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segunda-feira, 7 de março de 2011

Desassociado ao 91 anos

Em Busca da Liberdade Cristã, páginas 355-7
Uma vez que toda ação de desassociação será relatada ao escritório da organização, ela não é inconsciente do que acontece. O patético caso de Percy Harding ilustra isso, pois ocorreu às portas da sede internacional [da organização].

Em 1910, quando tinha cerca de 25 anos, Percy, um nativo do Canadá ocidental, iniciou a leitura dos escritos do Pastor Russel e em seis meses já tinha lido umas 3.000 páginas de material. Ele resignou-se da igreja Protestante da qual era membro e encontrou-se totalmente sozinho em sua nova crença entre as pessoas do seu vilarejo. Ele começou a "testemunhar" e formou dois grupos na região e presidiu batismos num rio próximo. Ele escreve:
"Em 1918 eu abandonei um bom trabalho para ser colportor [antigo nome para pioneiro]. Meu território cobria centenas de milhas quadradas, a maioria ao longo de ferrovias, desde o sul de Alberta até a costa do Pacífico. Eu também cobria o território do país à pé, carregando duas pequenas bolsas de livros. Muitas vezes eu andava tanto quanto 15 a 25 milhas por dia."
Após sete anos de atividade, em 25 de maio de 1925, ele foi à Brooklyn, Nova York, para servir na sede da [Sociedade] Torre de Vigia. Cerca de quatro anos depois, a atitude desenvolvida sob a presidência de Rutherford, e a conduta de alguns que exerciam superintendência, deixaram Percy decepcionado. Em 1929 ele terminou seu trabalho na sede central.

Apesar disso, ele permaneceu associado e ativo na mesma congregação em Brooklyn pelos próximos cinqüenta e seis anos. Sobre o que aconteceu ele escreve:
"Desde maio de 1925 até dezembro de 1981 eu permaneci na mesma congregação até eu ser desassociado por conversar sobre a Palavra de Deus com alguns de meus amigos. Isto é inacreditável e, na medida que a Sociedade esteja interessada, uma proeza vergonhosa. A comissão judicativa tinha uma carta de outro corpo de anciãos de uma congregação diferente. Eles haviam desassociado um amigo meu. Eles o questionaram minuciosamente a respeito das pessoas que haviam conversado sobre a Bíblia. Ele cedeu e os contou, mencionando meu nome entre outros. Então esta carta dos anciãos, incluindo coisas que eu e outros havíamos dito, foi apresentada à mim, requisitando que eu comentasse sobre ela. Eu disse à comissão que não tinha nada a declarar, que aquilo que havia entre mim e meus amigos era estritamente assunto particular e não interessava a ninguém. Eles me prometeram uma cópia da carta, mas nunca a recebi. Então eles começaram a fazer perguntas, a mais importante era, "Você acredita que a Sociedade é a organização de Deus e que ela está produzindo a verdade?" Então eu disse, "não há nada na Palavra de Deus indicando que Deus tenha usado uma organização para produzir verdade. Desde Moisés, passando por todos os profetas até João e a Revelação, sempre foi com indivíduos."Ocorreram três reuniões com a comissão, a última foi em Betel. Na noite que fui desassociado, Harry Peloyan [um membro de longa duração da equipe de redação da Sociedade] fez um discurso no Salão do Reino, persuadindo uma acusação que nem foi discutida em qualquer das reuniões da comissão, sobre quebrar a unidade da congregação. Ele aplicou mal 2 João 10,11, ao instruir 175 pessoas para cortar associação comigo. Após a reunião cada um despistava, passando por mim como se eu fosse um leproso."
Percy estava com 91 anos e com a saúde ruim. Ainda que alguém considerasse seu entendimento de certas passagens da Bíblia como correta ou mal-entendida, o fato é que a questão foi levantada, não porque ele estava criando distúrbio, algo que seria congregacionalmente evidente, mas por causa de conversas particulares com amigos. Ninguém na congregação queixava-se dele como um "agitador" e a questão foi levantada apenas como resultado de uma carta de outra congregação que iniciou investigação e interrogatório pelos anciãos sobre comentários particulares entre amigos. (Compare com a acusação contra Paulo e sua defesa em Atos 24:5-13) Numa viagem ao nordeste, em 1982, eu visitei Percy Harding em sua casa na 6th Street em Brooklyn. Ele sentado, aparentemente minúsculo naquela enorme cadeira, um homem aparentemente frágil e pequeno obviamente enfraquecido pela idade e doença.

Eu me pergunto como alguém em sua sã consciência poderia ver uma pessoa assim, sem posição ou influência particular, como constituindo um perigo que, apesar de setenta anos de associação, tenha sido extremamente necessário a sua desassociação e ter todas as suas relações cortadas por colegas de sua vida. Creio que uma organização deva ser extremamente insegura de si mesma, sentindo um incrível senso de vulnerabilidade, para considerar tal homem idoso e frágil como uma ameaça. A respeito do efeito que sua desassociação teve nas circunstâncias pessoais, ele escreve:
"Antes disso havia duas enfermeiras [Testemunhas] que me visitavam, quase toda a semana. Elas faziam algumas coisas para mim que eu era incapaz de fazer por mim mesmo, e, mais importante, elas vinham se eu precisasse delas. Uma vez que eu faria 92 anos em 18 de agosto, quem saberia quando uma emergência ocorreria? Após minha desassociação, eu telefonei a uma das enfermeiras. Seu marido respondeu ao telefone e disse, "Ann não está autorizada a falar com você." Deixe-me lembrar novamente que a única coisa que os anciãos tinham contra mim era que eu havia falado a alguns amigos sobre a Bíblia."

Nas minhas conversas com Percy eu achei ele um homem de fala direta e objetiva. Ele bem que poderia ter sido áspero nas suas discussões com os anciãos que o julgaram. Mas ainda que ele tenha sido mais áspero - ou sido cáustico, mesmo briguento - como poderia justificar o rompimento de relacionamento para com um idoso de 91 anos, sozinho, doente, sem parentes a centenas de milhas de distância, sem escrever para ele, ao longo de seus mais de setenta anos de ativa associação, e ser agora ignorado e esquecido? Qual crime hediondo que ele cometeu para justificar isso? Acho difícil entender como alguém que afirma ser discípulo do verdadeiro Pastor do rebanho, Jesus Cristo, participasse em tal ação, algo que minha mente descreve não mais do que sem coração. Mais ainda, conforme dito, isto aconteceu bem perto, "às portas" da sede mundial da Sociedade Torre de Vigia.
Percy é falecido, tendo morrido durante seu sono em 3 de fevereiro de 1984. Durante os vinte e cinco meses que seguiram sua desassociação, nem uma única pessoa da congregação na qual ele se associou por 56 anos veio até ele ou para saber de suas necessidades.

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