APÓS A
REVELAÇÃO DE 1978
O que tem acontecido na igreja mórmon
após a "revelação divina" permitindo que os negros recebessem o
sacerdócio e entrassem no templo?
Esta revelação mudou a situação dos
membros negros? O que eles pensam sobre isso?
O manual de aula para os rapazes
adolescentes que foi usado em 2008 contém uma citação de 1976 de Spencer W.
Kimball, que recomenda que “as pessoas casem-se com aqueles de mesma
ancestralidade racial, e de alguma forma, de mesmo nível econômico, social e
educacional”. [1]
Na edição de julho de 1992 da “New
Era”, a igreja publicou um encarte promovendo a igualdade racial. A foto
continha vários jovens de várias raças, com as palavras “foto da família”.
Abaixo da figura, encontram-se as palavras “Deus criou as raças – mas não o
racismo. Somos todos filhos do mesmo Pai. Violência e ódio não tem lugar em Sua
família”. [2]
O historiador mórmon Wayne J. Embry
entrevistou vários negros mórmons em 1987 e escreveu:
“Todos os
entrevistados reportaram incidentes ruins por parte de membros brancos, uma
relutância ou recusa de apertar as mãos deles ou sentarem-se com eles, e
comentários racistas dirigidos à eles.”
Embry posteriormente publicou que uma
mulher, membro negro da igreja “era surpreendentemente persistente em ir às
reuniões da igreja por 3 anos, tempo este em que ninguém falava com ela. Ela
precisou escrever diretamente ao presidente da igreja SUD para descobrir como
ser batizada” porque nenhum membro da igreja iria informá-la. [3]
O membro negro da igreja, Darron Smith,
escreveu em 2003:
“Mesmo com a
retirada da restrição do sacerdócio em 1978, o discurso que explica o que é o
negro continua basicamente intacto até hoje. Sob a direção do presidente
Spencer W. Kimball, a primeira presidência e o quorum dos doze removeram a
política que negava aos negros o sacerdócio, mas fez muito pouco para mudar os
vários discursos feitos durante essa política. Ainda há membros da igreja,
hoje, que continuam à ensinar em todos os níveis do sistema educacional da
igreja o discurso racial que os negros são descendentes de Caim, que eles tem
menos mérito nos privilégios terrenos porque eles eram os “em cima do muro” na
Guerra dos Céus, e que, apesar da ciência e dos fatores climáticos, há uma
ligação entre a brancura e a beleza” [4]
Peggy Fletcher Stack, jornalista e
membro mórmon, escreveu em 2007:
“Hoje, muitos
mórmons negros denunciam diferenças sutis na forma que são tratados, como se
não fossem membros por completo, mas um grupo separado. Alguns inclusive foram
chamados de “a palavra n”[preto] na igreja e nos corredores do templo.
Eles procuram, em vão, fotos de autoridades gerais mórmons, esperando encontrar
suas faces ali refletidas” [5]
Eugene England, membro branco da igreja
e professor da BYU escreveu em 1998:
“Esta é uma
boa época para nos lembrarmos que grande parte dos mórmons ainda negam sobre o
impedimento [dos negros], indispostos a falar sobre o cenário da igreja sobre
isso, e alguns mórmons ainda acreditam que os negros foram amaldiçoados e são
descendentes de Caim ou Ham. E mais, acreditam que os negros, assim como os
povos não brancos, vieram com um código de cor neste mundo, e sua linhagem e
mesmo sua classe são indicadores diretos de falha em uma vida prévia... Eu
verifico ocasionalmente em classes na BYU e vejo que ainda, vinte anos após a
revelação, a maioria dos alunos mórmons brilhantes e bem educados dizem que
acreditam que os negros são descendentes de Caim ou Ham, e ainda, a maldição da
cor da pele é uma indicação da fidelidade na vida pré-mortal. Eles me dizem que
essas ideias vem de seus pais ou dos professores do seminário e da escola
dominical, e que nunca os questionaram. Eles parecem muito confortáveis com a
contradição implícita aos ensinamentos básicos do evangelho”. [6]
Em uma entrevista para o documentário
da PBS sobre “Os Mórmons”, Jeffrey R. Holland, um membro do quórum dos doze
apóstolos, denuncia especificamente a perpetuação do folclore que sugere
que a raça é, de alguma forma, uma indicação de quão fiel a pessoa foi na
pré-existência. [7]
PEDIDO À
IGREJA QUE REPUDIE SUAS ANTIGAS DECLARAÇÕES RACISTAS
Em 1995, o membro negro da igreja SUD,
A. David Jackson pediu aos líderes da igreja que redigissem uma declaração
repudiando a antiga doutrina que tratava o negro como inferior. Em particular,
Jackson pediu à igreja para ir contra a declaração de 1949 , “A questão do
negro”, onde a presidência da igreja afirma:
“A atitude da igreja com referência aos negros... não é questão de política, mas sim um mandamento direto de Deus... fazendo com que os negros... não tenham o direito ao sacerdócio...”[8].
“A atitude da igreja com referência aos negros... não é questão de política, mas sim um mandamento direto de Deus... fazendo com que os negros... não tenham o direito ao sacerdócio...”[8].
Os líderes da igreja nunca redigiram um
repúdio, e assim em 1997 Jackson, apoiado por outros membros da igreja
incluindo Armand Mauss, mandou uma segunda requisição aos líderes da igreja.
Esta dizia que os mórmons brancos achavam que a revelação de 1978 resolveria
tudo, mas que os mórmons negros reagem de forma diferente quando eles aprendem os
detalhes. Ele disse que muitos mórmons negros ficaram desencorajados e
abandonaram a igreja ou se tornaram inativos. “Quando eles descobrem sobre
isso, eles saem... vocês ficam com afro-americanos passivos na igreja” [9]. A
igreja, mesmo assim, não redigiu tal repúdio!!!
Outros membros negros da igreja acham
que pedir desculpas teria um “impacto negativo” no trabalho da igreja e seria
um catalítico para desentendimentos raciais futuros. O membro afro-americano
Bryan E. Powell afirma:
“Não há prazer em notícias velhas, e
estas notícias são velhas”. Gladys Newkirk concorda, declarando:
“Eu nunca
passei por nenhum problema nessa igreja. Eu não preciso de pedido de
desculpas... Nós somos o resultado desse pedido”.[10]
A grande maioria dos mórmons negros diz
que eles são capazes de olhar além dos ensinamentos racistas e se manterem na
igreja em parte por causa de seus ensinamentos poderosos e detalhados sobre a
vida após a morte. [11]
Gordon B. Hincley, quando presidente da
igreja, disse ao Los Angeles Times:
“A
declaração de 1978 fala por si... eu não vejo nada mais que nós precisemos
fazer”. A liderança da igreja não redigiu um repúdio. [8]
O apóstolo da igreja SUD Dallin H. Oaks
disse:
“Não é do
padrão de Deus dar explicações. Nós podemos dar explicações para os
mandamentos. Quando o fazemos, estamos fazendo por nós mesmos. Algumas pessoas
explicam [a proibição do sacerdócio ao negro] e elas estão espetacularmente
erradas. Há uma lição nisso... A lição que aprendi foi ter fé nos mandamentos e
não ter fé nas explicações que foram sugeridas... Eu estou me referindo às
explicações dadas pelas autoridades gerais e as explicações elaboradas sobre
[estas explicações] por outros. Todo esse conjunto de explicações parece, para
mim, um risco desnecessário... Não vamos cometer o mesmo erro do passado, aqui
e em outras áreas, tentando explicar as revelações. As explicações, no final,
são feitas em grande parte pelos homens. As revelações são o que nos sustentam
assim como a vontade do Senhor e é aqui que a segurança está.”[12]
Notas:
1 - “Lesson 31: Choosing an Eternal
Companion,”Aaronic Priesthood Manual 3, p. 127.
2 – Diamond, Craig (July 1992). Family Photo.
New Era. http://lds.org/ldsorg/v/index.jsp?vgnextoid=024644f8f206c010VgnVCM1000004d82620aRCRD&locale=0&sourceId=445405e063feb010VgnVCM1000004d82620a____&hideNav=1
3 – Smith, Darrin (2004). Black and Mormon.
University of Illinois Press. pp. 75–77. ISBN 025202947X.
4 – Smith, Darron (March 2003), "The
Persistence of Racialized Discourse in Mormonism", Sunstone
5 – "New film and revived group help many feel
at home in their church" by Peggy Fletcher Stack, The Salt Lake Tribune,
July 6, 2007
6 – England, Eugene (June 1998), Sunstone:
54–58
10 – Broadway, Bill (1998-05-30). "Black Mormons Resist Apology Talk". Washington Post. http://www.ldshistory.net/1990/mhablack.htm
11 – Ramirez,
Margaret (2005-07-26). "Mormon past steeped in racism: Some black members
want church to denounce racist doctrines". Chicago Tribune. http://www.chicagotribune.com/news/nationworld/chi-blackmormons,1,708682.story?page=1&ctrack=1&cset=true
13 – Dallin H. Oaks, Interview with Associated Press, in Daily Herald, Provo, Utah, 5 June 1988
13 – Dallin H. Oaks, Interview with Associated Press, in Daily Herald, Provo, Utah, 5 June 1988
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