados não pertencem ao culto de Deus, visto que este expressamente as eliminou de seu culto pela lei, e estão relacionadas com o mais iminente risco de idolatria. Pois, como a experiência nos mostra, os homens (especialmente os homens incultos, propensos por natureza à superstição) são levados ao culto deles pela própria reverência pelo lugar. Como Brochmann propriamente reconhece: “É melhor que todas as imagens de quaisquer tipos sejam removidas do que permitirmos que elas figurem num lugar público no interesse do culto religioso, contra a ordem expressa de Deus” (“De Lege”, 7, Q. 1 em Universae theologicae systema [1638], 2:46). Aqui se apresenta a fútil réplica de que de fato se proíbe a ocasião de pecar per se, não igualmente aquilo que é por acidente; do contrário o sol deveria ser removido do céu, visto que ele propicia a ocasião de idolatria para inumeráveis pessoas. Portanto, é preciso remover o abuso, porém não o uso lícito delas. Pois realmente o abuso não deve destruir o uso legítimo, caso se admita algo desse gênero com base na designação divina (o que os adversários presumem; nós, porém, negamos). Segunda objeção: que somente o culto torna as imagens ilícitas, do qual os luteranos professam que se esquivam. Respondemos que, embora não sejam expressamente adoradas por eles (como fazem os papistas), curvando os joelhos e queimando-lhes incenso, ou oferecendo-lhes orações, contudo não se pode dizer que se desvencilham totalmente do culto; se não direto, pelo menos indireto e participativo, porque afirmam que por meio das imagens e à vista delas concebem pensamentos santos acerca de Deus e de Cristo (o que outra coisa não é senão praticar o culto que pertence a Deus, de modo que assim eles realmente adoram a Deus por meio das imagens). Finalmente, se não são adoradas por eles, podem entretanto ser adoradas por outros (i.e., pelos papistas, caso entrem em suas igrejas), e assim tornam o uso delas nas igrejas ilícito (exposto ao risco de idolatria), pelo qual os idólatras se confirmam em seu erro e inumeráveis pessoas se escandalizamnão só judeus e maometanos incrédulos, mas também cristãos crentes.

VIII. Nossos ancestrais não podem, pois, ser censurados por seu zelo, no tempo da Reforma, ao obrigarem que todas as imagens fossem removidas dos lugares sagrados. Nada fizeram aqui que não fosse ordenado por Deus (Nm 33.52; Dt 7.5; Ez 20.7) e confirmado por vários exemplos de reis e imperadores. Ao destruírem os ídolos e expurgarem todos os lugares sagrados de todo gênero de idolatria, os últimos laboraram diligentemente, como fez Ezequias, que “Removeu os altos, quebrou as colunas e deitou abaixo o poste-ídolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamaram Neustã” (2Rs 18.4). Por esta razão vários imperadores granjearam a alcunha de “quebradores de imagens” (iconoclastarum).

FONTES DE EXPLANAÇÃO

IX. Embora Deus às vezes se manifestasse numa forma visível, e em tais aparições nos seja descrito na Escritura (quando se lhe atribuem membros e ações corporais), não se segue que seja lícito representá-lo por meio de imagem. (1) O mesmo Deus que assim apareceu, não obstante proibiu com veemência que os israelitas fabricassem alguma representação dele (ou seja, Deus podia empregar linguagem, corpos e símbolos, a fim de testificar sua presença física; no entanto, nem por isso o homem pode fazer para Deus uma imagem e estátua nas quais possa ele exibir-se ao homem). (2) Aquelas aparições corporais foram exibidas apenas em visão, prefigurando não a essência de Deus, mas, em alguma medida, suas obras e glória externas; de fato extraordinárias, não ordinárias; temporais, não perpétuas; de modo algum apresentadas publicamente, mas reveladas a indivíduos, especialmente no espírito. Portanto, nada têm em comum com imagens. (3) Uma coisa é falar metaforicamente acerca de Deus em acomodação às nossas concepções; outra é formar uma representação visível dele como que verdadeira e própria e exibi-la publicamente aos olhos de todos.

X. A fabricação de imagens não é interditada absolutamente, porém com uma dupla limitaçãoque as imagens não sejam feitas para representar a Deus (Dt 4.16), nem sejam empregadas em seu culto. Portanto, fabricar imagens e cultuá-las não devem ser considerados no segundo mandamento apenas como meio e fim, mas como duas partes da proibição divina. As imagens são proibidas não só porque são o objeto ou meio de culto, mas porque são feitas simplesmente em função da religião ou são estabelecidas em lugares sagrados.

XI. De uma imagem mental para uma esculpida ou pintada, a consequência não é válida. A primeira provém da necessidade, visto que não posso perceber algo sem alguma espécie ou ideia dela formada na mente. Ora, a imagem é sempre conjugada com o espírito de discernimento pelo qual de tal modo separa o verdadeiro do falso que não há o risco de idolatria. Mas a segunda é uma obra de mero julgamento e vontade, expressamente proibida por Deus e sempre acompanhada de grande risco de idolatria. Daí asseverar-se falsamente que não é menos pecado apresentar imagens de certas coisas à mente ou submetê-las à escrita e exibi-las para que sejam lidas, do que apresentá-las à vista quando pintadas. Pois há uma ampla diferença entre estas coisas.

XII. A consequência com base nas figuras do templo de Jerusalém não vale para as imagens cristãs. As primeiras foram ordenadas; e as segundas, não; aquelas, tipicamente cumpridas no Novo Testamento, estas não; as primeiras postas quase fora da vista do povo e do risco de idolatria, o que não se pode dizer das segundas. Tampouco se deve apresentar aqui o argumento da liberdade cristã (que não é licença para fazer o que quer que seja em relação ao culto divino, mas é imunidade da maldição da lei e da escravização às cerimônias).Visto que as primeiras figuras pertenciam a estas, também devem ser consideradas como igualmente canceladas no Novo Testamento.

XIII. No que concerne a serem as imagens corretamente chamadas “livros do povo comum” e auxílio à piedade e à devoção religiosa, o Espírito Santo testifica que são “mestras de futilidade e mentira” (Jr 10.8; Hc 2.18). Há outro livro a ser consultado por todos (por pessoas cultas e incultas) que nos faz sábios e eruditos (a saber, a Escritura, a qual deve ser continuamente lida e meditada pelos crentes, para que sejam sábios para a salvação). O papa, porém, subtrai a Escritura do povo para que o mesmo se deixe envolver pelos erros inextricáveis e para que não seja convencido por ela. Ele a substitui por outros livros mudos pelos quais não se remove a ignorância, mas esta é nutrida, porque ele não teme que eles murmurem algo contra ela. Portanto, enquanto por mestres ele lhes der pedras, as pessoas se converterão em pedras e não serão mais sábias que seus mestres. Daí Agostinho tratar das imagens de Pedro e Paulo (motivadas pelas quais certas pessoas caíram em erro): “E assim, renegados, mereceram enganar-se aqueles que buscaram Cristo e seus apóstolos, não nos escritos sacros, mas nas paredes pintadas” (The Harmony of the Gospels 1.10 [NPNF1, 6:83; PL 34.1049]). (2) Teria sido ruim para os judeus a quem Deus negou aqueles livros (a quem, não obstante, como mais simples eram mais necessários).

XIV. Seja o que for que se diga da utilidade das imagens nos lugares sagrados, não pode e não deve opor-se ao mandamento de Deus que as proíbe. Isso é tomado por admitido, não provado. Os sinais sacros são os sacramentos, não imagens. Os ornamentos das igrejas são a pura proclamação da Palavra, a administração lícita dos sacramentos e a santidade da disciplina. Os meios de guardar a mente atenta são a presença e a majestade de Deus, e a dificuldade e excelência dos mistérios sacros.

XV. Não é suficiente arrebatar as imagens do coração pela proclamação da Palavra, a menos que sejam removidas também dos lugares sagrados (onde não podem permanecer sem o risco de idolatria).

FONTE: Francis Turretin. Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. pp. 90–94.

[i] Numa Pompilius, segundo rei de Roma; provavelmente reinou de 715 a 673 a.C. [N. do E.].

Por: Francis Turretin

Fonte: http://defesaapologetica.blogspot.com



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