O que é ser espiritual? Ser espiritual é ir à
igreja varias vezes? Ser espiritual é determinar pelo tempo que eu oro? Ser
espiritual é ser moldado pelas experiências que tive ou o cargo que eu possuo
na igreja?
Cristo já havia predito que falsos cristos e falsos
profetas agiriam, agiriam de tal forma que se possível enganaria até os
eleitos, pois viriam vestidos de peles de ovelhas (Mateus 7.15; 24.24).
Desde o derramamento do Espírito Santo em Atos 2, Deus agiu extraordinariamente
na vida da igreja. No entanto, havia falsificações que se disseminavam. Os
apóstolos combateram e alertaram a igreja dessas heresias e falsos mestres
(Atos 8.9; 13.6-8; 16.16; 20.29,30; 2 Timóteo 3.5; 4.3; 2 Pedro 2.1-3).
Diante disso, como podemos saber quem provém de
Deus ou não? Quem é o verdadeiro mestre? Quem é o espiritual? Quais são algumas
das características deste verdadeiro? João, em sua carta, aponta três
caraterísticas dos verdadeiros crentes e por consequência dos verdadeiros
mestres. Um dos textos que João enfatiza é quarto capitulo de sua primeira
carta. Nestes textos vemos as três características para identificarmos o
verdadeiro crente e o verdadeiro mestre.
João, em sua introdução ao “teste”, mostra que
devemos provar se os espirito provêm de Deus “porque já muitos falsos
profetas se têm levantado no mundo” e, a partir dos versos 2-6 mostra 3
características de uma pessoa que possui o Espírito de Deus. Então abordarei
somente o que João nos mostra.
A primeira característica é: Apreço por Cristo (vs 2-3)
“Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o
espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o
espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas
este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que
já agora está no mundo.” (1 João 4.2-3)
Umas das heresias que a igreja do primeiro século
enfrentou, e ainda enfrenta, era contra a natureza humana e divina de Cristo.
Nos três primeiros séculos da Era Cristã o gnosticismo influenciava (e muito)
as religiões monoteístas. Era uma doutrina com implicações filosóficas, que
para resumir numa visão bíblico-teológica, o espirito seria santo e a matéria
pecado (espírito = bom, matéria = mal). Então, crer que o Filho de Deus veio em
carne, para um gnóstico, seria impossível. Pois como alguém santo pode ser
encarcerado em uma matéria má? Para o gnosticismo falar que Cristo era o Verbo
(logos) encarnado seria uma mentira. Mas isso não passa, apenas, de uma má
interpretação e uma ação demoníaca. Primeiro: a Bíblia é clara em mostrar que
Deus criou Adão sem pecado contendo um espírito e um corpo (Gn 1.27; 2.7).
Segundo: a Escritura não escondeu a natureza humana de Cristo. Os Evangelistas,
Mateus e Lucas, falaram do Seu nascimento (Mateus 1.18ss; Lucas 2), a bíblia
fala de sua encarnação (João 1.1-14), que Jesus teve fome (Mateus 1.18), que
chorou (João 11.35) e que foi ferido e tais feridas foram mostradas aos seus
discípulos (João 20.25,27). Estas são provas de que Cristo, o Filho de Deus,
foi homem como nós, mas sem pecado. Como o próprio João pergunta: “Quem
é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse
mesmo que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o
Pai; mas aquele que confessa o Filho, tem também o Pai.” (1 João
2.22-23). Isso não só implica teologicamente. A vida cristã também pode mostrar
se confessamos ou não a Cristo. Como diz Jonathan Edwards: “a palavra
confessar, como normalmente usada no Novo Testamento, significa mais do que
admitir, implica estabelecer e confirmar algo pelo testemunho, proclamando-o
com manifestações de estima e zelo.” Ou seja, confessar que Cristo
veio em carne é louvar Seu nome entre os gentios e cantar Seu nome entre as
nações (cf. Rm 15.9). É confessa-lo diante dos homens (Mt 10.32). É confessar
que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.11). No entanto, a
Escritura compara o confessar com obras: “Confessam que conhecem a
Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e
reprovados para toda a boa obra” (Tito 1.16).
A segunda característica é: Apreço em combater
o pecado (vs 4-5)
“Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes
vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo
são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve.” (1 João 4.4-5)
O apóstolo João aqui estabelece a antítese entre o
Espirito verdadeiro e o falso. João conforta o coração dos leitores de sua
carta mostrando que eles eram filhos de Deus e o que habitava neles era maior
do que o que habitava no mundo.
Enquanto o crente possui o Espirito de Deus, o
mundo possui o espirito do anticristo. Como foi mostrado acima, quem é de Deus
confessa que Jesus veio em carne ou como diz Paulo que ninguém pode falar que “Jesus
é o Senhor!” a não ser pelo Espirito Santo (cf. 1Co 12.3). Ao contrário do
mundo, o Espirito de Deus em seu povo age, conforme o escrito paulino,
em: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22,3; cf. Ef 4.25-32). O
espirito deste mundo além de negar a Cristo, age impiamente. Todo e qualquer
que age, permanentemente, contrário à vontade de Deus este é o espirito de
anticristo, todavia o Espirito de Deus age em nós para nos fazermos santos a
cada dia dedicando-se a Deus, como diz Jonathan Edwards: “se diminui o apego
dos homens aos prazeres, benefícios e honras do mundo; se arranca de seus
corações a procura ambiciosa dessas coisas; se os envolve em uma profunda
solicitude pela condição futura e pela fidelidade eterna revelada no evangelho,
levando-os a uma busca zelosa do reino de Deus e sua justiça; se os convence a
respeito da terrível natureza do pecado, da culpa que ele provoca e da desgraça
a que expõe as pessoas – esse só pode ser o Espirito de Deus.”
Por isso, aquele que tem o Espirito de Deus ele
também tem: Apreço pela verdade (vs 6) - A terceira característica.
“Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus
ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o
espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4.6)
Este versículo é semelhante às palavras de Jesus o
qual o próprio João relatou em seu evangelho: “Quem é de Deus ouves as
palavras de Deus” (João 8.47). Então, podemos entender o que João quis
dizer em sua epístola. De que aqueles que não são de Deus, além de ter o
espirito de anticristo, eles eram iguais aos fariseus, pois tinha o mesmo pai,
o Diabo (João 8.44). Mas suas ovelhas ouvem Sua voz e elas O seguem (cf. João
10.27).
Aquele que tem o Espírito de Deus este conhece a Deus.
Esse “conhece”, o qual João diz, gramaticalmente, indica uma pessoas em ação
para adquirir conhecimento de Deus. Ou seja, aquele é de Deus estima em
adquirir e prosseguir conhecendo o Deus que o chamou das trevas para a Sua
maravilhosa luz. Não há possibilidade de alguém querer conhecer a Deus,
verdadeiramente e em santidade, sem ser escolhido por Deus, pois João diz que “aquele
que é de Deus” e não “quem adquire conhecimento este se torna filho de
Deus”.
Eu fico em dúvida quando vejo as megas igrejas
lotadas, mas que são vazias do conhecimento Divino. Não há lógica em crer que
em um lugar, que se diz que o Espirito Santo está agindo “maravilhosamente” não
aja “maravilhosamente” na vida das pessoas em santificação e dedicação na
Palavra de Deus. Creio não ser o mesmo Espírito, pois a promessa de Cristo foi
que quando Ele viesse guiaria o seu povo em toda verdade (cf. João 16.13) e
como saber se há verdade se não leem as Escrituras? Como provar os espíritos se
não leem as Escrituras? Como saber se tal profecia veio de Deus se não leem as
Escrituras?
Igrejas sem doutrina ortodoxa, igrejas sem ensino
da Palavra de Deus, igrejas que têm pastores que não são obreiros aprovados são
um prato cheio para que Satanás aja sorrateiramente, para que, de uma vez por
todas, afunde esta igreja em erros.
Conclusão
Devemos analisar, primeiramente, nossas vidas e ver
se nos encaixamos nos requisitos que o texto nos mostra, para que, depois,
possamos analisar outro. Pois do que adiantaria acusar o falso profeta se nossa
vida é igual?
Pois, podemos nos enganar a nós mesmos com uma
falsa cristandade e, assim, julgarmos precipitadamente a outro.
E tal prova só pode ser analisada à luz das
Escrituras. São as Escrituras que devem moldar nossas vidas e a vida espiritual
da Igreja.
Amém!
Notas:
[1] Cf.: LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João – São Paulo. Cultura Cristã, 2004. P. 21
[2] EDWARDS Jonathan. A verdadeira obra do Espirito: sinais de autenticidade. 2º ed. rev. – São Paulo. Vida Nova, 2012. P. 46
[3] Ibid., p. 49
Fonte: Bereianos
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