Uma das áreas em que o povo de Deus mais ignora o
ensino bíblico é no casamento, e isso aparece de diversas formas. Qualquer
pastor experiente poderá te afirmar que enorme parte dos aconselhamentos que
ele tem de fazer diz respeito a questões de casamento: infidelidade,
insubmissão, falta de perdão entre os cônjuges, filhos e escolhas, maridos que
não lideram suas famílias e assim vai.
Mas há, é claro, problemas que dizem respeito ao
que se passa antes do casamento, e um desses é a escolha do cônjuge. O povo de
Deus é terrivelmente mal-informado acerca do que se deve procurar num cônjuge.
Na minha ainda pequena experiência, tenho visto que mulheres muitas vezes se
satisfazem com o mero combo casamento feliz: “ele não me bate, não me impede de
ir à igreja e não leva jeito de que vai me trair”. Isso é se satisfazer com
muito pouco. O ideal bíblico para um homem é alguém que esteja na trajetória de
se assemelhar cada vez mais a Cristo em amar sua mulher como Cristo ama a
igreja. Isso envolve, liderar, servir amorosamente, lutar por sua santificação,
amar sacrificialmente, prover e se gastar profundamente em prol dela. Ser
Cristo em casa. Meramente não trair está dentro da capacidade de qualquer tonto
ali na esquina. Um descrente, por não ser redimido por Cristo, nunca será capaz
de se assemelhar a Cristo no cuidado por sua mulher. Pode, no máximo, ser um
bom marido de acordo com os padrões desse mundo caído. E, tristemente, é cada
vez mais comum ver crentes optando por se casarem com descrentes. Esse é o
ponto principal deste artigo. Será que casamento com descrente vai acabar em
pizza?
As fatias de pizza da vida
Por que cada vez mais homens e mulheres buscam se
tornar uma só carne com alguém que ainda existe na velha carne? Fazer um pacto
para a vida inteira com alguém que recusa o pacto com Cristo? Trocar o coração
com alguém que tem um coração de pedra? É óbvio que há uma legião de razões.
Foquemos em uma. Penso que uma razão é que muitos, por causa da secularização
de nosso tempo, veem a religião como apenas uma das áreas diversas da vida. Uma
de diversas possíveis opções, mas algo que não influencia demais a vida como um
todo. Como fatias de uma pizza que compõe a vida da pessoa.
Explico: tendemos a ver os diversos compartimentos
da vida como se fossem um tanto separados, como se fossem as várias fatias que
formam a minha pizza. E cada um tem sua pizza individualizada: tenho minhas
preferências musicais, escolhas de uso financeiro, minhas peculiaridades na
área da saúde, minhas preferências sexuais, ideias sobre criação de filhos,
meus hobbys favoritos, e assim por diante. E a decisão de seguir a
Cristo muitas vezes é tratada como se fosse só mais uma das fatias da pizza.
Assim, quando chega a hora de escolher o marido ou a esposa, basta ver se há
suficientes fatias em comum – ainda que não todas.
“Que importa se ele não é crente? Pensamos igual
sobre criação de filhos, gostamos dos mesmos programas, não brigamos, ele trata
bem minha família… e ainda por cima, na parte em que somos diferentes, ele
respeita. E mais, até apoia que eu vá à igreja. E até aparece de vez em
quando!” É a mesma ladainha que ouço de moça atrás de moça se enganando
enquanto se rebela contra Deus. E vários colegas pastores relatam o mesmo
problema. É claro, há variações. E sim, há homens que entram nessa também. Mas
parece-me que os rapazes são menos iludidos. Vão atrás de moças descrentes
justamente pelas coisas em que são diferentes. É mais malandragem mesmo.
A massa envenenada
Mas será essa uma visão adequada? Se formos seguir
a visão pizzaiola da vida, mais apropriado seria dizer que a situação da pessoa
diante de Deus, crente ou descrente, é a própria massa da pizza, sobre qual se
constroem todos os outros elementos. É o que Jesus nos ensina quando diz, por
exemplo, que aquele que não é por ele é contra ele (Mateus 12.30). Não existe
neutralidade, não existe a possibilidade de ter áreas da vida em que a rebelião
contra Cristo seja inócua. O veneno da impiedade se espalha por toda a vida.
Na fatia do uso do dinheiro, por exemplo. O cristão tem de se dobrar diante da verdade Bíblica profunda de que todo nosso dinheiro pertence a Deus, não somente o que se separa no dízimo. E que cada centavo deve ser gasto em honra a Deus, seja comprando comida, roupa, pagando aluguel ou levando a esposa para passear em Gramado. Mas o descrente não vê assim. Ele vê o dinheiro como uma prerrogativa sua. E cedo ou tarde surgirão conflitos sobre o uso do dinheiro. Apoiar aquela família da igreja que perdeu o emprego? Uma oferta especial de amor a missionários nesse natal? O dízimo? Mas vai além disso. Como o descrente vê a questão da unidade financeira do lar? Do esbanjar? E a idolatria tão comum de fazer com que coisas e status financeiro definam nosso valor? O evangelho tem antídotos para essas coisas todas – mas a esposa descrente não se submete ao evangelho.
Na fatia do uso do dinheiro, por exemplo. O cristão tem de se dobrar diante da verdade Bíblica profunda de que todo nosso dinheiro pertence a Deus, não somente o que se separa no dízimo. E que cada centavo deve ser gasto em honra a Deus, seja comprando comida, roupa, pagando aluguel ou levando a esposa para passear em Gramado. Mas o descrente não vê assim. Ele vê o dinheiro como uma prerrogativa sua. E cedo ou tarde surgirão conflitos sobre o uso do dinheiro. Apoiar aquela família da igreja que perdeu o emprego? Uma oferta especial de amor a missionários nesse natal? O dízimo? Mas vai além disso. Como o descrente vê a questão da unidade financeira do lar? Do esbanjar? E a idolatria tão comum de fazer com que coisas e status financeiro definam nosso valor? O evangelho tem antídotos para essas coisas todas – mas a esposa descrente não se submete ao evangelho.
E a fatia de pizza da criação de filhos? Como será
guiar o filho no caminho do Senhor quando no próprio lar há um pai ou mãe que
ativamente rejeita seguir a Jesus? Como modelar a vida cristã se todos os dias
há alguém modelando a vida longe do Senhor em casa? A Bíblia tem muito a dizer
sobre a tarefa de criar filhos, e vai muito além de moldar cidadãos honestos e
produtivos. O objetivo é ensina-los a viver como nada mais nada menos que seres
humanos de um novo mundo habitando como sal e luz neste. Como um descrente vai
conseguir ajudar nisso? Ainda que não se meta ou atrapalhe, o que julgo ser
quase impossível. Mas ainda que ocorresse… A tarefa é difícil demais e
precisamos de toda ajuda possível. Meninos precisam de homens que modelem o que
é ser um homem cristão tanto quanto meninas precisam do modelo feminino. Aliás,
meninas precisam ver em seu pai um modelo do que é Cristo cuidando da igreja,
assim direcionando seus afetos tanto para Cristo quanto para o possível futuro
marido.
Mas, por certo, a deliciosa fatia da sexualidade
seguirá incólume independente do que compõe a massa, não? Não é apenas,
digamos, fazer? Também não. A sexualidade humana é um dom criacional de Deus,
projetado para ser experimentado dentro da santidade pactual do casamento. E
ela não é apenas a conjunção carnal de partes de diferentes; é algo maior e
mais profundo. Trata-se da expressão física da profunda unidade de alma.
Novamente, um que está morto em delitos e pecados tem em sua alma a marca da
rebeldia ferina contra Cristo, detendo a verdade pela injustiça (Romanos 1.18).
Alguém que tem o coração de carne dado pela ação do Espírito Santo está
aprendendo a interpretar toda a vida por meio das lentes da Escritura,
inclusive o que faz ou deixar de fazer na cama. Nisso tudo, a dinâmica bíblica
de buscar o interesse do outro – inclusive na sexualidade – vai se mostrar
diferente quando o jugo é desigual. E te pergunto: você quer mesmo fazer sexo
com um inimigo do teu salvador?
A fatia da pizza do uso do tempo livre também é afetada pela disposição básica do coração. Não é apenas a escolha de gastar tempo em lindas manhãs de Domingo com o povo de Deus na igreja ao invés de na AABB ou no parque da cidade. Vai além de buscar encontrar outros jovens casais no Sábado à noite ao invés de um grupo de descrentes. Essas coisas são importantes, mas vai além disso. Diz respeito a fazer com que cada ato do tempo livre de vocês seja um momento de ação de graças e deleite na bondade de Deus. Seja o cineminha, o jantar a dois, o passeio de caiaque ou a viagem de férias. Diz respeito a fazer tudo para a glória de Deus junto a alguém que faz o mesmo, e não alguém que se recusa a glorificar e agradecer a Deus (Romanos 1.21).
A fatia da pizza do uso do tempo livre também é afetada pela disposição básica do coração. Não é apenas a escolha de gastar tempo em lindas manhãs de Domingo com o povo de Deus na igreja ao invés de na AABB ou no parque da cidade. Vai além de buscar encontrar outros jovens casais no Sábado à noite ao invés de um grupo de descrentes. Essas coisas são importantes, mas vai além disso. Diz respeito a fazer com que cada ato do tempo livre de vocês seja um momento de ação de graças e deleite na bondade de Deus. Seja o cineminha, o jantar a dois, o passeio de caiaque ou a viagem de férias. Diz respeito a fazer tudo para a glória de Deus junto a alguém que faz o mesmo, e não alguém que se recusa a glorificar e agradecer a Deus (Romanos 1.21).
São várias as fatias de pizza que compõem a vida de
alguém, e nenhuma delas deixa de ser afetada pela massa, não importa quão
apetitosos pareçam o queijo ou seja o que for que vem junto.
Não se contente com pouco
Mas será que não vale a pena? Pois, afinal, a massa
dele pode se converter e será uma massa crente! Será que não é justamente por
meio de estar comigo que ele(a) vai ouvir e ver o evangelho, vindo então a se
converter? É inegável que muitas conversões aconteceram nessa situação, mas
penso que o número é superestimado. Não podemos presumir que Deus será
gracioso. É como justificar a irresponsabilidade no uso do cinto de segurança
pelo fato de que há pessoas que não usam e ainda assim sofrem acidentes sem
morrer. E vejo e sei de muitos e muitos casos onde acaba em divórcio, ou simplesmente
em décadas de frustração.
Mas o problema é mais básico que isso. No final das
contas, veja o tamanho da rebeldia e estultícia: a pessoa está dizendo que sua
esperança é que, por meio de seu pecado, o outro seja convertido. Quem sabe por
meio de desobedecer a Deus o outro venha a ser obediente a Deus. Quem sabe por
meio de rejeitar o claro ensinamento de Cristo o outro venha a se tornar
discípulo de Cristo. Quem sabe minha idolatria faça o outro vir a amar o Deus
verdadeiro. Isso é tolice.
Não é sábio nem bom seguir por esse caminho. Sim, eu sei que há escassez de homens bons para casar na igreja (por certo estou trabalhando em minha igreja para mudar isso, e sei de muitos outros que fazem o mesmo). Mas, queridas ovelhas de Cristo, parem de se contentar com pouco. Pare de querer pizza velha de boteco quando Deus te chama a uma refeição gourmet com um filho dele. Deus não está querendo te impedir de ser feliz – Ele quer que você tenha uma imagem do próprio relacionamento de Cristo e a Igreja em sua casa.
Não é sábio nem bom seguir por esse caminho. Sim, eu sei que há escassez de homens bons para casar na igreja (por certo estou trabalhando em minha igreja para mudar isso, e sei de muitos outros que fazem o mesmo). Mas, queridas ovelhas de Cristo, parem de se contentar com pouco. Pare de querer pizza velha de boteco quando Deus te chama a uma refeição gourmet com um filho dele. Deus não está querendo te impedir de ser feliz – Ele quer que você tenha uma imagem do próprio relacionamento de Cristo e a Igreja em sua casa.
Autor: Rev. Emilio Garofalo Neto
Fonte: http://bereianos.blogspot.com.br/2016/06/casamento-misto-vai-acabar-em-pizza.html
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